A única presença humana que conseguia sentir ali, eram os postes que iluminavam um cruzamento. Cenário de fotografia preto e branca. A parte baixa, deixada sem ser dita, talvez porque é muitas vezes indescritível, é o que a gente quer então…
Que não há um jeito sólido de dar uma resposta constante – somos muitas coisas e muitas pessoas. Em histórias que nos contamos sobre nossos passados privados, caminhos diferentes de como pudemos viver a nossa personalidade, quem imaginaria eu estar aqui, reduzida a uma esperança tão estapafúrdia… Mesmo que em nossas vidas regulares estivemos vivendo do outro lado da rua, um do outro, sem o encontro. Quem diria. Pode-se ficar semanas pensando no beijo, quando encontrou a coragem de cruzar a rua, de um pé só, e olhar o céu da noite e os reflexos na água.
Eu olhei e caí, engatei o riso e caí novamente. O Sr. deu uma olhada em mim, e vestiu os óculos escuros, junto com uma óbvia dose de reserva e um pouco de repulsa. Ele negou isso no nosso dia de morte, mas era verdade. E as mudanças que sofremos, maravilhosas e terríveis, são surpreendentes, embora inúteis. Os movimentos vitais e transformadores que não poderiam ser previstos – escorregões e dores nas articulações (porque não se consegue se manter muito lúcida e bem humorada em estado de dor). É também um tempo de pesadelo.
Vemos que também sou vulnerável ao infortúnio, que não sou diferente das pessoas cujo destino estou assistindo e, portanto, tenho motivos para ter medo de uma inversão similar.
Não é maravilhoso o modo como o mundo nos mantém graves e inesperadamente despertos?
Tão lindo…
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