É como tocar a lua com os dedos dos pés. Se emocionava quando lembravam dela. Era como se fosse um pouco menos invisível, tão acostumada estava a ser ignorada. Não sabia como era se sentir querida.

Quer dizer, até sabia, mas muito pouco.

Dita. Falada. Pronunciada. Acostumara-se a sobrar, a não pertencer.

Agora queria uma família, uma família construída. Uma família sua. Daquele seu jeito. Pensou em aprender a falar sozinha, mais vezes, quantas conseguisse, pra aprender a ter voz. Aí não importariam os outros, as outras vozes. Ele disse: são apenas rótulos. Ela pensou, rótulos pesam demais, não são ‘apenas’.

Ela desejava que cuidassem dela porque sempre fora boa. Boa e quieta. Sempre tivera juízo. Era uma plenitude acreditar que alguém lhe recompensaria por ser tão certa. Ela perdera essa crença fazia tempo. Estava inevitavelmente sozinha desde então. Mas agora, agora, conseguia construir muitas pessoas dentro de si. E conseguira abrir seu coração às pessoas que pareciam que tinham algodão por dentro. Profundas e leves. A porta de cima ficaria sempre destrancada. Escancarada, melhor.

Estava um bocadinho séria, agora. E cheia de amores.

 

 

timthumb

Foto por Flávio de Aquino Carvalho
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