Ele adora torradas e farofa

Depois não falamos mais nada, não pensamos em mais nada, nada mais a gente quis.

Quando encontrar, guardo no bolso as histórias. Tremi, e a tremura é tão deliciosa como um encontro justo e firme de dois em um pensamento.  Internacional e acidental (mas ele é do mundo, não é daqui). Uma vontade derradeira (de nutrir laços humanos íntimos – o afeto, o desejo apaixonado e amizade) ameaça uma certa descrença (coisas de antes). Uma certeza absurda (custava a acreditar).

A relação mais rara, mais profunda. 

Nós temos muito mais bondade do que é dito. Eu gosto dele e ele gosta de mim. Nós usamos os nossos olhos mas o olhar está olhando, levianamente, aquele desenho no braço, aqueles escritos na pele. A partir do amor apaixonado eles fazem a doçura da vida. Os nossos poderes intelectuais e os princípios ativos aumentam com o nosso carinho. Dar uma pausa rápida em tudo o que era.

Eu sou tudo dormente, eu juro. Ele foi-se embora. Vi-o por um minuto, de relance.

No espaço pequeno, de manhã, quis café, quis cappuccino, quis torradas, quis banho. Quis sonho. Quis. 

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Helen Levitt

 

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Cansando-se e desistindo

Não acredito que você fez isso… Em uma mulher truculenta e autoconfiante, isso que você se transformou.

A fase dos gritos,  berros e atritos havia passado, mas a rigidez veio como um ato de resistência. Isso você consegue fazer muito bem, seguir em frente, né? Ela quis conhecer ‘seu’ afogado (sobrevivente de um maremoto) graças ao poder da intimidade verdadeira. Quis mostrar como ser firme e decidida, que não há nada que supere a persistência, que as águas só… são.

Reconhecia o significado do silêncio e da quietude, e não descansou enquanto não percebeu que você aprendeu a observar intimamente – sem um constrangimento tão típico. Engrossas o couro, já ouviu essa expressão? Pois é isso. Couro grosso. Pele grossa. Cascuda, como me chamam. E ele sempre chega por trás! E basta o despudor ou a coragem para conter-lhe, que fosse simplesmente se curvar para aceitar a existência. “Eu não acho que eles têm amor”, digo, olhando para os pés.

A notícia foi ignorada. Arremessada contra a parede, sangra na testa, e novamente sangra pelo não entendimento, forçando um novo golpe. Uma armadilha, deveria ter previsto. Mas nem com toda humanidade dentro de si isso seria possível.

Droga. Outra cicatriz.

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Helen Levitt