Deixou cair a pequena moeda da sorte, aquela que carregava consigo faziam três anos já.

Era como desfazer de noite o que tricotara de dia só para tentar desfazer o feito e ter sempre recomeços. Precisava de moedas naquele tempo. Se agarrar a sentimentos, por muitas vezes, era só o que lhe restava, e à essa tarefa se dedicava de corpo e alma. Não percebera então que os pensamentos funcionavam como âncoras, pedras, pesos, cimento. Podiam paralisar, embrutecer, emburrecer as gentes. Mas um ouvido atento percebia isso e a  libertaria como se não houvesse mais urgência urgente do que aquela liberdade tola. Pois o lado de lá tem cor e endereço indefinido.

As montanhas interditadas pelo inverno, separava os lugares uns dos outros. A moeda deixou lá, sujando o chão. Fugiu. (Os livros levou consigo em um saco, apertado no peito). A liberdade não era tão alegre assim.

Viveu como que se tivesse sido autorizada a isso.

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Sophie Calle, The Nose, 2000

 

 

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