O tempo é muitas vezes essencial e geralmente vale a pena esperar um pouco para ver como se pode lidar com a liberdade e a nudez do próprio corpo. As indiferenças flutuam em um oceano de vontades (a ver). Você lidou com você mesmo e as indiferenças dos aparelhamentos aumenta o dilema que se pode enfrentar nessa vida de ‘meudeus’. Café é muitas vezes a solução, o estar junto também. Em volta da mesa, sem saber como agir e o que dizer, dá pequenas mordidas como se alegrias fossem.
O esgotamento desmorona possibilidades.
Ali perto do portão do jardim, perto de pimenteiras, orquídeas, couves, manjericão e hortelãs, seu medo de que os sentidos todos estejam congelados e infelizes escorre pelos poros. Pés na terra e água nos olhos, o impermeável, blindado, entupido corpo está fechado e quer queimar, queimar agora, respirar fogo. Apenas fogo. Que me livre de todo o mal que eu fiz para mim. Em segredo, canto para ninguém (desafinada que sou) e entrego-me às armas tão abertas, armas que conheço tão bem.
Se conseguisse manter o juízo sobre si e se recusasse a ter os membros engolidos pela brisa que arrepia as costas, talvez conseguisse alguma sobrevida. As pálpebras não estão cerradas, o pescoço está rígido, as mãos, fechadas, o ouvido entupido. Neblina de corpos, neblina nos encontros. Quando conseguir sair da outra extremidade dessa névoa e olhar pra trás, com aquelas silhuetas e esboços que já não fazem mais sentido, poderemos quiçá experimentar um bom bocado de soltura e remelexos.
A resistência pode ser a chave para lidar agora, não tem certeza. Talvez o silenciar-se um pouco (o que exige um esforço sobre-humano de si). Parece precisar se mudar para um ambiente quase estéril, quente e seco. Prefere que a repetição se anule que provoque outras realidades a serem desvendadas.
Abre mão de algumas certezas, se agarra a outras. Bebe vinho e, mesmo seca, consegue se encharcar.