Cada um a seu modo indo a lugar nenhum… Para falar do que carregávamos n’alma, para proclamar nossa angústia, ele pedia que as oposições ficassem nítidas entre idéias e atitudes. Diga! Mesmo que sem nenhum valor jurídico, fale! Tinha sucumbido ao cansaço das palavras sem efeito, sem função, sem retorno. Cansada de pensar no ‘antes’. Esses pensamentos nunca irão tomar forma de natureza pessoal para ele, sentia no ar. Sob tortura quase todo mundo se confessa culpado para que se acabe logo com isso. Mas sem tortura quase todo mundo inventa, esquece. Vaga. (Lembra do amor de Clarice por João). Fala que o ilógico é necessário aos homens de boa vontade e que do ilógico nasce muita coisa boa. A oposição tem uma natureza de conflito, justo. Tanta disponibilidade de meios e a facilidade dos fins esbarra no mundo loucamente acelerado, sem nos dar permissão para ficar quietos. É o seu próprio fim, o tempo sujeito à nossa própria montanha russa afetiva. Não se falava sobre tudo. Corriam das palavras entediantes e espinhosas, e às vezes até corriam da troca de olhares, o que acabavam por se arrepender depois. Bem depois. Mais tarde. Com pés descalços caminhava mais vacilante que era. Mas sempre preferia assim. Naqueles dias não conseguia dizer nada.

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