Ela acreditava que sim, e por isso ia na igreja conversar com ele.
Não adiantava, ela entrava e saía com a mesma sensação de mudez. Via aqueles encontros imaginários como acontecimentos, um espelho de suas próprias canções. Se embriagava cada vez mais, pelo modo como mudara seu pensamento e sua conduta mostravam isso.
Cantava enquanto pensava no que vai arrastar-lhe, movimentar. Nunca soubera, sentira como ao sabor dos ventos, dos cheiros, da preguiça. Ia se entregando ao invés, em direção a um pensamento prévio iniciado anos antes. E atrás dele perseguia. Se via como ser desejante pronta para uma nova peripécia atordoante. Queria mesmo era ser angelical e ter uma linearidade bem próxima de uma normalidade.
Desconhecia o motivo de sempre começar de um jeito e terminar de outro. Desconhecia o segredo da permanência, da perpetuação. (Não sabia o que eram raízes criadas, só aquelas com as quais já nascera, as novas ora saíam dos seus braços, ora das suas unhas, ora do seu sexo).
Buscava a possibilidade de conhecer o seu próprio movimento, e a rigidez a mareava. Afundava os dedos naquele areal na beira daquele rio vendo aquela paisagem urbana desordenada sentindo o cheiro nauseabundo do ar impuro e imperfeito. Seguiria para outro mundo, não que não doesse profundamente em todas as suas articulações, como um ritual (santo santo santo, senhor deus do universo).