Concha

Você afunda e abaixa a cabeça na roupa de cama… Você especula sobre o luxo de se esgotar toda a existência ali, um pouco. Como que em uma concha fofa, o conforto de se sentir bem, sem precisar mexer para nada, dura pouco, mas é bom. E o tempo todo consciente do calor delicioso, de como você sente você e você sente e novamente, novamente sente.  Esse pensamento acolhe e irá reunir uma multidão de outros a lançar sua tez durante a hora do seu despertar.

Quando minha cabeça está oprimida e um calor seco e febril irrita a pele e o sangue, de modo que cada toque e qualquer som pareça com um ferrão de escorpião agudo, imploro para que me levem à pedra primeira (ou qualquer outra) do sono. Lá deixa-me acordar das ondas e da fúria da brisa do alto. Essa brisa é cura e aleitamento, esfria a minha testa, acalma meu cérebro. Posso abrir os olhos e todo o resto parece estar quebrado, apenas uma pitada de queda no ar e a umidade toda levanta-se. E é como se alguém tivesse colocado um grande manto pesado em meus ombros. Não posso mais olhar onde a luz é mais brilhante, na fresta da cortina, que os olhos estão areia e a boca seca.

Você se encontra, por algumas horas, bem acordada nesse reino de ilusões e contempla as paisagens maravilhosas. Existe um entardecer na solidão das noites em claro e em tudo o que disser então. Todas as mulheres em mim estão cansadas. Apenas esperando o sol, apenas como seu cigarro queimado. Quanto à solidão – você nunca poderia saber o quanto do amor e da companhia diminuíram sob esse efeito.

[…]

Se você pudesse escolher uma hora de vigília fora da noite inteira, seria isso.

 

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