Deixe-me entrar na sua casa, de novo, mais uma vez. As pessoas estão reunidas em torno de quatro laptops, em um esforço para controlar os movimentos, não incomodar/nem ser incomodado. Eles acendem e apagam as luzes, fervem a chaleira, colocam alguma música – o que puderem fazer.

Eu perguntei a ele quando aconteceu. Com casualidade despreocupada, ele respondeu: “Cerca de uma década atrás.” Fiquei espantada que as pessoas pudessem segmentar suas vidas em blocos tão grandes – um registro que a mim seria muito descabido. O amor por livros ilustrados, completou poucos segundos depois, é isso, apenas isso.  Eu não faria isso funcionar se fosse apenas medo e distopiaHá sempre um elemento esperançoso em meus projetos. 

O tolo é paralisado demais para andar na longa corda bamba da esperança e do medo pelo qual qualquer destino que vale a pena é alcançado. O medo é uma miséria. Para mim, é sobre a área cinzenta onde você não tem certeza do que pensar. Pode ser que pequenas escolhas ajudem, queijos, conhaque, grãos, frutas… Quando seus nove netos foram confiados aos seus cuidados, ele começou a transmitir seu legado insurgente ensinando-lhes bordar em inglês. Quando as crianças ficavam com fome durante a tarde, passeavam pelo parque, entregava os sanduíches e esperava que só então pudessem perguntar pela rainha: aquela eterna dívida literária que a gente passa a vida pagando.

Em vez de obedecer ao ser solicitada a reagir imediatamente, preferi me sentar. Não pertencer dava algumas liberdades. E eu teria rido, depois chorado, e logo deixaria o sonho – mas eu passei a amá-lo através das lembranças, a gente se lembra. Acaba se lembrando. Dificilmente me sinto uma estranha para você, aqui, nesse quarto.

 

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