Há de se praticar pequenos nadas todos os dias.

A passagem aberta do formal ao afetivo é mais para circular com um pouco de irresponsabilidade e de maneira muda, alheia à linguagem, por centros de força. Por um momento de entorpecimento uma coisa que ficou no meio do caminho serviu-se ao ímpeto de aliviar a minha fome. Os estilhaços de significado juntam-se a estilhaços de imagem com uma forte intensidade de desejos pessoais entre corpo e forma, que quando perdem contato com a estrutura interna, tornam-se moles, porosas, arenosas. Tornam a ambiguidade ainda mais endurecida. Um casco que, pela própria imobilidade, vai se recobrindo de evidente lirismo. Mesmo as intervenções que continuam fecundando nosso pensamento tornam as impurezas mais discretas. E é assim que as coisas funcionam ao lidar com formas pouco definidas de matéria mole, evitando quase sempre os vazios conflitos por miudezas e  a escolha construtiva era um fato ético, individual de atribuição de sentido. (Sempre subjetiva).

Disposto a qualquer significado o fogo começou às 4h45 da manhã.

 

 

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É para o corpo descansar

Quando se está envolvido até o pescoço, na maioria das vezes, ousar com a escrita desejando ampliar-se de um conjunto de hábitos a uma quantidade de elementos de um livro é brutalmente difícil. Tendo uma unidade mais ou menos estável produz um efeito colateral bastante incômodo. Um estado mineral perigoso torna um comportamento que até então era capaz de enfrentar o tempo –  estático – não mais produtivo. Partir para o estado líquido (anotação mental). O liquefeito não é difícil de se relacionar – licença poética de cada um. Teve época que  parar na borda da piscina e  perguntar se algo parecia absurdo. Contou que jogou fora um romance.  Acabou o prazo – disse. Gorou.

Desse inacabado não quero participar. Estar sempre à aproximação do prazo final ou do seu início confronta com sua própria mediocridade, nunca me iludi quanto à possibilidade precisa de se controlar. Quando se chega a certa passagem estar em casa trabalhando sozinha o tempo vira um tipo de envenenamento providenciado durante algumas taças de vinho. O jantar e o almoço inexistem, nem pausas. Só vinho e continuidade. Solilóquio afetivo. Falar em voz alta para encontrar as perguntas certas e certeiras.

Vinte e cinco minutos.

Fotor0916105427

 

Morada

Em uma noite destas, estava quase vazia, e para vencer a tristeza e regularizar a circulação sanguínea, olho para ele com um cigarro entre os dedos e penso que não sei com certeza o que é que me dói.

Tenho instrução suficiente para não ser religiosamente crente. ‘Isso os senhores provavelmente não compreendem.’ Ele estava tão profundamente entranhado em minha consciência que, antes que ele tivesse tempo de se transformar, e eu conseguisse  me  livrar dessas ilusões, nos acarinhamos. Cada um é infeliz à sua maneira.

Deixei crescer as unhas, e em pensamento, nas noites espiando o céu estrelado, cravava-as nas suas costas até arrancar sangue. A fome é urgente – e a boca pediu carne e os dentes obedeceram. Uma tortura seria interessante se eu a explorasse com critério.

— Me preocupei com problemas do espírito. Acordou de sonhos intranquilos, com as maçãs desamparadas diante dos seus olhos. Ele acabou recitando-me versos e me fazendo poesia. Fechei os olhos duas ou quatro vezes, e ouvi, você é que nem eu, fala coisas malucas dormindo.

Fotor0624151644

Não damos nascimentos de liberdade

A intenção era dar um nascimento elevado aos pensamentos, mas um pressentimento me dizia que os pensares exigem uma linearidade que é difícil. A verdade é encontrada na vida. Difícil transcrever os fatos, as coisas que vivi , entre todos os sentimentos possíveis, sem ficar absolutamente confusa. E se recortarmos, e isolarmos-os, veremos naqueles seres livres que eles não são a verdade absoluta. O sistema acusatório de crimes é dividido em três: o que é dito, o que é feito, o que é pensado. O problema que surge é gigante (ainda adormecido)  e o que fica claro quando a gente para pra pensar é que protagonizaram o episódio de forma abusiva – uns em relação aos outros. Difícil foi aceitar que cada desejo quando transformado em ato, pode trazer infelicidade e que o contentamento é impossível.

Olhamos as pessoas e as aprisionamos com nossos olhares e vontades, o conhecimento que possuímos não é verdade última e imutável.  Constata-se nesses pensamentos, sem julgá-los, a necessidade de predomínio exercido sobre outros.  Praticando o desligamento de pontos de vista sedimentados –  a fim de estar aberto a receber outros –  para que cada vez mais nos cansemos de chegar repetidas vezes à frustração.

Nós vemos que nossas relações podem ser completamente diferentes.

Houve celebração.

Fotor0620130336