esse sentimento de culpa

olha só isso. são marcas recentes?

eu vou aguardar, então. vamos contar com a sua ajuda para entender. estado de choque. sabe quando ela desapareceu, essa manhã, não estava em lugar nenhum. um rapto a mais de dez quilômetros daqui.

era assim antes, bem antes. produzimos um vinho muito famoso e só conversamos o estritamente necessário. melhor ouvir jesus and mary chain, então.

eu não acho que… só temos esse. que pergunta, esse é um dia de luto para nós. precisamos saber, mesmo que a irmã tenha lavado as palavras de manhã, estão brilhantes. eu sei como é, quando se é ansioso isso acalma. os meus sapatos eu tive que lavar ontem à tarde. nem no corpo, nem no cigarro. e tudo o que temo é uma jovem em um corpo grisalho. de lá pra cá, droga.

em silêncio, sim, mesmo que em uma estrutura mais definida. me perdoe mas o código está ativo? exigente com os procedimentos. bem, o meu álibi é fácil de checar.

boa noite, comandante. eu sempre achei ela bonita. o motivo disso é para ela chegar ao paraíso mais rápido, não é, um dia encontra forças para preparar para mudar o passado. acha mesmo que uma mulher faria isso? adivinha só.

você se lembra do que houve, e por isso eu me importo.

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Noite americana

Você não encontrará a paz, nunca.

Imagine a pessoa que você mais ama. Imagine-a perto de você, sentados no sofá, comendo alguns grãos, falando sobre algo totalmente charmoso.

No caos a vontade os pegará. Quando houver um primeiro plano na imagem é prudente que tudo esteja bem iluminado, para guiar as nossas ideias.

A realidade irá quebrá-los por fora – como um galho seco ou uma urna de barro – ou desvendá-los por dentro, com o motim dos seus próprios pensamentos. 

É sobre atingir o ápice na hora certa. O caos apodrecerá suas plantas, matará seus gatos e enferrujará sua bicicleta. Ele vai destruir suas memórias mais preciosas, derrubar suas cidades favoritas, destruirá qualquer santuário que você possa construir.

Não é se, é quando. A entropia está apenas crescendo; aos poucos desordeira de si, indisponível. Esses medos e esses pensamentos de se perder, todos eles entram nas pequenas decisões do dia a dia. A vida se segue com os sucessivos momentos que a gente não pega, não pega. É como uma coisa totalmente diferente e é muito mais contundente. E há uma série de expectativas, tudo está ficando cada vez mais curto. Mais justo, imediato, um sapato apertado.

É um padrão muito antigo, cansado e desgastado para ser imitado. Há um demônio em mim que só quer ser doce. E saio de lá para me conscientizar de quais e quantos são os inimigos e então fazer algo um pouco diferente por um tempo. E então você pode voltar e tudo mais, seguir em frente se receber a tarefa, mas acho que o principal é apenas perceber.

É sobre subexpor-se à cena e aplicar-se.

Eu acho que a gente atura coisas demais

Pode ser que eu acredite que isso pode ter ajudado a ela.

Não acho que você possa realmente escolher o que as pessoas vão gostar, dizer ou mesmo lembrar de você. No que você acredita? Eu tenho andado na chuva só para melhorar o meu propósito na vida.

Sempre tenho medo de que alguém coloque o dedo sobre o que você pensa de si mesmo. 

More than a ssssusur,

O que nos cansa exatamente. Ganhar uma nova perspectiva sobre isso, e sobre a realidade. Fazem anos que o cansaço acomete, me derruba, de modo que mostrem-me mais olhos cinzas. É como um cientista interessado nos princípios da cognição. Ou um crença em vida depois amor. Ou na vida sem amor.

Como é se sentir assim, posso dizer; A primeira coisa que me lembro é querer inventar uma forma de atravessar as paredes. Ou de abrir alçapões debaixo das estantes. Eu só sei que quando se dão os acordes iniciais eu escuto, já sei o que vem. Não só se o saber assim.

Veio da Grécia, veio assim. Memória, percepção, interação. Se estuda isso como pessoas poderiam cometer erros tão terríveis.

Que há uma grande variedade do que você poderia colocar sob o guarda-chuva da ficção embora no final das contas, especialmente nos limites, isso começa a não fazer mais sentido, para nós, que vivemos uma realidade ainda mais bruta. Ou ensandecida. E a gente tem que pensar na resistência.

Não há razão para você me tratar assim

Com o coração cheio de napalm, atolada no elevador com onze onde caberiam seis. Você não reúne as pessoas em um elevador, porque os elevadores não são tão agradáveis ​​e as pessoas não conversam neles tão facilmente. 

Aqueles que a despeito disso, os situacionistas que procuram a qualquer custo alguma esperança, poderiam responder a pergunta “O que é ser revolucionário?” de maneiras diferentes em momentos diferentes. Com as respostas, se deixar, a gente perde até a vontade de propósito na vida. Não é assim que eu vejo. Há de se ter inconformismo no café da manhã, um pensamento conceito por trás de cada imagem.

Eu tirei aquela foto!

Chamaríamos de descansar sobre os próprios louros e não acho que deveríamos agir assim. Se formos rápidas chegaremos em casa mais cedo. 

Eu estava em pedaços. Não cansada, em pedaços. Nem todos acabam segurando firme em uma tira de couro desgastada, lutando para respirar, para tomar um pouco de ar. Lembro de enquanto ia para lá pisar no freio abruptamente. Quase um acidente.

Se não fosse importante, eu não teria ligado no domingo. Eu não teria ligado. Sempre fui uma estudante para todo o sempre, sou esse tipo de pessoa, do vir a ser. Nem sempre a que você conhece. Portanto, as imagens são 100% gráficas e 100% filmáticas.

Você deseja criar uma atmosfera de conforto para a pessoa. Para si também. 

Se você ama alguém e ele está ferido, você o ama ainda mais.

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Havia estradas, hotéis, um pouco de luz lá longe. Não havia lua, havia breu e arrepio. Pouco para comer, farinha, feijão e chá preto. O sufrágio feminino também abraçou o tabagismo como uma forma simbólica de discordância quanto ao papel de gênero e um sinal de independência. Portanto, à sua maneira, a decisão da senhora de fumar foi mais do que picante. 

Ainda assim, houve a mais requintada hospitalidade de estranhos que oferecem tudo o que têm.  

Mulheres do interior contadoras de histórias de beira de fogão, enquanto cozinham o feijão, cantam diante de pinturas que retratam as histórias de suas canções. Hoje eles abandonaram os mitos e apenas pintam e cantam sobre catástrofes: 11 de setembro, 111 presos, 111 mil mortos- eu me pergunto se isso um dia vai parar. O interesse é no encontro de formas muito antigas de imaginar e contar histórias com realidades contemporâneas. Uma forma de ver o presente remotamente.

Estou tão entediada hoje como sempre. Exausta pelas voltas do pensamento condicionado, que não chega a lugar nenhum, só até onde a dor no peito desafia a lucidez. E aí me sinto feliz e tenho o desejo de compartilhar minha felicidade (…). Mas isso foi em um outro dia, um outro tempo. Hoje, as atividades desnecessárias foram eliminadas e fico com minhas fotopinturas. O dia era sonolento, perigoso, sem esperança.

Grandes degraus de uma exibição implacável de todos os aspectos da vida humana, os peregrinos tomando banho, os cadáveres nas piras funerárias queimando, os turistas olhando, os homens santos nus fumando ganja (….) Nada é sagrado porque todos os limites foram rompidos; tudo é sagrado porque todos os limites foram quebrados.

O que essas pessoas sentiram? Posso me sentir como eles? E, se eu me sentisse como eles, o que faria? 

O presente é uma coisa terrível. E só quem deixou de acreditar no futuro imagina que não tem passado.

Eu só queria te ouvir tocar

Uma calmaria era prevista para o início da semana. Sei que não é fácil viver disso, e ainda era domingo, ventava e ardia o peito. Eu queria correr atrás daquela luz que cegava porque aqui estava seco e escuro. Tem uma montanha enorme ali vamos tirar uma foto para não esquecer?

Aquela nuvem parece fumaça e a janela que está aberta dá para o jardim. Essa condição de abandono nunca nos deixa, o peito dói. O céu nublado é um grande discurso. Sobretudo o desamparo. Um sofrimento só.

A onde a gente pode buscar a origem da nossa dor? Uma orfandade que nos atravessa e você tem sorte se você não se lembra de nada. Pode ser um detalhe, mas é interessante perceber que o social não é automático, mesmo que ignore a própria prisão.

Porque não é nada, mas a pele parece que vai esfarelar de tão seca. O nariz todo machucado, uma desesperança de um eterno domingo sem fim. Já pensa em não trabalhar amanhã de manhã e em como continuar na ponta dos pés para respirar um pouco melhor.

Porque tem dia que a noite é foda e o que temos conseguido é tentar dormir e ligar alguns pontos que façam sentido.

Titubeando

 …

antes era assim.

e certamente para mim agora, aos quarenta e tantos anos, continua sendo assim

– apenas em um contexto diferente.  

please, remember me.

Se tiver sorte mergulhe naqueles arquivos e tente resistir ao alívio do isolamento.

Interagir é o novo eu quero, eu sou, eu mostro, eu existo. Havia um tempo em que já fiz uma foto de mim mesma por dia, todos os dias. E as atualizava nas redes. Não sou assim, estou assim. E dentro de tantos ‘estar assim’ um desenho se forma. A contemplação como um momento de estar consigo mesmo, selfiesejar em frente ao bombardeio de informações a que estamos conectados 24h por dia. O centro é um sucesso. E para mim quer dizer que a gente não pode se acalmar.

A mãe cuidava do lugar. E tudo ligado a um contexto. Uma comunidade específica, um momento particular. Vejam o que se consegue com os registros que sobreviveram. Costumamos dizer que sabemos quem somos, mas acho que não.

Hummm, bem, uma luta também pode ser uma luta interior. Toda luta é uma luta para si mesmo. Depois de viver 80 anos não há ‘ifs’.

 

Eu tenho vários outros sonhos

Uma paixão com uma entrega sem fim.

Eu acho que precisava de escrever um livro que confessasse a dúvida, a vergonha e o pânico, enquanto a gente vive a narrativa sobre a qual homens escrevem. E eles acreditam (risos). Pássaro por pássaro. A gente tem que ter certeza de que não vai dar nada errado. E eles não estão realmente revelando todos os níveis psicológicos que entram nessa violência enlouquecida, na esteira rolante circular hedônica da conquista, fugindo do banal e do ordinário.

Como podemos fazer isso funcionar?

Lâmina fria de um diagnóstico terminal, repentino e próximo ao osso. Acordamos para a realidade livre com um grito, um silêncio, um aleluia oco. A noção do que os homens fazem para provar que são verdadeiramente homens, isso nunca vai desaparecer.” A batalha é longa. E existem muitos momentos em que falta o ar. Fadiga, paralisia e entorpecimentos.

Às vezes, ao invés disso, eu me agito.

Não encontrei muitos detalhes sobre o que eu precisava escrever, nem como escrever. Então terei que inventar muito. Eu não tenho ideia de como serão as cabanas ou a paisagem, tudo, quero dizer que tudo terá que ser inventado. Mas tem a invenção de uma memória ou partindo dela. Singularizando cada espaço, esticando ao máximo o conceito poderoso que é a relação aguda de como a gente olha pras cosias. E penso que ando fazendo tudo muito mal. E que é absurdo que eu estivesse escrevendo qualquer coisa. Olhando para trás, escrever parecia urgente.

Eu até tentarei escrever novamente, outro conto. Pode ser suficiente qualquer motivo, é isso que deve acontecer, então tudo bem se eu me render. 

Tira gostinho

As vagens ficaram salgadinhas, amor. Eu não sei usar tempero… e já tinha a manteiga, então… Mas ficou bom. Experimenta amor, um tira gostinho para você.

Não me deixe para trás.

Aqui a rixa é tremenda. Briga entre você mesmo, briga na rua dentro da sala, briga diante do repeteco da tv. Diz aí. Emoção muda, silenciosa. O que isso acarretaria na fratura exposta só os profissionais saberiam. Na pele, são tantas forças que não entendemos muito bem, porque a gente se isola e se sente. Com vontade ou não… era muito pouco, muito pouco. 

Existe uma coisa, o outro lado da avenida Rangel Pestana era onde moravam todos que não se cumprimentavam nem respeitavam. Esquece sua vida de antes, não vai voltar e muito menos será memória. A gente tem que manter um certo nível suportável de ansiedade, algo pra nos tirar da apatia, ou da raiva. “Isso não tem preço”, disse à época nas suas redes sociais. Não é que muitas pessoas se interessem, se signifiquem nesse contexto. Talvez ainda seja interessante. É um campo válido, embora meio fofo, como usar pantufas de gatos pretos.

Porque na verdade a alta carga dramática, é promissora, mas você se garantiria inteiro quando chegasse à festa? Tem razão. Vamos viver a vida que a gente quer viver, então. O sentimento estético é intelectual, ou talvez apenas um sentimento de admiração. Portanto, o estilo é sempre algo que está no fluxo. Os sonhos metem medo, aquela pessoa que corre para que alguma coisa funcione pode ser você.

É bom amassar um pouco as batatas.

De onde você acha que esse desejo vinha?

 

 

Solidão é relativamente fácil, raiva, medo, são emoções fáceis de evocar imediatamente com uma imagem, uma lembrança.

Eu acho que vergonha é uma emoção muito difícil pois que, logo depois que você cai em si,  sentirá que tudo o que aconteceu com você e depois tudo lhe pertence: os bons e os maus, o êxtase, o remorso e tristeza, as pessoas e os lugares e como estava o tempo. E principalmente, a tormenta do que deveria ter feito e não fez.

É um continuum. Não vejo isso como pensar.

“Agora tenho que fazer algo novo.” De vez em quando, é claro, uma linha de investigação chega ao fim, e então você está em um período de pouso enquanto você está superando o que tem feito até o momento. A gente se faz, a gente se faz pelo menos uma parte. A gente pode se fazer inteiro?

Se a gente for ser sincero diante do que a realidade nos apresenta, o que seríamos? A humanidade alcançou um desenvolvimento tão grande – como os dispositivos móveis dignos de cenários e previsões de star treck que imaginávamos à nossa frente, logo ali ao nosso alcance. Mas se pensarmos nos últimos anos, a diferença entre ricos e pobres se dissipou? Na verdade não.

Então, eu queria ser honesta com esse medo e tristeza e realmente me entregar a isso. É uma exaustão para fazer com que todas as situações pareçam simples e imediatas, para que a gente, eu, todo mundo, possa encarar emocionalmente. 

Eu penso assim: um dos seus momentos mais férteis é quando de fato, atavicamente,  você está tecnicamente fora de serviço, fora de controle, fora do juízo, fora do normal.

 

na vida e no medo de sentir

Sempre sempre sempre estás viva. Vontade de comer o sol.

Começou de forma direta, depois a fome começa a se tornar cada vez mais abstrata. Isso pode trazer a ideia de que o não saber onde se está no mundo deve moldar você e tomar corpo. Até que ponto temos o poder de decidir sobre nosso estado de espírito, até que momento temos mesmo o controle sobre o que sentimos ser um ruído visual? Poder dar um corpo à ideia, não apenas um corpo arquitetônico, mas também um corpo com sangue, ar e espaço.

Eles estão claramente dizendo que, portanto, na verdade você está sob vigilância física. Pega então essa sua folha luminosa e escreve. O que o mundo faz com você, se o faz por tempo suficiente e efetivamente, você começa a fazer a si mesmo. O pensamento de família como berço de valores morais e segurança e afeto se esvazia diante da capa de revista na sexta, o telejornal no sábado e os jornais no domingo num baile envolvente e apodrecido. Eles estão pensando por nós. Esfrega os olhos e toma um gole. 

A pele das mãos está ressequida, quebradiça e feia. Olho como se me arrependesse. É um pouquinho de morte que sinto na boca, lá no fundo, quase medo de respirar. Essa sua vontade de ser mais e que ainda não foi o suficiente, ainda vai te sufocar. Ahn, que trabalho para limpar tudo, sempre penso. Podem desmembrar o corpo, deixando certas partes em locais onde provavelmente serão encontrados por urubus ou onde serão consumidos por lobos e vermes até que quase não sejam mais lembrados. Bravura dos que lutam pelo que não deve ser esquecido. A presença da pessoa não “desaparece” do mundo sensível (para onde iria?) mas permanece como uma força animadora na vastidão da paisagem, sutilmente , ao vento ou mesmo como a ira eruptiva, a ser aplacada, do vulcão. 

Os que nunca passaram por nenhuma privação real, da que dói o estômago, aquela que te turva a vista quando passa a maior parte do tempo embolado na multidão de famintos que tentam respirar e ser na penúria, negam a luz. E sordidamente calam e vulgarizam a sua voz. Nos chamam de lixo. A eles toda a ira não será castigada. Olha, minha amiga, estou aqui há tão pouco tempo e já queres saber quem sou? Pega a sua cruz de rubi que cintila no seu peito e busque não se envergonhar da sua vida.

A filosofia e a verdade não podem ganhar com paixão, violência, raiva e ressentimento. A mente firme e fixa que produz emoções pode perder a razão e resistência e quiçá a força para enfrentar o status quo com autocontrole, dignidade e convicção. Porque é tempo de se levantar sim, estender as mãos para frente, agitá-los até que se forme redemunhos de poeira vermelha e mirá-los nos olhos. 

 

“Eu não sei porque o rei é tão malvado”, disse.

Precisamos conversar.

A pausa é um luxo. A gente até tenta se distrair ao se ocupar ao máximo, mas só tenho mais perguntas passando pela minha cabeça. Eu só quero aprender. E espero que continue assim.

I just drew me.

Qualquer noite eu poderia andar e andar ao longo da estrada e ver silhuetas interessantes feitas por formas de árvore, muitas delas tão claramente definidas que conseguiriam nos persuadir a largar as armas. Estar produzindo em que se usa as próprias mãos para fazer algo provoca um produto único e imperfeito. Uma caravana de camelos que parece estar se movendo ao longo do céu. Alguém que esteja envolvido em um ofício os percebe e enquanto me perco neste pensamento, estou presa pelo outro lado da fronteira e é lá que em meu coração espero viver. Como poderíamos quando esquecemos, de fato, de onde viemos? Esses demônios, eles não vão a lugar nenhum.

Porque naquele lugar havia névoa, pombas, luz do sol, sujeira de cobre, lua – tudo pertencia aos homens que tinham as armas. Vez ou outra, em um raro e arrebatador lampejo, a cortina de nossos preconceitos se eleva e somos capazes de ver e experimentar. Temos que rever todo e qualquer objeto em que nossa atenção se prende, veja lá que cada coisa que preconcebemos nos cega para o que realmente ela é.

Onde encontramos nosso lugar sabendo que as oscilações da nossa desintegração por pertencer a um mundo cada vez mais caótico e violento podem nos distrair? Um borrão pode salvar o mundo.

Toque as estrelas, sinta do que somos feitos.
Há algo impressionante nisso – e é verdade. Isso soa verdadeiro para mim. Onde estamos mais profundamente feridos é onde estamos mais profundamente dotados, estarmos exilados no lugar que a gente pertence. Paredes, munição – funcionam. Por um tempo.

Mesmo que você olhe a previsão do tempo, está chovendo o tempo todo

Já se passou uma semana desde que voltei.

Que o habitável fosse também o fazer dos dias. Foi cedo e Raku ainda estava na chuva. Dava pra ver o sossego na reunião depois de muito tempo, os chás ajudaram, o escutar ajudou. Muito obrigada por me entreter tanto, eu tentei isso diariamente e esperei ansiosamente por hoje, e consegui um bom trabalho.

Uma história que não tem nada de muito interessante para falar e nem que valha a pena se relacionar. Procuramos alguma sombra como fonte de força e calma, como se não soubéssemos da luz do sol. A gente pode até ver, se beneficiar, mas é como se não estivesse lá, como se não fosse. Quem me dera poder estar mais perto num dia como o de hoje.  Mas mesmo assim, nossos sonhos, eu gostaria de ajudar. Você não devia fazer isso sozinha, nenhum de nós deveria. Eu sinto saudades de ser um pedaço de você. I miss you.

Dois degraus, cozinha, fogão, xícaras, olhos fechados suspirando. Amor, bom tempo, tempo mudado, tempo demorado. O humor negro da burocracia sem fim – são todos forrageiros a serem digeridos e ruminados por uns dias, quiçá reste-nos alguma alma. Separados levaram-me ao lugar onde eu queria ter desejado estar, barro e fogo lá fora já são parte da paisagem, esse é o cheiro de casa agora. Agradeço muito a vista desse mundo daqui. Eu gosto quando você me toca. Quero que nunca acabe, que o peso, os dedos, a força, o eriçar esteja sempre ali. Liquidificar ou ser extremamente eficaz em relação à sua vulnerabilidade, nível muito pessoal pela primeira vez.

Você parece cansada. estou cansada de me sentir cansada exatamente é o que eu sinto  estou cansada também tudo o que eu queria hoje era descansar posso um pouco pensar poder conseguir estar à descanso?

Tem o direito de estar aliviada. Tem até o direito de estar contente.

 

Faladurias

E então você me fez uma pergunta que eu não vou esquecer: e se o adorar for capricho? A gente se esforça para perceber o que é essencial e necessário,  nos ajustando e fazendo que nosso ajuste assim  seja sentido, notado. A gente é feito de coisas penetráveis que sondam todos os recessos em nossas almas. Não gaste sua força em um vaidoso vazio.

Da varanda dá pra ver alguns telhados, podemos ver a lua subir acima das nuvens, podemos ver o céu se encher de cores quando escurece. A inconformidade é um impulso, um beliscão. Um mínimo de inconsciência é necessária para as noites que poderiam ser mais frias ou que a gente poderia estar mais juntosEnfrentar como que a uma colisão de frente e tentar nos tornar o que pensamos que somos. Seus lados obscuros e eventuais mortes são insondáveis ​​para a psique descontroladamente otimista do enlouquecido. Você tem alguém para pedir conselhos?  Mesmo que meio atravessada, como todo novo amor, a forte promessa de uma revolução será lembrada muitos anos depois.

Há noites em que você vai deitar bem e acordará pela manhã muito mal, parecendo mais que esteve em uma guerra. Em algum momento, a gente percebe que consegue deixar cada sílaba repleta de persuasão e isso pode nos levar muito longe, mesmo que cause exaustão. Primeira tarefa é essa enquanto segura minha mão: dominar o fogo. Nada poderá estar fora do ponto, um orgulho desmedido. Bem-querer. 

 

Uma vez, duas vezes, muitas vezes.

Cada

pedra com a qual ela encheu os bolsos do casaco antes de entrar no rio era uma ferramenta de memória. Precisava disso: peso e massa e volume e concreto – lembrança que  a gente pega.

Acredito que toda autoridade tem que se posicionar, que toda hierarquia é ilegítima até que se prove o contrário. Certa manhã, bem céu azul, enquanto eu lia as cartas de um poeta morto no quintal, pressinto um fragmento daquela mutualidade atômica, quem sabe. Minha visão periférica – aquela glória de instinto – me puxa para uma imagem linda: uma pequena folha vermelha cintilante girando no ar. Ela permanece suspensa lá, orbitando em um centro invisível por uma força invisível. O resultado, ao contrário do que se pudesse supor, é uma mistura de aborrecimento, medo e escapismo. Posso ver como tais causalidades imperceptíveis poderiam levar a nossa mente à superstição, poderiam levar-nos a buscar explicações em magia e poderes divinos. Mas então me aproximo e percebo uma fina teia de aranha brilhando no ar acima da folha, conspirando com a gravidade nesse movimento giratório, indiferente ao significado construído e à nossa fé.

Onde a gente termina e o resto do mundo começa, para onde vai o nosso afeto quando o destino não está mais lá e o amor, a ternura e a cumplicidade e a alegria e as risadas e o estar solto, conexões invisíveis e idéias e jeitos e cachaça? Tome uma dose e dê uma volta de bicicleta por aí. E nunca mais se esqueça de que tudo é liquefeito. Mantendo ilusões de permanência, congruência e linearidade não se vai muito longe, bem se vê. A vida se desdobra entre alguns eus estáticos e narrativas sensuais. A história não é o que aconteceu, mas o que sobrevive aos naufrágios do julgamento e do a(o)caso.

Há infinitamente muitos tipos de vidas bonitas.

 

 

E eu à deriva, tempero demais

Deixe-me entrar na sua casa, de novo, mais uma vez. As pessoas estão reunidas em torno de quatro laptops, em um esforço para controlar os movimentos, não incomodar/nem ser incomodado. Eles acendem e apagam as luzes, fervem a chaleira, colocam alguma música – o que puderem fazer.

Eu perguntei a ele quando aconteceu. Com casualidade despreocupada, ele respondeu: “Cerca de uma década atrás.” Fiquei espantada que as pessoas pudessem segmentar suas vidas em blocos tão grandes – um registro que a mim seria muito descabido. O amor por livros ilustrados, completou poucos segundos depois, é isso, apenas isso.  Eu não faria isso funcionar se fosse apenas medo e distopiaHá sempre um elemento esperançoso em meus projetos. 

O tolo é paralisado demais para andar na longa corda bamba da esperança e do medo pelo qual qualquer destino que vale a pena é alcançado. O medo é uma miséria. Para mim, é sobre a área cinzenta onde você não tem certeza do que pensar. Pode ser que pequenas escolhas ajudem, queijos, conhaque, grãos, frutas… Quando seus nove netos foram confiados aos seus cuidados, ele começou a transmitir seu legado insurgente ensinando-lhes bordar em inglês. Quando as crianças ficavam com fome durante a tarde, passeavam pelo parque, entregava os sanduíches e esperava que só então pudessem perguntar pela rainha: aquela eterna dívida literária que a gente passa a vida pagando.

Em vez de obedecer ao ser solicitada a reagir imediatamente, preferi me sentar. Não pertencer dava algumas liberdades. E eu teria rido, depois chorado, e logo deixaria o sonho – mas eu passei a amá-lo através das lembranças, a gente se lembra. Acaba se lembrando. Dificilmente me sinto uma estranha para você, aqui, nesse quarto.

 

garganta

Tudo. Tudo se move sobre isso.

A paz de nenhuma luta. A partir da garganta de um passarinho que não era pego, mas que nos visitava, os sons deslizavam e sangravam e recuavam, latiam, zumbiam e tremiam. Não estava errada em estar no mundo em que estava, mas bem que era a salvação da minha própria escuridão. Eu dei uma olhada e caí, agarrei e caí. I. deu uma olhada para mim e colocou os óculos quebrados, de uma perna só, escuros. O bom é aplicar disciplina com a prática o suficiente para continuar a realizar o senso de reconhecimento vazio. De uma certa forma é bem simples. Mas os sons não deixavam tudo assim.

A caminhada continuou, de mãos agarradas, em círculos, em risos frouxos, em pequenas distâncias. Uma ausência é uma abertura para uma sobreposição. Era uma solidão antiga aquela que vivi, que nada conseguia apagar e ele, percebia-se, era muito conhecedor das pessoas, dos livros, das emoções da mente e do coração. Vivia, às vezes, em uma caixa preta de memórias e perguntas sem resposta, o que era mesmo esse chão? I. tinha cuidado, uma coçadinha na orelha e depois, depois já saía e brincava. 

Não há meio caminho, meio flash de percepção, meia aliança, meia cama, meio mamão. A experiência viva e crua daquele momento de voltagem é um caminho para unir os dois. Não há entre. Esta é a alegria de ver/estar “fresco”.

Junto. Isso dá sentido à vida. E propósito. E isso incluirá dimensões externas, internas e secretas. E muito, muito mais. Mas no final será prático: haverá uma imagem. 

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Zero vírgula poucos segundos

‘deixou pitangueiras, aluguel, trepada, cama nova, porta retrato, o filme que mais tarde assistimos juntos, pode ser? a cerveja na geladeira, a formatura do afilhado que seria no dia seguinte, o próximo natal, a páscoa, o primeiro dente que o seu filho perderia, mas, que agora, por zero vírgula poucos segundos, na da. O tempo acabou.’

O tempo acabou. 

Conte-me sobre o que você está fazendo agora. O Afar é um lugar grande.

O minimalismo do trabalho miúdo e o minimalismo no uso da linguagem vêm de um lugar realmente poético, é um lugar onde a maior parte do conteúdo é meio que deixado entre as linhas. Não teria dificuldade com isso, mas também pode ser confuso, na verdade, porque esperava estar mais à margem do que parecia estar naquele momento. Eu acho que fui durante algum tempo apenas uma queimadura longa e lenta. Estava interessada em simbolismo, metáforas e narrativas, mesmo assim. As emoções estão tão próximas da superfície. A coisa mais difícil é interpretar uma pessoa viva, eu acho.

Uma declaração muito direta para uma exploração da cor preta. “Aquilo que você está sentindo é a sua vida”. 

Eu não acho que tenha lidado com algumas coisas muito bem. Se eu vou ser cega, eu preciso fazer isso funcionar, eu preciso tornar o meu corpo memória libertador. Agora paro para lembrar da minha paixão. E da minha escuridão. É uma enorme paz permitir-se ser tão vulnerável e ver que existe A humanidade em todas as esferas da sua vida. Ou casar com a pessoa que escolheu, ou morar em um certo bairro, a mudança parece enorme.

Como negar o carmim do céu quando quer anoitecer?

 

O pulmão está formado, já sabe parar de chorar

Ou engrossar o couro começa pelo pulmão.

Pode-se ficar sozinha em qualquer lugar, repetia. É difícil confessar, mas a solidão pode penetrar muito profundamente na pele, na vontade. Necessidade de pertencimento: as vozes interiores ficam mais audíveis e podemos responder mais amorosamente a outras vidas. Um pensamento estepe e, de alguma forma poético, sobre a pertença é ser a si mesma um contraponto como um átomo de vida pensante, com sentimento e sem sentimento, em meio à constelação de outros átomos [expectadora da minha própria miséria]. Frutas falsas e pedaços de queijo encharcados escorrendo pelos regos.

Uma coisa que tem sido consistente, desde aquele rubor, é que as pessoas estão nuas.

Eu transformo detalhes físicos que parecem gastos e que evocam o corpo a condição humana, enquanto permaneço essencialmente abstrata. É insano quanta merda você passa quando mulher.

Hoje é meu dia de sorte e meu corpo está completo, formado, pronto. Use-o. Seja o que for que você lamber, com certeza vai explodir hoje. O pulmão, onde você coloca seu foco, é especialmente importante. Sua vida será sobre exploração, entender as coisas erradas, rotineiramente investigar a própria identidade em um  loop de 10 minutos aparentemente sem cortes e sobre como é encharcar a área da cozinha.

Longo e quente verão construindo fogueiras, correndo na mata e ouvindo vacas na rua depois do anoitecer. E nós nadamos para perto, para a outra margem, quase sem sair do lugar. E teve a beleza de exercer o romantismo com seus convites de néon e cores nostálgicas. Estruturas sem remorso no desejo de atenção. E teve esperança e excitação nas pequenas sincronicidades.

É um bom dia para praticar.

 

O que aconteceu com os lugares que a gente conhecia? 

Chamando por meus demônios agora, para me deixar ir 
Eu preciso de algo, me dê algo maravilhoso

Na superfície, ele está compartilhando imagens rupestres: edifícios majestosos degradados, concreto rachado e manchado, cada caverna urbana mostrando seu desgaste. Este não é o futuro que queríamos. Nostálgico, melancólico, pairando no ar como um grão de poeira. O que aconteceu com as pessoas?  O que aconteceu comigo? O que aconteceu com os lugares que a gente conhecia?  A liberdade de perseguir suas paixões freqüentemente se sobrepõe a um certo nível de privilégio. No final, somos responsáveis ​​apenas pelo nosso próprio comportamento.  A gentrificação continuou a cobrar seu preço. Shorrrrr!

Apontamos a loucura tentando evitar que isso se infiltre em nossas próprias vidas. Se fracassarmos, também nos tornaremos loucos: algo maléfico vem nesta direção. Nada de bom surge do revide preventivo de algum medo. Sexo, raça, gosma, lama no outro. A multidão de um que tenta adivinhar a si mesma e se perde enquanto perde tempo. No sentido de julgamento, não primeiro em mim, mas em meu oposto polar.

Nem tão oposto assim, diria, com um sorriso no canto da boca. Boca amargada pela derrota. Retirar, frustrar, amargurar, zangar e, nos piores casos, resignar, deprimir, desanimar.

Inclinamos na direção do ambiente escuro… A escuridão da pedra traz a questão para dentro de casa: de qual sopa nos serviremos? Pode-se até chamar essa besta que agora paira sobre nós de “o novo normal” de uma comunidade que parece ter perdido a fome, ou se perdido nela. Parece um povo saciado. Uma pessoa ainda não tão cansada comendo uma porção de alho, com brilho nos olhos. Antes eu soubesse como é ter cactos envoltos em seda. Encontra na cor vermelha, lanternas, imagens de dragões e espaços como meio de sobrevivência. Porque a arte não morre.

Desejo a fúria do desejo, da fome, da sede, da raiva, da arte, das bandeiras. Para mim e para ti.

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Aprontar-se

Eu soube sobre ontem a noite. Você pode me mostrar? Seu braço, rígido como uma ferramenta incompreensível na estante branca, perto da enciclopédia ilustrada Colorama, antigona, papel couché. Pilhas de pastas. Esperança de capturar peixes para alguma refeição com caldos. De verbete em verbete, de silêncio em silêncio, pequenos sorrisos pra dizer como a gente está pensando a mesma coisa. Um cesto de laranjas rolam pelo chão do supermercado, as prateleiras fazendo festa. É lindo, é maravilhoso e por algum motivo apavoro-me com a continuação da cena.

Alguém que pegou uma rua errada, – estava aqui somente colocando o lixo para fora, vendo vacas mugindo no meio da rua quando aconteceu. Eu seria demitida por você. Como ele foge? Despresenciando-se. Dois dias de silêncio e uma bomba de lucidez sobre como tem agido e se punido no último ano. Então era isso, foi isso? Seria possível que algo que não soubesse o que fazer, desfazer, como colar fragmentos tenha regido suas ações para com você mesma por tanto tempo. Até que ponto conseguimos conviver com nossos pesos. É de bom trato agir economizado muito tempo de loucura.

Não sou daqui, encontrei cabelos na pia e mau cheiro nos ralos, acho que poderia acontecer uma outra vez. É sobre mudança, sobre encontrar beleza e aceitação nos lugares fraturados, quebrados e vulneráveis. Trata-se de integração, de todos os eus do mundo natural e da tecnologia, com toda a imperfeição e insegurança e fragilidade que abraça o ser femme em uma sociedade patriarcal. Por favor, não desista.

A surpresa é que essas vozes são moduladas, estendidas no tempo e manipuladas de outra forma até se tornarem exatamente o que gostaríamos delas. Bolhas e gaguejos fazem verdades metades, atestados de boa vontade e boa ação devidamente salvos e printados, você quer ver nas mensagens, está tudo aqui. O ouvinte segue as dicas de como entender e as levar àquele exato ponto, até o sussurro final.

Então age como um tambor e um poeta. Sua história é apresentada uma palavra, ou um desenho de cada vez:  A – casa – outrora – derretida – e – areia – pousada – em – toda – parte.

Como no começo, é um choque ouvir a voz sem adornos, mas logo é seguido por fascínio, porque nada, incluindo a narrativa, é o que parece. Um amadurecer sem pressa.

 

A arte é pra quem tem onde cagar

to emotiva e to puta. e vocês que estão lendo esse texto, assim de primeira, é por conta de um apreço genuíno meu. pode acreditar. isso num vale lá muita coisa, mas é um cisco de amor sincero. ando sumida, ando revoltzs modes on,  e tá muito difícil ser e conviver.

to na lida de aprender o cinismo como arma de sociabilidade familiar ou não, nada novo nisso, mas assim, tava quase dando, galera. Tava quase dando certo, estávamos quase conseguindo ter um diálogo sobre qualquer assunto. agora a micropolítica está intoxicada de medo, repulsa, pus, enjôo, fedor e ataques de pânico com requintes de crueldade. a avidez qualquer que seja, destinada a qualquer objeto (de qualquer alimento) é doce, enjoativa, viciante, impura, melosa e perversa.  não é bem assim: cai quem quer.

é um trem muito sedutor, a sordidez é sedutora. no espelho sempre encontra onde ressoar.

tive longe de pessoas que aprecio muito. que me suspiram por escolhas, por cores, por vidas, por vontades, por enlace nas coisas que são de importância mesmo, tipo, vamos levar as frases de auto-ajuda pra valer? e que mesmo de longe persisto de encher-me de água vendo o caminho que andaram por aí. por estar longe, por grana, por suores frios, por tristezas, por medo de deslocamento (isso existe sim), por falta total de qualquer auto controle da sudorese fria em pele quente que nos gripam só de ler.

essa história da dominância emocional da opinião pública mediana geral irrita, irrita, tira o ar e queima o peito. é um delírio sem fim, e uma busca desespero por alguma qualquer pobre e indiferente salvação. desde que na bula tenha referência nas letras miúdas entrelinhas, independente do que seja, como seja e se coerente no pouquinho que seja, um teco, de salvação de alma, suspiro genérico que seja, alivia.

uma merda, camaradinhas, uma merda.

porque nosso labor manual é nossa sobrevivência, porque somos um bando de largados e pelados no cerrado de minas, oxi, que bença seria, e que pode ser arte, e sendo artesanato seria lindo crianças sujarem as unhas de barro.

e que quando a gente fala de arte a gente emociona, e a gente está aqui, tentando o de sempre, mostrar os dedos sujos depois de umas noites em lençóis turvos melados de gel. eu queria mesmo era largar-me à revelia, ser a margem da sociedade, mas até os sonhos mais tilelês da mais tenra idade ficam estourados na cor diante da realidade de ser mulher, fêmea, whatever.

meu medo me domina, me delineia, me entorpece e me mapeia. sou fraca, não sou guerreira nem forte porra nenhuma, sou exausta. todas as ””fortes”” ou  ””não”’ mulheres que conheço estão cansadas. eu também estou. e não tem porra nenhuma que me faça botar química no cabelo de novo. tampouco nas conexões cerebrais que fazem a gente rir melhor. mais bobo, sabe, mais oquei (a médica disse, é né, o remedinho te joga no palco e o resto é com você)…  é duro ser realidade, ser e ver cru, ser sem conto de fadas. mas depois que a gente pensa, se interroga algumas questões que acabam com toda e qualquer submissão por mais vontade que tenhamos de.

porque a gente, eu né, até que quis a submissão, eu quis. juro. deve de ser mais fácil. deve de ser mais admirado socialmente, deve de ser mais fácil ser feliz assim. ó céus. to fudida. não acredito nisso. era bom e seria se eu acreditasse.

quero ser arte, quero o coletivo, que a gente sendo. nem segura na mão que me dá agonia, mas né, tipo, poxa, se escondam não.

qual a violência que a gente pratica?

entregar meu corpo e respiro e gosto ao frio e ao tempo, desprezar como força a dominância é como se faz arte. a sordidez de troca laboral entre corpo e alimento e vestimenta e ter onde cagar. arte. ter onde cagar. percebem? a arte é pra quem tem onde cagar.

tá fácil pra ninguém, pra quem nunca foi fácil está e será pior. engano nada, acho que 2019 vai ser pior. mas queria que soubessem que os amo e admiro.


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Coisas diferentes sobre a mesma amizade

Hoje eu tenho essa convicção, sem a menor razão de ser.

Olhe a cor nos meus dedos. Eu não faço tanto quanto costumava, mas eu ainda gosto muito disso. Mas, eu realmente não possuo uma casa, eu não tenho carro. Não durmo muito e não gosto de ir para a cama cedo, então procuro por um período de recuo. Paradoxo mitopoético. O tom  para denotar um objetivo de um artista pode ser o comentário social.

Gosto das coisas que me mantêm ocupada e presente. É um período de reviravolta das táticas de lutas, estudar, revisitar os clássicos e reajustar a teoria dos grandes estrategistas, aplicadas em desmontar ruindades. Senti que a noite não é um tempo, é um lugar, um lugar em que não me sinto bem.

As pessoas não são abertas e generosas. Eu acho que isso mudou ao longo do tempo, mas para mim, ainda é sobre a intenção de dar um passo adiante. Há mais o que ser feito do que possamos imaginar, não se render ao fracasso e a subseqüente futilidade da realidade. Os projetos paralelos ganham força, então. Não se deve ceder ao próprio extermínio.

Isso inclui corrigir os olhos cegos e seletivos, por isso os óculos gigantes, por isso as lentes macro em super closes. A gente quer se aproximar, afinal de contas. Pode ser muito lento: desenhos, tecidos, materiais, costura – foi como um ano inteiro para obter oito imagens. Você foi olhada e ridicularizada, olhares alheios é o que chama, não é? Mas porque você estava se segurando e não cedeu às reações, isso lhe rendeu um pouco de respeito e um certo patamar amedrontador. Precisamos nos proteger da pequena aldeia de onde viemos, que nos criou. 

Constantemente reinterpretar seu trabalho e paralelos, em conjunto, e fornecer uma nova visão ao seu relacionamento com o mundão. Quero empurrar meus limites para que haja uma revolução. Depois que seca e endurece, nada quebra.

Nós fazemos o outro pensar. Há algo de bonito e vulnerável nisso.

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Não importa o quanto você tem

nada vai mudar depois de amanhã. sabe, isso tudo que vc sente remoendo dentro? nada vai mudar depois de amanhã. bem que queria dizer tudo vai dar certo. achar palavras divinas. vai… isso já faz muito tempo.

tudo cresceu muito rápido. o que eu quero dizer é, nada vai mudar depois de amanhã. a que conseguiu escapar. sinta assim. você jura, né? senta, fica à vontade, eu quero saber quanto aquelas vidas valiam para você, essa conversa será muito decepcionante para todos. mas eu sei, é o que nos assombra. depois de amanhã é pouco tempo, provavelmente nada mudará depois de amanhã.

você identificou errado, todos baseados. dezesseis anos se passaram. eu não tenho pena de você, o que quer, aliviar? consciência. lugar errado, garota, todas as negações…. ou talvez aquilo…. talvez uma simples verdade. dias, camarada, dias carecem de passar. muita espingarda atrás da porta ao lado da bassoura de piaçava pra adiantar a visita de ir embora. é assim. a vida é assim.

é melhor você dar um jeito. mas você encostou nisso. mas não nele. se ele fosse adiante com isso… não me chame. é simples sim. eu também devia… o que importa. hoje. tome cuidado.

há sobreviventes?

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“Não importa o que penso agora, os mortos estão lá”

– Estamos lidando com alguma estranha cegueira inerradicável, uma constante antropológica inata, uma tendência a sucumbir à tentação totalitária?  Isso não é tão difícil de ecoar quanto se possa imaginar. 

É a quietude, a quietude no momento em que parece que todas as barreiras estão sendo quebradas. Isso é o que eu acredito que minhas fotos são sobre. Estou materializando uma visão que está na minha imaginação e na minha alma e nos meus ideais. Eu considero o branqueamento de uma pele que não deveria ser branca, um amortecimento ou um silenciamento brutal. Ela já pediu para que a tornassem linda, entretanto.

 Você está pensando mais sobre o passado ou o futuro?

Aprendeu a definir seu espaço, e isso é ótimo. Ela tem uma personalidade muito forte e opiniões muito fortes, então não se consegue minimizar as coisas… Eu quero que cada sessão se torne como nós dois agora: apenas um-a-um, olhando um para o outro e tendo um momento e uma troca que não tem nada a ver com qualquer uma das distrações ou proteções que você recebe como ter uma máscara, adereços e tudo mais. Isso não é mais fácil de fazer do que ser apenas seu eu nu. Corremos perigo do achatamento das identidades que muitas pessoas experimentaram em suas vidas.

Que espaço o meu passado possui no meu corpo hoje para que radicalmente seja visto por pessoas que estão tentando determinar se sou ou não uma ameaça para elas… é difícil saber o limite da própria experiência de estar sob vigilância. Remédios curam as marcas do apavoramento na pele, e também entorpecem a vontade de caminhar.

Houve um tempo que eu temia a solidão do meu apartamento, e desejava que a noite escondesse a mudez e a paralisia iniciais… É sobre como você aborda ideias e movimentos e o que você quer dizer. Um telefonema que foi interrompido por um estranho efeito de eco. Porque, de qualquer forma, tudo já foi feito antes, sabe?

Há uma verdadeira vibração que é negligenciada e o lendário escultor parece orgulhoso e determinado enquanto segura uma grande escultura fálica.

Começo a cortar, mover, agrupar ou repetir movimentos. Se eu fizer isso diariamente sinto que não me limitaria a qualquer obstáculo a capacidade para onde se possa chegar. Esse procedimento mantém os olhos abertos e provou que algo novo pode acontecer entre os dois. 

Seu tom é calmo, mas sua entrega é firme.

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