Tudo bem? Ahn? Sai daqui ainda não. Calma. Um minuto de ausência é muito, vai fazer diferença no final. Reformular velhas crenças, quando se é mais generosa. Possibilidade de se expressar sem ser fuzilada ou aquele velho problema de ser não-compreendida. Amanhã a gente se vê aqui, na mesma hora? E o Gabriel? É, ele está aí, Zé. A mãe disse que vinha buscar… Ouça aqui, velho homem em corpo de menino bonito, escute bem, há amor no ar. Existe o bem querer e existe a vontade de querer ficar junto, ali, né, Zé? O que você acha? Seria possível mudar? Aponte o dedo para seu velho coração, ali, bem no meio, um pouco pra esquerda. Aponte e desfira um golpe certeiro. Zé, ô Zé, tem um caído aqui, corre! São os efeitos colaterais, já sabia que isso aconteceria! Ela sofria pequeno (engraçado sofrer pequeno) quando ficava longe do olhar dele. Mas nunca entendeu isso direito. (Aí, vem a tia e aconselha… Você tem muito de mim, sozinha demais. Eu só fui ceder à uma paixão com quase sessenta anos! Ceda, ceda… ) Ô Zé, ela não está respirando, não seria a hora de procurar ajuda? Ruidinhos e texturas nos murmúrios. Aliás, ela não tem lugar de permanência, vazia que estava. O vazio é claro, barulhento e cheio dos sentidos muitos. Gente, mas o combinado não foi que o momento era de espera? Não? Como não? Era sim, era sim. Era pra ser assim. Era pra não ter mais dúvidas sobre si mesmo. Ei! Abre a porta! Pode entrar, só está encostada. Tem cor aí dentro, em cima da mesa.