Encontrando clareza no caos

Antes do policial penal ser preso, ele fez uma live porque o tiro foi acidental, o soco foi acidental, ele chorou no Instagram. Nós constatamos que, pela própria imagem em movimento, o plano de ações militares de monitoramento tiveram êxito. Depósitos altos em dinheiro vivo, onde ninguém sabe, nem alcança a procedência. Tudo registrado nas redes.

A intenção era clara, era de matar. Ela não sobreviveria nas mãos dele.

Não foram encontradas digitais na minuta, embora ela tivesse livre circulação no google. Já estava no painel as ações animadas, – vamos ver se isso vira a norma, desejou. Ser importante no processo, pacificação é o cr*4. Eles tentaram emplacar uma ideia, e nada aconteceu, omissão. Comandantes falando que, o que querem mesmo, é virar essa página.

Ações como um pensamento um pouco mais crítico e a vontade de resolução dos problemas não foram determinantes de mudança, destilava venenos. Uma gota só daquele tóxico poderia bastar, não só para tirar a vida, mas por lhe dar outra, diferente e pior.

Antigamente eu gostava de gif animado, ficava naquele encanto como o ‘movimento’ ganhou vida em fotos cinematográficas. Hoje posso dizer que, por volta do quinto segundo, os olhos e ouvidos já não estão indo naquela direção, os ouvidos irritados com os agudos, volumes, dos que ficam advogando sobre tudo nessa vida.

Um projeto contra incêndio e pânico, você se cala diante desses abusos, por conta de interesses de partes – a violência continua. Entender nosso lugar, do nosso corpo, como corpo feminino, é avassalador. Tem hora que temos que parar, senão não cessa de doer, clima de festa – mesmo que seja um teatro barato.

Sintonia final das ruas, segundo dizem – foragido na Bolívia, basicamente sendo alvo. Teve sua vontade mais bloqueada do que seus bens, onde está o erro disso, eu não estou para brincadeira, vou mostrar a que vim.

Paletós imaginários

Essa ligação… esse contato. Realmente era o que deveria ter acontecido. Se saiu melhor por enquanto. Por ora, foi melhor assim: à distância, observando apenas uma área, contando duas mil mortes a cada dez dias, decretando fome silenciosa numa faixa esquecida do planeta.

Obrigada Mateus, agradeça também ao Alexandre. Até com a possibilidade de retaliação, a palavra é coragem.

Aproveite a sua recompensa, você mereceu. Sabemos, você não deveria ter feito tudo o que fez. Agora tentar enfraquecer o recurso, seria importante, mas sobretudo tentar saber realmente o que a faz ser a autoridade no assunto, em um mundo de homens que usam paletós imaginários.

“Foi mal, tava doidão”. E naquele instante, revelou — sem querer — uma estrutura emocional quebrada, um edifício mal construído, desequilibrado, ainda que em aparente civilidade. Um colapso prestes a ser oficializado com tapinhas nas costas e palavras bonitas.

Queremos sobreviver mais, mas não somos fracos. Tem que vir, não é possível que se possa ocupar seus pensamentos guiando suas ações. Qual é a punição que lhe cabe? Ouvi e isso ressoa até hoje, a gente não pode parecer muito fraco. Naquele momento não se deve chorar. Todos temos medo. Não foi contra mim, foi contra o estado. É maior do que eu. Na dor física a gente só tem esperança dos próximos dez minutos.

Deixa pra lá, a estrutura é doente, preconceituosa, afetada, com ares de que na prática lhe daria carta branca para seguir.

Toma um café (sempre penso no café como organizador de ideias), fuma um cigarro, sente as estruturas dos ossos e uma leve onda que lhe é permitida.

pontos de intervalo

,quando cheguei na internet já não era mais tudo mato, já tinha um pessoal capinando. apesar disso ainda não havia passado pela experiência do luto, o Mau, bandeira da inclusão digital aprendi com ele, que ficou amigo, as mensagens não eram vazias, eram recheadas de verdade. às vezes dor, aquela revolta contra as injustiças, muito humano. Saber que morreu me dá um vazio, luto mesmo.

eu não pude ver o rosto dele, não, você tem que entender eu estava aterrorizada, medrosa que sempre fui. refúgio nas pequenas coisas, tudo enquanto subia os degraus da escada rolante quebrada lembrava de quando criança contaram a história de um menino que ficou sem os dedos do pé porque brincou nela, sorriu de leve, ainda bem que esta não oferece mais perigo. coisas feitas para educar crianças pelo medo. das bruxas, dos dedos, dos monstros.

ele perguntou sobre, meu deus, quais livros são os prediletos, quais as bandas são as prediletas. outro a fez de fantoche, absorvendo sua vitalidade enquanto manipulava. o outro a fez rir, de vez em quando exagerava, pra que ele não ficasse sem graça com a sua sobriedade, o outro a fez de culpada, o outro mentiu, sentiu na pele o ghosting, o isolamento social, o parar de falar, sumir.

sempre fumou, sempre quis fumar, sempre ainda quer. fumaça. cinzeiro. isso não muda, pensou sentindo na varanda a fumaça vinda de um outro fumante. mas agora não fuma mais.

Este domingo que não acaba

Nos tornando menos dependentes do sistema, era assim, quando na verdade a mando do que se deu na madrugada, a gente aportou. Quando você é anti sistema, parece ser bem-vinda. Traz mais dor de cabeça do que um atalho qualquer para um poder qualquer. Fazemos questão de elogiar, palavras de afirmação. Ontem deixamos tudo oficialmente arranjado. É só uma tietagem, não tem reciprocidade mesmo. Apareça a qualquer hora, é preciso ser razoável – foi dito.

Boa tarde pra você, tem evento on-line hoje. O fogo deixou dez vítimas em estado grave.

Como são as coisas, tinha uma playlist salva, músicas que um dia eu achei serem lindezas perfeitas. Hoje ouço e não concordo comigo mesma daquele tempo. Não vejo grandes argumentos favoráveis à essa proposta aí. Delicado sim, estava caminhando para um auto questionamento que é péssimo de qualquer forma.

Fazer o que se deseja fazer é um direito, uma conquista. A gente fala o tempo todo, quer dizer, aquilo que está no nosso radar, assim como vez ou outra aparece uma ou outra ideia que são manobras para mentais nem sempre criativas. Ou subversivas.

Sem muito alarde, aí mora o perigo, no silêncio. E então, de repente, algo surge e a gente se reconecta.

Orçamentos diários

Teve uma época que li tudo da Clarice, os livros eram em conta, as capas lindas, o espaçamento das letras e das linhas perfeito, a escrita reveladora. Dessas que mastigam a gente. Época de pouco dinheiro, pouco acesso, muita vontade de cultura, de pensar diferente, de entender um pouco. Hoje já se consegue tanta coisa, né. Falta algum contexto, a estrutura está cedendo, no entorno tudo esta sendo esvaziado.

O problema para muitos é que por vezes os textos não são super lotados de acontecimentos, idas e vindas. Talvez pegar um ônibus, ir até um sebo, deslocamentos para pessoas que já lidam com a ansiedade e que podem ser especialmente mais vulneráveis no dia a dia, tentando encontrar a paz.

A gente deixa o prato do almoço de lado e come trabalhando. Tenho evitado conversas difíceis, primeiramente limpe totalmente a mente. Sensação de não conseguir enxergar absolutamente nada. O corpo todo dói, nos ossos, novamente, depois de anos. Difícil manter a sanidade assim.

Tantos cargos, desgovernos. Boquinha, uma coisinha ali. Você é excessivamente independente, excessivamente. Eles fazem coach de liderança, minha gente.

Dois beija-flores atravessando a rua

Atravessando. Pensei que gostaria de estar tomando café numa galeria do centro, perto de uma livraria de usados, perto de uma loja de música com algum sucesso do momento tocando. Se desse sorte, seria um sucesso da escolha pessoal do vendedor e não teria televisão. Centrada no corpo que gosta de estar.

Eu tirei um dia pra pensar quem era eu. Tive que aceitar esse cessar fogo. Tendo que aceitar a flacidez da pele, da perna. É preciso uma quantidade de força imensa para ser simples. O fim permanente da guerra, detalhes negociados, continuará em vigor. Acho que para mim, é onde você vê algo com o qual se conecta e entende. Você tem que sentir algo e ressoar com isso em um nível em que isso seja familiar, talvez você tenha experimentado de alguma forma, um estado mental de pura confiança.

A partir de uma postura cada vez menos impulsiva, as situações embaraçosas seguem cada vez mais raras. Controle emocional definido com sucesso, mas assombrado pelos anteriores. É interessante a memória, quando voltamos e narramos, ressentimos.

Esse caminho foi mais difícil que conseguimos trilhar. Lançou ataques fracassados, e as nossas estruturas de defesa eram frágeis. Não dá pra voltar e não dá pra seguir adiante. Estou pelo bem estar, pela fragilidade, leveza e sutileza. Vivemos o inferno, mas podemos pensar na reconstrução com todos os nossos vizinhos.

Eu queria ter alguma doçura

Tem espaço ainda para sonhos, você vai ver. Você quer sentir algo. Além disso, “o astro rei incentiva você a ter a coragem de romper com hábitos, padrões, pensamentos ou pessoas que não lhe servem mais.”

(…)

Tive que me esforçar muito, com a maioria das pessoas, e sinto que tenho más lembranças associadas a isso, sabe? Praticar por horas e ainda errar, chorar… às vezes até meses e anos mergulhados numa chateação ou ressentimento. Aquele jeito de olhar. Sempre a primeira a ir embora.

Hoje consegui mais palavras, e agora, na maioria das vezes, a voz sai audível. Eu não tinha palavras para entender o que estava sentindo, mas quando fiquei mais velha, percebi o quanto o lugar realmente me afetou.”

Ouvir que você existir de alguma forma é um peso, é pesado. No sonho, tudo era muito abstrato, parecia que eu tinha muito mais controle, não estava assustada, parecia libertador criar arte com meu corpo. Era uma libertação como uma prática habilidosa.

Não é necessariamente evocar as mesmas emoções, mas você está tentando evocar algo . Você quer sentir algo. Acho difícil fingir isso. Para mim, ficar mais confortável no palco significou perceber que não seria a mesma coisa todas as vezes. Às vezes me sinto ótima, às vezes me sinto péssima, mas de qualquer forma, é apenas parte do trabalho e tenho que me permitir sentir isso quando em vez.

Todo mundo tem um universo dentro de si e eu acho que é nosso objetivo conectar nosso universo interior com o universo exterior. Isso é algo que da sentido no dia a dia. Para entender minhas emoções e a mim mesma escrevo.

Talvez percebendo uma possibilidade de entender o coração dos outros também.

Where is your anger?

Era pra ser uma demonstração de força.

A pele áspera na dobra do cotovelo quase envergonha.

Sempre haverá um outro tempo possível, sempre me sinto culpada, aquele desconforto perto de qualquer munição da polícia, coisa de invisibilidade social, invisibilidade violenta. E impacta diretamente na construção dos afetos. Uma pausa na rotina fazer algo diferente algo mais de vitrine um discurso com muita emoção, o que você acha? Vergonha. Isso fica pesando sempre.

Vamos nos comportar. Tentativas.

Correndo o risco de escorregar, de cair, na tentativa de manter esse equilíbrio. Depois que terminar, quem está em Arroio voltará, enfim. Todo o concreto, tanto de um lado como de outro é como uma muralha quente

Qual seria o pensamento? Posso estar limitando, de certa forma, a sua decisão.

i do love you, as pessoas querem alívio, cem por cento.

Depois de tudo que fiz por você, talvez o mundo não seja perfeito nem paciente.

Céu carregadíssimo

Não precisamos de algumas semanas pela frente para tentar entender.

Humanos e animais. Ela vem em ondas. Não vejo a seriedade, muitas vezes ela é limitada pelo erro e, mais frequentemente, pela estupidez ideológica. A contemplação do passado é a única posição que se pode tomar para fazer algo novo. Quando estava em missão, ele denunciou e naquela hora achei que não era nada, mas aí alguns meses depois descobriram que as meninas foram… embora.

Mas isso vai demorar um pouquinho. Mentiu pra muita gente. Esta foto foi tirada em 2013, impressionante. Propriedade delas, a outra mulher na foto era uma agente de empregos que conseguiu financiamento a partir de dados incorretos. Tem que ficar de olho nas contas e nas meninas. Tá bom! Quer saber, porque não sentam um pouco, fiquem confortáveis. Porque isso não pode acontecer na vida real. Desliguem os alarmes, por favor.

Era uma pessoa que tinha a tendência a raciocinar com poucos critérios e passava despercebido no gabinete. Como acontecia? Era onde resolvíamos rápido, além de verificarmos as válvulas, estávamos investigando. Nem sei porque ela estava aqui, não há indícios de que ela deveria estar aqui hoje. A Cameron tinha algum motivo, inspetora, justa. Tem mais alguém aqui nessa foto, dá pra ver, dependendo da música, escolho diferentes sílabas para cantar. Posso ser muito livre, faço muita improvisação, posso apenas cantar o que sai da minha boca. Isso dificulta seguir em frente. Quem você conhecia tinha muita coragem, talvez ela tivesse uma vida. É o que as pessoas fazem quando estão ficando sem tempo. Parece familiar pra você?

Posso dar uma olhada no seu porão? Isso seria um problema?

Depois há outros projetos onde não escrevo nada; às vezes penso em um conceito ou tema, seja musical ou apenas algo que estou sentindo ou um assunto que me interessa. Há muitas maneiras de abordar esse ofício e estou tentando ver como posso fazer ambos.

Acho que estou em dois estados.

Criar rotinas para si mesmo

Olhar de um jeito diferente para os mesmos pontos para boas perspectivas, começando a sentir um pouco de paz, com alguma luz nos olhos.

Força e energia pra concretizar um projeto, não haverá de pensar muito sobre a situação, bastará conseguir acordar todos os dias (esperando que alguém fale com clareza).

Guardava dentro dela um rádio vazio, e queria brincar de carnes, maravilhas, amor e curiosidades. Oficina embaçada era aquela, poeira, ferramentas, labor. Sempre que pensava em desistir e ir pra casa surgia uma oportunidade de continuar. A fé era parcialmente restaurada e um momento de calma se seguia. Era cuidadosa no trabalho, detalhista, gostava de cigarros mentolados que a ajudavam no autocontrole e paciência.

Barbosa, responda-me com alegria, existe alguém mais imbecil do que o presidente da câmara? Seu ajudante o olhava de soslaio, lá viriam as discussões sobre política o que fariam aflorar as revoltas pequenas de todo dia. Se acho, ouviu ele responder lá do fundo. Mas tem outros piores, tem os que propagam ódio. Breve diálogo que traz uma pequena sensação de normalidade. Embora tivesse pra si que de normal nada era naqueles tempos. Mas era suficiente para puxar as cargas e tensões da vida cotidiana. Um caso de amor ou talvez um caso que reacendeu está à mão, ali, pra ser deleite nos pensamentos e memórias.

Todas as coisas novas são possíveis, o resultado é até… você.

Ali naquela penumbra se faziam principalmente reparos em relógios (profissão quase extinta, sabia bem) e seu kit era composto por 16 ferramentas que permitiam facilmente realizar reparos tais como a abertura de sua tampa para substituir a bateria, ajustar os links dos seus pulsos ou substituição de peças. Seguia confiante, era uma última e desesperada tentativa, mas sabia que as condições externas mudavam a todo momento, embora, dentro de seu coração, queria era a brincadeira favorita que eles tinham.

Só que às vezes pode-se passar tempo demasiado entre o desejo e a sua realização, certezas.

Ilustração gerada por IA

Os animais devem chegar logo

Acabamos de ver um javali macho adulto. Ele ainda deve estar em algum lugar por aqui, então vamos esperar. Acho que ele precisa muito. Então havia música. O Vazio sempre vibrou com a música dos meus pensamentos, mas antes da existência do tempo a totalidade dos sons ocorria simultaneamente, como se notas fossem tocadas de uma só vez. Finalmente a sensação de velhice está chegando.

Isso é o mais importante: não desapareça. Não, não tenho nenhuma sensação de separação. Não há realmente uma palavra para isso, mas é apenas quem eu sou. Acabei de me tornar o trabalho! A cada segundo devemos fazer uma escolha de resistir ao mal.

Estou em um lugar onde, com tudo o que estou fazendo, estou tentando torná-lo tão único para mim que o período de tempo não importa. Isso poderia ter acontecido mil anos no passado ou mil anos no futuro. Estar totalmente em seu próprio espaço, desprovido de tempo. Então, eu queria ter certeza de que as pessoas nunca poderiam colocar um limite de segurança ao meu redor, apenas mantendo-me em movimento o tempo todo.

Vou começar com uma espécie de fluxo de consciência; muito da minha escrita é na verdade como forma errática de diálogo, ou está apenas acrescentando algumas já ditas a esse pequeno banco de frases e conversas. Tento fazer algo para a arte todos os dias, uma paz que talvez nunca vá encontrar.

Que maravilha! Alguém com toc talvez? Mas a pessoa ficou horas mexendo no trabalho? Na verdade é a voz do senso comum que não aprova tal disposição de elementos imbricados um no outro por dar uma sensação de vertigem, de bagunça – disse finalmente.

Ilustração Iuri Chacham

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“Sofrendo a desejar quimeras que eu não consegui… ” o lugar do pensamento. Discussão, desenvolvimento. Sua estupidez, vida por todos os lados que a gente olha. Não é necessário ter autorização do governo para chorar no cantinho de vez em quando. Aí você entrava no ônibus, e sentia que as coisas estavam mais ou menos sob controle. Lá de cima a gente conseguia identificar alguns produtos se comportando relativamente bem.

São completamente diferentes, não será fácil. É um grupo irmã, sobreviveu, de uma história escrita na nossa curiosa anatomia. Comer quase qualquer coisa. it’s probaby living the town – stay low.

(green onions palpitando no coração)

Costas com espinhos, os dentes únicos, e o lindo modo de vida lento. Escrotos do submundo. Quem são vocês?

Notou alguma coisa fora do comum? fora das opiniões mais comuns. Horas atrás tive que escrever sobre isso. Antes do distrito, antes de realmente me importar com alguém. Enviado dois dias atrás, dizendo, você acabou, música para meus ouvidos.

Nós devemos nos focar nisso neste momento. Com certeza foi enviado apesar das alegações daquele podcast, que parece mais uma firma. Oh please, eu não atirei nele. Não faria isso. Deixe-me curar da cirurgia no joelho, estamos bem, ficará bem. Ambos os joelhos.

Nossa curiosa anatomia.

Tornar-se pedra

Quais são as providências que você anda adiando?

Contudo, por muito tempo, tais exigências não existiam. Aconselhava-se escolher dentre os dois exílios o que parecesse dominar com maior propriedade, o que tivesse “maior vigor” ou “maior calor”, talvez ainda o “maior contraste”. Estranho que já não estou tão nervosa. Eu fico com medo de não ser suficientemente boa a escolha e preocupa o bastante, interrompido. Assusta por não ter sido verdade. Você não está amarrado às suas camisas e paletós, empurrar-se ao limite.

Passam a explorar completamente em nome do OCO que é ruído, basicamente um registro de ruído. Leve re-criação pura do que poderia ter sido um artifício que sopra os restos da ordem anterior. Distância. Fomos chamados a uma alternativa significativa nos momentos em que a maioria das pessoas está dormindo no escuro, enquanto os sortudos ainda estão dançando nas luzes. Evidentemente pega no meio,  inundada de indecisão, crescendo e desaparecendo em várias direções ao mesmo tempo, perdendo o lugar do sorriso.

Nãoo, você não precisa fazer muitas coisas. Pode ser sem sentido, mas há algo em deixar este lugar onde permanecem os passados melhor do que já os deixou anteriormente.

    Há algo naquilo que se sente bem, no fundo do seu núcleo. Eu vou com isso. E estou apenas tentando entender tudo.

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    Quando paraíso

    Acreditava que grande parte daquela estrutura, ainda que invisível, era imutável. Com uma taça nas mãos circulo pelo ambiente à procura de micro paisagens. Desejo de voltar às flores, ao sol e a todos os azuis (sentimento de afeição). Logo após um dia particularmente feliz, onde os caminhos estiveram por tanto tempo obstruídos, edito minhas imagens e sinto-me refeita, já que não precisavam de filtros. O olhar necessita cada vez menos de edição. Claramente, a mente tem um poder tão grande de se concentrar em qualquer momento que parece não ter um único estado de ser. E vou finalmente conseguir esquecer, perdoar, aceitar e compreender (…) não nessa ordem. Não em ordem.

    Quando vi um dos dois entrar no táxi senti como se mesmo depois de separados eles certamente se reuniriam novamente. Separação temporária. A obviedade do que as faíscas que saíam dos dois significaria é desconcertante. Acontecem, sabe-se, quando o natural seja que se alinhem. Tenho um instinto profundo pela aurora, um trisco de racionalização e naquele estado (onde mais vulnerável) poderia ser facilmente abduzida por meus próprios delírios. A certeza acontece, pois que a incompletude gera encantamento. Pastel frito. Melhor pedir mais um, estou com fome. Sabe? O desnível da encosta era para se equilibrar. O reflexo na porta automática mostra alturas, diferenças e muito sorriso.

    Aqueles que prezavam pela renovação da língua ou pela palavra nova que se inventa, ardiam naqueles dias. A violência atinge quem amamos que tornam-se vítimas no espaço onde deveria existir cuidado. Onde deveria existir a comunhão. Tempos difíceis, tempos horríveis aqueles. Há um grande trabalho negativo de destruição sendo realizado. Exigir a limpeza do indivíduo após investidas do estado com agressiva e completa loucura é infértil. Um mundo abandonando nas mãos de bandidos que se despedaçam uns aos outros e destroem os séculos. Tempos difíceis.

    Das linhas paralelas se falava muito, enquanto o outono se aproximava, enquanto ainda no verão se esperava. Aqui está a nossa nuvem de diversão; poucos serão capazes de prever tal intensidade.

    Tem sido insistentemente difícil saber o que realmente queremos; difícil distinguir entre amor e luxúria, entre o mundo prático e o mundo subjetivo; difícil não sucumbir àquela repugnante tendência perigosa (até um pouco religiosa) a idealizar e a julgar; difícil conciliar a proximidade necessária para a intimidade com a distância imposta e já necessária para o desejo; difícil aceitar a espera.

    Queríamos dar beijos na boca e também nas bochechas.

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    Carla von de Puttelaar, Untitled, 2007

    Seu abraço, uma fortaleza

    Talvez você sinta que tudo o que você percebeu anteriormente, do viés pelo qual você percebeu, está finalmente caindo aos pedaços. Osso por osso. Perder as formas e as pessoas faz funcionar as loucas velocidades de alguns pensamentos destrutivos. Ali em pé, na praça, olha a chuva e sente um gosto de derrota forte na boca. Pés encharcados, calça úmida, esbarrões. A chuva nos poemas é bucólica, linda, te coloca pra pensar na vida. Coisas modernas. Se você perguntar-se com paciência e cuidado sobre as escolhas e as prodigiosas lentidões do viés das coisas terá uma percepção da potência de captar micro fenômenos, micro operações. Micro-gotas. Arrepios. Dá ao percebido a força de aceleradas ou desaceleradas, decisões. Elas só estavam esperando para se multiplicarem. Segundo um tempo flutuante que não é mais o nosso e necessidades que não são mais desse mundo: desterritorialização. Estamos sem lar.

    ‘Eu estava desorientado’ ouviu no ônibus. Ele mesmo não é mais senhor das velocidades, e alguns andavam como se estivesse vivendo. Só penso que quero isolar-me, ir para casa, ensimesmar-me. Talvez com rádio, boas baterias, melodias. Pois o que seria um futuro bom seria no abraço. Aquele. 

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    George Rodger, Pondo women of the Transkei, South Africa, 1947

    Será que você tem um monte de carinho?

    2.3
    Você é um pessoa muito bonita. Mesmo quando você está em pausa (e as circunstâncias a pedem), você parece não entender completamente o que significa ser uma pessoa bonita. E aquele amigo muito próximo que tem como principais qualidades (humanas) alguma paciência e doçura suficiente para um impacto direto sobre seus pensamentos irá te explicar. Chegará a te desarmar. O que você vai experimentar tanto em terra como no além-mar é que o melhor é que justamente as armas caiam. Isto é tanto uma certeza e uma verdade, mas no momento não ousaria permissão para dizer mais.

    2.4

    Naquele momento, isso teve um impacto maior sobre suas questões do que poderia imaginar. Uma prioridade é a amizade que você tem com ele. Sei lá se poderia  levar a gestos inapropriados de cá da sua parte. Você deve falar com ele para garantir que nenhum dano aniquile com a ideia. Será praticamente impossível de fazer, mas deve se esforçar, reforçar.

    2.5

    Franqueza e clareza em suas explicações poderiam levar a um debate ou uma discussão sem fim, então é melhor transmitir seus sentimentos com a esperança de que você os entenda.

    2.6

    Um cuidado especial para limitar os danos, porque este homem não necessariamente irá aceitar o que você diz. É aqui (de sua parte) que começa a negar uma realidade cada vez mais evidente. Mesmo que este homem não entenda você, ficará claro que não fazem mais do que o necessário. Goza de liberdade dentro dos limites que você criou para si mesma, ele repete. Tenha em mente que a água ocupa um lugar especial no toque e na pele. O seu papel não é claro, mas a sua presença é muito evidente.

    conceitos-chave: coragem, originalidade, ilusão, equilíbrio, insegurança, campo, peixes, segunda-feira, mês de janeiro.

     

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    Ivana Almeida

    Não morrer demais

    Alegrias conceituais bem sucedidas são difíceis de retirar do pensamento, mas o novo bate bem as metas das probabilidades. O escopo é ambicioso: a relação entre substâncias e poesias. As fontes são originais: transmissões de rádio, mensagens codificadas, bordados, bolas de lã e guardados das gavetas. E, no entanto, apesar do que se poderia imaginar, o som permanece puro e escuro, mal-humorado e eletrônico. Pode-se creditar isso ao grande volume dos contrastes dos amores disponíveis…  Enquanto debruçado sobre as pedras, se concentra em pequenas máquinas e engrenagens. Encontrar relação dos ritmos entre o diálogo do rádio antigo e o som da água.

    A imagem dominante é a da tempestade se aproximando (que atingiu nos atingiu durante a noite, imprevisível), seguida pela perda sem precedentes da vida e da terra, e, finalmente, o rescaldo.

    Mas outras histórias estão em jogo aqui, também no que se refere a uma barreira construída para a tal tempestade; um preciosista, que observando que a área está abaixo do nível do mar, abaixo do nível dos olhos, brinca que podem estar cavando suas próprias sepulturas, que faz com que o tempo não vivido permaneça… não vivido…

    Então, você está com medo de quê? A resposta é de ser a mesma de antes, a mesma no canto, quieta, aquela que não diz tudo sobre si… enquanto a chuva cai. A maioria sabe que se inundando apenas de uma história não se encerrará com o período de chuvas. Mas com ou sem tempestade, a água estará sempre a subir. Na tentativa de fundir ameaça e reconciliação, buscando o mesmo tipo de harmonia que sente em ouvir sua música preferida ao gosto de um café antes das oito horas da manhã, quer se aliar com a experiência.

    Quer ser devorada pelo mundo.

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    Eva Besnyö, Self-portrait, Berlin, 1931

     

     

    Irresistível

    O papo é solto e o frio acontece na espinha quando as peles roçam.

    Por vezes tão cansada que fecha-se por mais de quatro horas sempre gerando algum desconforto, além de desejos e intenções segundas em uma espécie de re-sentimento. Quando os tempos estão assim segue ficando no incerto. E até que o tenha de alguma forma sob a pele, vibrando, como a sensação eletrificada, seremos em suspenso. Porque você se parece com chuva, diferente a cada vez. A carcaça está a desmoronar-se e você finalmente poderá deixar que eu entre na sua vida. Será no tempo de frio, eu espero.

    Os amores ficam bons, aconchego. Penso em escapar dali, ir embora, descer o elevador, devagar, lance por lance, para pensar. Vou de escadas, decido muito antes da minha saída. São mais felizes quando as coisas boas são esperadas para acontecer e não quando estão acontecendo. O ritmo é um dos mais poderosos dos prazeres, hum, e espera que continue assim. Ficaremos ali, a nos olhar, com Coltrane nas nossas costas tentando materializar o tão sonhado arrepio doce. Abrandar a respiração o suficiente para caminhar. Há de fato uma coisa como “tempo”, grita. Mas Matilde reverbera – pois é o segredo do bom tempo, e eu só vejo degraus. Arte, só por amor.

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    Shoji Ueda, Girls, 1945

     

     

    Esbarrei no espelho e pedi desculpas

    Vez que você estava livre de trauma saiu por aí alegre e tagarela. Indo para lá depois da esquina deleitar-se com prazer e felicidade e isso poderia ser tão estranho como uma conspiração.

    Há maneira de ser o que se quer ser, deu pra ouvir. Quis o fim da tarefa no naipe da lisura do seu corpo – a sua beleza era uma espécie de gula divina, eu deveria dizer. Escrevera aquelas palavras com fluidos corporais em seu caderno, como em um novo transe, sim, foi uma entrada muito aguda, muito mesmo. E que seja para o exorcismo de seus próprios demônios! Como mergulhar num buraco negro a tensão entre o mundano e o sobrenatural quando a mente não consegue pensar abstratamente?

    Pois que a realidade sempre se alivia com o prazer, já que há o comprometimento de cada um com seu mal-estar generalizado. Ela só pensa em se pintar, cabelos, unhas, lábios… Mas essa era toda a questão: como se passar em pinceladas; e até você conseguir isso, não importa que o assunto seja ostensivo, era pra se ter harmonia entre as partes.

    Do início de uma letra, no meio de uns abraços, no final de um dia no campo. A confusão agradável que sabemos que existe cá em nós.

    Daniel Egneus
    Daniel Egneus

    Cantarolando

    Na parte da manhã quando eu acordar e o sol estiver atravessando a janela, você encherá meus pulmões com doçura. Preencherá minha cabeça com você. Devo escrever uma carta? Penso pedaços de uma música que eu não consigo esquecer e deixar sair. Eu posso estar perto de você? Posso levá-lo para uma manhã de sol e café imaginando campos pintados de ouro, lá onde as árvores estão cheias de memórias dos sentimentos, nunca te disse?

    Quando a noite puxa o sol para baixo e o dia é quase completamente seu e todo mundo está dormindo, mas os mundos são você. Posso ser perto de você? (Ah) oh  [assobios]. Já faz um tempo que, então, eu realmente gostaria de conhecê-lo, mais, você sabe. Eles cantam uma canção assim, gostaria de ir até o horizonte. Apenas para você todas as lisuras estão girando em mim e tudo, tudo aquece. Lá pela linha de tristeza, sim todas as menos definidas listras dos gatos mais frios. Mas então estar-se a refinar, oh sim. E eu quero ver coração coração coração coração e alma.

    Coração e alma porra, meu coração e alma. Por instante.

    Sabrina Arnault
    Sabrina Arnault

    Pulos

    E havia desistido de ser anjo, ou anja. Ou santa. As asas estavam vermelhas já. Dentro do quarto, quis a nudez, sem blusa sem sutiã, sem calcinha. Estava úmida, sentia-a já nas pernas. A conversa a deixara quente por muitas horas. Um pouco mais, um pouco menos, sentia ser múltipla nessa vida, existia o corpo, mesmo que por muitas vezes preso às narrativas inventadas do dia a dia. Deu pequenos pulos de alegria, o vento frio coloca limites, pele arisca e arrepiada.

    Às vezes tinha a sorte de ser lida no transe, nas estrelinhas púrpuras que sentia pular dos olhos. Decidiu há algum tempo procurar apaixonadamente suas narrativas que aceleravam o pulso; o céu estava claro e assim permaneceria, sentia. Gostaria dos pingos grossos que refrescassem a noite que chegaria aliviando a secura do ar. Tomou duas doses de cachaça (entorpecer é quase sempre maravilhoso) que conferia certa delicadeza dos movimentos.

    Era bom e sabia que seria bom quando acontecesse. Pulos.

    Amy Judy
    Amy Judy

    Mas a boca

    Porque isso sou eu, e tudo o mais depois disso. Isso poderá fazer mais mal do que bem, saiba disso. Tinha um perfume cítrico e suave, de maracujá, desses que adorava passar depois do banho. Poucas coisas alegravam tanto o seu coração quanto aquele cheiro. Se encarregava das questões de dinheiro de forma cautelosa e prática, em um esforço contínuo pra fazer tudo dar certo. Quando pela primeira vez esteve doente (daquelas doenças) ficou só, despedida por capricho. É difícil, eu sei, mas é assim que funciona, dizia. E nem é novidade, já previa. A boa notícia é que quase sempre nos curamos. Sua companhia foi uma descoberta agridoce, disse o outro. Era para qualificar a tal “agitação profunda, dores fortes, medos irascíveis”…  Quis dizer: eu prefiro que seja pelas minhas veias aparentes nas mãos mas eu reconheço uma melancolia nos meus olhos.  Eles são verdes, e um pouco transparentes para os dias de hoje. Meu cabelo está prateando também. Minha esposa diz que essa é a minha distinção. Quando eu tomar seu tempo para introduzir pensamentos coloridos, confie em mim. Agora… os gestos (que não se precise falar tanto sobre eles). Surgirá a leveza a partir de experiências técnicas e de um tipo que pessoas alheias a ela também. Eu sou o Cavaleiro das Flores e esta é minha história! Eu tenho minhas próprias forças sobre como ser criativo, sou prenhe de ideias espirituais que deveriam ser tratadas, e eu não sou tímido sobre deixar minhas opiniões conhecidas. Não é que eu estou sempre certo na minha visão, mas eu tenho a melhor maneira de chegar ao sol. (Eu geralmente tenho os melhores atalhos também!) Eu não tenho tempo para metodologia ou pragmatismo, se você quer fazer as coisas da maneira dinossauresca vou marcar um caminho sem você. Mas, se você está parado e precisa de inspiração, eu sou o homem jovem vibrante que lhe chama. Segure-se firme que vai ser um selvagem a guiar! Eu sou destemido também, o meu sorriso brilhante dependendo de qual lado, é irresistível quando eu preciso para jogar. Meu cabelo ruivo brilhante é uma característica física da minha paixão, e ninguém pode resistir aos meus nítidos olhos de esmeralda.

    Sua falta de água o faz impaciente com a sensibilidade e o saber que amar você é errado… Mas a boca não disse palavra.

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    Oana Farcas

    Os três copos

    Você perdeu a sua personalidade porque andou em cascas de ovos para manter a paz? Tente não se preocupar muito, menina, a mudança de vida acontece quando encontramos uma direção. A tentação traz para você uma luta formidável com o que seu coração deseja e o que é certo para você… e o potencial de fazer a escolha errada. Você tinha um monte de ferros ali na brasa, não é, e se queimou! E por causa da natureza requintada de como você foi reparada (com ouro?) deu-lhe mais tempo para desfrutar de um sabor de liberdade. (É que os antigos acreditavam que não se tenta reparar como novo, tenta-se reparar para que seja melhor do que um novo). Porque depois de reparar, as linhas das cicatrizes tornam-se caudalosas como rios. É tão natural destruir o que não se pode possuir, negar o que não se compreende, insultar o que se inveja. Queimaduras da nossa vida continuarão a arder em nós, mesmo quando o amor humano (re)começar. As formas sutis, subterrâneas, mas o que involuntariamente se retêm destina-se a ajudar-nos a avançar. Aquele anjo, muito doce, cheirando a dama da noite, também a aconselha a procurar os significados sutis além desses eventos diários. Esta próxima amnésia que espera por você é apenas um outro tipo de graduação, mais um passo na vida de muitas graduações.

    Cumpre abrir espaço… venha, sente-se e faça aquele papel que representa a grande reunião que os antigos acreditavam que aconteceria uma vez em todos os tempos. Este foi o momento em que as almas são colhidas e levadas de volta para seu lugar de origem, fora do sistema solar. Você não está à deriva, está no pó. Todos os quase-acidentes, toda a curiosidade espontânea acabará por começar a dirigi-la exatamente para a direção… certa… magnífica.

     

    rodrigohmfotografia.com
    rodrigohmfotografia.com

    Conatus

    A gente busca uma realização da natureza primeira, talvez o segredo esteja na abordagem das novas ideias.

    Mas se bem que produzir por produzir é vácuo. Perpasse a pulsão em todas as suas ações e nas dúvidas (as pedregosas também), se tiver fôlego. É que às vezes precisa de tempo pra se fazer, precisa quebrar a cara algumas vezes, e mesmo assim, continuar.

    Seja no silencioso sentar à mesa, esticar a toalha, ajeitar as xícaras, várias vezes em um único dia, dia após dia. E só jogar aquilo que se sente verdadeiramente como jogar. O que está em minha alma no momento é o que eu quero fazer, muitas vezes um emaranhado de mudanças que não podem ser enfiadas nos carretéis habituais: E no pensar, eu o avistei. Corri para alcançá-lo. Apenas caminhamos lentamente lado a lado em um exercício que durou de 5 a 10 minutos. Ele disse, pode-se causar reflexão e discussão, que é tudo que você pode fazer. Eu tento não olhar para trás. Eu estou olhando para a frente. É tudo pelo menor conteúdo de doloridos. Bem, deixe de dar alguma olhada para trás. Todos eles estão apenas imitando outras pessoas… Penso sobre o que ocorre dentro e fora de nós enquanto ouço aquilo. Não concordando o caminhar ficou mais lento. Desacelerei até estar só novamente, para novamente correr para alcançar. Movimento que se repetiu várias vezes, por um tempo, por uma vida. Assim era como se vivia naquele tempo, sonhava. Alcançar e desalcançar. Sentir e dessentir, amar e desamar (ou pelo menos aprender a amar de uma outra forma). Foi perdendo o fôlego. Foi perdendo a vontade (queria que mudasse seu caminhar também) mas não o desejo. Era inútil, percebia, mas não se convencia… queria que as atividades da vida cotidiana fossem interligadas formando uma única prática, o caminhar acompanhado.

    Como era tacanha nesse pensamento, então. A recusa de alguém à sua companhia era dilacerante, mas não deveria. Dizia-se que atrito gerado por este processo (enlanguescer-se) – integração da vida cotidiana no movimento e pausa – pode, quer, deveria fornecer a energia que cria mudanças para quiçá poder crescer. Enquanto isso, outros acompanhares surgiram, permaneceram, desapareceram, se importaram. Diante de uma dificuldade, não conseguia manter o esforço contínuo. Era coisa sua, deveria de ser. Tenta resolver os problemas por pura angústia, pressa e o pior nas coisas acontece. Quase desespero, incompreensão de si mesma, porque duvida da sua sombra. Descansa as mãos e o peso do corpo nos joelhos, pra recuperar o fôlego, pois como? Se estava apenas a caminhar. De onde veio essa exaustão de existir? Certamente haveria uma inclinação inata de uma coisa além corpo para continuar a existir e se aprimorar. Pés de chumbo, a mente, a matéria, ou uma combinação de ambos, tempo real para modular vibrações, desejo de viver. Não desejava o toque. Só a não despedida. Era difícil perder de vista. Colocando suas lutas internas em exposição, sobrevivência vista. Mesmo sem querer. Teve vergonha da sua fraqueza, teve vergonha de si mesma na tentativa do alcance. Vergonha de ali, no prosseguir abandonado, aprendendo a (re)viver ou acalmando as ondas, perder o ar. E o que via ao longe era regalo. Esses são os dois temas que eu sou mais interessado com – disse, relativo ao meu estado de consciência enquanto o usa (tudo era afinal sobre si, mais ninguém). Isso importa? Maciez e ternura na auto-palavra. Não mera gentileza, um escasso aliviar.

    Eu sou uma pessoa mais velha agora.

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    Rita Bernstein

    E eu sou só eu, só eu só, só eu.

    Tu que andas pelo mundo alivia, diz por favor, canta passarinho, alivia… Eita que música linda. Coração vazio perguntando e vivendo a dar psiu, alivia… Tem pena d’eu. Como dizem, não tem jeito. O rei de ouros: tesouro, riqueza, soberania, inteireza e quiçá alegria. Aquelas alegriazinhas de nada, zabumba esquisito, um frio pequeno. Aquele que extrai a riqueza de seus esconderijos, aham, isso, os esconderijos.

    É moderno, um pouco imaturo, um tanto afetado, intencionado a atrair a atenção para si aos poucos. Vai e volta, é um vício. Um isqueiro (pra modo de poder fumar), grande ou pequeno, grande, qual cor vermelho, amarelo ou azul, azul piscina vintage. Um chocolate sabor café, sempre o café, vem mordido, que delícia meu deus. A vontade é de conectar pontos, que nem alegre nem triste e nem poeta. Pra todo mundo eu dou psiu, satisfação. Selvagem e inconstante sinto sem coragem para desenhar muros. Ainda. (I wish). E nesse dia branco, se branco ele for, se rosa ele for, se bonito ele for… se você quiser… e vier, será memorável ouvir seu coração. Se a chuva cair, um pedaço de qualquer lugar, tão grande e imprevisível.

    Um tição, esplêndido como um dia de verão, suscetível aos vôos de êxtase e das chamas de um leve tormento interior. Os pingos caem leve Emocionalmente sente-se como de frente para o mar, não o mesmo mar que você conheceu. Não mais. Suspenso. As coisas desse mundo estão muito erradas. O discurso de ódio toma conta, monte de ódio como forma de vida. Pode ser mais fácil viver a vida do outro do que a sua, imagina, onde isso nos levará. A chuva enternece, atividade fora de moda essa, tomar pingos na rua. O cabelo fica todo bagunçado, arco-íris seria um brinde (que não vem). Proibida, era, eu queria era arrumar jeito na vida. E algumas gargalhadas.

    E eu sou só eu, só eu só, só eu.

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    Emmet Gowin