Bored and naked

Contando que não se faça de preguiçosa e que me adule infinitamente e, claro, que fique no seu lugar.

Mas que lugar é esse?

Mas que pergunta! Só podia vir de onde veio mesmo! O lugar de sempre. Precisa explicar mais? E o que é que vocês queriam? E não me venham agora querer coisa diferente afinal, fomos educados assim (por vocês, by the way). Aí você também não está ajudando não é, fica aí com essas roupas, esboçando sorrisos e auto confiança, fazendo o quer… ora vá! Agora aguenta. E por qual motivo essa cara de infeliz? Pegue tuas revistas cheias de dicas de como ser feliz, linda, valente, inteligente, gostosa, doméstica, profissional, paridora, engraçada, gata, já falei gostosa? Não? Gostosa. Principalmente, seja inteligente sem pensar muito, aprenda as dicas de como deixar a pia branquinha e cheirosa, enfim, não sei de tudo que tem nessas revistas, mas pegue-as e vá se divertir. Com cara de bosta, deprê, cheia de pulsões melancólicas ninguém aguenta. E vá caçar serviço. Se não tem, te arrumo. Mas o que é isso? Vestir como quer? E não me respeita, não respeita meu desejo irrefreável de usufruto?

Mas o desejo é seu!

Mas o quê é isso? Claro que vocês são responsáveis pelo meu destempero, meu desejo de posse. Você se porte a contento, como um bibelô. Isso, um bibelô. Ô gente, mas ainda não entendeu? Mas é burrinha mesmo, né, olha: eu te possuo, eu te possuo. Se não te possuo, só de existir e sair por aí fazendo o que te dá na telha fará com que eu te possua, mostra que quer ser possuída, entende? Claro que posso invadir. Mas isso é só lógica! Do que adianta não saber fazer alimentos? Prepará-los com carinho e amor? Não vê o privilégio que isso é? Ahn tá, pode sim, trabalhar fora pois é importante não é, mas se desdobre então, e não vai ficar aí se achando com esse empreguinho. Coisa mais cafona. Quer uma coisa e não a outra? Não leu a revista não? Ninguém lá reclama de nada, todas lindas, gostosas (já falei gostosa?) e felizes. Aprenda. Mas porque você está desejável? Tá querendo o quê com isso, não me respeita! Tá difícil sua vida? Mas até que isso que você fez é legal, é bacana. Mas porque você precisa me deixar de lado para fazer isso? Isso lá te preenche? Eu te preencho. O resto é… é… entreterimento. Não leve isso muito a sério. É só piada, não vê? Nessas revistas não ensinam ter humor não? Ahn, já tá gritando, perdeu a esportiva! São todas histéricas mesmo. Ou é TPM. Começa gritar já sabe, ficar revoltadinha, é TPM. Batata.

Mas isso sou eu.

Mas é assim que tudo funciona, não vê? Ahn, fica aí com sua dificuldade. Mas você sabe que essa sua dificuldade é pouca coisa, não sabe? Adora reclamar de barriga cheia. Me deixou de lado? Sua punição será ficar pra titia.

Qual o problema de ser titia?

Não leu? Só vale alguma coisa se tiver EU do seu lado. Como não é pra me agradar? Eu estou aqui com meus problemas existenciais (já falei pra nunca deixar de ser gostosa?) e você aí papagaiando. Puxa, não tenho paciência. Além do mais, competem entre si. Hahahahahaha! Deve estar lendo besteiras na internet, só pode.

Mas ó, mesmo assim eu fico do seu lado, viu, sou super bom. Mas que seria respeitável da sua parte vestir melhor, bloquear homens no facebook, me acompanhar, me amar, me mimar, me alegrar sempre, isso seria. Esse assunto já cansou. Burrinhas mesmo. Fica pelada logo.

 

IMG_20170304_133247927_TOP (1).jpg
 
Publicidade

Deslocada do sentido (porque ainda sou machista)

No seio de uma vertente não tão alternativa falara muito, mas pouco claramente, porque era impedida (por si mesma) pelo medo da fúria, da resposta, do silêncio. Porque achara que falar a verdade incomodaria demais. Falou (pouco) e voltou atrás mil vezes, sempre na opção delete, suspirar, dois passos atrás. Pra não ferir o ego alheio, pra não ser desamada (porque falar traria desamor?). Daí vai ficando algumas amizades e amores na névoa, em que tudo acontece mas ninguém deixa claro o que acontece. Passara a usar os sobrenomes, ao invés de dar os nomes, era uma outra muito pouco conhecida forma de se proteger (de quê, afinal?) que merecem todo o respeito (sic). Toda sorte de inúmeros absurdos em sua biografia: ser sempre simpática, útil, amiga, amélia, amante, prestativa e bem-humorada para “compensar”.

A sua face amorosa está sujeita a abusos muito mais constantemente do que vai dizer sua consciência. A passividade que acontecera (que fere) desejara que isso não existisse mais, mas as consequências por tentar ter sido franca quanto (aos rótulos) são insuportáveis. Todos direcionados a si mesma. As mulheres estariam sempre na linha do ‘tinha que’. Entendera que qualquer mulher que fuja do padrão do mito da beleza e do comportamento ideal o faz de maneira caricatural e estereotipada aos olhos feridos. Sem pensar a respeito disso iria ser engolida. Uma equação difícil de fechar. O voltar atrás não é sempre a melhor solução. Nem a solidão tão pouco. Essa sensação de burrice não passa.

É cansativo, mas se não for assim, fica mais difícil ainda.

Fotor0101011534

Seios desnudados

Ao menos às que procuram se manter informadas, percebem a prisão e a chatice que não haveria razão de existir, ainda que tivesse um fundo de verdade.

Eu vi medo nos olhos dela quando mais queria ser e demonstrar fortaleza. Nem sempre alcançamos sucesso em atuações, o corpo exposto não é o de ninguém além do seu. E naquela tentativa de explicar o que não pode ser realizado enfrentamos uma… inquisição. Bate no peito, se infla. Uma boa defesa daquele chute alto, preciso. Acaba por se aprender a lutar? O que não se percebe, pelo menos em uma forma superficial de leitura, é no que se transforma o adversário quando ataca e se justifica. A necessidade do ataque é sua maior fraqueza então.

A lógica do ‘respeito mas não me interesso’  transforma a luta absolutamente franca. As olheiras não são perdoadas, nem o cansaço, nem a não impecabilidade da sua aparência. Aparência. Senti na pele ‘você é culpada por eu te destruir’ ‘você é culpada por te amar’ ‘você é culpada por eu ser fracasso’ e, garanto que as cicatrizes existem e doem, e desencadeiam efeitos colaterais tão certeiros ainda que abstratos. É tosco. É rude.

Todos os seios desnudos pertencem aos outros, e os olhares disfarçados de cobiça atingem bem na linha da cintura, e tiram o ar. E depois sou toda cicatriz, fígado e estômago que hão de virar de ferro algum dia.

Ser mulher por aqui é inferno e não há outra saída a não ser coerente com os fatos e com essas cicatrizes nossas de todos os dias.

Fotor0706225152

It’s ok thinking about ending…

E teve aquela que ficou 8 anos sem dar pro marido porque ele a destratava. E escolheu, você não encosta mais a mão em mim – ela não entendia porque ele a amava no sexo e não no dia a dia. E ele teve um caso, cinco anos, e ela foi humilhada. Mas contou que virou a mesa, quebrou pratos, berrou verdades, e que a partir dali ele fez tudo o que ela quis. Contou isso alto, berrando, fazendo todas em volta rirem. Em um casamento de num sei quantos anos metade foram sem sexo, com traição, com desgosto.  E teve aquela que se julgava boa esposa, que já tinha aproveitado a vida de solteira e que agora o casamento era algo muito valioso e que valeria a pena manter. A vida dela teria pouco sentido sem o casamento e ela sabia. Depositava ali seu cotidiano, seu consumo, sua vida e lá pra si dizia que não se pode ter tudo afinal. E outra que ama um homem casado, e ama e ama. Se contenta com espaços (entre família) que eles conseguem, com o sexo nirvânico, com os doces que ganha, e ali permanece, vivendo esse amor sem futuro, evitando pensar para não estragar. Tinha momentos de lucidez, de que aquilo não estava sendo justo com ela mesma, ou do quão limitada e pequena a posição de amante, mas, silenciava sua insônia com chocolates e algumas coisas boas de comer. Aquela que se contentava em ser a última opção da noite, sempre ia pra casa com o moço, bêbados os dois, se convencia de que essa forma era uma boa forma de amar. Já que ela gostava de sexo com ele também, e queria estar acompanhada  naqueles finais de noite. Os dias que se seguiam eram de evasivas, desencontros, estupidezas, que eram engolidas no encontro seguinte. Entristecia, mas não dava ouvidos quando alguém lhe dizia que ela seria maior que isso. Ela se via exatamente daquele tamanho e naquele lugar. Ela não era feliz. E tinha aquela, a mais triste de todas, que era muito politizada, cheia de palavras e discursos, de posturas e composturas. Viveu um relacionamento abusivo durante sete anos e fazia exatamente o contrário que suas palavras diziam. Mas ela pouco sabia disso, afinal, era uma equação difícil de se resolver, como ser mãe, esposa, dona de casa, profissional sem ser submissa. Ela simplesmente não entendia como isso se dava na prática. Costumava fazer tudo o que podia para que o outro gostasse dela. Ela sentia que ele desgostou da vida com ela quando ela engravidou, mas ela insistia, porque mais importante que ela estar bem era estar casada. Ela se sentia diminuída por ter desistido da profissão, sua auto estima foi se estilhaçando. Tinha aquela outra que se agarrava nos ciúmes, e por isso se submetia às vontades de controle do outro como uma troca justa. E tinha aquela que achava que era pra ser assim mesmo. Um ou outro tanto faz, são todos iguais e ficar sozinha é o demônio.
Traições, tensões, maus tratos, insultos, mentiras.
E ainda tinha gente que defendia que casamento era assim mesmo.
E ‘ele’ se aproveitava da fragilidade ‘dela’, aproveitava muito, porque ela foi criada pra ser assim. E ele também. Nem tudo o que a gente aprendeu é pra ser. Não é porque as coisas sempre foram que devam continuar.
It’s ok thinking about ending all this shit.
020-mona-kuhn-theredlist
Mona Kuhn, Lyric, 2012

.