Triste, porém alegre.

Queria usar roupas vintage. E fazer as pazes com meus seios. E ser profundamente emocional e sensual. E ouvir música clássica contemporânea até que a arquitetura sonora entorpecesse. E ser em preto e branco. E ser perturbada e violenta na minha apatia. E não ser indiferente à tristeza e à pobreza. E ser audaz. E que o movimento seja um arrasto. E nua. E curtir links. E ser dolorosa. E que eu não tenha que escolher um final para mim. E estar alegre todo dia. E ser fotografada. E ser experiente. E inabalável. Quase uma pedra. Enfrentar com coragem e paciência. E ser fria e terrivelmente silenciosa. E ter cores de chumbo nas unhas. E beber alguma coisa qualquer e engolir minha chatice com biscoitos.

 

Quer dizer que a escolha foi sua?  Nevoeiros são muito comuns aqui.

 

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Francesca Woodman

 

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Seios desnudados

Ao menos às que procuram se manter informadas, percebem a prisão e a chatice que não haveria razão de existir, ainda que tivesse um fundo de verdade.

Eu vi medo nos olhos dela quando mais queria ser e demonstrar fortaleza. Nem sempre alcançamos sucesso em atuações, o corpo exposto não é o de ninguém além do seu. E naquela tentativa de explicar o que não pode ser realizado enfrentamos uma… inquisição. Bate no peito, se infla. Uma boa defesa daquele chute alto, preciso. Acaba por se aprender a lutar? O que não se percebe, pelo menos em uma forma superficial de leitura, é no que se transforma o adversário quando ataca e se justifica. A necessidade do ataque é sua maior fraqueza então.

A lógica do ‘respeito mas não me interesso’  transforma a luta absolutamente franca. As olheiras não são perdoadas, nem o cansaço, nem a não impecabilidade da sua aparência. Aparência. Senti na pele ‘você é culpada por eu te destruir’ ‘você é culpada por te amar’ ‘você é culpada por eu ser fracasso’ e, garanto que as cicatrizes existem e doem, e desencadeiam efeitos colaterais tão certeiros ainda que abstratos. É tosco. É rude.

Todos os seios desnudos pertencem aos outros, e os olhares disfarçados de cobiça atingem bem na linha da cintura, e tiram o ar. E depois sou toda cicatriz, fígado e estômago que hão de virar de ferro algum dia.

Ser mulher por aqui é inferno e não há outra saída a não ser coerente com os fatos e com essas cicatrizes nossas de todos os dias.

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