A sobrevida e os cães

A primeira vez que eu fugi ouvi vozes no mar, vi guerreiros no trem pegando tigres pela cauda. A primeira vez que fugi, vivi como se fosse uma estranha. Com sorte eles podem  falar com você como se falassem com uma criança. Abraçar um pequeno poder divinatório. Ela refere-se a pequenos prazeres da vida: você vai me deixar mostrar para onde correr? 

O desconhecido e o horror da existência (às vezes) – que nos acomete nas antemanhãs –  sobre o ser, reconhecer e satisfazer a natureza devaneante da existência se agarram em sua pele. Mas o cheiro do café nunca poderá mitificar e oferecer respostas.  Nem ler respostas no latido dos cães na madrugada, doídos latidos. Talvez se não as procurar ali, se aperceba que na verdade não existem respostas. Pode-se querer logo eliminar as dúvidas, encontrar saídas. Lá onde não inventamos uma maneira de fazer um mundo artificial ao nosso redor construindo conjuntos ou inventando-os digitalmente, possamos simplesmente ver gente.

Encontra-se paz em um cigarrinho na janela às cinco da manhã, cada trago é uma extensão de si mesma. Dê a ela o tempo de 3 ou 4 dias de sono bom e justo para que ela possa voltar para a realidade. Às vezes ela está dentro da sua casa e nem se apercebe porque o estado de espírito que dá aos que fazem o café e o pão é de viagem e observância. Talentos.

E os cães respondem que sim.

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Sua efêmera vida foi infeliz apenas moderadamente

Brevemente: Uma quantidade de tensão interna que precisa encontrar uma saída.

Empatizar com a necessidade do outro. Mais fácil vai ficando. Eu me apodero dos meus sentimentos. Pedido. Pequenos potenciais de competências, de desenvolvimento. A golpes de caneta e cassetete, o feminino era associado à errância e instabilidade. Faz-se violência na política quando se demoniza a oposição e ignora as necessidades humanas urgentes. Um pavor: decisões politicamente convenientes.

Admiro seu fogo e sua empatia e o retorno consistente para o trabalho. Eu tenho meu telefone comigo, fotografo ideias- photonotes. Não tenho um pequeno bloco de notas: é como na meditação onde não existem pensamentos errados, apenas são. Então eu volto para casa e quero escrever, aquela aversão física por perder tempo.

Reconhecer a auto-dúvida como tal. Ferver de raiva, berrar, dar pra maldição, ira e arrancar os cabelos. (Mas não tente fazê-lo publicamente. E certamente não online.) Mexa-se! Sair e dar um passeio várias vezes ao dia, regra. O movimento do ar contra suas bochechas. Ai, sentir impulso para a frente.

Pare de pensar por um instante: basta parar. Incluindo a arrogância.

 

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1.2 (para se aquecer)

Chega em casa exausta, existencialmente exausta. Via que ninguém estaria a seu lado e o que se passava por dentro escorria pelos poros. Até há bem pouco tempo a perspectiva de um castigo moderado, satisfazia. Sobre a natureza da autoria dos, por assim dizer, crimes. Hiato entre o potencial de um gesto. Talvez sinta-se impaciente e acredite que é aí que as possibilidades aumentam.

Parecia ser uma prioridade do tempo, das solidões, do retiro, da exclusão, essa luta diária contra tudo aquilo que esmaga, asfixia. A volta pra casa era sempre um alívio e um grande contentamento. Ali, nos dois últimos anos, conseguira imprimir sua marca, o que a fazia sentir-se totalmente à vontade. Tornara seu lar. Deseja um futuro mais próspero e relaciona o onde mora com sua própria vida. Menos coisas equivaleria a menos preocupações e mais espaço, o que na prática era um caminho gradual, já que isso se relacionava diretamente com um estado mais primitivo da sua mente. Isso também resolveria depois, hoje ela conquistou a liberdade de percorrer a paciência (reduzir aquilo que não é tão necessário quanto imaginava).

Subia os degraus, tirava os sapatos ali mesmo no final da escada, não tinha descanso em relação aos obstáculos existentes que minavam sua força de vontade. O esforço era legítimo. Agora faria um café, um cigarrinho talvez, e queria desistir da tensão no corpo. A frase não saía do seu pensamento, já que de um tempo pra cá assumira sua condição de violentada. Aceita que dói menos – nessa lógica que acreditava seguir os rumos da sua vida. Agora estava decidida a ter o encontro, que fosse… que fosse…

Era já a terceira vez que se detinha na frente dos escombros, perdida tanto nos detalhes e nas sincronizações máximas, vendo sentidos ocultos que geravam uma tensão corporal extrema. Sua garganta doía, o maxilar, a posição da língua na boca, as articulações. Movimentar ficava difícil e era a hora de respirar e relaxar os músculos. Ideias exageradas sobre organização, simetria, perfeição já tinham ficado para trás. Costumava ser tão leve, encarava a desordem com tranquilidade. Isso mudou como fruto disso. Agora ainda não. O que falta no meu corpo é somente resíduo da experiência desse mundo, e algumas palavras têm um peso enorme quando pronunciadas – peso de carne viva. É o equilíbrio da evidência e do lirismo. Costumava passar horas em agonia, paralisada em alguma esquina. Isso tinha ficado para trás; pelo menos em parte. Assumir o desejo do controle e aceitar que não o tem. Tão banal. Tão sutil mas capaz de precipitar taquicardias. Tranquilizar-se em relação aos perigos acabou por aprender com meditação e técnicas de respiração. Sentia-se forte o suficiente para controlar-se. Sabia que as contradições eram importantes e nunca estiveram tão em cores vivas como nos últimos dois anos. As contradições eram fúcsia, sublinhadas em amarelo limão berrante. Inescapável o incômodo.

Anda pela casa com pressa, cumprindo pequenos ritos, hábitos; a chave no lugar, a bolsa na cadeira, lavar as mãos, entrar na cozinha e tomar água mesmo sem sede. Nada demais até aqui. Sente suas articulações doerem tanto, percebe seus ombros de repente tensos e encolhidos, olha as juntas inchadas das mãos. Não consegue alcançar o motivo daquela rigidez, respira diafragmamente, e consegue aliviar. Algumas más escolhas a tiraram da sua vida, aquela que seria se não tivesse sido tão cruel consigo mesma. Mas isso, embora fosse doloroso, era desimportante, conseguira perceber que não valia a pena essa roda viva de pensamento aflitivos. Sentir que fazia parte de um grupo de oprimidos era uma forma de socialização, solitária encontrara seu nicho. Se as ideologias tornavam as pessoas classificáveis, o crime de forma inconsciente fazia isso também. Ser vítima era doloroso, mas de alguma forma, era um conforto.

Lutava contra tais sentimentos, e o tempo circundava criando um vazio e seus pequenos e inofensivos hábitos abriam caminho para finitude, e o cotidiano tornara mais suportável. Era uma suportabiliade ilusória, pois sabia que os hábitos eram uma prisão. Fez seu café, sim, resolveu-se pelo cigarro, e olha em volta, analisando todos os objetos da casa enquanto fazia anotações mentais do que precisaria ser feito. Ajustar o quadro na parede, trocar o forro da mesa, desembolar o fio da fonte do computador, limpar a gaveta onde guardava as receitas (quase todas da sua mãe, um bem-querer. Um dia faria muitos daqueles pratos). Não aceitar perdão por aquilo que lhe tornava conservadora. Mas ainda assim a meta era ser libertária. Uma acidez, sensação de sufocamento, budistas falam de veneno mental. O café não ficou como queria, foi aquela pequena porção a mais de pó. Tudo bem, assim ficou ótimo também. Hoje já nem sabia o que era aquilo que sentira. A lembrança sempre vinha acompanhada de um aperto no peito, procura impulsos ajudantes. Começar em algum lugar, fora da superfície. Que aflitivo! Tinha a perfeita noção de que nada, absolutamente nada de anormal aconteceria se nem tudo fosse cumprido. Tratava-se de algo inofensivo. Imaginava que o caminho da cura fosse o enfrentamento dessa ilusão. Experimentava, testava o cotidiano. Já esteve a passar todos os dias pelo mesmo relógio que marcava exatamente a mesma hora 7:46. Chegou a conseguir isso por muitos dias consecutivos.

Quase se acostumara com a sensação de vertigem e falta de ar. Não segura a torrente de lágrimas. Reivindica seu direito a chorar e a se sentir o tão vítima quanto quisesse. Parentes por parte do infinito, dos crimes. Não gostava desse terreno (o da vítima) mas era uma emergência. De tempos em tempos precisava se refugiar ali, mesmo que por alguns minutos. Logo se recuperava e buscava seu autocontrole na base de respirações programadas. Conhecia bem o caminho da ida e da saída desse estado. Sob todos esses domínios da finitude humana. Se culpa pelos pensamentos de uma suposta libertação, pensamentos frutos de insônia e tormento. Isso ainda acontece e, entre lágrimas vê à sua volta e a todo momento percebendo uma interligação imediata com aquilo que vive internamente. Será que é normal isso? Sempre ensimesmar?

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Mas você não pode realmente dizer algo assim sobre si mesmo

Acontece, enquanto alguma iluminação em uma justa composição, uma boa compreensão sobre si mesmo. As melhores condições dos que criam uma conexão de aparência refinada e conservadora, cidadãos de todo o mundo, sabem que ao capturar elementos humanos universais, seu trabalho permanece intemporal.

Talvez através da ação possamos realmente descobrir quem somos. ‘Mais perto da essência o sentido respira, mas nem sempre o ar puro se tem’  e agora é a hora de fazer uma pausa limpa daquilo que você tem feito até agora. 

((…) e todo mundo se odiava, exceto…) É claro que as proposições nunca param. Certamente houve provocação a um monte de gente. Mas seus interesses estão em outro lugar agora. Eu me acostumei a não olhar muito para o futuro; É melhor quando você pode começar cada dia novamente. A andar em círculos, ou as mesmas montanhas rolando as mesmas rochas,  cantando canções agradáveis.

Então jogue o seu favorito xale nos ombros, cobrindo a garganta e o coração, especialmente se as palavras estiverem erradas e os lugares também.  Pois as coisas ainda não atingiram a fruição e você tem que esperar. Faça da sua casa o seu corpo e com um garfo coma os seus loops de consciência como frutas no escuro. Deixe-os imaginar que não há música, imagine que não há músicas. Ensine às crianças como esmagar o ódio. Pegue sua faca Bowie, sua girafa de pelúcia, seu novo olho de vidro, seu chá de pequeno-almoço, suas fitas k7 do Nick Drake,  seu sorvete no pote de feijão, a sua vontade de viver e a sua vontade de chorar.

Suas mãos já de idade estão magras e bem cuidadas.

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Pensando em quintas-feiras

A confiança nunca foi totalmente recíproca, às vezes é difícil até mesmo imaginar um lado bom, então o gesto que recebe de volta é de outra natureza. Desistir das escovas de dente não é agora a questão. Fraca de forças, mergulha na nova temporada das escolhas fundamentais, com novos revestimentos de plástico. Porque a gente não devia aprender a amar quem nos aprisiona.

O desenrolar melódico como em uma caixa de música deu pouca indicação do que estava por vir. Aquele não era o mundo que quisesse fazer parte, que pudesse fazer parte. Em retrospecto, aprecia-se como um começo inocente. E que foi se permitindo uma flexibilidade em seu pensamento para novas idéias e maneiras de fazer as coisas, novos agires, novas possibilidades. Adaptar-se. Entregar-se. Se tornar maleável…  Mas isso não resolveria, não resolverá, não resolveu as questões mais importantes. O gesto que recebe de volta é de outra natureza.

Empatizar com as necessidades do outro. Importante que se fique mais fácil com os dias. É importante se reconhecer nos gestos. É importante que os gestos tenham sentido, um sentido mais profundo. E que não sejam em vão.

Depois de fazer alguns presentes finais (físicos e musicais), respira um suspiro de alívio e a oferta “de terminar algo que você trabalhou muito duro” a faz dolorida, apática. Uma peça rápida que acelera em direção ao ano novo mais uma vez, aumentando a sensibilidade. Torce por uma fé mais justa.

Eu te apodero dos meus sentimentos. Pequenos potenciais, de competências, de desenvolvimento. Mas o gesto que recebo em troca é de outra natureza. Entristece. Emudeço. A queda foi muito grande e abrupta. Perde-se o ar. A fala. A letra. É duro. Embrutece.

É uma boa noite para os pássaros e as abelhas e talvez veja novamente a lua essa madrugada. A luz da rua vindo através das árvores.
Talvez ou o balanço no meio da rua tarde na noite, sem nenhum ensaio necessário. Como estará o lá dentro? Não precisa se preocupar, não precisa se preocupar com…

Apenas aumente o passo.

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Ivana Almeida

Que tom tem seu grito?

O aperto de viver em um mundo muito pessoal e individual era real, mas desejava que se garantisse  uma certa blindagem dentro possível. Só aquela leitura trouxe um pouco de mediação entre os mundos. O problema com leitura é que parece que você não estava fazendo nada. Quando você lendo se põe a escrever, volta a ser respeitoso ao próprio corpo, produtivo. Porque tem o gesto, a força, uma intensificação da força de vontade.  Nós novamente sozinhos. Alguém que pesca desejo, lê nas entrelinhas. Ele percebe o que você não percebeu que você fez. Uma alegria muito delicada a esse respeito, grita.

Consulta, guardado debaixo do travesseiro, o manual de como começar (bem). Da estrutura da limpeza se espera um pouco mais de consciência, estrutura pela qual você não está preso à família, nem a ninguém, e está disponível para ir aonde for preciso… Os tons e as nuances que pedem a espera de um pouco mais de conhecimento. A vida passou e se aprende coisas, mas mudanças? Acho que somos sempre os mesmos. Infelizmente.

As pessoas que estão mais em contato com suas próprias emoções e seus sentimentos, se relacionam de uma forma muito mais próxima com a dor de outra pessoa  – essas são as pessoas mais fortes que eu conheço.

Bem, é por isso que você precisa ser mais inteligente e confiar, ela disse. Já tenho 75 anos e, como todo mundo, não sou obrigada a fazer nada.

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Vivendo nas ruas, dizendo que se poderá viver grande amanhã

Eu vivi nesse lugar onde o verão é quente mas as noites são frescas, em outros tempos. Por lá se anda de coração apertado de um amor suficiente e cheio de cores vibrantes, luz estourada. E você está tendo sérias dúvidas sobre movimentos que você nem conhece e a resistência começa em seu coração. Quando a gente liga o telefone, notícias, opiniões… quando a gente entra em contato com o  assalto diário do presidente sobre a nossa compaixão, sobre o nosso bem… a razão e o bom senso básico vem dando lugar ao medo e à raiva.

Vivendo nas ruas dizendo que se poderá viver grande um dia, talvez amanhã. É apenas uma vida que você não pode acreditar, é apenas uma vida que você não pode pedir. É apenas uma vida. A ameaça de que o sangue pare de circular, que falte oxigênio, é constante. Encontrar uma maneira de se fazer o que se pode, com suas próprias habilidades, em sua própria comunidade, estender a mão… Você vai ter muitas ideias brilhantes, ele disse.

A luta para se levantar das manchetes e entrar em ação é tão real e tão estranha como as maquinações de um órgão de dez onças encarregado de manter vivo todo o seu corpo humano.

O grande desafio desta era surreal em que vivemos agora é, em seu centro, no seu canto, uma pergunta feita pelos muros: Quanto você pode amar? Bem, muitos não estão começando nessa estrada e com certeza não estão fingindo, mas agora, quando ouço, faço movimentos circulares com os dedos, pensando na tola esperança. E mais ainda na necessidade da desistência dessa esperança. Você vai ter mais fé em seus valores e a realidade vai mostrar que você está no caminho certo. Porque o lugar bom de se viver não é nesse mundo branco.

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Darcy Padilla, From series Julie, 1993/ 2010

O chão é vermelho

Tinha olhos grandes e estava de regata azul com a estampa de um macaco com uma coroa de rei. Ao invés de se contentar com as distrações que o dia colocava ao seu dispor preferia dedicar-se à sua ideia fixa – a composição das cores nas paisagens. A cor pode fazer seu dia cantar. Todos os seres lutam por sua vida enquanto a mente está intimamente ligada ao que experimentamos no meio das nossas naturezas.

Eu estou bem acordada e posso ver que o céu está perfeito com um tom rasgado. É um pouco tarde e já estou despedaçada e sem fé. Então, por que não começar imediatamente?  Deito nua no chão e quero pertencer a um estado alterado de consciência. Há tanto para admirar, para chorar.Uma ilusão que nunca se transformou em algo real. E a potência do dia é a resistência.

Eu sei que quando você provoca um estado de transe, tão intenso que bloqueia a percepção de tudo o mais, delega qualquer outro o estímulo ao natural. Estar neste mundo, isto é como eu sinto, é sentir frio no verão. Estou com frio e quero escrever músicas ou poemas sobre percorrer os caminhos ao redor do mundo.

Você precisa de um pouco de escuridão para ir?

Os de modos únicos com propósitos e pensamentos, por um tempo, têm uma vida. Os pés que levam você para lá e para cá, descalços, estão vermelhos de terra. Abençoe os olhos e as orelhas ouvintes. Abençoe a língua, a maravilha do gosto. Abençoe tocando.

Você poderia viver cem anos, deixe-me ser tão urgente como uma faca, então.

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Foto Ivana Almeida

 

Quando paraíso

Acreditava que grande parte daquela estrutura, ainda que invisível, era imutável. Com uma taça nas mãos circulo pelo ambiente à procura de micro paisagens. Desejo de voltar às flores, ao sol e a todos os azuis (sentimento de afeição). Logo após um dia particularmente feliz, onde os caminhos estiveram por tanto tempo obstruídos, edito minhas imagens e sinto-me refeita, já que não precisavam de filtros. O olhar necessita cada vez menos de edição. Claramente, a mente tem um poder tão grande de se concentrar em qualquer momento que parece não ter um único estado de ser. E vou finalmente conseguir esquecer, perdoar, aceitar e compreender (…) não nessa ordem. Não em ordem.

Quando vi um dos dois entrar no táxi senti como se mesmo depois de separados eles certamente se reuniriam novamente. Separação temporária. A obviedade do que as faíscas que saíam dos dois significaria é desconcertante. Acontecem, sabe-se, quando o natural seja que se alinhem. Tenho um instinto profundo pela aurora, um trisco de racionalização e naquele estado (onde mais vulnerável) poderia ser facilmente abduzida por meus próprios delírios. A certeza acontece, pois que a incompletude gera encantamento. Pastel frito. Melhor pedir mais um, estou com fome. Sabe? O desnível da encosta era para se equilibrar. O reflexo na porta automática mostra alturas, diferenças e muito sorriso.

Aqueles que prezavam pela renovação da língua ou pela palavra nova que se inventa, ardiam naqueles dias. A violência atinge quem amamos que tornam-se vítimas no espaço onde deveria existir cuidado. Onde deveria existir a comunhão. Tempos difíceis, tempos horríveis aqueles. Há um grande trabalho negativo de destruição sendo realizado. Exigir a limpeza do indivíduo após investidas do estado com agressiva e completa loucura é infértil. Um mundo abandonando nas mãos de bandidos que se despedaçam uns aos outros e destroem os séculos. Tempos difíceis.

Das linhas paralelas se falava muito, enquanto o outono se aproximava, enquanto ainda no verão se esperava. Aqui está a nossa nuvem de diversão; poucos serão capazes de prever tal intensidade.

Tem sido insistentemente difícil saber o que realmente queremos; difícil distinguir entre amor e luxúria, entre o mundo prático e o mundo subjetivo; difícil não sucumbir àquela repugnante tendência perigosa (até um pouco religiosa) a idealizar e a julgar; difícil conciliar a proximidade necessária para a intimidade com a distância imposta e já necessária para o desejo; difícil aceitar a espera.

Queríamos dar beijos na boca e também nas bochechas.

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Carla von de Puttelaar, Untitled, 2007