Chega de ilusões, ainda que uma parte sua evite a todo custo perdê-las. Sem querer e sem buscar, de repente se depara com tua própria alma e não sabe o que fazer, pois o momento evoca aquela circunstância de encontrar – que nada mais é do que uma interpretação espiritualóide para um fenômeno bastante natural do próprio corpo: sonhar acordado. O dia estava nublado, cinza escuro, ventava forte e nas mãos trazia pedrinhas. Não via ali nada que pudesse ajudar a atravessar aquela fronteira. Fora covarde. E a chave não está ali.
Alguém que supostamente deveria saber o nome daquilo, mas que não conseguia, nem se importava, recordá-lo. Mesmo passando pelo constrangimento de ter de conversar com essa pessoa, espreitando pelo momento ideal em que ela teria de refrescar a memória. Tamanha displicência com a necessidade de fazê-lo (por puro medo de sofrer) a jogava naquele limbo desmemoriado. Auto-imposta, a força da memória é dolorosa (melhor não lembrar, não falar, não tocar, não ver, não nada.) É um modo de querer que tudo o que não nos bastamos sejam do tamanho do fato que teimamos em viver com o tudo (pouco) que somos. Cobiça de ser o que imaginamos. Um assunto, porém, ela prefere evitar: o improvável do invisível que nos levariam a uma outra humanidade. Hoje seu sonho fora sobre o toque, a carne macia da mão. Mira, antes de tudo, o passado.
Uma sobrevida.