O papo é solto e o frio acontece na espinha quando as peles roçam.
Por vezes tão cansada que fecha-se por mais de quatro horas sempre gerando algum desconforto, além de desejos e intenções segundas em uma espécie de re-sentimento. Quando os tempos estão assim segue ficando no incerto. E até que o tenha de alguma forma sob a pele, vibrando, como a sensação eletrificada, seremos em suspenso. Porque você se parece com chuva, diferente a cada vez. A carcaça está a desmoronar-se e você finalmente poderá deixar que eu entre na sua vida. Será no tempo de frio, eu espero.
Os amores ficam bons, aconchego. Penso em escapar dali, ir embora, descer o elevador, devagar, lance por lance, para pensar. Vou de escadas, decido muito antes da minha saída. São mais felizes quando as coisas boas são esperadas para acontecer e não quando estão acontecendo. O ritmo é um dos mais poderosos dos prazeres, hum, e espera que continue assim. Ficaremos ali, a nos olhar, com Coltrane nas nossas costas tentando materializar o tão sonhado arrepio doce. Abrandar a respiração o suficiente para caminhar. Há de fato uma coisa como “tempo”, grita. Mas Matilde reverbera – pois é o segredo do bom tempo, e eu só vejo degraus. Arte, só por amor.
Shoji Ueda, Girls, 1945