Primeiro – se você está no amor – isso é uma coisa boa (que é a melhor coisa que pode acontecer a qualquer um).
Para frente ou para trás, as dificuldades se multiplicam com suas escolhas. Segurou firme as chaves como fonte de segurança. É para a primeira frase, lembra. Aqueles lá dizem querer a verdade… (refinar as verdades que eles podem dizer um ao outro). Tinham uma certa bagagem filosófica e literária. Era redutora e sedutora essa verdade deles. Quis trocar o final por outros possíveis, inverter a ordem dos capítulos, torná-la famosa, talvez morasse em Berlim. (Querer a verdade é querer a segurança). E quem estava aqui justamente para rir das probabilidades e viver nossas vidas tão bem?
Bem que quis experimentar de novo e de novo, todos os dias. Ainda assim, existem alguns fatores – certas preferências – que tornam isso mais fácil. Café salva. Pegou sua caneca com as duas mãos e ali ficou por muitos minutos. Tantos que esfriou o café. É importante fazer isso, porque ao se fazer isso deseja justiça à sua própria complexidade. Delírio – aquele ímã poderoso que distorce até mesmo suas crenças sobre o que você gosta. Já se sente perdida, de si, dos outros.
Caminha no sol, respira com dificuldade, lembra que via belezas à toa. Sente sufoco, coceira nas mãos, inchados pés. Porque é ruim o suficiente não conseguir o que se quer, mas é pior ainda ter uma ideia do que é e o que você queria o tempo todo.
Mas eu não acho que você estava me perguntando o que você sente. Não deixe ninguém fazer disso algo miúdo ou escuro para você.
Guy Le Querrec, 1982