Lion descobriu um fita cassete atrás daquela cômoda antiga. Sinal de tempos que passaram, foi um presente da Flora. Fisicamente magra, mas forte, gosto musical surpreendente, ela era capaz de presentear com graça (gravações, pequenas porções de amarelo ou florzinhas de mato), deixava saudades todos os dias. Uma vez ganhei dela uma chavinha que abria um cadeado imaginário, ela disse, só pra amigos, esse cadeado é meu, a chave é sua. Poesias de todo dia, como dizem os muros, cada um com seus poema.
Estavam na direção de amostra dos segredos escondidos, por isso nos deixa certo que vai vir um tempo de espera, reluta mas diz: as paixões dominantes, a ambição sem medida e as paixões sem controle – todos devemos evitar. A conversa informal que se seguiu emana uma mistura inesquecível de bom humor, humildade e sinceridade. Eu queria descobrir como poderia chegar lá e como eu poderia voar. O tempo que me habita não é o tempo das coisas, não é o tempo das pessoas, não é o tempo da contagem dos pontos no crochet. Mas as coisas, elas são como as estações do ano, tenho uma vontade de compreensão profunda da hora certa, afinação. Aquilo que evitamos não deixa de existir. É viver na finitude como quando é possível amar alguém apaixonadamente, mesmo que só uma pessoa… Ainda que existam aindas. Então, diante dessa verdade, ficava claro que não adiantaria brigar. Quando você está brigando com a outra pessoa, na verdade você não está brigando com ela e sim com aquele aspecto seu que ela está mostrando e que você não quer ver. Agora é ouvir a fita e sentir sede.