Please, be kind

Essas coisas não estão nada bem. Não há problema em sentar-se sozinho em um café, desenhar firulas em um guardanapo, algumas palavras sobre o seu dia,  beber tequila e se apaixonar por amigos virtuais. Minha querida, um que seja selvagem, um pouco, o bastante… À luz cedo, disfarce. A noite atuada, passada, bom… foi.  Quando a maneira como você se apaixona tem aquele sabor estrangeiro, passa perto de fazer força para que seja amável, por favor seja gentil. Viva a vida com os olhos abertos e os braços girando. Nah… cansaço. Às vezes, mas só às vezes, achar seu rosto o mais delicioso e sorrir. Não será o bastante, já sabe, pros egos mais egos. Diga, vida não tem de ser vivida dentro das cinzas. Nem preenchendo buracos, carências. Porque é bom não estar sozinho. Não exatamente estar com outra pessoa, tantos rostos… mas importa não estar sozinho. Isso é tão frágil.

E sentir alguma humanidade conectando através de um simples sorriso ou um aceno… você terá momentos onde seu cérebro quer escapar de seu corpo e seu corpo vai sentir como em uma prisão, quebrando contusões ao longo do seu crânio em eletrochoques dos neurônios. Essas coisas, não estão bem, nada bem. Tentar. E colocou a mão sobre seu peito para sentir seu coração batendo e respiração forte. Permissão. Cada um para si. Concedida. Não há problema em usar batom, brincos ou não. Apaixone-se pelos meninos. Não há problema em sentir e deixar-se crua e real. Rios de arrepios ondulação fria através de sua espinha, não há problema em chorar.

Afiadas lâminas em sua mente, implorando para algo que alguém que você almeja seja. Não há problema estar sozinho, às vezes, é melhor para esconder as lágrimas e seus próprios olhos. Você deve defender seu direito de sentir sua dor. You’re still the bitch, still the slut, anyway.

Meret Oppenheim

Meret Oppenheim

 

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Solapar-se

Pois que tava daquele jeito pensando que tem sido tempos difíceis pra gente, tentando acalmar as ansiedades todas. As palavras que estavam na boca que não vão, porque não consegue sair do apartamento, queriam te ver no altar. Deixa o gosto do tempo que faz, os dedos grossos. Queria ver mais filmes, em algum lugar, pra ir pra outro. Para molhar e salgar. Nem me lembro mais… Não era possível ficar à vontade… exatamente ali, era do naipe da que enconcha. Não é delícia essa parte que pouca coisa muda. Esteve tão enfurecida, por tanto tempo, enfurecida pro dentro – o que lá não era uma exclusividade sua. Hábil pra tirar as meias de nylon durante um striptease debaixo d’água. Queria absorver goles de ar, às vezes. Quando fora de contexto, a mania nacional, o que importa mesmo é o tira logo a roupa. Porque o corpo é uma festa, está sempre em festa, mesmo que emudecidos, o fogo-do-ar foi silêncio e sabia que se arrepiaria pelas próprias mãos.  La la laiá laiá la la laiá… Porque tava com cara de que ressoaria dentro, de alguma forma. Criou muito bonito dezenas de textos enquanto desfrutava de cocktails, sol, o simples e o samba.

 

Sentimentos acham lugares estranhos para serem guardados… 

 

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Divena

 

Alguma autodescoberta

Porque hoje quis muito chorar. Falta espaço, lugar, ombro. Falta faltar vergonha. A íris vermelha num deixa a voz sair. Talvez, talvez tente. Não comecei a interessar-me por tudo isso muito cedo. E lá era uma mistura de ler alguns livros que estavam por ali e alguma autodescoberta. Ainda que tenham sido dias intensos, era possível afirmar que o desejo era de ultrapassar o nada. Ano após ano em fila, quatro décadas. Para muitos parece mais fácil tirar forças para a vida em ameaças de fim de mundo, fim dos tempos, deuses e todas as propagações de ódio. Deve ser bom, reconfortante, aliviante… ter certezas. Pois a corda no pescoço de acreditar na deterioração da vida, das vidas todas…  sentir  (e como sentir) objetiva e subjetivamente, no seu cotidiano…  sabem que criamos lembranças falsas o tempo inteiro, não é? Há sempre um ofício, um trabalho sobre as palavras. Todo cérebro se ilude ao resgatar eventos passados, sei lá se devemos confiar na memória… mas sei que fiquei sem roupas.  A partir dali era só resgate… concentração de forças e recursos do naipe de resistência. Cansa, não cansa. Cansa. Estando o tempo todo se adaptando, se esquecendo de detalhes e fatos, para colocar outras coisas no lugar. E essa vontade de lágrimas? E tem jeito das lágrimas secarem antes… antes de rolar abaixo? Tem silêncio na solidão não.

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Tanto vigor

Disseram que eu não existia e colocaram um colar em mim, mais uma vez. De onde estou só vejo pernas, com calças, com meias, com joelhos. O amor, dizia, é complicante. You are getting old. Só queria envelhecer como se não estivesse envelhecendo, com a vontade de colecionar rugas imaginárias. O dia promete ser de lutas, todas. Interessa a tudo. Eu não posso falar por ninguém, mas para mim que sempre fui muito mais um ali, no nada, a fazer nada, era abismo. Coloquei pausa no sabão pra escrever. Porque diabos as pessoas são tão más? Inseguras tentando não ser, fingindo não ser, porque era importante aparentar-se inteiro. A maldade vinha de mão dada com isso. Mas a maldade era ensinada de pai pra filhos, no final tinham uma família má, exceto as crianças enquanto crianças. Ele disse que gostava de bater. Eu nunca bati! Ele serviu e serviu e serviu-se. Entornou duas vezes. Era bonito. Queria piscar normalmente, mas piscava lento, e saíam águas dos olhos. Infalível castigo. E a verdade da questão é que estamos em um mundo muito, muito acelerado e para a forma de bem estar desejando um ritmo mais lento parecia não fazer sentido. Mal se apercebeu eram mais de duas da manhã. Os caixotes batiam, pensei em pular da janela. Seria facinho dali. Porque então não seria muito relevante para os tempos que nós… Não queria mais coturnos, pesam e penam a caminhada. A vida tornada interessante submete a uma lógica que você não controla, já que duas ou três coisas são muito mais importantes do que o que você sabe. O amor foi apertado cheio de abraços. E os dedos tinham estrelas.

 

 

Ventaneando

Só teriam um ao outro nas coisas íntimas, circunspeção, meditação e capacidade de espera. Ela estava era cansada de falar do óbvio, de sentir aquele embate novamente. Era batalha perdida. Olhava ao redor e via pobreza de vida, de ações. Tinha quem estava feliz em se entregar e odiava quem não.

‘É assim mesmo e sempre vai ser’, ‘esse povo tem o que merece’ era o que ouvia que mais entristecia. Não ter que ser bela era algum tipo de super poder naquela época. O pensamento, que produz opiniões…  vivemos sem saber de fato dizer o que é a diferença.

Faça fazer sentido por ali na esquina, rodando com os dedos duas ou três folhinhas, agachada no canto. Então um homem não pode simplesmente abrir uma porta e olhar? O mundo dos fatos reais. Porque nem devia pensar em avisar à pequena, tu és e pronto.

Talvez uma realidade mais sensível, mais difícil, menos precipitada, correria danada. O estado de sonolência a deixa bem. Porque a sede estava aplacada por esses dias, queria era dormir, querendo menos. Vontade de nada, mão no queixo, cabeça apoiada. Pose de ancestral. A respirar de forma menos profunda do que seria desejável, menos gases tóxicos, mais sutileza.

Há de se acostumar, vida sem água.

 

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Lucien Clergue, Bird fallen from the nest, 1955

 

 

Olha-me com cuidado

Não surpreendia que emagrecesse. Teve um ligeiro ataque de influenza que acabou se arrastando, insidiosamente, por dias e dias. Não melhorava nunca. Num fim de tarde pôde ir ao terraço, apoiada pela parede. Se  pensa terá angústia, se duvida terá a loucura, disse o Galeano. A escolha de solidão, de solidão ativa, tem relevância não só para o romance. Mas é aquele diabo de busca por algum fôlego de vida, alguma alegria de uma florzinha de mato. Achava que era uma pessoa dessas sensíveis, que não se recuperam  fácil das quedas da vida. Vulnerável. Uma pessoa busca prazer ao sentir dor ou imaginar que a sente. Coisa por demais importante e por demais séria. Olhar com cuidado. Ali, já respirava melhor… nenhuma solução era pra ser satisfatória, afinal. O entendimento sobre a realidade da maneira mais… bom, não queremos que vá alguém que entre em pânico logo ao primeiro tiro.

— Boa sorte — falou a outra mulher. Fear is boring afinal. Tenha coragem na sua própria desconstrução. Vamos aos saltos.

 

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Catherine Deneuve and Françoise Sagan on the set of La Chamade directed by Alain Cavalier, 1968

A vez da nova suavidade

Às vezes se tem problemas para começar, às vezes você tem problemas de continuar o movimento apenas. Estava contando os passos quando refiz o caminho de casa. Tento não pensar, ou dizer-lhe que não estou disposta a esperar. Pelo menos não como antes. Porque profundamente no meu coração estou disposta, o coração ainda está disposto.
Impaciente com meu cérebro, desajeitadamente procuramos o jeito e os outros jeitos de viver e, inteiramente desprovidos de territórios, nos fragilizamos até os desmanchar irremediavelmente.  E é o que está impedindo de se acalmar. Essa maldita vontade de espelho. Quando esteve dentro da casa cerrada, ruminava ofensas, ironias… as palavras, olhares ou insinuações oblíquas. Mas aquilo estava no passado, era matéria em movimento o novo sentir.

Hwa Kyung Kim
Hwa Kyung Kim

Oscila

Antes, bem antes daquilo, o cotidiano era um andar nas alturas. Um ritmo acelerado a duras penas buscando um teco de serenidade. Extenuada, enfrentou contigo as palavras. Um desejo antigo aquele, meio sem dono, sombrio e repetitivo, dava tempo para um suspiro. E que escura me fiz, se a fome vem larga e espessa, atordoando os sentidos, talvez fosse saudade. De agora em diante, fábula conceitual. Fruta boa da isenção de vontade, alheio à dor. Guardemos o contraditório, então. O que estamos fazendo de nós. Olho que não pode ser, não pode ser em nenhuma direção. Paisagem. Tem um dia que você consegue, e por alguma razão começo a desconfiar. Ver é para que se seja algo. Ausência. Algo absurdo e sem sentido, vontade de conhecer mais afetos, contundência. Vai ter um dia que vão fazer uma festa pra você. Oscila. O sentido é sempre o do tato, na direção da alegria do desejo. É importante que ele venha de longe, cheio de marra, cheio de respostas para a vida, que contamine a todos pela potência da vida. Independentemente do vivente.

Egon Schiele
Egon Schiele

Sair e chegar

Diante da mesa dizia eu tenho os dias contados, encontro marcado, eu não sei de nada, eu não soube querer. Era uma moça incerta, queria os sinais, daqueles que precisava para ter certeza de algumas coisas na sua vida, você sabe, os amores… os caminhos. Goles quase gelados, até pareciam gelados mesmo, um teclado safado ao fundo, todos os calores. Ahn, a surpresa boa mesmo vinha sem sinal nenhum. O olhar do outro amansava as aflições, dizia, que nem esses goles de cachaça. Vai que esse trem degringola. Porque dá um medo do cacete.

Na hora mais engraçada do dia tentou abrir o jogo, todo mundo prendeu a respiração, depois do silêncio… surgiram aqui, meus olhos vermelhos, meu rosto cansado. E antes que eu esqueça venha e fique. E sinceramente, não há nada mais bonito do que ser independente, e poder se conquistar, sair, chegar.

Poizé, e como todos nós, tem dias que chora sozinha na cama.

Harry Callahan
Harry Callahan

José

E depois de tudo

Em Céu Azul continua a mesma pendenga. Eu não sei porque eu ainda me importo, eu bico, eu imagino, eu luto, mas pode ser que faltem forças em algum momento. Passamos algum tempo juntos caminhando, algum tempo falando apenas. Um ato que parece nos insistir para fora do tempo e do espaço. Tem sido nove anos desde que pude chegar perto de você. E o novo começa exatamente quando seguro a sua mão. E fomos por onde achamos que seria um caminho de alegria, viajar por sobre o mar, por sobre os dias. Muito pouco poderia retirar o riso frouxo do retorno, o exemplo mais notável do que as lembranças das dancinhas que a gente fazia tempos atrás provocavam, e depois era só estar juntos a beber, naquele salto incondicional de fé. Juntos se vislumbrava uma absoluta clareza de intenção (boas intenções) em relação à vida. Mas enquanto passeávamos tão casualmente, preferia divertir-se com o não identificável, que, como se vê,  tem sido a sua salvação. Eles parecem como se tivessem sido jogados para morrer, inaceitável, disse. Uma imagem no espelho, de uma clareza destilada, escondendo seus temores, como lobos na floresta, uivando. Era assim. Nas entranhas. Contém elementos repetitivos da vida que funcionam como que com um otimismo florido em sua busca. E que os desejos não sejam repetitivos e que criem uma atmosfera de transe sobre os onze minutos em que estivermos juntos, com pianos e sinos fora de ordem. Proporcionando um dos momentos mais eficazes dessa empreitada. Mas os rígidos ritmos de condução tornou-o mais óbvio. E lindo. Simultaneamente atravessava séculos.

Algo estava tão certo, como o brilho muito brilhante de uma máquina de Coca-Cola à meia-noite. Sequências eletrônicas limpam as pequenas nuvens macias, revelando céus rosa como quando o dia se desvanece. É o som de um por do sol dourado, e é neste ponto que os tons ambientais estão mais livres, correndo contra o sol. Foi olhando para o quadro completo e não apenas fora de um canto da janela que desistiu.

Yoshimoto Nara
Yoshimoto Nara

Árduo e ardente

Nesse vertiginoso momento, as paixões do passado jogam contra, e em construção, os pensamentos do mundo material  atordoam as boas almas que galopam por aí. Estamos todas em busca de algo comum, ordinário, numa forma mais tangível de construção social. (Os artifícios, que mesmo tateando no escuro, prometiam a sobrevivência.) E lá se ia tentando descobrir os caminhos, que não eram redutíveis ao físico, ao tátil, ao óbvio… E se acharmos pessoas que nos tragam equilíbrio, na tentativa de tentar trilhar de maneira mais suave, ergueremos um brinde com cachaça. Leu e guardou: para mim isso serve pra tudo, amor, trabalho e a eterna tentativa de ser um ser humano melhor. Ele carregava uma promessa de libertação, de fuga do peso do edifício moral, de alguma gravidade ou toda a realidade. E que se fez muitas bobagens, diga-se. Uma nova arquitetura combativa contemporânea seria construída, e encontrar-se naquela ideia não atolada por aspectos técnicos ou mesmo qualquer paradigma especial era doloroso, árduo e ardente. É o que dizem, viver o medo.

Estar perto, conversar, abraçar, se amar são o que no resta nesse mundo clown.

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Tempo da rotina

Margarida nasceu em 1989 e vive em Monte Azul.

Era pra ser sobre o amor e não sobre se estar a se embaralhar caminhando por um corredor escuro cheio de vermelhos nas paredes. Como apareceu na minha frente e meio zonza me descubro mais pungente. Mais triste. Mais ultrajante. Mais quente. Mais importante. Os sinais são reveladores juntamente com alguns sons estranhos. A banda boa que toca, desconhecida, estilo shoegaze etéreo com uma laje de espessura suficiente pra se construir mais três andares de prédio – de pós punk. Sabe que gosto. Música de OVNIS. Lembra de um texto que leu, estou mais velha mais dura e mais canalha, não é bem assim, mas é assim também. Não deixa de ser. Imagine os sons de Cocteau Twins, Slowdive, The Cure em um liquidificador… sinto falta de você, não tenho te visto muito ultimamente por aí. Aí simplesmente a noite é lenta e não é possível que escape sem deixar pistas… Porque acha-se paraísos por aí. Dance na noite, brincando com meus olhos, esmagando-me com mentiras, escute, diga mais uma vez, que o amor é o paraíso… Isto é tão perfeito como uma música que você vai ouvir… Sussurram em mim, tocam meu rosto, limpam. Irei dormir, sonho pouco, acordar assustada, falar com ninguém mais por hoje.

I’m going to drift into your eye.

Diane Arbus
Diane Arbus

Território do infinito

Toda a minha vida, dentro e fora.

A primeira vez que eu comecei com isso foi depois de anos, ela só ficava ali fora do caminho perguntando porque eu realmente não quis saber sobre certas coisas dolorosas sobre si.

Eu acho que é a natureza humana, dizia. Descobri que é útil na vida, você não tem que sempre dizer o que pensa de alguém, porque se não se pousar em seguida, você terá desperdiçado a multifacetada sinceridade. Quando eu digo o que quero dizer é pouso e alguém agarrará o movimento. Há uma defesa necessária, eu quero dizer que tudo o que temos são defesas, e que isso poderia ser uma forma de arte.

Eu andei de terno nesta sala cheia de pessoas e de uma parede à outra havia fotos de todos os personagens que eu já tinha atuado e isso me destruiu. Não me fez sentir bem. Eu sempre me perguntei o que era um ataque de pânico quando as pessoas me falavam. Mas eu fui para casa naquela noite, fui para a cama e tive um ataque de pânico. Eu nunca havia tido um daqueles; foi horrível. Pela primeira vez eu era capaz de entender as pessoas quando elas dizem que poderiam saltar da janela quando se está neste estado de espírito, porque você só quer alívio a partir dele. Foi uma sensação extraordinária. Ao invés de me sentir bem, senti que tudo estava acabado e que de alguma forma eu não tinha sido capaz de me conectar com o que eu realmente queria manter contato – somos diferentes das outras pessoas, disse. Isso quer dizer que somos diferentes de todos. Nós somos diferentes das pessoas que preferem não ser na frente de outras pessoas. Eu disse: “Por que fazemos isso? O que nos torna diferentes? E ela me deu a resposta mais honesta que eu já ouvi alguém dar:

Olhe para mim, olhe para mim, olhe para mim, olhe para mim, olhe para mim…  eu tenho arrepios e os cabelos se eriçam na parte de trás do meu pescoço e isso é tudo.

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Esbarrei no espelho e pedi desculpas

Vez que você estava livre de trauma saiu por aí alegre e tagarela. Indo para lá depois da esquina deleitar-se com prazer e felicidade e isso poderia ser tão estranho como uma conspiração.

Há maneira de ser o que se quer ser, deu pra ouvir. Quis o fim da tarefa no naipe da lisura do seu corpo – a sua beleza era uma espécie de gula divina, eu deveria dizer. Escrevera aquelas palavras com fluidos corporais em seu caderno, como em um novo transe, sim, foi uma entrada muito aguda, muito mesmo. E que seja para o exorcismo de seus próprios demônios! Como mergulhar num buraco negro a tensão entre o mundano e o sobrenatural quando a mente não consegue pensar abstratamente?

Pois que a realidade sempre se alivia com o prazer, já que há o comprometimento de cada um com seu mal-estar generalizado. Ela só pensa em se pintar, cabelos, unhas, lábios… Mas essa era toda a questão: como se passar em pinceladas; e até você conseguir isso, não importa que o assunto seja ostensivo, era pra se ter harmonia entre as partes.

Do início de uma letra, no meio de uns abraços, no final de um dia no campo. A confusão agradável que sabemos que existe cá em nós.

Daniel Egneus
Daniel Egneus

Cantarolando

Na parte da manhã quando eu acordar e o sol estiver atravessando a janela, você encherá meus pulmões com doçura. Preencherá minha cabeça com você. Devo escrever uma carta? Penso pedaços de uma música que eu não consigo esquecer e deixar sair. Eu posso estar perto de você? Posso levá-lo para uma manhã de sol e café imaginando campos pintados de ouro, lá onde as árvores estão cheias de memórias dos sentimentos, nunca te disse?

Quando a noite puxa o sol para baixo e o dia é quase completamente seu e todo mundo está dormindo, mas os mundos são você. Posso ser perto de você? (Ah) oh  [assobios]. Já faz um tempo que, então, eu realmente gostaria de conhecê-lo, mais, você sabe. Eles cantam uma canção assim, gostaria de ir até o horizonte. Apenas para você todas as lisuras estão girando em mim e tudo, tudo aquece. Lá pela linha de tristeza, sim todas as menos definidas listras dos gatos mais frios. Mas então estar-se a refinar, oh sim. E eu quero ver coração coração coração coração e alma.

Coração e alma porra, meu coração e alma. Por instante.

Sabrina Arnault
Sabrina Arnault

Pulos

E havia desistido de ser anjo, ou anja. Ou santa. As asas estavam vermelhas já. Dentro do quarto, quis a nudez, sem blusa sem sutiã, sem calcinha. Estava úmida, sentia-a já nas pernas. A conversa a deixara quente por muitas horas. Um pouco mais, um pouco menos, sentia ser múltipla nessa vida, existia o corpo, mesmo que por muitas vezes preso às narrativas inventadas do dia a dia. Deu pequenos pulos de alegria, o vento frio coloca limites, pele arisca e arrepiada.

Às vezes tinha a sorte de ser lida no transe, nas estrelinhas púrpuras que sentia pular dos olhos. Decidiu há algum tempo procurar apaixonadamente suas narrativas que aceleravam o pulso; o céu estava claro e assim permaneceria, sentia. Gostaria dos pingos grossos que refrescassem a noite que chegaria aliviando a secura do ar. Tomou duas doses de cachaça (entorpecer é quase sempre maravilhoso) que conferia certa delicadeza dos movimentos.

Era bom e sabia que seria bom quando acontecesse. Pulos.

Amy Judy
Amy Judy

Estrada vazia

Tento não ficar na zona de conforto, correr por fora, porque no final das contas, há crescimento nas derrotas. I’ve been waiting too long… dessa forma você poderia trabalhar com as informações que tem à mão: tempo, tempo, tempo, palavras. É uma coisa estranha de se dizer isso em voz alta… você pode trabalhar com as experiências que você tem com seu próprio corpo, suas cicatrizes, a bem dizer. Se incline para cima e mantenha-se. Se não é luta o que está vivendo, então realmente não está a viver. Dia de domingo é dia de serviço, botas de couro e ser o primeiro a chegar. Por ser tão fechado, Noel não podia saber que estava sendo tratado por Basco, pois a ideia de ter alguém invadindo sua intimidade o assusta completamente. Mas nessa noite enluarada fica selvagem, pois tem que tocar o avião pelo lado de fora e colocar os dois pés do lado de dentro ao mesmo tempo. É a forma como lida com a vida, com rituais e medos. Evitando esbarrar em solidões por aí. Pelo túnel se perde nas luzes. Em uma estrada vazia o vento fresco fresco me faz sentir tão bem que sei que eu estou indo rápido demais (eu estou indo rápido demais). O dourado e o vermelho combinam muito bem, muito bem, embora perceba que já não consiga se mover. Sim, realmente assustador.

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David de las Heras

Pilequinho

Porque acaba que o dia vai ficando mais leve com o passar das horas. Sentiu aquela paralisia corporal quando acordou, o que é sempre aterrorizante sentir, incapaz de se mover, com medo de mergulhar novamente no sono e se perder. É uma espécie de morte. O quarto baila, já que objetos completamente fantasiosos aparecem nas visões em meio a objetos normais. Uma força de existir, persistir, sobre humana, um sonho lúcido. Brevidade, sem excessos. Confiante daquilo que descobriu na solidão do sono. Acordou hoje de manhã para descobrir uma miçanga perdida num dos cantos do quarto, acordou hoje de manhã precipitado e desvairado. Raios e tempestades caem na realidade, pois os homens criaram limites pensando num ideal (servil) que tira a força de existir. A gente inventa jogos e trapaças para suportar o acordar, e seguir com o impulso de ir em frente, vá pra vida, rapaz. Você pode escolher pertencer à manobra do gado, maldizer sua condição e a dos semelhantes como se não fossem as suas. Corpo desperto, afetado pelo mundo, com as raízes no infinito pois por aqui o corpo não é  mais sagrado. Não precisa compreender nem aceitar, mas percebe que era cedo demais. Que sejam vistos e ouvidos, entorpecidos entre palpites e boas ideias sem critérios. Dos afetos primários, alegria e tristeza, nascem todos os outros. Segue em linha reta desequilibrando-se.

Yangyang Pan
Yangyang Pan

Pensar em seus pés

Era a Regina, era ela. Eu sei a intenção daquelas duas pessoas, eles querem um canal direto com o amanhecer! gritava, pra ninguém. Costumava ser arrogante e carismática, contente e feliz, vestindo roupas coloridas e um grande chapéu com uma pena. Eu realmente não sei o que é ser autêntico, como dizem.  Eu tento fazer cada trabalhinho, porque é importante para mim fazê-lo. O medo do fracasso juntamente com falsas esperanças minam nosso querer, sabe, acaba com tudo. E com esses materiais, estou totalmente à vontade de tentar combiná-los, porque isso é uma maneira muito diferente de trabalhar, tecer essa coisas. só. Aquilo que pode ser realizado através de auto-controle e frugalidade do gesto, introspecção e consciência, que podem formar a base de sua própria personalidade, eita, amém. Este é um cartão de festa e de abundância que pode ser chamado de sorte ou destino. Eu quero lidar com todas as grandes questões humanas, o que me consome. É como se estivesse em uma névoa induzida por drogas – que faz com que se sinta grande e sempre deixa você querendo mais. Mas o que se pode fazer é permitir espaços no trabalho que não excluam a possibilidade de morte ou a alegria ou a beleza e todas essas coisas.” Este trabalho é sobre a morte.

Kris Knight.

Deliberadamente

Talvez. Respira profundo na parte inferior do abdome, comprime com força, pega o ar de toda a parte, ansiedade. Céu azul com nuvens, apreensões sobre o desconhecido. Prende os cabelos com uma bic azul e se sente azul todo dia. O psicodrama estimula a força criativa, palco-mudo. Não seria louca de todo se o momento envolve o conceito de purificação da alma, imaginação, astúcia. Corpo-consciência é um fator-chave, pede para pendurar lá no prego, o xale. Mantendo segredos. Condições ocultas e circunstâncias desconhecidas… Quanto mais você assimilar o sentimento à possibilidade de tomar decisões assertivas, mais você fortalecerá os Eus ainda vivos, amém. Repete, amém, amém, amém. Mas já sabe, basicamente a mesma vida. Eu não tenho e eu não tenho. Comemora a colheita das folhas de chá, regresso à casa, gerando um sentimento adequado de gratidão pelo que foi feito até agora. Preciso de coisas materiais e música alta, já que em cada esquina há um tema diferente, e muita conversa fiada. Podia ser agora madrugada ou estar em viagem de trem. Põe o pé no chão frio, experimentando um sentimento de pertença. Nostalgia e feliz memórias. Saudade de sabe-se-lá.

E está muito inventiva em meio a emoções turbulentas, apesar de tudo, boa vontade.

Izziyana Suhaimi
Izziyana Suhaimi

Mas a boca

Porque isso sou eu, e tudo o mais depois disso. Isso poderá fazer mais mal do que bem, saiba disso. Tinha um perfume cítrico e suave, de maracujá, desses que adorava passar depois do banho. Poucas coisas alegravam tanto o seu coração quanto aquele cheiro. Se encarregava das questões de dinheiro de forma cautelosa e prática, em um esforço contínuo pra fazer tudo dar certo. Quando pela primeira vez esteve doente (daquelas doenças) ficou só, despedida por capricho. É difícil, eu sei, mas é assim que funciona, dizia. E nem é novidade, já previa. A boa notícia é que quase sempre nos curamos. Sua companhia foi uma descoberta agridoce, disse o outro. Era para qualificar a tal “agitação profunda, dores fortes, medos irascíveis”…  Quis dizer: eu prefiro que seja pelas minhas veias aparentes nas mãos mas eu reconheço uma melancolia nos meus olhos.  Eles são verdes, e um pouco transparentes para os dias de hoje. Meu cabelo está prateando também. Minha esposa diz que essa é a minha distinção. Quando eu tomar seu tempo para introduzir pensamentos coloridos, confie em mim. Agora… os gestos (que não se precise falar tanto sobre eles). Surgirá a leveza a partir de experiências técnicas e de um tipo que pessoas alheias a ela também. Eu sou o Cavaleiro das Flores e esta é minha história! Eu tenho minhas próprias forças sobre como ser criativo, sou prenhe de ideias espirituais que deveriam ser tratadas, e eu não sou tímido sobre deixar minhas opiniões conhecidas. Não é que eu estou sempre certo na minha visão, mas eu tenho a melhor maneira de chegar ao sol. (Eu geralmente tenho os melhores atalhos também!) Eu não tenho tempo para metodologia ou pragmatismo, se você quer fazer as coisas da maneira dinossauresca vou marcar um caminho sem você. Mas, se você está parado e precisa de inspiração, eu sou o homem jovem vibrante que lhe chama. Segure-se firme que vai ser um selvagem a guiar! Eu sou destemido também, o meu sorriso brilhante dependendo de qual lado, é irresistível quando eu preciso para jogar. Meu cabelo ruivo brilhante é uma característica física da minha paixão, e ninguém pode resistir aos meus nítidos olhos de esmeralda.

Sua falta de água o faz impaciente com a sensibilidade e o saber que amar você é errado… Mas a boca não disse palavra.

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Oana Farcas

De ânimo leve

Respostas por escrito eram imprescindíveis e, sem razão aparente, deixaram de chegar. As poucas últimas não foram como de costume. As quartas-feiras, os sábados e os domingos tornaram-se dias especiais para ela. Muito importante, porque eu acho que a linguagem da Isaura tem que voltar das alturas abstratas em que tantas vezes ela vive. À riqueza do discurso cotidiano façamos um brinde. E da humanidade. Tem que ouvir as maneiras que as pessoas falam sobre si mesmas e do que importa para elas. Freqüentemente, como resultado de uma consequência intencional “tome dois goles a isso, absorver, você está sozinha agora”.

Padrões foram repetidos apenas para dar o mesmo resultado, na mente explore como nos tornamos humanos, alguém que influenciou fortemente a sua vida te acompanhará. Podemos fazer uma pausa e tomar algumas respirações profundas, por obséquio. Ainda guarda a pedra. E como um mistério da natureza tinha a capacidade de obter respostas do nada, especialmente neste momento em especial. Eu sei que os dias chuvosos pedem para ter a coragem de criar sonhos que vão durar. Agradáveis. Muitos dizem que são contra, mas a capacidade de decidir o como e por quê, (e na superfície teve as conseqüências que se seguiram) nem de longe assumiram o significado mais amplo da existência, essa miúda, pedindo-nos a fazer escolhas impossíveis entre várias coisas que nos são caras.

O ar frio aterrorizava, não conseguia parar de tremer, mas você não tem tempo para dormir, pois esse espaço claro para as mudas frescas que um dia serão uma grande floresta, está repleto de ação.

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Nadav Kander

Os três copos

Você perdeu a sua personalidade porque andou em cascas de ovos para manter a paz? Tente não se preocupar muito, menina, a mudança de vida acontece quando encontramos uma direção. A tentação traz para você uma luta formidável com o que seu coração deseja e o que é certo para você… e o potencial de fazer a escolha errada. Você tinha um monte de ferros ali na brasa, não é, e se queimou! E por causa da natureza requintada de como você foi reparada (com ouro?) deu-lhe mais tempo para desfrutar de um sabor de liberdade. (É que os antigos acreditavam que não se tenta reparar como novo, tenta-se reparar para que seja melhor do que um novo). Porque depois de reparar, as linhas das cicatrizes tornam-se caudalosas como rios. É tão natural destruir o que não se pode possuir, negar o que não se compreende, insultar o que se inveja. Queimaduras da nossa vida continuarão a arder em nós, mesmo quando o amor humano (re)começar. As formas sutis, subterrâneas, mas o que involuntariamente se retêm destina-se a ajudar-nos a avançar. Aquele anjo, muito doce, cheirando a dama da noite, também a aconselha a procurar os significados sutis além desses eventos diários. Esta próxima amnésia que espera por você é apenas um outro tipo de graduação, mais um passo na vida de muitas graduações.

Cumpre abrir espaço… venha, sente-se e faça aquele papel que representa a grande reunião que os antigos acreditavam que aconteceria uma vez em todos os tempos. Este foi o momento em que as almas são colhidas e levadas de volta para seu lugar de origem, fora do sistema solar. Você não está à deriva, está no pó. Todos os quase-acidentes, toda a curiosidade espontânea acabará por começar a dirigi-la exatamente para a direção… certa… magnífica.

 

rodrigohmfotografia.com
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O segredo mora atrás da cômoda.

Lion descobriu um fita cassete atrás daquela cômoda antiga. Sinal de tempos que passaram, foi um presente da Flora. Fisicamente magra, mas forte, gosto musical surpreendente, ela era capaz de presentear com graça (gravações, pequenas porções de amarelo ou florzinhas de mato), deixava saudades todos os dias. Uma vez ganhei dela uma chavinha que abria um cadeado imaginário, ela disse, só pra amigos, esse cadeado é meu, a chave é sua. Poesias de todo dia, como dizem os muros, cada um com seus poema.

Estavam na direção de amostra dos segredos escondidos, por isso nos deixa certo que vai vir um tempo de espera, reluta mas diz: as paixões dominantes, a ambição sem medida e as paixões sem controle – todos devemos evitar. A conversa informal que se seguiu emana uma mistura inesquecível de bom humor, humildade e sinceridade. Eu queria descobrir como poderia chegar lá e como eu poderia voar. O tempo que me habita não é o tempo das coisas, não é o tempo das pessoas, não é o tempo da contagem dos pontos no crochet. Mas as coisas, elas são como as estações do ano, tenho uma vontade de compreensão profunda da hora certa, afinação. Aquilo que evitamos não deixa de existir. É viver na finitude como quando é possível amar alguém apaixonadamente, mesmo que só uma pessoa… Ainda que existam aindas. Então, diante dessa verdade, ficava claro que não adiantaria brigar. Quando você está brigando com a outra pessoa, na verdade você não está brigando com ela e sim com aquele aspecto seu que ela está mostrando e que você não quer ver. Agora é ouvir a fita e sentir sede.

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Conatus

A gente busca uma realização da natureza primeira, talvez o segredo esteja na abordagem das novas ideias.

Mas se bem que produzir por produzir é vácuo. Perpasse a pulsão em todas as suas ações e nas dúvidas (as pedregosas também), se tiver fôlego. É que às vezes precisa de tempo pra se fazer, precisa quebrar a cara algumas vezes, e mesmo assim, continuar.

Seja no silencioso sentar à mesa, esticar a toalha, ajeitar as xícaras, várias vezes em um único dia, dia após dia. E só jogar aquilo que se sente verdadeiramente como jogar. O que está em minha alma no momento é o que eu quero fazer, muitas vezes um emaranhado de mudanças que não podem ser enfiadas nos carretéis habituais: E no pensar, eu o avistei. Corri para alcançá-lo. Apenas caminhamos lentamente lado a lado em um exercício que durou de 5 a 10 minutos. Ele disse, pode-se causar reflexão e discussão, que é tudo que você pode fazer. Eu tento não olhar para trás. Eu estou olhando para a frente. É tudo pelo menor conteúdo de doloridos. Bem, deixe de dar alguma olhada para trás. Todos eles estão apenas imitando outras pessoas… Penso sobre o que ocorre dentro e fora de nós enquanto ouço aquilo. Não concordando o caminhar ficou mais lento. Desacelerei até estar só novamente, para novamente correr para alcançar. Movimento que se repetiu várias vezes, por um tempo, por uma vida. Assim era como se vivia naquele tempo, sonhava. Alcançar e desalcançar. Sentir e dessentir, amar e desamar (ou pelo menos aprender a amar de uma outra forma). Foi perdendo o fôlego. Foi perdendo a vontade (queria que mudasse seu caminhar também) mas não o desejo. Era inútil, percebia, mas não se convencia… queria que as atividades da vida cotidiana fossem interligadas formando uma única prática, o caminhar acompanhado.

Como era tacanha nesse pensamento, então. A recusa de alguém à sua companhia era dilacerante, mas não deveria. Dizia-se que atrito gerado por este processo (enlanguescer-se) – integração da vida cotidiana no movimento e pausa – pode, quer, deveria fornecer a energia que cria mudanças para quiçá poder crescer. Enquanto isso, outros acompanhares surgiram, permaneceram, desapareceram, se importaram. Diante de uma dificuldade, não conseguia manter o esforço contínuo. Era coisa sua, deveria de ser. Tenta resolver os problemas por pura angústia, pressa e o pior nas coisas acontece. Quase desespero, incompreensão de si mesma, porque duvida da sua sombra. Descansa as mãos e o peso do corpo nos joelhos, pra recuperar o fôlego, pois como? Se estava apenas a caminhar. De onde veio essa exaustão de existir? Certamente haveria uma inclinação inata de uma coisa além corpo para continuar a existir e se aprimorar. Pés de chumbo, a mente, a matéria, ou uma combinação de ambos, tempo real para modular vibrações, desejo de viver. Não desejava o toque. Só a não despedida. Era difícil perder de vista. Colocando suas lutas internas em exposição, sobrevivência vista. Mesmo sem querer. Teve vergonha da sua fraqueza, teve vergonha de si mesma na tentativa do alcance. Vergonha de ali, no prosseguir abandonado, aprendendo a (re)viver ou acalmando as ondas, perder o ar. E o que via ao longe era regalo. Esses são os dois temas que eu sou mais interessado com – disse, relativo ao meu estado de consciência enquanto o usa (tudo era afinal sobre si, mais ninguém). Isso importa? Maciez e ternura na auto-palavra. Não mera gentileza, um escasso aliviar.

Eu sou uma pessoa mais velha agora.

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Rita Bernstein