Paletós imaginários

Essa ligação… esse contato. Realmente era o que deveria ter acontecido. Se saiu melhor por enquanto. Por ora, foi melhor assim: à distância, observando apenas uma área, contando duas mil mortes a cada dez dias, decretando fome silenciosa numa faixa esquecida do planeta.

Obrigada Mateus, agradeça também ao Alexandre. Até com a possibilidade de retaliação, a palavra é coragem.

Aproveite a sua recompensa, você mereceu. Sabemos, você não deveria ter feito tudo o que fez. Agora tentar enfraquecer o recurso, seria importante, mas sobretudo tentar saber realmente o que a faz ser a autoridade no assunto, em um mundo de homens que usam paletós imaginários.

“Foi mal, tava doidão”. E naquele instante, revelou — sem querer — uma estrutura emocional quebrada, um edifício mal construído, desequilibrado, ainda que em aparente civilidade. Um colapso prestes a ser oficializado com tapinhas nas costas e palavras bonitas.

Queremos sobreviver mais, mas não somos fracos. Tem que vir, não é possível que se possa ocupar seus pensamentos guiando suas ações. Qual é a punição que lhe cabe? Ouvi e isso ressoa até hoje, a gente não pode parecer muito fraco. Naquele momento não se deve chorar. Todos temos medo. Não foi contra mim, foi contra o estado. É maior do que eu. Na dor física a gente só tem esperança dos próximos dez minutos.

Deixa pra lá, a estrutura é doente, preconceituosa, afetada, com ares de que na prática lhe daria carta branca para seguir.

Toma um café (sempre penso no café como organizador de ideias), fuma um cigarro, sente as estruturas dos ossos e uma leve onda que lhe é permitida.

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