O ar e a batida

Sorri, enquanto o ônibus sacoleja lembrando daquela noite. Outra meta foi estabelecida e percebeu que foi capaz. Desceu no ponto perto da sua casa, sentindo ânsia e palpitações e raiva, por um lado, e uma firmeza que só um objetivo de sobrevivência estabelecido proporcionava. Subiu as escadas e tirou as sandálias cheias de poeira vermelha, e limpou os pés (pareciam de crianças quando brincam de havaianas na terra) no tanque.

Aquela esquina se tornou um ponto a ser ultrapassado, e quase, quase conseguira. Muitas vezes o quase a enraivecia, hoje ela percebia no quase uma vantagem. Porque sabia que não desistiria. Quando elas próprias não foram explicadas de forma satisfatória, os ataques de pânico não são uma boa representação de si.

Relativiza a culpa da escravidão, ou quase isso, a que se submeteu, por inconsciência, por escolha, por falta de alternativas. Não é isso que deseja pra si, não é aí que quer residir.

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Deslocada do sentido (porque ainda sou machista)

No seio de uma vertente não tão alternativa falara muito, mas pouco claramente, porque era impedida (por si mesma) pelo medo da fúria, da resposta, do silêncio. Porque achara que falar a verdade incomodaria demais. Falou (pouco) e voltou atrás mil vezes, sempre na opção delete, suspirar, dois passos atrás. Pra não ferir o ego alheio, pra não ser desamada (porque falar traria desamor?). Daí vai ficando algumas amizades e amores na névoa, em que tudo acontece mas ninguém deixa claro o que acontece. Passara a usar os sobrenomes, ao invés de dar os nomes, era uma outra muito pouco conhecida forma de se proteger (de quê, afinal?) que merecem todo o respeito (sic). Toda sorte de inúmeros absurdos em sua biografia: ser sempre simpática, útil, amiga, amélia, amante, prestativa e bem-humorada para “compensar”.

A sua face amorosa está sujeita a abusos muito mais constantemente do que vai dizer sua consciência. A passividade que acontecera (que fere) desejara que isso não existisse mais, mas as consequências por tentar ter sido franca quanto (aos rótulos) são insuportáveis. Todos direcionados a si mesma. As mulheres estariam sempre na linha do ‘tinha que’. Entendera que qualquer mulher que fuja do padrão do mito da beleza e do comportamento ideal o faz de maneira caricatural e estereotipada aos olhos feridos. Sem pensar a respeito disso iria ser engolida. Uma equação difícil de fechar. O voltar atrás não é sempre a melhor solução. Nem a solidão tão pouco. Essa sensação de burrice não passa.

É cansativo, mas se não for assim, fica mais difícil ainda.

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Disposição afetiva

Pela primeira vez, a maior intensidade, este momento. Definir isso é importante e conversas incomodariam! Ouvir coisas seria melhor se se tornassem mais proveitosas, afinal. O entendimento muitas vezes, provavelmente, é ter idéias mais harmoniosas e outras vezes… coisas que nem são, senão em outros momentos, prioritárias.  Já é considerado o maior movimento aquele que você se volta tanto para si que consegue caminhar sozinho. Pode ser desfavorável, dirão. E, provavelmente, estarão certos. O curtir a si mesmo (mesmo que em fossa) forma uma harmoniosa jogada e alguns elogios a respeito de suas melhores performances virão sinceras.  Diz respeito a que você e sua sensibilidade estão voltados.

‘precisa melhorar’, ‘talvez se você tomar consciência das coisas que estarão salientando suas virtudes’, ‘tudo está na sua mente’, ‘saia para andar de skate se aí não fosse tão ruim’ ‘e falando mais ao sair de uma condição de válvula de escape’, ‘sim, funciona’,  ‘estarão em busca de seus próprios desatinos’, ‘delas se lembrando, das coisas que se reencontrarão em poucos dias’, ‘quem sabe perceberá que as outras pessoas…’, ‘falta aparar’, ‘que haja uma conciliação se tais entendimentos envolverem questões difíceis’, ‘pedem a companhia da fala?’, ‘as coisas que sente, naturalmente fazem sentido’,  ‘…’

 

Pequenos passeios agradáveis, com capacidade de coagular carências.

 

 

 

 

Stay good anyway

 

 

7

O vento assobiava

A causa desses enganos tem a ver com palavras, e o eixo que está fora do prumo se torna vida – suavemente desse desequilíbrio está fluindo uma pálida luz. Como um instrumento para examinarmos expressões e olhares para tudo com abertura significam a mesma coisa e desde ponto de vista dualista é o momento da mais alta satisfação. Essa matéria está dentro da gota de orvalho e como este momento talvez possa ser mais um mal entendido de outras tantas coisas. Ninguém sabe o que significa o que fazemos conosco –  próximas e distantes. Disse durante os primeiros encontros dessa amorosidade mútua com palavras próximas a navalhas cegas. Palavras agidas são um lugar livre para todas.

Podemos pensar sobre este saquinho de pele realmente, na imensidão, determinando não apenas este movimento como resultado da percepção mais ácidas das coisas, mas também a serem preferências de violência em nós. Então ao mesmo tempo teremos conhecimento intelectual. O olhar profundamente domina.

E assobia, ou assovia. Tanto faz.

 

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Luigi Ghirri, Lucerna, 1973

 

Não toquem em nada

Na perfeição que encontramos na reparação e no auto-perdão, na renúncia do nosso orgulho,  talvez possamos existir e ampliar a experiência do afeto pelo outro… eliminar a culpa e a angústia que sentimos quando ao agirmos fora do padrão, amamos. Alucina. A moral  de uma atitude nossa que de um afeto tão grande (uma vontade boba de mexer nos seus cabelos) gerado assim que sentia e ouvia perfeitamente o ruído do carinho nas suas costas. Naquele instante (não) em sua mente (paira no ar) sente que deve deixá-la ir (a boa do afeto compartilhado) da mesma forma que vieram, sem tocá-la, compará-la ou julgá-la.

Conseguimos renunciar às desarmonias e junto e dentro compartilhar uma porção de coisas que produzimos em nós mesmos, pela nossa vida ou morte e iluminação e desilusões e incapacidades e desentendimentos. Pode ocorrer por deslocamento (de sentimentos e emoções) ou por projeção (de desejos). Compartilhar muito. E teve vinho e cigarrinho.

Unir-se às pessoas certas.

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Jan Groover

 

Sobreposição dos tempos

Admirava capacidade de alguns de acumular energia quando submetidos ao estresse.  A procura por reviver o passado talvez de forma diferente persegue, em um apego incontrolável. Minhas crenças nesse momento não importam, embora a resposta cortante tenha marcado. Agiu de uma maneira muito simplista para reduzir a questão.

Há profundas aspirações que temos que podem nutrir nossa vida ou envenená-la. Numa forma quase natural de ser refém de si mesmo – uma força cega numa motivação ampla e justa é comum. Duas ou três posturas altamente semelhantes e ao mesmo tempo díspares. Podemos fazer muito mais do que somente usar as ferramentas que conhecemos (cozinhar à distância).

Um nó imaginário em torno do seu pescoço ajuda a fornecer insights de vida. (Quando isso a fez entender  que o fato deixou de fazer diferença?) Por que tanto apego à existência se sequer sabemos o que fazer com nossas vidas?

Acho que vou procurar um bom vinil pra escutar.

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Renovou as juras de amor

Renovando as juras de amor, viu o impacto que as emoções causam em suas vidas. E em especial na sua.

Na lógica do ‘antes tarde do que nunca’ estimou que tinha duas a três horas livres por dia, e se deixou  invadir pela maior beleza do mundo. Identificando suas forças, ter e dar amor, que teimam em queimar a face, que fica vermelhinha e quente (só de lembrar).

Pega um pedaço de papel e anota todos os olhares doces, toques precisos – é um bom lugar para começar. Entender-se de forma completa com tudo de bom, de mau e de feio, é comprometedor e assim mesmo lhe traz calma. Consegue silenciar-se. Acredita-se que todos os pecados são igualmente graves, assim como igualmente errados. Percebeu que não é bem assim, como negar as nuances, os pormenores, os detalhes, aquelas pequenas miçangas nos cantos da gaveta? Estivera condenado a sentir-se passível de alguma punição, por todos os erros, todos as afeições violentas.  É uma armadilha que se criou para si mesmo. Estava convencido disso. E diante de uma suposta situação em que fosse exigida maturidade diria que seus gostos diziam tudo sobre você.

Querendo preservar o bom estado das coisas e dos sonos, retira sua inquietude e quer um pouco de sopa, sopa quente. De queimar a língua. Incomunicável ficaria então.

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Nos abstemos [de prejudicar]

Idolatrar a dúvida e caminhar no incerto, pode não ser uma janela aberta para o mundo como o velho sonho de tomar café acompanhado.  Fazer alguém se sentir especial – captou o sentido profundo quando estava para encontrar alguém. Faça surpresas, fale o que sente – a fraqueza surge apenas quando passamos realmente por momentos de dificuldade e posamos de orgulhosos.

Definiu os termos do interesse próprio, preservando-se a dignidade. Que absolutamente tudo vá ao extremo. Desde que voltemos nosso olhar em outra direção, optando pelo não ocultamento das razões. Abstermos-nos desse gesto, seria por interesse próprio, apesar de termos alguma razão.

Sentaram-se na cama, o  tão esperado café quente, frutas e pão. Comeram a refeição olhando a paisagem e buscando uma alternativa à preguiça. Um cigarrinho, outro… troca de olhares sem palavras.

Quando treinamos [nossas mentes] primeiro pensamos em nós mesmos. E o bem estar individual depende de todo o seu corpo, mais velho, desde então.  Está ali, sempre ao lado, vigiando – a cuidar do resto dos outros corpos para nosso bem.

Diferenças sempre existirão; mas isso pode ajudar. Se tomarmos o bem estar dos outros como base para nossa própria ética.

 

 

 

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E o seu coração estará percorrendo o mundo

Eu sou a sua cara, disse. E eu a sua. – respondi. Ambos possuem armas de grosso calibre e uma mira perfeita no ponto certo do outro. Contra o quê mesmo? Para uma coisa importante e rara a nós, como coração. O que não é pouca coisa.

Não agir seria pura precipitação e recolher histórias fazendo carinho é a melhor ação. Você poderia terminar ouvindo coisas duras  – permaneça na tranquilidade meditativa. E quando foi preciso sentir o que era preciso sentir, não soube como.

E por causa disso já foi possível perceber um volume imenso na sua voz. A janela entreaberta preocupava, os vizinhos… escrevo só pra me lembrar de cobrir todos os focos.

O serviço encarece, mas não melhora. O Outro acha que tem o direito de afogar tudo aquilo que eu, no nosso mundo, tão pessoal tão precário e incerto, percebo e necessito.  E deve falar-se abertamente.

Hão de se proteger.

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Arno Rafael Minkkinen, Self-portrait with Tuovi, Karjusaari, Lahti, Finland, 1992

Do sorriso e da elegância

Porque a música é detalhe, sua própria existência e personalidade. Vi pouco, era pra ter visto mais. A vontade do bem estar está associado a uma ideia de encontros e comunhão – que se passa numa fração de segundo. Transforma sem dó os conflitos internos, indo além das fronteiras do ego – agora ancorados nos vastos enigmas do corpo e da alma.

A fonte dessa experiência são  reflexos externos, fazendo com que a beleza se manifeste no mundo. Como é que um gesto ou uma palavra ou um som, um timbre… podem nos transportar para um sentimento grandioso que nos pareceria eterno? Foi como ver um o guerreiro desperto que trabalha pela iluminação de todos os seres – do espaço claro ao profundo escuro, com um foco de luz, quase cinema – um caminho espiritual em si mesmo. Ele tocou as coisas sem muito esforço, valendo-se mais do sorriso e da elegância, num êxtase, interminável, atemporal. Parecia tão fácil, tão simples. Sabedoria da igualdade, do espelho, caminhando junto, perto. Entender os outros no mundo deles e não a partir do nosso, com uma incrível capacidade de falar no dentro das pessoas.

Saí em águas, intensa, bonita, em carne, trêmula. Mais uma manifestação do puro afeto.

Eu sinto seu beijo no meio da noite

Não apenas pela beleza do colo, da nuca, do peito, mas pela eletricidade que acontece sem controle. O homem que me olha, de um jeito, sem respostas definitivas, verdades últimas. A sua percepção das coisas aparece mais completa, e este aspecto favorece  os escritos e as trocas intelectuais – e que revela igualmente que pode surgir felicidade e liberdade, construir relações positivas em todas as direções.

A música é a maior das artes, e seus timbres, os timbres (…),  imprimem movimento à sua existência. Nosso coração e nossos pulmões afirmam com toda a ingenuidade: a paz eu levo comigo. É, considero todo mundo louco de espanar a poeira. Como está sua mente? A sombra, a luz, a pouca luz, nossa felicidade, nossa alegria, nossa energia, nossa respiração, nossa vida pulsa em cima de texturas  instáveis, até que chega o silêncio.

Ele desenhou imagens com linhas mágicas, e houve primavera e girassóis.

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Gilbert Garcin, Save nature, 2010

 

 

 

 

 

 

Não tão incrível assim

Não perceberia sua própria loucura?  A falta que deveria cobrir era grande demais. A irritação foi tomando conta, não haveria como ser responsável por tamanha carência, tamanho apego, onde não haveria de ser. Diz o texto impecável demais, preciso e tranquilo, como um desabafo, com eloquência e sinceridade. Pra ser amigo tem que comer um kilo de sal com a pessoa, dizem. E veio o sufocamento, ou pela angústia, ou pela necessidade de recolhimento seguidamente desrespeitada e imaculada. Será que perceberia o peso de sua mão na garganta, a força, os hematomas (que ela achava que já tinham saído) …  E é hora de largar. Uma forma corajosa de educação que aceita as tentativas e os erros como parte do processo. De certo modo essa incompreensão gerou um desamor. Um ciclo de vida, que vai, se abre, se fala, se come, e tem por isso suas maiores fraquezas diante do outro. Antes tivesse ficado calada, quem sabe assim não sentiria o que veio a seguir. Haveria como voltar atrás, sem perdas e danos, tentava. O seu feminino clama por ser também cuidado.

 

 

A única opção é dar a cara pra bater. Uma descoberta.

 

 

 

 

 

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Quartos abarrotados

Meu amor, existe a  ferocidade dos quartos abarrotados, impedindo de produzir algo novo, tente entender. A repetição é uma perpetuação, fico aqui comendo meus desejos e minhas verdades. Recomendam calma, pureza e amor no trato com as repetições e perpetuações alheias. É isso, não é? Portanto te informo que não ando por aí à procura de reviravoltas, apenas de bons prosseguimentos. Hei de ser perdoada, são menos de dois gloriosos anos que consegui um reencontro, diferente, melhor. Diferente do ‘fazer o que manda seu coração’ que  nos leva ao mesmo padrão (coração bobo coração bola).  A gente se ilude e espera que nos livre das altíssimas despesas de manutenção – coração, vinhos e táxi. Sim, envelheci, meu amor, e fico cada vez mais… levemente e sutilmente…

 

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Saul Leiter, Don’t Walk, 1953

 

Ele choveu por aqui

Quando me dei conta estava celebrando o mundo das cores vigorosas de novo. O modo como grandes distâncias de vazio e calma são interrompidas por ilhas de tumulto, ruído e gente com esta súbita necessidade de estar sempre se movendo para lá e para cá, atordoa. Você pode até terminar se dispersando para que você não sinta um desnecessário cansaço mental, justamente para ensinar, escrever, e também para aprofundar-se mais em questões de ordem espiritual, discutir estas questões. Minha zona de conforto tem sido a melancolia, que conheço bem. Muito bem.

O mundo das cores vigorosas é mais leve mais rarefeito e quero estar assim, como numa crônica de um amor novo, de novo. Querem observar bem essas coisas e praticá-las.

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Franco Fontana

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