Apoderou-se aos poucos do espaço. O que antes dormia (sempre um desejo de tentar dormir horas seguidas) encolhida, forçando a abrir as pernas e os braços. Fazia sempre como um exercício de yoga, tensionar e relaxar, se permitir e, mesmo que dentro de um aprendizado, expandir.
Sempre tão contida, tão mínima, voz baixa, gestos curtos, roupas escuras, sempre à procura do silêncio.
Vicente lhe dizia sempre da sua beleza, mas nunca sentira isso de fato. Algo contido, doído dentro. Aquele limiar do inativo para o prestes a explodir, o que nunca aconteceu, sempre na lentidão. A brasa, o suspiro. Desejara a solidão para que pegasse fogo. Um dos exercícios resumia a se olhar nua no espelho – como era difícil olhar as pernas, braços, ventre, seios (um bem maior que o outro).
Um dia encarou-se olhos nos olhos. Frio, esse frio que não passa.