Talvez consiga predizer escolhas, campos, querências. Não são a mesma coisa, podem dizer do futuro, mas não do mesmo futuro. O clique ficou um pouco abaixo das cartas, aí procura-se a mais próxima, esses percalços que só os que ainda usam mouse óptico sabem, nada dá muito certo. Mas se crê ainda no resultado disso, da aleatoriedade do acaso, que é um começo, não o tudo (como dizem que preenche), mas com a verdade da proximidade. Cada um encontra sentido naquilo que mais lhe é caro. Mas por quais cargas dágua isso deveria ser considerado algo de bom? Algo de produtivo? Um e-mail convida para a profundidade, o que se encontra então? As pessoas são sobre pessoas não sobre cães, ou crianças. Quando vira amizade então? Pra ela aquilo de amizade era muito maior que o amor, muito maior. Foi um dia assim correspondida, como se a obrigatoriedade do amor, do namoro, não se fizesse necessária mais, mas aquilo que sentimos pelos amigos. Isso sim beira a eternidade, pensava. Mas ali nesse ponto mais lindo, mais raro, não era ali encontrada. Não é sobre meditar, sentar, esperar, silenciar. É sobre fazer algo para que aquilo perdure mais do que o tempo do amor/amado. Em profundidade. Era o desejo. Mas pouco e poucas vezes viu isso, afinal, palpitações, suspiros suspensos não combinam com paixão, onde estariam então? Ali, na alegria do prazer do outro, na satisfação de sentir-se presente mesmo que em distância, pois que o amor estava pra além do estou livre, ou do fiz minha parte, pena que… Lavo minhas mãos e que o tempo se resolva, lamento. O amor amizade está, e permanece, no olhar amoroso do outro, quando diz, sim, você vacilou. Não são lamentações, são conquistas, é ouvir no silêncio as palpitações daquele que você conhece profundamente de alguma forma. A recusa disso, a recusa de ouvir o que fizemos de não-tão-bom, não é nada, de nada serve. Ria! Está na alegria de estar perto, no matter or what.

O prazer de estar junto na distância é infinito. É conquistado com muitas brigas, mas com uma certezinha, lá no fundo, de não afastamento. Porque nos iludimos nessa busca. Nos iludimos no sexo. Vez ou outra acertamos na querência de pessoas perto, presentes, nos puxões de orelha, naquilo que de alguma forma nos impele para sermos além do que somos. Sermos além do comum. Além disso tudo que é pequeno e disforme, e sem compaixão. (Muitas vezes me pergunto, se as pessoas que mais tenho apreço, sabem o que é de fato, sentem, agem de fato, com compaixão). Tomar socos no estômago virou rotina, naquele tempo. Toda vez era aquilo. Era a alegria do reencontro? E a certeza de que ser o que se é seria perene? A verdade que nas relações o ser-o-que-se-é guardava um grande e belo chute no balde, aquele balde que sustentava as pessoas na forca, sabe? Aquele chute que era a sua própria sub-libertação e ao mesmo tempo a condenação do sofrimento do outro. Isso lá era algo que devia valer a pena? Sim, se a pessoa soubesse disso, mas como saber sem compaixão? Há, diziam. O mundo dá voltas, deixe tudo para trás, e siga. Como seguir sem as mãos que nos auxiliam? Milhares de milhas distante estava, mesmo quando se está apenas longe. (Resolução de ano novo: atravessar por além mares e pousar no outono de outro ano pra sentir prazeres de amizade por alguns dias –  em família). Brindemos por mundos em que abraços sejam verdade.

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John Batho, from series Parasols

 

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