Ele também faz coisas (aparentemente) simples como atravessar a sala, apagar e acender luzes. É impossível separá-lo do que ele se lembra. Tem sido assim. “Quem conheceu o oceano? Nem você nem eu, com os sentidos terrestres, conhecemos a espuma e o aumento da maré.”
É perfeitamente possível – de fato, é longe de ser incomum – ir dormir uma noite ou acordar uma manhã depois de uma noite febril, e de supetão conhecer toda a verdade da vida e descobrir que o eu (um grande costurado com muito esforço) é todo trapos sujos. Há de se ter um trabalho de cautela. Quando se levantou já não chovia. Entre inalar e exalar, ou simplesmente caminhar através de um jardim, a data comemorativa desapareceu. De onde você é? A memória que é matéria-prima para se construir novamente, desalojada de algum recesso empoeirado – vinhetas e vislumbres de pessoas, tudo dizem e pouco dizem sobre a sua estrutura.
E os estados de ânimo – em uma extensão literalmente inimaginável, dependem de quão vívido o que um dia foi, mora na nossa mente. A insistência no que era habitual é um sentimento total, é combustível, faíscas e impulso. Mas nem sequer se pensa nisso na sala arejada e iluminada quando ele volta com o café coado, pães torrados e pasta de amendoim. Ele precisa se sentir em casa imediatamente. Controle e delicadeza nas ações e uma altivez no valor próprio.
Você não quer seguir? Ele pergunta.
Aceito o convite. O tempo parece também enterrado em nós, mas onde?