Encontrando clareza no caos

Antes do policial penal ser preso, ele fez uma live porque o tiro foi acidental, o soco foi acidental, ele chorou no Instagram. Nós constatamos que, pela própria imagem em movimento, o plano de ações militares de monitoramento tiveram êxito. Depósitos altos em dinheiro vivo, onde ninguém sabe, nem alcança a procedência. Tudo registrado nas redes.

A intenção era clara, era de matar. Ela não sobreviveria nas mãos dele.

Não foram encontradas digitais na minuta, embora ela tivesse livre circulação no google. Já estava no painel as ações animadas, – vamos ver se isso vira a norma, desejou. Ser importante no processo, pacificação é o cr*4. Eles tentaram emplacar uma ideia, e nada aconteceu, omissão. Comandantes falando que, o que querem mesmo, é virar essa página.

Ações como um pensamento um pouco mais crítico e a vontade de resolução dos problemas não foram determinantes de mudança, destilava venenos. Uma gota só daquele tóxico poderia bastar, não só para tirar a vida, mas por lhe dar outra, diferente e pior.

Antigamente eu gostava de gif animado, ficava naquele encanto como o ‘movimento’ ganhou vida em fotos cinematográficas. Hoje posso dizer que, por volta do quinto segundo, os olhos e ouvidos já não estão indo naquela direção, os ouvidos irritados com os agudos, volumes, dos que ficam advogando sobre tudo nessa vida.

Um projeto contra incêndio e pânico, você se cala diante desses abusos, por conta de interesses de partes – a violência continua. Entender nosso lugar, do nosso corpo, como corpo feminino, é avassalador. Tem hora que temos que parar, senão não cessa de doer, clima de festa – mesmo que seja um teatro barato.

Sintonia final das ruas, segundo dizem – foragido na Bolívia, basicamente sendo alvo. Teve sua vontade mais bloqueada do que seus bens, onde está o erro disso, eu não estou para brincadeira, vou mostrar a que vim.

Paletós imaginários

Essa ligação… esse contato. Realmente era o que deveria ter acontecido. Se saiu melhor por enquanto. Por ora, foi melhor assim: à distância, observando apenas uma área, contando duas mil mortes a cada dez dias, decretando fome silenciosa numa faixa esquecida do planeta.

Obrigada Mateus, agradeça também ao Alexandre. Até com a possibilidade de retaliação, a palavra é coragem.

Aproveite a sua recompensa, você mereceu. Sabemos, você não deveria ter feito tudo o que fez. Agora tentar enfraquecer o recurso, seria importante, mas sobretudo tentar saber realmente o que a faz ser a autoridade no assunto, em um mundo de homens que usam paletós imaginários.

“Foi mal, tava doidão”. E naquele instante, revelou — sem querer — uma estrutura emocional quebrada, um edifício mal construído, desequilibrado, ainda que em aparente civilidade. Um colapso prestes a ser oficializado com tapinhas nas costas e palavras bonitas.

Queremos sobreviver mais, mas não somos fracos. Tem que vir, não é possível que se possa ocupar seus pensamentos guiando suas ações. Qual é a punição que lhe cabe? Ouvi e isso ressoa até hoje, a gente não pode parecer muito fraco. Naquele momento não se deve chorar. Todos temos medo. Não foi contra mim, foi contra o estado. É maior do que eu. Na dor física a gente só tem esperança dos próximos dez minutos.

Deixa pra lá, a estrutura é doente, preconceituosa, afetada, com ares de que na prática lhe daria carta branca para seguir.

Toma um café (sempre penso no café como organizador de ideias), fuma um cigarro, sente as estruturas dos ossos e uma leve onda que lhe é permitida.

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Tem um menininho sumido. E o meu chefe acha que eles procuram somente os papéis, ele mentiu certamente. Os corpos das mulheres são campos de batalha, corpos que viram segmentos, pedaços, no olhar do outro. Mas não teve que se preocupar com a fiança. Meio abalada, meio envergonhada, ficará bem. Você teria algumas boas notícias?

Acontece que o encerramento foi espetacular. A gente pensa que um dia vamos esquecer, mas não. O gosto ruim na saliva quando vem a mente imagens de pequenos abusos. O gosto piora quando lembro da reação que tive então, como pude me deixar de lado e sorrir, eu nunca vou entender. A compreensão do que nossos corpos são no mundo vem com o tempo. Aí você se anula, acabou você. Perdi perdi, gritava antes de sentir no braço a dor aguda, que rapidamente começou a queimar, onde, antes mesmo da dor folgar, um rasgo vermelho começa a aparecer.

No início queremos pertencer. Estar junto deles que, na época, acreditava serem os ‘bons’ ‘corretos’ ‘justos’ ‘amorosos’ ‘vitoriosos’. O nosso lugar não era legal, desejamos o lugar que nunca nos pertenceria, nunca nos pertencerá. A vitória deveria nos fazer sentir bem. Então qual o motivo do caroço na garganta que não desce, que incomoda. E quem diz e mantém o clima do golpe, com alegações finais, ainda assisto a entrevistas da Dilma com lágrimas nos olhos, um pouco de ódio também. Admiro, coisas que se aprende pra vida: cabeça erguida.

Eu costumava fazer o que me mandavam sorrindo. Achava que o sorriso, como se eu realmente amasse fazer aquilo, fosse uma vingança, interna, boba e inútil.

Saudade pode ser usada a favor da saúde mental. Muitas desigualdades ainda presentes na vida, e o foco é no processo. just like you said, is not our guy. Abolição violenta do estado de direito. Do direito de estar. A gente acostuma, mas não devia.

pontos de intervalo

,quando cheguei na internet já não era mais tudo mato, já tinha um pessoal capinando. apesar disso ainda não havia passado pela experiência do luto, o Mau, bandeira da inclusão digital aprendi com ele, que ficou amigo, as mensagens não eram vazias, eram recheadas de verdade. às vezes dor, aquela revolta contra as injustiças, muito humano. Saber que morreu me dá um vazio, luto mesmo.

eu não pude ver o rosto dele, não, você tem que entender eu estava aterrorizada, medrosa que sempre fui. refúgio nas pequenas coisas, tudo enquanto subia os degraus da escada rolante quebrada lembrava de quando criança contaram a história de um menino que ficou sem os dedos do pé porque brincou nela, sorriu de leve, ainda bem que esta não oferece mais perigo. coisas feitas para educar crianças pelo medo. das bruxas, dos dedos, dos monstros.

ele perguntou sobre, meu deus, quais livros são os prediletos, quais as bandas são as prediletas. outro a fez de fantoche, absorvendo sua vitalidade enquanto manipulava. o outro a fez rir, de vez em quando exagerava, pra que ele não ficasse sem graça com a sua sobriedade, o outro a fez de culpada, o outro mentiu, sentiu na pele o ghosting, o isolamento social, o parar de falar, sumir.

sempre fumou, sempre quis fumar, sempre ainda quer. fumaça. cinzeiro. isso não muda, pensou sentindo na varanda a fumaça vinda de um outro fumante. mas agora não fuma mais.

Ela sambou e ninguém viu

A primeira coisa que se precisa abandonar é a vontade de ser artista. Ela atravessou a avenida, queria sentir a alegria. Ela dançou até o sol raiar.

A expectativa é de coerência e de luz além mar. ~ descobre-se na própria consciência uma hostilidade brutal e raivosa em relação a qualquer outra des-consciência que nos rodeia; ainda tentando manter algumas áreas de sombra, e segurando o choro como se fosse ontem.

Andamos defendendo afetos com os quais não sabemos como lidar. A pessoa negará ou acreditará em qualquer coisa, qualquer magia, qualquer ódio. Acho que ainda há alegria na verdade das coisas e espero que as pessoas ainda saibam ter conversas mais matizadas.

A desigualdade na voz nos condena à inexistência.

o sujeito só se põe gerundiando – opondo: ele pretende afirmar-se como essencial e fazer do outro o objeto.

A gente deve usar máscaras? Não sei, mas devemos lavar as mãos todos os dias. É uma maneira de fortalecer a democracia.

Orçamentos diários

Teve uma época que li tudo da Clarice, os livros eram em conta, as capas lindas, o espaçamento das letras e das linhas perfeito, a escrita reveladora. Dessas que mastigam a gente. Época de pouco dinheiro, pouco acesso, muita vontade de cultura, de pensar diferente, de entender um pouco. Hoje já se consegue tanta coisa, né. Falta algum contexto, a estrutura está cedendo, no entorno tudo esta sendo esvaziado.

O problema para muitos é que por vezes os textos não são super lotados de acontecimentos, idas e vindas. Talvez pegar um ônibus, ir até um sebo, deslocamentos para pessoas que já lidam com a ansiedade e que podem ser especialmente mais vulneráveis no dia a dia, tentando encontrar a paz.

A gente deixa o prato do almoço de lado e come trabalhando. Tenho evitado conversas difíceis, primeiramente limpe totalmente a mente. Sensação de não conseguir enxergar absolutamente nada. O corpo todo dói, nos ossos, novamente, depois de anos. Difícil manter a sanidade assim.

Tantos cargos, desgovernos. Boquinha, uma coisinha ali. Você é excessivamente independente, excessivamente. Eles fazem coach de liderança, minha gente.

Dois beija-flores atravessando a rua

Atravessando. Pensei que gostaria de estar tomando café numa galeria do centro, perto de uma livraria de usados, perto de uma loja de música com algum sucesso do momento tocando. Se desse sorte, seria um sucesso da escolha pessoal do vendedor e não teria televisão. Centrada no corpo que gosta de estar.

Eu tirei um dia pra pensar quem era eu. Tive que aceitar esse cessar fogo. Tendo que aceitar a flacidez da pele, da perna. É preciso uma quantidade de força imensa para ser simples. O fim permanente da guerra, detalhes negociados, continuará em vigor. Acho que para mim, é onde você vê algo com o qual se conecta e entende. Você tem que sentir algo e ressoar com isso em um nível em que isso seja familiar, talvez você tenha experimentado de alguma forma, um estado mental de pura confiança.

A partir de uma postura cada vez menos impulsiva, as situações embaraçosas seguem cada vez mais raras. Controle emocional definido com sucesso, mas assombrado pelos anteriores. É interessante a memória, quando voltamos e narramos, ressentimos.

Esse caminho foi mais difícil que conseguimos trilhar. Lançou ataques fracassados, e as nossas estruturas de defesa eram frágeis. Não dá pra voltar e não dá pra seguir adiante. Estou pelo bem estar, pela fragilidade, leveza e sutileza. Vivemos o inferno, mas podemos pensar na reconstrução com todos os nossos vizinhos.

Eu queria ter alguma doçura

Tem espaço ainda para sonhos, você vai ver. Você quer sentir algo. Além disso, “o astro rei incentiva você a ter a coragem de romper com hábitos, padrões, pensamentos ou pessoas que não lhe servem mais.”

(…)

Tive que me esforçar muito, com a maioria das pessoas, e sinto que tenho más lembranças associadas a isso, sabe? Praticar por horas e ainda errar, chorar… às vezes até meses e anos mergulhados numa chateação ou ressentimento. Aquele jeito de olhar. Sempre a primeira a ir embora.

Hoje consegui mais palavras, e agora, na maioria das vezes, a voz sai audível. Eu não tinha palavras para entender o que estava sentindo, mas quando fiquei mais velha, percebi o quanto o lugar realmente me afetou.”

Ouvir que você existir de alguma forma é um peso, é pesado. No sonho, tudo era muito abstrato, parecia que eu tinha muito mais controle, não estava assustada, parecia libertador criar arte com meu corpo. Era uma libertação como uma prática habilidosa.

Não é necessariamente evocar as mesmas emoções, mas você está tentando evocar algo . Você quer sentir algo. Acho difícil fingir isso. Para mim, ficar mais confortável no palco significou perceber que não seria a mesma coisa todas as vezes. Às vezes me sinto ótima, às vezes me sinto péssima, mas de qualquer forma, é apenas parte do trabalho e tenho que me permitir sentir isso quando em vez.

Todo mundo tem um universo dentro de si e eu acho que é nosso objetivo conectar nosso universo interior com o universo exterior. Isso é algo que da sentido no dia a dia. Para entender minhas emoções e a mim mesma escrevo.

Talvez percebendo uma possibilidade de entender o coração dos outros também.

Céu carregadíssimo

Não precisamos de algumas semanas pela frente para tentar entender.

Humanos e animais. Ela vem em ondas. Não vejo a seriedade, muitas vezes ela é limitada pelo erro e, mais frequentemente, pela estupidez ideológica. A contemplação do passado é a única posição que se pode tomar para fazer algo novo. Quando estava em missão, ele denunciou e naquela hora achei que não era nada, mas aí alguns meses depois descobriram que as meninas foram… embora.

Mas isso vai demorar um pouquinho. Mentiu pra muita gente. Esta foto foi tirada em 2013, impressionante. Propriedade delas, a outra mulher na foto era uma agente de empregos que conseguiu financiamento a partir de dados incorretos. Tem que ficar de olho nas contas e nas meninas. Tá bom! Quer saber, porque não sentam um pouco, fiquem confortáveis. Porque isso não pode acontecer na vida real. Desliguem os alarmes, por favor.

Era uma pessoa que tinha a tendência a raciocinar com poucos critérios e passava despercebido no gabinete. Como acontecia? Era onde resolvíamos rápido, além de verificarmos as válvulas, estávamos investigando. Nem sei porque ela estava aqui, não há indícios de que ela deveria estar aqui hoje. A Cameron tinha algum motivo, inspetora, justa. Tem mais alguém aqui nessa foto, dá pra ver, dependendo da música, escolho diferentes sílabas para cantar. Posso ser muito livre, faço muita improvisação, posso apenas cantar o que sai da minha boca. Isso dificulta seguir em frente. Quem você conhecia tinha muita coragem, talvez ela tivesse uma vida. É o que as pessoas fazem quando estão ficando sem tempo. Parece familiar pra você?

Posso dar uma olhada no seu porão? Isso seria um problema?

Depois há outros projetos onde não escrevo nada; às vezes penso em um conceito ou tema, seja musical ou apenas algo que estou sentindo ou um assunto que me interessa. Há muitas maneiras de abordar esse ofício e estou tentando ver como posso fazer ambos.

Acho que estou em dois estados.

Os animais devem chegar logo

Acabamos de ver um javali macho adulto. Ele ainda deve estar em algum lugar por aqui, então vamos esperar. Acho que ele precisa muito. Então havia música. O Vazio sempre vibrou com a música dos meus pensamentos, mas antes da existência do tempo a totalidade dos sons ocorria simultaneamente, como se notas fossem tocadas de uma só vez. Finalmente a sensação de velhice está chegando.

Isso é o mais importante: não desapareça. Não, não tenho nenhuma sensação de separação. Não há realmente uma palavra para isso, mas é apenas quem eu sou. Acabei de me tornar o trabalho! A cada segundo devemos fazer uma escolha de resistir ao mal.

Estou em um lugar onde, com tudo o que estou fazendo, estou tentando torná-lo tão único para mim que o período de tempo não importa. Isso poderia ter acontecido mil anos no passado ou mil anos no futuro. Estar totalmente em seu próprio espaço, desprovido de tempo. Então, eu queria ter certeza de que as pessoas nunca poderiam colocar um limite de segurança ao meu redor, apenas mantendo-me em movimento o tempo todo.

Vou começar com uma espécie de fluxo de consciência; muito da minha escrita é na verdade como forma errática de diálogo, ou está apenas acrescentando algumas já ditas a esse pequeno banco de frases e conversas. Tento fazer algo para a arte todos os dias, uma paz que talvez nunca vá encontrar.

Que maravilha! Alguém com toc talvez? Mas a pessoa ficou horas mexendo no trabalho? Na verdade é a voz do senso comum que não aprova tal disposição de elementos imbricados um no outro por dar uma sensação de vertigem, de bagunça – disse finalmente.

Ilustração Iuri Chacham

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“Sofrendo a desejar quimeras que eu não consegui… ” o lugar do pensamento. Discussão, desenvolvimento. Sua estupidez, vida por todos os lados que a gente olha. Não é necessário ter autorização do governo para chorar no cantinho de vez em quando. Aí você entrava no ônibus, e sentia que as coisas estavam mais ou menos sob controle. Lá de cima a gente conseguia identificar alguns produtos se comportando relativamente bem.

São completamente diferentes, não será fácil. É um grupo irmã, sobreviveu, de uma história escrita na nossa curiosa anatomia. Comer quase qualquer coisa. it’s probaby living the town – stay low.

(green onions palpitando no coração)

Costas com espinhos, os dentes únicos, e o lindo modo de vida lento. Escrotos do submundo. Quem são vocês?

Notou alguma coisa fora do comum? fora das opiniões mais comuns. Horas atrás tive que escrever sobre isso. Antes do distrito, antes de realmente me importar com alguém. Enviado dois dias atrás, dizendo, você acabou, música para meus ouvidos.

Nós devemos nos focar nisso neste momento. Com certeza foi enviado apesar das alegações daquele podcast, que parece mais uma firma. Oh please, eu não atirei nele. Não faria isso. Deixe-me curar da cirurgia no joelho, estamos bem, ficará bem. Ambos os joelhos.

Nossa curiosa anatomia.

Irresistível

O papo é solto e o frio acontece na espinha quando as peles roçam.

Por vezes tão cansada que fecha-se por mais de quatro horas sempre gerando algum desconforto, além de desejos e intenções segundas em uma espécie de re-sentimento. Quando os tempos estão assim segue ficando no incerto. E até que o tenha de alguma forma sob a pele, vibrando, como a sensação eletrificada, seremos em suspenso. Porque você se parece com chuva, diferente a cada vez. A carcaça está a desmoronar-se e você finalmente poderá deixar que eu entre na sua vida. Será no tempo de frio, eu espero.

Os amores ficam bons, aconchego. Penso em escapar dali, ir embora, descer o elevador, devagar, lance por lance, para pensar. Vou de escadas, decido muito antes da minha saída. São mais felizes quando as coisas boas são esperadas para acontecer e não quando estão acontecendo. O ritmo é um dos mais poderosos dos prazeres, hum, e espera que continue assim. Ficaremos ali, a nos olhar, com Coltrane nas nossas costas tentando materializar o tão sonhado arrepio doce. Abrandar a respiração o suficiente para caminhar. Há de fato uma coisa como “tempo”, grita. Mas Matilde reverbera – pois é o segredo do bom tempo, e eu só vejo degraus. Arte, só por amor.

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Shoji Ueda, Girls, 1945

 

 

Cantarolando

Na parte da manhã quando eu acordar e o sol estiver atravessando a janela, você encherá meus pulmões com doçura. Preencherá minha cabeça com você. Devo escrever uma carta? Penso pedaços de uma música que eu não consigo esquecer e deixar sair. Eu posso estar perto de você? Posso levá-lo para uma manhã de sol e café imaginando campos pintados de ouro, lá onde as árvores estão cheias de memórias dos sentimentos, nunca te disse?

Quando a noite puxa o sol para baixo e o dia é quase completamente seu e todo mundo está dormindo, mas os mundos são você. Posso ser perto de você? (Ah) oh  [assobios]. Já faz um tempo que, então, eu realmente gostaria de conhecê-lo, mais, você sabe. Eles cantam uma canção assim, gostaria de ir até o horizonte. Apenas para você todas as lisuras estão girando em mim e tudo, tudo aquece. Lá pela linha de tristeza, sim todas as menos definidas listras dos gatos mais frios. Mas então estar-se a refinar, oh sim. E eu quero ver coração coração coração coração e alma.

Coração e alma porra, meu coração e alma. Por instante.

Sabrina Arnault
Sabrina Arnault

Quando isso acontecer

Apressando-se / atrasando-se são formas igualmente fortes de tentar defender-se do presente. Finalmente outro mês vem chegando – porque o medo das palavras vazias apavora uma imagem “zen”, razoável e mentalmente equilibrada que só o café trás. E se a vida se tornasse subitamente algo bacana no final das contas? – era assim a Matilde. Sempre otimista. Ela é mais poderosa do que a força agressiva, talvez em uma forma mais sofisticada. A gente duvida de que dizendo sim as coisas se resolvam. É essencial tomar atitudes práticas, ainda que elas se revelem pouco afetivas ou até mesmo um tanto quanto impiedosas. Nós ali, a tomar antídotos com biscoitos de coco. Chuva inundando casas, molhando colchões.

Ela é um único personagem que se esbalda a jogar tanta luz no drama que a gente tem como máxima da vida. (Confundir as coisas de substância com o seu simulacro). O papo é solto, o frio acontece na espinha, a cada baque. Penso em escapar dali, ir embora, descer o elevador, devagar, lance por lance, para pensar. Vou de escadas, decido, muito antes da minha saída. São mais felizes quando as coisas boas são esperadas para acontecer e não quando estão acontecendo. O ritmo é um dos mais poderosos dos prazeres e espera que continue assim. Quando isso acontecer, ele crescerá mais doce. Ficamos ali, a nos olhar, com as cartas na nossa frente, tentando materializar o tão sonhado ritmo doce. Como a busca ansiosa por prazeres nos faz sair correndo na frente para encontrá-los, tanto, mas tanto… que não podemos abrandar nossa respiração o suficiente para apreciá-los quando eles vêm.

Estamos, portanto, uma civilização que sofre de decepção crônica e recorrente – um enxame formidável de crianças mimadas quebrando seus brinquedos, perdendo seus amores, ficando de mau. Dói. Há de fato uma coisa como “tempo” – a arte de dominar o ritmo – mas o tempo está escorrendo … Sinto o eterno presente em meus braços que mal consigo movê-los. Mas Matilde reverbera – pois é o segredo do bom tempo, e eu só vejo degraus. Arte, só por amor.

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Sonia Handelman Meyer, Bus Stop

 

Ele adora torradas e farofa

Depois não falamos mais nada, não pensamos em mais nada, nada mais a gente quis.

Quando encontrar, guardo no bolso as histórias. Tremi, e a tremura é tão deliciosa como um encontro justo e firme de dois em um pensamento.  Internacional e acidental (mas ele é do mundo, não é daqui). Uma vontade derradeira (de nutrir laços humanos íntimos – o afeto, o desejo apaixonado e amizade) ameaça uma certa descrença (coisas de antes). Uma certeza absurda (custava a acreditar).

A relação mais rara, mais profunda. 

Nós temos muito mais bondade do que é dito. Eu gosto dele e ele gosta de mim. Nós usamos os nossos olhos mas o olhar está olhando, levianamente, aquele desenho no braço, aqueles escritos na pele. A partir do amor apaixonado eles fazem a doçura da vida. Os nossos poderes intelectuais e os princípios ativos aumentam com o nosso carinho. Dar uma pausa rápida em tudo o que era.

Eu sou tudo dormente, eu juro. Ele foi-se embora. Vi-o por um minuto, de relance.

No espaço pequeno, de manhã, quis café, quis cappuccino, quis torradas, quis banho. Quis sonho. Quis. 

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Helen Levitt

 

Ou seria engolida pelo tempo

Chegou na hora exata, como um sinal, talvez até divino (talvez  exista alguém pensando em mim agora…). Organiza sua vida ao redor disso, desses pequenos sinais. Naquele momento só consegue pensar na oportunidade que a vida oferece de  fazer pedidos para o universo. Suspira. Eles se abraçaram novamente, e então desataram a falar. Era um indicador de um amplo potencial, potencial afetivo, sabe, diria ao psicanalista mais tarde.

Porque aqui eu sou o lugar, o lugar é aqui.

Porque estereótipos limitam o amor, porque os rótulos limitam o amor. É muito sensível em relação a como os outros a acolhem (ouviu dele). Com notável ambição nos olhos lia nos trechos rabiscados em pedaços de guardanapos que guardava na bolsa “se aqueles que começamos a amar soubessem como estávamos antes de conhecê-los … eles poderiam perceber o que eles fizeram de nós”. Suspira.

O que podemos é fazer uma aposta! Tolice (decadência, sintoma de esgotamento). Aqueles que preferem os seus princípios aos infortúnios dos amores, sua felicidade, sim, aqueles eram fortes. Que besteira. Se recusam (apenas) a serem felizes fora das condições que parecem ter anexado a sua felicidade. Eu te amei como pude.  Às vezes sinto-me atravessada por uma imensa ternura por pessoas ao meu redor – grito mudo. Como o grito usado nos antigos clãs para inspirar os seus membros a lutarem pela preservação. A sua apenas, talvez já bastasse.

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Fan Ho, White tent, 1960, from series Living Theater

 

 

Cansando-se e desistindo

Não acredito que você fez isso… Em uma mulher truculenta e autoconfiante, isso que você se transformou.

A fase dos gritos,  berros e atritos havia passado, mas a rigidez veio como um ato de resistência. Isso você consegue fazer muito bem, seguir em frente, né? Ela quis conhecer ‘seu’ afogado (sobrevivente de um maremoto) graças ao poder da intimidade verdadeira. Quis mostrar como ser firme e decidida, que não há nada que supere a persistência, que as águas só… são.

Reconhecia o significado do silêncio e da quietude, e não descansou enquanto não percebeu que você aprendeu a observar intimamente – sem um constrangimento tão típico. Engrossas o couro, já ouviu essa expressão? Pois é isso. Couro grosso. Pele grossa. Cascuda, como me chamam. E ele sempre chega por trás! E basta o despudor ou a coragem para conter-lhe, que fosse simplesmente se curvar para aceitar a existência. “Eu não acho que eles têm amor”, digo, olhando para os pés.

A notícia foi ignorada. Arremessada contra a parede, sangra na testa, e novamente sangra pelo não entendimento, forçando um novo golpe. Uma armadilha, deveria ter previsto. Mas nem com toda humanidade dentro de si isso seria possível.

Droga. Outra cicatriz.

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Helen Levitt

 

 

 

 

Qualidade cortante e fria.

Pleno de cor, a luz que sugere o florescimento da beleza, sugere também o que é interpretado por uma melancolia em toda sua capacidade quase infinita para perguntar. Ainda não encontrou paz no silêncio, clama por palavras, sempre foi do verbo (anotação mental: aprender a língua das não palavras). Em uma conversa vêm lhe chamar a atenção para a importância da autoestima, do cuidar de si, da aparência. Importante é, mas, na verdade, não entendia muito bem o que era isso. Se sentia única e por isso mesmo, diante do não entendimento, o mais recomendável era ficar na sua. E se, e, se você der um grito durante a noite, e ofegante perceber que tenta desmontar a sua verdade com quatro vulgaridades, desista. E os pesadelos? Dará conta deles também? Eles que pendem como uma criança e não deveriam ser  levados sério. (Expressivo é som),  que lerda, dificilmente será capaz de convencê-lo de que precisa ser tudo isso, e clama por uma compreensão da incoerência. Eles não têm ideia, de que todos eles “têm é serragem dentro da cabeça, você me entende? “. E os gritos noturnos acabam por se tornar um “fenômeno” curioso, de uma forma mais intensa, como se simplesmente alguém estivesse lhe emaranhando o cabelo em um passado amoroso. 

 

 

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Solar

Da alegria que é a força que norteia o clarificado da vontade, ou a vontade clarificada, que nem fogo – renovação criativa. Longe de ser algo bom, em si – pode ser altamente perturbador –  o principal é agir de forma útil. Desenvolver uma maior, ou melhor, ou possível, ou desejável –  ‘realidade’ e estará criando, forjando algo possível. Ainda que isto seja uma vida sem graça. Se você não passa, eles passam. Envolvem a duras penas e lhe permitem tornar-se um ser mais forte (mais uma pieguice, quase insuportável). E densificam, até se tornarem carne. Prioritariamente a generosidade torna-o (o objetivo) poderoso, assim como a sensibilidade costuma destruir os outros componentes racionais, mas cedem pela qualidade do amor (sim, o amor tem qualidades, naipes), pra ser tudo junto. Um dom natural para uma troca fluida sua mas, uma intensa necessidade simbólica, analógica e conectiva (mesmo que aos trancos e barrancos) estarrece.

Anotação mental: ler muitos livros durante estes próximos meses e dançar.

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Da série ‘que não sou de ferro’

Urgências de viver alguma alegria, perceber algo que não vira antes, algo que faça lágrimas bonitas escorrerem. Porque a frieza (se tanto), que resolveu se adiantar e se despedir antes de ser despedida. Dizem que tudo agora é em estado de transição (muito embora ache essa ideia muito rancorosa), em que nada é para persistir. Uma necessidade de se ocupar do outro mais onde as características ainda são válidas e úteis – a aprimorar.  Do que é convidado a perceber algo que não foi visto antes, que passou e de uma forma imprópria se perde muita energia no processo. Suspende toda sua busca, seus desejos, sem resistência. A  situação continua muito complexa, porém, (neste momento) pode fazer algumas combinações interessantes que, temporariamente, colocarão as coisas numa direção positiva. Dedica-se com afinco a esse processo. Se não o fazem por alguma fraqueza, pode-se desejar que seja por impulso.

 

 

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Busca do sublime

Se a vida acabasse em mel, perplexos seguiríamos em aparentemente normalidade – disse o brincalhão. E já em idade de se comunicar, o menino ainda não fala e por motivos pessoais os pais resolveram buscar em muitas e outras organizações religiosas a palavra perdida. O cosmos é íntimo numa forma como a alma se identifica com a vida. Mas uma coisa não poderá esperar: sobriedade, pois sua alma estará muito mais interessada em perder a cabeça do que em mantê-la no devido lugar. A mudez do menino atordoa quem não compreende e em meio a exames, bençãos, rezas, súplicas, ele simples está. Busca o sublime (não conforma com a banalização)aquela aventura que te tire dessa existência ordinária com a qual já discorda visceralmente. Não, não teria idade para isso ainda…  para pensar sobre os ordinários dessa vida. Mas de alguma forma reage a elas com mudez.

O sublime está longe, mas está perto também, está no viés dolorido do entardecer de outono.

O sublime pode ser encontrado em alguns pensamentos e que ao observá-los fica surpreso na qualidade e profundidade desses. Imaginava incapaz de produzir poesia, mas eis que se pega em pensamento descrevendo poeticamente os acontecimentos. Encontra o sublime  nos comentários surrealistas, nas ladainhas, nas luzes na sua garganta, medidores, instrumentos cirúrgicos (que te sequestram da existência almejada e te devolvem ao lugar onde está).

Um dia irá gritar aos quatro ventos: a Vida é sempre surpreendente. Por enquanto, boca miúda. Vosso pai evém chegando.

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E sempre ama pra sempre

E como se a onda de mudanças não os atingisse imunes aos tsunamis existenciais. Li assim: recebi uma resposta “sabonete”. Pergunta “sabonete”, vida sabonete”, alegria “sabonete”, escoriações “sabonete”. Deveria tomar uma espécie de “catalisador” vibrante e radiante que só o escorrego proporciona. É muito difícil reagir e esse frio que não passa. Eu não gosto mais de mim, entende? Assim, ‘sem ansiedade e com a mente aberta ao que der e vier, faze tudo com calma, como se tivesses todo o tempo do mundo, como se não experimentasses nenhuma limitação, age como quem verdadeiramente és, um ser infinito, com toda a eternidade disponível’. Talvez a ponta de rancor em seu peito seja mais profunda que imaginaria, porque ouviu que falaram (mal) de ti e sentiu aquilo de novo. Da próxima vez, pede para te incluírem na roda em que… não saberia dizer. Você sabe coisas terríveis a teu respeito! E age como se estivesse em redoma de vidro em uma tentativa de um diálogo com a realidade sem um certo norteador de formação pessoal. O que mostra como a ira dirigida ao outro é, muitas vezes, uma confusão entre o que é do outro e o que é da gente mesmo… Rasos, superficiais, sentidos fluidos. Prepotência. Consulta, guardado debaixo do travesseiro, o manual de como começar (bem).

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Vácuo

Não a diferença, mas a igualdade e apesar dos conselhos de como se deve pensar bem, suscitou uma ótima oportunidade para se refazer do golpe. Tinham muitas, muitas pessoas perto. Quem precisar de ajuda por esse mundo de expressão puramente sexual poderia obter o suficiente dele. A gente se vê transformando até mesmo as demonstrações de puro afeto em atos com toques de brutalidade. Beijos e abraços aumentam significativamente as chances de entorpecer meus sentimentos afetando o desprendimento de seu corpo físico e a necessidade de sensualidade e intimidade aumenta progressivamente. Intimidade. Com o vácuo, vem a indisponibilidade de alma, dormência, falta de foco e paciência emocional. O corpo pede a nossa sensualidade e intimidade.

Esboça um sorriso. Só esboça, a inundação se perdeu. 

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O corpo boceja

Deixou as memórias no corpo – apoderou-se astuciosa da sua (c)alma. Aquela noite me tornou, retornou-me. Eu recobrava a vida, para logo perdê-la, desenrolava-se em outra que a atingiu, a adoeceu. Alimentando, assim como eles, de tradições e poderes apodrecidos.  O desperdício de seus tecidos era o que aflorava ao longo do sono, tornando tudo absurdo diante da biologia que rege. Permite e reforça a exigência das curvas sempre exatas e os afagos na cabeça tinham deixado seus sentidos mais agudos e precisos. E conversas baixas depois de ter o corpo perfurado em diversos pontos para a retirada do tumor. Comum, não limpo.

 

Não será um traje que irá impedir, de tão complexo que se desenha o panorama. Enquanto teu corpo boceja, vamos colorir?

 

 

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Os efeitos no rosto

A vida passou para todos e fugir dos quatro avisos não houve qualquer problema, não fossem as ocupações excessivas, obviamente. Maravilhoso. O ajudante na deterioração dos sentidos – na pele – recusou-se a nos receber ou abrigar-nos como a sabedoria da vida proporcionaria a uma boa alma.  Um excelente querer está sendo dispensado e ninguém pode escapar da doença e desses efeitos. Lembrando que essa deterioração física é vivida como um rito de passagem ou até mesmo uma obrigação.

Terá de ser reinventada pela esmagadora maioria dos que não se conformam que esse mundo é um tanto quanto limitado.

O ato de não poder angustiava. O que acontece é que cicatrizar escondido hoje é o que restou da ação e foi o que lhe deu a emoção. A forma como ele se apertou com uma corda de violino até gotas começaram a partir dele, gela. E a forma mais eficiente ou do jeito que ela quebrou e jogou água a esconder seu pânico, até encontrar um lugar para ficar sozinha e desmoronar quando ele pulou. Doeu fundo tudo pra saber qual a animosidade era contra naquele momento. Uma vez que você começar a soletrar palavras, algumas respostas vêm.

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