Imediatamente em vários lados vê claramente na imagem refletida,  cujos traços faciais flutuam entre o susto repentino e o vazio ausente, uma vontade de vermelho. Uma cor que mais respira para você do que a vida. Ela parece envergonhada de sentir a energia que penetra no seu corpo flácido, entregue. Está prestes a avançar de muitas e variadas formas.

Qualquer um que não conheça apenas os frequentadores ocasionais daqueles becos, não se surpreende ao ver os desenhos orgânicos coloridos pregados nos postes. Os conflitos domésticos sempre formam o contexto. Quem regularmente transitava por aquele bairro, fazia as vestes de figuras longilíneas, dessas que se imagina que buscam sempre o que produz prazer e evitam o que é aversivo. Aos desavisados tudo seria desleixo ou formas personificadas de algum tipo de câncer social. Na maioria das biografias, a ausência apareceu apenas esquemática. Razão suficiente para que o romancista noturno encontre a estadia solitária no coração de uma multidão. Como foi chamada, 45 anos depois, a esquina Rei das Copas Brilhantes, de alguma forma consegue sempre tirar as coisas do lugar, num outro espaço tempo. Porque de vez em quando, ali era um lugar onde se perde a cabeça. Uma espécie de abandono, uma espécie de ausência. 

Todos os dias cruza com um homem vestido de armadura, que segura um copo, como se oferecesse a alguém na frente dele. Avante! Parece que encontrou o equilíbrio perfeito entre perseguir o seu imaginário e fazer o que é certo. Segue empobrecida para o temporariamente seu quarto gasto, sabe que algo em seu corpo deva ser removido, seja um dente ou outra parte, e será substituído por uma peça artificial. Incompletude, insuficiência, talvez remoção necessária para uma nova identidade.

Sem as barras delimitantes e as figuras que se confundem com a arquitetura, o visitante noturno e o famoso Cavaleiro Duvidoso se perderiam. Graças a quem segura os bulevares onde passam carros esportivos, lá se encontra momentos curtos de esquecer o trabalho para ser um artista de um século.

Desejo, fogo, pensamento, alegria – recita, apertando os dedos das mãos nos pequenos nós até doerem as articulações. Oração diária.

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