Como se fosse pela primeira vez, sorria debaixo daquele véu que torna todas as coisas rendadas. Onde que os corpos abandonaram as almofadas, os lençóis, os beijos e se perduraram seres em estado de fraqueza e pouca nitidez. E que de pé, sua mão e sua boca entreabrissem e basta-lhe fechar os olhos para desejar salivas. Desfazer-se de tudo mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nos seus ocos, onde um ar pesado vai e vem, levantando levemente aquele tecido que já se manchara de batom (rubi) de tão próximo que estava do seu rosto. A voz, a voz ficava dentro de nós.
O véu aprisionava, protegia, e ali ousava desejar, pensar, sentir-se e quando tinha ímpetos, tocar-se. Tudo com um perfume antigo e um grande silêncio. O fôlego ainda juvenil, um pouco às cegas, seguindo o andamento da narrativa. Sem isso nunca iria saber o desfecho. A certeza de que aquele amor exacerbado não cabia em si, em todos cantos há aquele desespero também. Mas soou mais úmido que antes, as palavras queriam esgotar o excesso. Um brinde à amizade (im)possível.
O véu e ela própria seguiam pelo corredor, com as mãos postas para receber o alimento sagrado. O ápice de gozo silencioso que é puro corpo, pura solidez.
Daido Moriyama
huummm…
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batom rubi…
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