Seja de um jeito claro e direto, ou obscuro e retorcido o (temporariamente) temperamento frágil desperta tanto amor que se descobre incapaz de se interessar por outras pessoas. Faz sorrir e enternecer e ainda jura entender os sentimentos de afeição pelos meios que fazem com que se pareçam com um ser humano.
Um é a projeção do outro, da voz, do ouvir. Então, é risco o tempo todo… enquanto digitava no celular as primeiras impressões de um amor desfeito, todos estavam em silêncio a olhar. O som que vinha das roupas aquecia, e fazia desejar. Quando se encontra algo que faz efeito, a gente acaba que coloca isso no coração, na alma. Quando dá certo é um alívio muito intenso.
Com os bolsos vazios de sentidos, os dias (vazios) minimizam a incapacidade de se relacionar com gente viva. Estejam ou não por trás dos aparelhos. Para saber o que pensam do mundo e o que sentem de verdade: carência, frustração, insegurança, desnorteamento, medo e hipersensibilidade (às reações danosas, desconfortáveis e às vezes fatais produzidas pelo sistema imune normal) em relação aos próprios dilemas num resumo de uma realidade melancólica.
Que os aparelhos salvem-nos da solidão.
Laura Henno, Rainy silence, 2007