“Na falta de uma melhor”

O político bêbado sapateia na rua onde as mães pretas choram seus filhos perdidos. E os salvadores estão profundamente adormecidos.

O contrário da coragem não é covardia, é o desânimo, ao menos em francês. Espero por você enquanto bebo em minha taça quebrada, e peça-me: abra o portão. Roía os nervos. São dois elementos masculinos, voltemos ao cavaleiro de espadas, converse com o porteiro. Não tenha medo de olhar pra ela, algum olhar. Não use seu poder e sua agressividade para realizar tal tarefa, elas podem te afastar das delicadezas afetivas, no que tudo isso realmente importaria. Se nos comportamos tão previsivelmente, onde está o livre arbítrio? As flores secas bem à sua frente revelam o quão desconcordado de seus sentimentos está. Ontem, seu filho dançava com seu traje chinês e suas galochas. Ele falou comigo, peguei sua flauta e dancei também.

As trombetas reluzentes prateadas dizem que você deveria recusar-me, bem vejo. Não precisa mais perguntar, tudo está dito, a dúvida é legítima e os gestos também. E a resposta é dada no momento em que se faz a própria pergunta, ou a pergunta de outrem. (Um jogo). Mas acima de tudo, não poderia chegar de mãos vazias. Você pensa como um chicote nas costas de um cavalo, estende até o limite em que o outro se quebre, tombe ou se dilua. Altero a voz, grito, engasgo. Saliva grossa, o que foi dito? Cadê a frase? Agora que a tem, o que fará com ela? Pouco importa agora, já a arquivei no sótão. Sem reclames.

A culpada suspira, cada célula daquele órgão solitário chora agora.

Se você acreditar, você pode se convencer. Tenho certeza que você pode convencer-se. Um dia poderei jogar meus remédios fora, quando finalmente perceber que não há do que se curar.

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Aguaceiro

Uma catástrofe em câmera  lenta e um dilúvio se anuncia. Música silenciosa. Segue e vai, ouve ao longe. No começo, a luz constrói texturas profundas e densas nas nuvens que pendem ominosamente acima das nossas cabeças, mas quase não provocam o ar parado. Alternar entre altitudes mais altas e baixas à medida que o desejo de capturar diferentes correntes seja intenso, e pode-se mudar sua direção final diante de um percurso que é constante.

As melodias estão ausentes, e isso resulta em música aberta.

Uma oferta deve ser considerada e se a improvisação não desencadeia o reflexo de um pequeno tremor em uma pessoa, apenas poderia ter sido uma vida, um passeio. Está longe de ser barulhento e imprudente, as vozes se calam no que nem precisaria ser dito se fôssemos fortes o suficiente para exercer a leitura para além das palavras bonitas por hora ditas. Imbuído de uma austeridade pensativa que nunca evitaria a beleza, o outro move-se onde não almejaria estar, talvez não naquele momento. Movediço presente.

A atmosfera está aberta, luminosa. Mas também é, inicialmente, um pouco pesada, com a aproximação da chuva. As gotas frescas chegarão a qualquer momento, e a jaqueta ficará encharcada dessa vez. Vapores leves e registros congestionados, um azul profundo e um cinza obstinado, oferecendo uma impressionante gama de tons. E um novo lote de arrepios força as pálpebras e lentamente escurecem a visão, enquanto o vento chicoteia o cabelo. É o movimento em sua quietude e a sensação de isolamento, de uma maneira mais profunda – de uma noite calma em vez de um quase-mudo-criado.

Não há nada para desordenar ou desbloquear o caminho do que poderia ser ter sido possível. A música é infinita e tão larga como o céu pálido. É possível sintonizar os sentidos, e por instantes desligar os canais ruidosos no aparelho de televisão da mente. É o primeiro passo, a transição da imprecisão para uma linha direta.

Nada está acontecendo. Tudo está acontecendo.

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Interior

Será que queremos então chegar em algum lugar? A gente se reconhece, mas ignoramos isso. Instinto de sobrevivência, ou vontade de permanecer na alegria. Uma necessidade, não uma possibilidade…

Atina para mais do que uma afeição, podemos estar todos perdidos. O corpo feminino obra, suficiente, é uma questão que se faz insistente. Deixe-me andar por esta estrada, insisto. Encontro você atrás da estação, me guie de volta pra casa, poderemos chegar tão longe, já avisto as luzes da cidade. Não voltemos agora.

Houve um tempo em que você me dizia segredos, ninguém sabia. Contava sobre o corpo,
que é calado, afetado, alterado, violentado, destituído, odiado, silenciado. Mas você estava com medo. Nós costumávamos fumar e assistir aos aviões pousando. Fazendo-nos graça, como política, como ato. Exercendo a posse sobre o próprio corpo. Coloque seus braços em volta de mim, olhe de perto minha pele, intenção.

Então não se engane, não se engane. É você bem ali, bem ali refletido no espelho.

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Tola

Uma ausência prenhe. Existe uma palavra em japonês para isso, Ma. Não sei se é. Essa é uma pergunta difícil. Perguntei esta pergunta e não sei qual é a resposta. Eu me sinto feliz por estar fazendo isso, sinto-me feliz em poder pensar sobre as coisas em que estou pensando e criar algo fora delas, mas não sei se eu vou melhorar por causa disso ou qualquer outra coisa. Ainda mais, de uma maneira estranha, não quero nada de exagerado e de certa forma, isso me parece quase puro e mais do que precioso.

Eu ainda sou a mesma pessoa. Mas é uma vida.

Talvez, nos vejamos – pode ser com algumas bebidas, taças na mão, ruas estreitas, passo lento. Quero planícies, luz completa do sol, ar fresco. Eu diria que eu sou muito incansável e estou sem medo. Precisa-se ter resistência e uma pele muito grossa. É difícil ouvir as pessoas explicarem uma e outra vez porque seus elementos não funcionam, porque eles não acreditam… É difícil ouvir “não” quando se está apenas tropeçando pela vida. O tempo todo.

Pode ser imperioso que se tenha o estômago necessário para assimilar o que ficou insustentável de se fingir, o que se (re)existe/iu. Se você acredita ou não em regras torna-se indiferente, o baile segue. Penso que provavelmente há exceções a tudo.  Onde estão as lágrimas de ontem à noite? Elas se sentariam ao meu lado em casa e isso seria real, de alguma forma. Ninguém mais poderia fazer isso por mim.

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As coisas que ainda enxergamos

A mulher engoliu sua raiva e firmou nos seus conceitos, não é fácil se transformar. – Eu sempre tento tirar os pensamentos maninhos do caminho, dizia. 

Penteava os cabelos na frente do espelho, com calma. Manhã fria, rosto triste, olheiras, rugas. Existe uma bonita vulnerabilidade na feiúra dos olhos opacos, na exaustão. Sentia uma espécie de abandono, uma espécie de ausência. Parece uma ausência, mas de fato, quando existe esse vazio, é que falta pouco para voltar a ser o que se era. Mas as mãos também são importantes para se manter com a cabeça fora da água. E então os lábios, a boca acompanham.

Carrego uma ratazana nos ombros, para não esquecer que mulheres se salvam sozinhas. Torço para que essa noite tenha companhia e que consiga me embalar com o cheiro cheio de outra pele. Penso em uma foto e eles têm os olhos fechados ou algo assim, e por um segundo, tudo me pareceu importar. O corpo todo coça, avermelha, grita. Você já viu tudo, exceto o que acontece quando você chama.

Eu não consigo ficar quieta, eu não consigo ficar quieta.

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Vou tentar sonhar de novo

Eu estava em casa na cama quando acordei no meio da noite, tudo pulava por todo o lugar, sentia que a casa estava caindo aos pedaços. À distância, quase pude ouvir loucas sirenes, como no fim do mundo, sirenes e pessoas a gritar em um megafone. “Não deixem suas casas!”

Tenho certeza de que foi um vislumbre de quando o mundo irá acabar. Qual dos mundos, amor? Alguns acabam outros ficam de pé. Você anda por aí com um rasgão no ombro, dolorida. Sempre sinto que o passado informa o que acontece no presente e, simplesmente, não sabia como iria acabar aquele entorpecimento dos sentidos porque eu estava escrevendo e minha garganta estava seca. Todas essas letras malditas insistem. Hora ou outra aparecem vizinhos para conversar, esticando a verdade para torná-la engraçada ou algo assim, mas no final, sempre preciso me sentir real.

Não venha com a expectativa de vencer um embate. Círculos afetivos são quinze, distância correta. 

Eu sempre tento tirar as coisas do lugar, porque de vez em quando se perde a cabeça. Uma espécie de abandono, uma espécie de ausência. Quando existe esse vazio, penso que a beleza do interior se destaca. Não, não penso. Mas desejo, espero, torço, apertando os dedos das mãos em pequenos nós até doerem as articulações. E então os lábios ficam mudos. Mas os olhos são de longe a chave, aguados, sem foco para perto. Fome.

Para alguma sobrevida pode-se pensar no absurdo do universo. Poderia ser um bom aspecto. Talvez queira alguma outra coisa boa, dormir e conseguir descansar.

 

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Eu sinto que vem mais das perguntas e do meu sentimento de desconfiança em relação às coisas difíceis de lidar do que de atos concretos. E nesse meio tempo você ouve o mundo e até consegue sair da sua vida corriqueira, por alguns instantes. Mas acho que quando estou profundamente imersa em descrever-me como uma novela, quase tudo cabe na palma da sua mão. É como se tudo na vida fosse interessante ou não na medida em que possa ou não pertencer ao que estou descrevendo, revivendo, proseando. 

Quer dizer que pelo menos dois dos três piores medos realizam. Bem ali, do outro lado da colina, terá mais de 30 quilômetros para resolver isso. É possível, sim. Tem casos em que as pessoas se sentem vulneráveis acreditam em muitas coisas. Encontra uma coisa ali, junto das folhas, umidade. Respostas para algumas perguntas, porque elas importam. Tudo entra no trabalho, como se levantar da cama e prosseguir o dia fosse de alguma forma uma condição. É uma modalidade de ser que está sempre à procura de algum vigor, eletricidade.

Não importa o que eu esteja fazendo ou com quem esteja falando. A mudança de fase da lua sugere uma bagunça no estado emocional. Lê-se a lua para ler-se. Algo mudará com base em algo que já tenha visto ou algo que tenha debruçado paciência. Quantas vezes eu deveria ter dito para parar, deveria ter vivido a interrupção em muitas ocasiões. Tortura revivê-los nesse aprisionamento mental. E é aí que as transmutações ficam interessantes e apenas em ocasiões muito raras engrossam a pele. E acho que é isso que eu provavelmente espero. Não temos certeza de onde, é uma jornada e é uma maneira de pensar – condicionados que estamos. E, em seguida, esse tipo de rachadura abre o verdadeiro significado do objeto.

Há um elemento de tristeza que é inegável e quando aprendemos a só legitimar uma voz, podemos perder uma história. Construção de outras existências, várias, bem-vinda de volta. Aconchegue-se e provavelmente se sentirá bastante inspirada, dizia.

 

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Boca costurada

Teve um lado sombrio, você está certo.

Os avós não permitiram muita liberdade naquela época por medo. O escuro inspira milhares de sons e desperta a ansiedade da saída. Te chamo, te espero. Que saibamos com o que nos importar em situações em que nós mesmos nos desfalecemos, perdemos o vigor e a força física. Há uma tristeza no som da voz, pouca vontade de alcançar o outro, pouca esperança. Falo para você e um pouco para mim também. No domingo à noite, enrolo nas cobertas e no sofá aguardo o frio sair da pele. Não me preocupo com o tempo que isso vai levar, tenho calma e sei que a paralisia não durará muito tempo. Risco de perder o fio da meada caso se dissipem os primeiros pensamentos da manhã, o que deve ser guardado no coração e o que nunca deverá entrar nele.

Mostre-me respeito, que não escondamos a verdade e não enterremos o passado sem resolvê-lo. Podemos redefinir nossos abismos enquanto o ar frio entra pelas frestas. Prioridades. Que a gente se aperceba que o tempo traz as verdades e recupera algumas cascas das feridas. Talvez algum conforto, alguns colos, chamegos. Que haja amor e que sempre haja recomeços, pois somos todos seres inacabados. Ah, no meio do verão, quando o sol estará alto no céu e as nuvens oferecem uma grande variedade de formas que mudam constantemente, a luz terá tornado ao que era um ano antes.

Seguremos as rédias dos nossos descontroles bem rente.

Observamos melhor essas coisas quando estamos fora. Olhos vidrados na janela, o frio e o escuro já não absorvem tanto. Algum conforto de existir, respira em três tempos. Os velhos tomam polaroids, os jovens usam o instagram. A inspiração nunca é obrigada a cumprir um prazo.

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Tornar-se pedra

Quais são as providências que você anda adiando?

Contudo, por muito tempo, tais exigências não existiam. Aconselhava-se escolher dentre os dois exílios o que parecesse dominar com maior propriedade, o que tivesse “maior vigor” ou “maior calor”, talvez ainda o “maior contraste”. Estranho que já não estou tão nervosa. Eu fico com medo de não ser suficientemente boa a escolha e preocupa o bastante, interrompido. Assusta por não ter sido verdade. Você não está amarrado às suas camisas e paletós, empurrar-se ao limite.

Passam a explorar completamente em nome do OCO que é ruído, basicamente um registro de ruído. Leve re-criação pura do que poderia ter sido um artifício que sopra os restos da ordem anterior. Distância. Fomos chamados a uma alternativa significativa nos momentos em que a maioria das pessoas está dormindo no escuro, enquanto os sortudos ainda estão dançando nas luzes. Evidentemente pega no meio,  inundada de indecisão, crescendo e desaparecendo em várias direções ao mesmo tempo, perdendo o lugar do sorriso.

Nãoo, você não precisa fazer muitas coisas. Pode ser sem sentido, mas há algo em deixar este lugar onde permanecem os passados melhor do que já os deixou anteriormente.

    Há algo naquilo que se sente bem, no fundo do seu núcleo. Eu vou com isso. E estou apenas tentando entender tudo.

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    Choro no sonho

    Você não sabe como vai fazer isso e você não sabe como vai acontecer. A realidade a todo momento entra nisso, interrompe a alucinação. É sempre difícil. Eu acho que estou tentando justamente lutar um pouco contra o que pode ser uma nova vida. É que agora é diferente porque eu sou mais velha e mais indefinida.

    Não faz nenhuma diferença. Eu ainda tenho que encontrar algo interessante dentro de cada cor que emocione. Mantenho  a sua parcial distância e disponho de pequenas barreiras invisíveis ao redor de mim. Exalo um ar de respostas irresponsáveis.

    Leva, conduz, deixa.

    Posso parecer dura e autocontrolada. Praticamente um iceberg. Sob essa fachada um sentido emocional prévio e umas boas dificuldades. Ela aprendeu a sobreviver e gosta de tulipas azuis, cantarola baixinho.

    Choro no sono e ardo um pouco. Eu executo isso como uma maneira de seguir meus quereres. Estou interessada em muitas coisas e se me permite caminhar para qualquer muro com a luz da hora do almoço e dizer: “oi, posso tirar sua fotografia?” E, portanto, “posso me tornar parte de sua vida ou você pode se tornar parte da minha?” Precipitações. Impaciências.

    Da minha vida? Talvez eu também não saísse comigo em uma noite de sábado.

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    Uma mente bonita entre os olhos

    Por esses dias só contar as horas e nós ficaremos acordados a noite toda, quero que você se sinta bem, bem. Você pode passar por uma rua e olhar para fora, algo precisa me dar uma emoção, algo precisa me trazer uma lembrança, um sonho para algum lugar. Não estou planejando, ainda estou trabalhando, mas todos somos olhar, é só termos um ponto de vista.

    Eu sou alguém que acorda no meio da noite e pensa sobre as coisas que espero. Desejo. O sono entrecortado, muito final do dia, nenhum na madrugada, algum de manhã. Amanhece e juntando tudo umas seis horas de sono… Eu tento ter uma grande vida. Visito vontades diferentes em seus ângulos cujo desenho de luz eu goste. Talvez eu faça histórias sobre o que nos escapa por não sermos tão rápidos quanto deveríamos. Às vezes eu trabalho como todos devem fazer e nunca fui a uma convenção na vida. Mais e mais eu gosto disso, mas eu poderei sobreviver.

    Você tem que lutar pelo seu trabalho – todos devem fazer. Poderá e deverá ser derrubado várias vezes e ficar-se de volta. Não pode deixá-lo ficar em seus ombros (os pequeninos diabos). Eu vejo muitos fotógrafos que fazem suas coisas e colocam sua alma e, ao final, tudo mudou-se, mas seu nome ainda estará no assunto. Mais subtração do que a adição. Todos nós temos uma espécie de máscara de expressões. Você diz adeus, você sorri, você está com medo, você enlouquece e desenlouquece. Eu tento tirar todas essas máscaras e subtrair-me de tudo pouco a pouco.

    Mesmo que uma imagem não seja tão boa, pelo menos eu posso voltar a dormir à noite e pensar alguma coisa diferente hoje.

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    É melhor sem medo de qualquer maneira

    Quais as novidades desde quarta?

    Nada de especial. Caminhos para tentar encontrar algo novo… Eu não sei. É bom escrever cercada por música e bons livros, e com uma xícara de café forte à mão. À medida que o dia continua, torna-se cada vez mais difícil prestar atenção a qualquer outra coisa. Eu tento estar presente para as pessoas que mais me importam.

    Grande parte do trabalho é no cotidiano. Tudo em você traz uma vida intensa e você, diretamente ou não, dá muita importância ao poder da lógica e então, por alguns segundos, é invadido por uma estranha sensação de triunfo com o coração partido. Sem lutas, justamente por ter voltado a viver. Tanto acontece no interior – na mente – que mesmo os dias mais comuns muitas vezes se sente selvagem. Quando um pôr do sol funciona, o familiar torna-se estranho de novo e a vida é revelada em toda a sua estranheza inarticulável.

    Inarticulável. Desejante.

    Nenhuma questão fora afrontada de um jeito elegante, e escapar desse impasse foi um movimento impulsivo para ganhar tempo para pensar. Ou será preciso dizer as coisas de outro modo? Um mestre favorito meu costumava dizer que anseia a estranheza dos outros. Anseio a estranheza doméstica, interna. A vida está confusa e quem sabe o que está por perto. Mas, em muitos aspectos, a incerteza pode ser estimulante, mente em movimento e não em repouso.

    Seria uma pena enxergar o nosso fragmento de tempo neste planeta-poeira-cósmica com medo. O fluxo para se conectar com outras pessoas através do idioma é forte, mas a vida é solitária, muito solitária e a poesia com cores fornece algum descanso.

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    Eu ainda estou esperando que isso apareça na cabeça de alguém

    Melhor. Em última análise, todos estão agindo fora do que sentem. Todas as longas linhas vermelhas que cruzam a visão à noite, toda fumaça que esmaece os olhos flui para seus sonhos. Parecem um grande mar azul aberto que não pode ser vencido. Deuses inexistentes e distantes com seus sinais desbotados, aparecem nas extremidades. De todas aquelas luzes piscando você terá que escolher uma noite para si. Todas essas extremidades sem fim, que não podem ser amarradas, me fazem chorar.

    Até caírem como moscas, os sentidos das confissões afundam como pedras polidas. Para mim é uma distinção: se concentrar na forma como as coisas funcionam lindamente ou na forma como as coisas funcionam miseravelmente. Voltear a vida continuando além do final de uma história. É esperançoso, positivoAlém disso, minhas histórias tendem a levar os caminhos do isolamento à comunidade.

    As pessoas competem quando conversam e a exaustão do processo esmorece as vontades. Areia. Para que eu seja aceita de volta por um mundo do qual fugi, perco o limite.  Quer suas contribuições se baseiem na contribuição anterior, quer se baseiem na auto construção individual, o outro é tragado. O que às vezes é algo da minha própria vida é instantaneamente eclipsado por uma versão quase idêntica, mas mais extrema, da vida de outra pessoa.

    Essas coisas acontecem a todos. Você está fora disso e de certa forma, você está fora de si mesmo. Mas há um cansaço. Há uma vontade de não pertencimento a esse jogo. Há uma vontade de existência sem a necessidade de se jogar. Seja o que for. Há uma vontade de calma, de sossego, de respiro.

    De vermelhos.

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    Eu não choro fácil

    O lugar que conhecemos, protegido e quente, perfeito na tempestade perfeita. Porque as tempestades são imprevisíveis. Exatamente, então é por isso que não queria perder tempo lutando contra, disse. Os riscos são muito importantes para mim e por certo quem irá sofrer as consequências é quem levanta o não, o basta. Mas eu sou apenas eu mesma. Quero que a pessoa na minha frente saiba que eu sou apenas humana (e que tenho medo de muitos enfrentamentos). E isso vem com confiança, acredite ou não. É a única coisa que irá, quem sabe, fazer a diferença, definir tal diferença.

    Estarei completamente obsoleta se eu não correr riscos. E essa não é apenas minha vida, é nossa, pois eu sou duas.  Na escrita, na música, na madrugada febril, você se deve.  As fórmulas e ladainhas (justificadas, isso é pertinente) envelhecem depois de um tempo e as pessoas começam a vê-la através disso. E sua covardia, aquela que te traga, aparece. Mas também deu às pessoas essa imagem como “aqui vem a luz do sol, que é boa em guerrear!” Ahn, que eu simplesmente vou, “humm, não”.

    Espero que algo especial saia disso – mas essa ideia também sugere uma natureza que não me é encarnada e que passear por minha pele nesse estado, na minha cabeça é algo dramático. Tudo marcado para os próximos dias e desejo me convencer do óbvio, do correto, do luminoso. Que algo está acontecendo posso dizer e que os passos que levaram aos meus desenhos e articulações acabados são muito pouco espetaculares.

    De início obedece ao destino sem o saber. A partir do momento em que sabe, sua tragédia principia. 

    E uma vez que você percebe isso, a vida se torna um pouco mais fácil ou mais difícil. Mas especialmente diferente se você se reconhece, ao falar com outras pessoas, por exemplo, que você não é a única. O que faz sentido sobre esse pensamento é que você tem uma determinada função de uma ação coletiva. 

    Quando você faz o tempo suficiente, por um tempo suficiente, você quer manter-se aberta. Se fechar tem sido desconfortável, pois a casca não é grossa o bastante e a vulnerabilidade é importante. 

    Há pássaros na tempestade  e vou simplesmente colocar o meu melhor para fora e segure, segure, segure. Aperte. Divirta-se. Você vai pousar em algum lugar e você também terá que se mudar de lá. Eu também gostei do alto.

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    Mantimentos

    Queria acompanhar aquela pessoa, levaria cantis e sacolas com frutas. Esperaria o sono para anular mais algumas horas de espera. A noite era fria e acobertar-se era o que se devia pensar.

    O rosto pálido e ainda tenso transparecia em sua expressão o fim de uma luta que teria ocorrido em sua vida faz tempo. Surgia daí hipóteses, vontades, metas. Talvez você se comprometa a comer alimentos orgânicos cultivados localmente, ou talvez você comece uma nova prática do ‘como você pode encontrar e manter seu centro’ – disse.  Não posso deixar de pensar imediatamente em várias experiências que se poderia ter a partir daí. Mas já que está fazendo sua própria coisa, você está em sua própria aventura, você está em sua própria missão. É quando eu realmente sinto que começo a entrar em algumas situações boas, agradáveis ​​e não-perigosas, assim quando em determinado momento da noite se levanta e começa a perceber movimentos difusos ao seu redor. Se tinha esperança naquela tarde era a de que finalmente o caminho se abriria. Então o que impediria? Vou ter que me sentar na cadeira de um analista para essa resposta. 

    Eu sei ele teve uma abordagem muito criativa para a vida. Ele não era convencional e isso me ajudou muito bem. Tento não me surpreender com os personagens loucos com quem se a gente costuma se envolver nesta vida. Seu lema era: ofereça os poucos alimentos que dispõe. Ajuda mútua. Não importa se você bagunça; pelo menos você está tentando algo diferente. Alguma desistência que fosse feita no escuro incomodaria naquelas circunstâncias. Precisamos de todos, insistia.

    A noite não foi ruim, estava o ar frio, muitas estrelas, um quarto de lua, uma vontade de encolher-se enquanto esperava pelo pálido do céu quando amanhece.

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    Polaridade

    Acordou hoje de manhã para descobrir uma miçanga perdida em um dos cantos do quarto, acordou hoje de manhã precipitada e desvairada. Inerente a todas as coisas, o filme-carta passou diante dos seus olhos. Em face do desconhecido e do horror do dia a dia que terá de lidar, jornadas frutíferas, trocas valiosas e ajudas espontâneas fazem o brilho dos dias. O objetivo todo deveria ser reconhecer e satisfazer a natureza sonhadora da existência, qualquer que seja ela. Há mais resolução, mais brilho, uma clareza, uma sensação, uma dimensão.

    Confiante naquilo que descobriu na solidão de um não-sono, quis se envolver com o pós-amanhecer com alegrias e águas. Eu cresci católica e minha mãe permanece até hoje realmente motivada por essa religião. A crença nas multidimensões é apenas um formato, um outro formato, não um questionamento. Porque eu acho que há um peso para o processo de pensamento religioso, uma espécie de peso emocional. Como você se sente sendo sozinha? Como você se sente sendo repetidamente substituída? Eu trago pra você pequenas explosões, ouviu ao longe.

    Eu não vou chamar de profundidade o que implicaria em monte de outras coisas, mas certamente há uma espécie de amarras sobre isso. Como quando você não é necessariamente destinado a se divertir muito nesse mundo, enquanto os dramas estavam em preto e branco. Não mais mitificar e oferecer respostas. O que é mais perigoso é quando construímos uma mitologia qualquer para dar respostas e ditar o significado e a existência, e então oferecemos essas imagens como precisas para mitigar todo aquele pavor que sentimos. Parece que em nossa cultura o objetivo é nos fazer sentir mais aterrorizados e menos confiantes.

    E, claro, com dois olhos, você pode simplesmente assistir ao mesmo filme de forma diferente.

     

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    Eu vejo os olhos que viram o rei

    Eu não conseguia entender porque você nunca sorri, agora sei e sentirei falta até disso. Terá que ter paciência e o que lhe falta haverá de ter outro sentido. Pegue algumas moedas, se barbeie e vamos cuidar dos seus cachos. Brancos, já escapulindo pra fora do chapéu, fazendo voltinhas e combinando com algumas risadas. O alívio veio depois da primeira etapa e ter ocorrido tudo tão simplesmente trouxe alguma alegria. Alguns procedimentos são tão tristes, frios. Nunca se sorri. Eu nu. Você pode ter em mente o que deve ser feito e pode ter a confiança de assim torná-lo visível. Pois que percebo que é muito mais sobre se estar em confiança e que se pode chorar muito mais pelas coisas belas do que pelas escolhas de dor. Escolhas e ações vão nos tornando quem somos e certamente confirmando quem somos.

    E eu sinto que principalmente disse sim às coisas que eram importantes. O corpo é náusea até agora, depois de dias. Vertigem, enjoo. Corpo resposta. Existem diferentes camadas dentro de você que se pode explorar. De libertação, dos sentidos e algumas memórias. Ruas, curvas, praça. Tudo tão diferente, o tempo e a água modificam as vidas. Respira fundo pra mim? Se lembra quando tinha um kichute? Lembra daquele grupo escolar? Lá se cantava o hino e balançava uma bandeirinha do brasil de papel. O uniforme é a melhor memória.

    Ninguém acorda pensando, o meu mundo vai explodir hoje. Mas, às vezes, acontece.

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    (a)mares

    Eu esqueci como você fala, eu esqueci como falar com você.  Suas mãos no meu bolso me aquecem como o sol do verão ou o calor do fogão. E eu me lembro de ter tido meu primeiro dia inditoso até então e tudo o que se quer é dirigir até que saia da cidade. Estou tão cansada de ser, não tente me abraçar agora, ergo. Suponho o que você diria, suponho o que você ouviu. Diálogos inventados, ensinados. Vou-me agora a tentar encontrar aquilo de que não preciso, logo eu, que nunca gostei de ser ensinada…

    Serenidade e paz serão o modo de vida diária. Aprendeu as habilidades ao longo do caminho para construir seu próprio ninho no alto do penhasco e no que intui ser seu auge e a última parte de sua vida, renunciará à abundância e ao conforto. Mexe em seus próprios cabelos (auto-carinho) e lembra que pode ainda amar costurando suas próprias meias.

    Sua memória está reservada, em todos os (a)mares. Pode parecer um evento importante no momento, devido à intensidade e à forma como o faz se sentir segurando um copo com um peixe pulando. Na mão esquerda segura um conjunto de escalas para equilibrar-se, assistência e resistência.

    Eles estão se olhando muito carinhosamente. E se olharão mais.

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    Eu continuaria sem medo

    Sei que você nunca esperaria por uma ligação minha e o céu testará nossa paciência de todas as formas possíveis. Talvez você devesse dar mais tempo para que a história tenha a chance de se mostrar inteira. Um pouco de descanso em meio a tanta exaustão – um pouco de afeição. O que você sente e nomeia como pressentimento pode ser somente medo ou quem sabe podem ser os contratempos domésticos que nos tiram a paciência? O velho vilão está lá. Pegue algumas coisas e venha pra cá, te preparo uma cerveja e um petisco. É o momento para repousar sobre as escolhas que você fez ao longo do caminho, pois a lua é nova.

    É um momento esquizofrênico, novos lugares. Todos os lugares.

    Com essa sensação de a todo instante travar batalhas como poderia deslizar por entre as moléculas sem ser absorvida ou aniquilada? É preciso tornar-se sutil, rápida. Melhor ainda, útil. Apreciar.

    Sobre o que você sonhou na noite passada, pode me contar?

    Eu vi você naquele antigo mosteiro – perto da água. Havia muitos brancos, havia monges, homens chineses. Você estava nesse grupo com todas essas pessoas caminhando com as mãos dobradas em frente ao peito. Se afastou depois de algum tempo e mergulhou no lago. Havia lua, mas ainda era dia. Bonito você. O sonho era em preto e branco e muito se assemelhava às imagens dos filmes de Fellini – o humor e a sexualidade livre, as referências, os personagens superiores e as narrativas que ele emprega em seu trabalho, o antigo e o novo – coisas que sempre percebi em ti. Abracei-te.

    E eu quis ver cores explosivas porque se destacavam desse mundo de escuridão e pedaços de carnes. E elas falam sobre mudanças, excitação, luz.

    “Cola comigo que você brilha, como a lua” sorri e rebola um pouquinho, faceiro. Tenta apenas ser irreverente e assim consegue me embalar. Na verdade, acho que sua voz melhorou agora (risos). Foda-se tudo e vamos fazer arte.

     

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    Olho no olho

    O tempo é muitas vezes essencial e geralmente vale a pena esperar um pouco para ver como se pode lidar com a liberdade e a nudez do próprio corpo. As indiferenças flutuam em um oceano de vontades (a ver). Você lidou com você mesmo e as indiferenças dos aparelhamentos aumenta o dilema que se pode enfrentar nessa vida de ‘meudeus’. Café é muitas vezes a solução, o estar junto também. Em volta da mesa, sem saber como agir e o que dizer, dá pequenas mordidas como se alegrias fossem. 

    O esgotamento desmorona possibilidades.

    Ali perto do portão do jardim, perto de pimenteiras, orquídeas, couves, manjericão e hortelãs, seu medo de que os sentidos todos estejam congelados e infelizes escorre pelos poros. Pés na terra e água nos olhos, o impermeável, blindado, entupido corpo está fechado e quer queimar, queimar agora, respirar fogo. Apenas fogo. Que me livre de todo o mal que eu fiz para mim. Em segredo, canto para ninguém (desafinada que sou) e entrego-me às armas tão abertas, armas que conheço tão bem.

    Se conseguisse manter o juízo sobre si e se recusasse a ter os membros engolidos pela brisa que arrepia as costas, talvez conseguisse alguma sobrevida. As pálpebras não estão cerradas, o pescoço está rígido, as mãos, fechadas, o ouvido entupido. Neblina de corpos, neblina nos encontros. Quando conseguir sair da outra extremidade dessa névoa e olhar pra trás, com aquelas silhuetas e esboços que já não fazem mais sentido, poderemos quiçá experimentar um bom bocado de soltura e remelexos. 

    A resistência pode ser a chave para lidar agora, não tem certeza. Talvez o silenciar-se um pouco (o que exige um esforço sobre-humano de si). Parece precisar se mudar para um ambiente quase estéril, quente e seco. Prefere que a repetição se anule que provoque outras realidades a serem desvendadas. 

    Abre mão de algumas certezas, se agarra a outras. Bebe vinho e, mesmo seca, consegue se encharcar.

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    É o que não está lá

    Quais afetos estão ali? Enquanto você me excita, me levanta, me exponho a ti. Meu corpo é uma racionalidade, uma forma de como se pode estar no mundo para além dos dinheiros e empregos. É uma era da violência insensata essa que vivemos. E como a mais doce taça que eu dividiria com você, ergo um grito coletivo de liberdade.

    O que você vai fazer quando as coisas correrem mal? O que você vai fazer quando tudo se quebrar?  O que você vai fazer quando o Amor queimar? O que você vai fazer quando as chamas subirem? 

    É um confrontar-se com uma situação de desabamento da possibilidade de respostas fáceis. O que você vai levar para que se faça um sonho brotar, apesar da tempestade que não se acalma, é o que inquieta. Permaneça, repete. Permaneça. Oh, você me levanta até o topo e só aí então, eu posso ver que as luzes brilham e os sentimentos vêm.

    Mas se isso não significa nada, quem teria o toque para acalmar a tempestade? São passíveis de vários usos. Talvez daí venha a importância de que ao menos um seja a coragem, com uma boa maturação para quem possa estar desamparado, uma diferença atenta. Lidar com afetos que não se controla, corpos em errância. Corpo fissurado, pequenos abismos na pele onde moram as possibilidades de reação e quiçá um pouco criatividade nessa vida.

    Na imagem que está na parede do quarto, vemos um homem e uma mulher que se olham demoradamente e cada um tem um copo na mão esquerda. Nuvens cercam os dois e o tempo pode estar nos dias ou horas e, desamparados de si, estão a fazer brindes.

    Longo alcance.

     

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    Tempos verbais

    Por favor, não se preocupe. Apenas estou imaginando encontros em botecos distantes, cervejas em conta, comida com gosto de casa. Que eu estou me preparando para dar-lhe uma beliscada sobre a compaixão, quiçá uma ou duas linhas sobre as chamadas virtudes. É uma questão de escolha como se faz seu o trabalho e de alguma forma conseguir superar o que se diz como sendo o bom comportamento. Já se sabe o que é ser profunda e literalmente auto-centrado a ponto de ver e interpretar tudo através dessa lente do eu.

    Mas é praticamente o mesmo para todos nós.

    É difícil permanecer alerta e atenta, semear novas sementes além do que se sabe sobre ficar hipnotizada pelo monólogo constante dentro de sua própria cabeça (pode estar acontecendo agora). Para além das artes liberais que dizem sobre como pensar, está ali um atalho para uma ideia muito mais profunda, talvez algum controle sobre como e o que você pensa. Estar consciente o suficiente para escolher no que se presta atenção e construir algum significado da experiência.

    Isto, como muitos clichês, tão manco e desinteressante na superfície, na verdade expressa uma assustadora verdade.

    Lá naquele boteco se ouvia a história de como eles atiraram no Mestre Terrível. E a verdade é que a maioria desses moços estão mortos muito antes de puxarem o gatilho. Cachaça, vida que segue, pururuca, milho, mais cachaça. Falas entrecortadas na esquina, Ronnie Von na máquina, risadas cheias de batons borrados.

    (E eu afirmo que isso é o que o valor real, não-merda sendo merda, em uma suposição do ser nobre: ​​como passar por sua vida adulta confortável, próspera, respeitável, inconsciente, um bom escravo a bem dizer).

    Para si a forma natural é a de ser única, completamente, imperialmente sozinha dia após dia. Espelhos manchados, urina forte no chão naquela sensação de ali não pertencer. Era mais um banheiro com mulheres peladas nas paredes. Sofre por isso toda vez e mais uma vez.

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    By a pale light

    Minha aldeia é (ou era) uma importante estação para a memória. 

    Não há mais ervas para colher. Deteve-se a contar para si mesmo verdades novas acerca do que seria a parte mais importante da sua vida. E para que nada se movesse ao seu redor, ela sonhou ser um corpo morto, noite de quase-lua-cheia que era. De um certo tipo de relação com a escrita, com a técnica, com o corpo, com o desejo, surge uma nova atmosfera espiritual. Não tão facilmente explicável…  mas nunca foi levada a uma presença calmante de estrelas convidadas para a ocasião. Só estava tentando fabricar de alguma forma o que se consideraria ‘viver com aquela sensação de solidão no meio da massa’ ou na consoladora influência para sê-lo. Entristecia um pouco. Saiba como amar e você saberá quem você é.

    Um momento de folhas verdes para considerar um novo movimento na vida. Luz, cheiros, água. Aguar. Aguar-se. Você deseja um novo começo? Dar forma e conteúdo a um mundo espaçoso e natural. Terra e pés. Um mundo brilhante onde os  arredores exploram sua atmosfera quase-limpa. Além disso, o céu pode ficar verde. Bem se viu. Sangra suavemente em camadas, segurança que se inventa – queria um espaço cuidadosamente equilibrado, estabelecido. Eu consegui, percebe? Falo outra linguagem livre em um período de refletir sobre as fraquezas e falhas. Fazendo um balanço (de corda no pé de manga) e olhando para onde quer ir a partir de agora.  De alguma forma sonha de olhos abertos com curvas e, é claro, chegar a um lugar em que se possa ser translúcida. Centenas de milhares de pessoas que não podem se reconhecer nos quadros sociais que lhes são propostos, empatia. Este é um tempo para ouvir e ter coração suficiente para dissipar medos. Arranjos de vidas existentes. Pensa que sua intuição é forte e deve ser ouvida.

    O suficiente para fazer uma xícara de café. Ou chá.

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    Pensamentos válidos sobre o mundo

    Você tem que aprender a se adaptar a isso, a evoluir para a rotina de forma satisfatória. Pílulas diárias de bem querença. E o ciclo… bem, seria tolice tentar fingir que, mesmo agora, minha vida já é diferente da que era antes. Usa-se ainda aquelas coisas desconfortáveis por costume, ilusão, talvez um pouco de alegria… mas e esses graves?

    Tenho certeza que você notou. A forma como as pessoas se comportam? A maneira como eles falam, a maneira como se vestem, a aparência? Tudo! O entorpecimento da sociedade.

    Tentamos sempre esticar os limites, autorresistência. Esticar em tentativas a percepção desses limites que nos damos a nós mesmos. Eu penso que há ainda outros planos em que você pode se relacionar com a situação de vida exata. Da escrita. A realidade e o sonho são a mesma coisa, limites e fronteiras habitáveis como produto de ações, de pulsão, quiçá lucidez. Gosta da vida familiar, de queijos. Que frio, corpo rígido, dedos apertados. Vento que te joga nos tecidos, mesmo que nua. Fragmentos, minicurrículos, minibiografias nas linhas das mãos. Uma extensão do corpo, público e privado, mural de recados, anotações, excertos, adesivos, cicatriz.

    Mas por que eu deveria me preocupar? A polícia da boa educação e dos bons modos não vai me colocar na prisão! Então eu não sei o quanto as pessoas realmente se importam mas acho que é uma boa maneira de tomar decisões, de forma calma e precisa. Necessidade. É realmente uma ótima maneira de se viver. Eu resisti a isso por um longo tempo. É uma pressão estranha e eu não sinto que é o meu trabalho, mas pode ser que isso ajude a pensar na vida. Nas vidas.

    Lidar com algo como uma ruptura se torna urgente porque pode ou não durar muito tempo. Ele quer estar em movimento e nenhuma quantidade de apego vai impedi-lo de sair pela porta. Você está para mover em terreno novo isso é muito simbólico de uma nova vida, a densidade manifestada.

    Eu sou experimental, estou curiosa e agora tento coisas. Porque gosto mesmo é de pitar e de ouvir samba em um boteco tomando cachaça.

    ‘quis mudar tudo, mudei tudo, agora após tudo, extudo, mudo’ (Augusto de Campos) (reflexão, aceitação).

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    Conversa fresca

    Se você manter o seu juízo sobre si e se recusar a ser crepúsculo, você conseguirá navegar durante este tempo com cores voadoras e poderá ser surpreendido com a sua própria força de vontade. Quando você saiu da outra extremidade da neblina e retrospectivamente olhou para trás viu auroras. Dizendo que as velhas formas não são mais válidas, ou de pouco valor em sua nova vida, fez-se acordo, desperto. A resistência é a chave para lidar agora e suas decisões podem ter desmedidas risadas de longo alcance. A menina dança todos os dias pela manhã, anda a dar pulinhos e faz graça com seu corpo. Se você fechar os olhos ela ainda estará a dançar até o sol raiar. Você vai achar que amadureceu durante todo o processo de lidar com seus problemas.

    Pode me chamar que eu vou, eu já estou aí. Ela está segurando um copo e a presença é inteira. No fundo é um céu escuro, nublado, uma lagoa e alguns reflexos de memórias compartilhadas. As montanhas e árvores e gramas verdes são luxúrias. Feridas e cicatrizes são aliança. É também uma ocasião mentalmente estressante por permitir flexibilidade em seu pensamento para novas ideias e maneiras de fazer as coisas… querer abrir novas portas para o seu verdadeiro destino. Na distância são montanhas com altos picos. Parece ser um ambiente quase estéril, quente e seco – esse vazio é particularmente inspirador. No entanto, ele tem com ele os símbolos do crescimento e lá se pode plantar o que e onde bem entender.

    Sem querer parar, uma conversa fresca, o céu suspenso, um fio para lavar o brilho na água. Um rio que já entrou pelo alto mar, meio sem fim, meio chegando, meio do meio… Os sons cotidianos da vida, fragmentos e querências,  com frequência visitam um passado recente. É um método eficaz de se estar no mundo sem deixá-lo dominar, preferindo manter as gravações de vida como vinhetas separadas, expectativas miúdas.

    Dia a dia. Um cadinho de cada vez.

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