Uma vontade de disponibilidade

A esperança é a de se conectar com o outro através da linguagem. Pode-se dizer  muito sobre como as pessoas podem ser completamente estreitas de espírito, particularmente quando se trata de comportamento extremamente ruim levando à violência ou a repressão dos outros. O comportamento choca, assusta. É realmente uma constante conviver com esses tipos de personagens, na verdade.

Se alguém é perseguido ou reprimido ou envelhecido, de qualquer maneira, mostra uma história da forma como nos relacionamos uns com os outros. Sempre absurda e de forma mais extrema, incômoda. Talvez uma compreensão de um grande medo de ser impotente. Eu me permito escolher as coisas que sinto como certas para mim no momento. Um jogo com um monte de gente horrível e maldosa e tenho certeza que, algumas delas, se observam algo realmente ruim pensam que tudo aquilo é uma possibilidade.

A poesia permite uma espécie de acesso central à vida interior… Você entra no mundo interior de outra pessoa. Você sente-se frequentemente só nessa vida?

Nós desejamos a estranheza dos outros. A unidade para se conectar  através da linguagem é forte. A vida é solitária e a palavra – por causa do íntimo tipo de conexão que ela permite – fornece um pouco de descanso.

Os mortos quietos nas ruas do bairro no meio da noite, só os cães. E eu nunca poderia viver até o clima perfeito. Talvez as coisas não estejam completamente como você esperava por algum motivo – este é um período negro, em que as relações mais íntimas estão sujas, apodrecidas, cheias de fantasmas e qualquer escolha que se faça pode ter uma resposta descuidada. Distribuem-se desafetos e maus tratos. Um clima cinzento  perfeito para esmagamento de todos, do que eles sentem. O ritmo frenético aqui me convém.

Uma sobrevida se salvar pelo menos uma hora por dia para poemas… primeira coisa na manhã antes que o dia se torne. É bom escrever, em seguida, cercado por música e bons livros, e com uma xícara de café forte na mão. À medida que o dia passa, fica cada vez mais difícil prestar atenção a qualquer coisa. Não desligar durante a noite para que eu possa estar presente para as pessoas que mais importam para mim, grande parte do trabalho ocorre no cotidiano e na rotina e considero os prazeres e complexidades da vida doméstica uma esperança de aumentar a imensa estranheza dessas experiências.

Que experiências você quer dizer exatamente?

Eu fui surpreendida por como a essência de uma pessoa é visível no primeiro vislumbre.

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1.3 (para se aquecer)

Garcia lhe mostrara algumas saídas para esse estado. Sentia nele uma pessoa que pudera confiar seus desequilíbrios e suas angústias sem temor. Ele a incentivara naquela sua empreitada de confronto e isso lhe dava forças. Respirava melhor ao lembrar das conversas que tinham, e ter seu número sempre à mão lhe emprestava coragem. Falava sobre bagunça, sempre a bagunça, como um código. Ensinou-lhe o desejo de escrever, naquele exercício diário de descrever seu cotidiano. A ansiedade diminuíra com esse hábito adquirido (tinha um pequeno boneco em forma de peixinho que ganhara de presente fazia muito tempo) e somado a outros pequenos fóruns prosseguia. Considerava-se quase completamente liberta. Faltava pouco. Com a sua ajuda, assim que começou a enxergar a mágoa, a vida começou a fluir.

Procura algo para comer, primeiro sinal de que a crise foi controlada (não demorou mais que dois minutos). Encontra granola, leite, pêra. Precisa de sal, sente a pressão baixa, resolve por fazer uma massa. Já foi ótima nisso, fazer coisas de comer rápidas e com delícias. Faz tempo que perdeu o gosto por essa alquimia, e se rende ao básico do básico. Está ótimo e de bom tamanho. Quando não se tolera a incerteza e os papéis dourados já não são suficientes, enternece. Sabe que se render é um pouco de felicidade. Deixa o prato, copo e panelas para lavar depois naquele exercício de ‘deixar um pouco as coisas’ e se decide por uma taça de vinho. Amanhã, amanhã será um dia com muitos afazeres – tem sua lista: sacolão (batata baroa, abóbora, cebola, pimentão, tomate cereja, alho e maçã), banco (pode ser resolvido até sexta, mas quanto antes melhor), procurar telefone de um eletricista, supermercado (açúcar, leite, vinho, pão integral). Tranquilo, nada muito difícil. Se ocupar das suas próprias questões tem sido uma construção do seu próprio espaço. Morava sozinha e assim provavelmente permaneceria. Questões práticas eram tratadas com critério para uma boa sobrevivência.

Desde menina sonhara criar condições de um pequeno mundo em que pudesse desenvolver as suas próprias regras e limites, um lugar onde pudesse ter ar e de ser muito capaz de viver para si mesma – de construir seu próprio tempo. Claro que quando menina não imaginaria a dificuldade que o morar sozinha acarretava. Solidão, abandono, medo, angústia. Senta-se no computador, lê emails, classifica-os com estrelinhas (os mais importantes) e fica pulando entre o facebook e alguns blogs que acompanha. Quase quatro horas depois já adormece com facilidade.

 

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A sobrevida e os cães

A primeira vez que eu fugi ouvi vozes no mar, vi guerreiros no trem pegando tigres pela cauda. A primeira vez que fugi, vivi como se fosse uma estranha. Com sorte eles podem  falar com você como se falassem com uma criança. Abraçar um pequeno poder divinatório. Ela refere-se a pequenos prazeres da vida: você vai me deixar mostrar para onde correr? 

O desconhecido e o horror da existência (às vezes) – que nos acomete nas antemanhãs –  sobre o ser, reconhecer e satisfazer a natureza devaneante da existência se agarram em sua pele. Mas o cheiro do café nunca poderá mitificar e oferecer respostas.  Nem ler respostas no latido dos cães na madrugada, doídos latidos. Talvez se não as procurar ali, se aperceba que na verdade não existem respostas. Pode-se querer logo eliminar as dúvidas, encontrar saídas. Lá onde não inventamos uma maneira de fazer um mundo artificial ao nosso redor construindo conjuntos ou inventando-os digitalmente, possamos simplesmente ver gente.

Encontra-se paz em um cigarrinho na janela às cinco da manhã, cada trago é uma extensão de si mesma. Dê a ela o tempo de 3 ou 4 dias de sono bom e justo para que ela possa voltar para a realidade. Às vezes ela está dentro da sua casa e nem se apercebe porque o estado de espírito que dá aos que fazem o café e o pão é de viagem e observância. Talentos.

E os cães respondem que sim.

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Sua efêmera vida foi infeliz apenas moderadamente

Brevemente: Uma quantidade de tensão interna que precisa encontrar uma saída.

Empatizar com a necessidade do outro. Mais fácil vai ficando. Eu me apodero dos meus sentimentos. Pedido. Pequenos potenciais de competências, de desenvolvimento. A golpes de caneta e cassetete, o feminino era associado à errância e instabilidade. Faz-se violência na política quando se demoniza a oposição e ignora as necessidades humanas urgentes. Um pavor: decisões politicamente convenientes.

Admiro seu fogo e sua empatia e o retorno consistente para o trabalho. Eu tenho meu telefone comigo, fotografo ideias- photonotes. Não tenho um pequeno bloco de notas: é como na meditação onde não existem pensamentos errados, apenas são. Então eu volto para casa e quero escrever, aquela aversão física por perder tempo.

Reconhecer a auto-dúvida como tal. Ferver de raiva, berrar, dar pra maldição, ira e arrancar os cabelos. (Mas não tente fazê-lo publicamente. E certamente não online.) Mexa-se! Sair e dar um passeio várias vezes ao dia, regra. O movimento do ar contra suas bochechas. Ai, sentir impulso para a frente.

Pare de pensar por um instante: basta parar. Incluindo a arrogância.

 

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Mas você não pode realmente dizer algo assim sobre si mesmo

Acontece, enquanto alguma iluminação em uma justa composição, uma boa compreensão sobre si mesmo. As melhores condições dos que criam uma conexão de aparência refinada e conservadora, cidadãos de todo o mundo, sabem que ao capturar elementos humanos universais, seu trabalho permanece intemporal.

Talvez através da ação possamos realmente descobrir quem somos. ‘Mais perto da essência o sentido respira, mas nem sempre o ar puro se tem’  e agora é a hora de fazer uma pausa limpa daquilo que você tem feito até agora. 

((…) e todo mundo se odiava, exceto…) É claro que as proposições nunca param. Certamente houve provocação a um monte de gente. Mas seus interesses estão em outro lugar agora. Eu me acostumei a não olhar muito para o futuro; É melhor quando você pode começar cada dia novamente. A andar em círculos, ou as mesmas montanhas rolando as mesmas rochas,  cantando canções agradáveis.

Então jogue o seu favorito xale nos ombros, cobrindo a garganta e o coração, especialmente se as palavras estiverem erradas e os lugares também.  Pois as coisas ainda não atingiram a fruição e você tem que esperar. Faça da sua casa o seu corpo e com um garfo coma os seus loops de consciência como frutas no escuro. Deixe-os imaginar que não há música, imagine que não há músicas. Ensine às crianças como esmagar o ódio. Pegue sua faca Bowie, sua girafa de pelúcia, seu novo olho de vidro, seu chá de pequeno-almoço, suas fitas k7 do Nick Drake,  seu sorvete no pote de feijão, a sua vontade de viver e a sua vontade de chorar.

Suas mãos já de idade estão magras e bem cuidadas.

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Pensando em quintas-feiras

A confiança nunca foi totalmente recíproca, às vezes é difícil até mesmo imaginar um lado bom, então o gesto que recebe de volta é de outra natureza. Desistir das escovas de dente não é agora a questão. Fraca de forças, mergulha na nova temporada das escolhas fundamentais, com novos revestimentos de plástico. Porque a gente não devia aprender a amar quem nos aprisiona.

O desenrolar melódico como em uma caixa de música deu pouca indicação do que estava por vir. Aquele não era o mundo que quisesse fazer parte, que pudesse fazer parte. Em retrospecto, aprecia-se como um começo inocente. E que foi se permitindo uma flexibilidade em seu pensamento para novas idéias e maneiras de fazer as coisas, novos agires, novas possibilidades. Adaptar-se. Entregar-se. Se tornar maleável…  Mas isso não resolveria, não resolverá, não resolveu as questões mais importantes. O gesto que recebe de volta é de outra natureza.

Empatizar com as necessidades do outro. Importante que se fique mais fácil com os dias. É importante se reconhecer nos gestos. É importante que os gestos tenham sentido, um sentido mais profundo. E que não sejam em vão.

Depois de fazer alguns presentes finais (físicos e musicais), respira um suspiro de alívio e a oferta “de terminar algo que você trabalhou muito duro” a faz dolorida, apática. Uma peça rápida que acelera em direção ao ano novo mais uma vez, aumentando a sensibilidade. Torce por uma fé mais justa.

Eu te apodero dos meus sentimentos. Pequenos potenciais, de competências, de desenvolvimento. Mas o gesto que recebo em troca é de outra natureza. Entristece. Emudeço. A queda foi muito grande e abrupta. Perde-se o ar. A fala. A letra. É duro. Embrutece.

É uma boa noite para os pássaros e as abelhas e talvez veja novamente a lua essa madrugada. A luz da rua vindo através das árvores.
Talvez ou o balanço no meio da rua tarde na noite, sem nenhum ensaio necessário. Como estará o lá dentro? Não precisa se preocupar, não precisa se preocupar com…

Apenas aumente o passo.

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Ivana Almeida

Que tom tem seu grito?

O aperto de viver em um mundo muito pessoal e individual era real, mas desejava que se garantisse  uma certa blindagem dentro possível. Só aquela leitura trouxe um pouco de mediação entre os mundos. O problema com leitura é que parece que você não estava fazendo nada. Quando você lendo se põe a escrever, volta a ser respeitoso ao próprio corpo, produtivo. Porque tem o gesto, a força, uma intensificação da força de vontade.  Nós novamente sozinhos. Alguém que pesca desejo, lê nas entrelinhas. Ele percebe o que você não percebeu que você fez. Uma alegria muito delicada a esse respeito, grita.

Consulta, guardado debaixo do travesseiro, o manual de como começar (bem). Da estrutura da limpeza se espera um pouco mais de consciência, estrutura pela qual você não está preso à família, nem a ninguém, e está disponível para ir aonde for preciso… Os tons e as nuances que pedem a espera de um pouco mais de conhecimento. A vida passou e se aprende coisas, mas mudanças? Acho que somos sempre os mesmos. Infelizmente.

As pessoas que estão mais em contato com suas próprias emoções e seus sentimentos, se relacionam de uma forma muito mais próxima com a dor de outra pessoa  – essas são as pessoas mais fortes que eu conheço.

Bem, é por isso que você precisa ser mais inteligente e confiar, ela disse. Já tenho 75 anos e, como todo mundo, não sou obrigada a fazer nada.

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Vivendo nas ruas, dizendo que se poderá viver grande amanhã

Eu vivi nesse lugar onde o verão é quente mas as noites são frescas, em outros tempos. Por lá se anda de coração apertado de um amor suficiente e cheio de cores vibrantes, luz estourada. E você está tendo sérias dúvidas sobre movimentos que você nem conhece e a resistência começa em seu coração. Quando a gente liga o telefone, notícias, opiniões… quando a gente entra em contato com o  assalto diário do presidente sobre a nossa compaixão, sobre o nosso bem… a razão e o bom senso básico vem dando lugar ao medo e à raiva.

Vivendo nas ruas dizendo que se poderá viver grande um dia, talvez amanhã. É apenas uma vida que você não pode acreditar, é apenas uma vida que você não pode pedir. É apenas uma vida. A ameaça de que o sangue pare de circular, que falte oxigênio, é constante. Encontrar uma maneira de se fazer o que se pode, com suas próprias habilidades, em sua própria comunidade, estender a mão… Você vai ter muitas ideias brilhantes, ele disse.

A luta para se levantar das manchetes e entrar em ação é tão real e tão estranha como as maquinações de um órgão de dez onças encarregado de manter vivo todo o seu corpo humano.

O grande desafio desta era surreal em que vivemos agora é, em seu centro, no seu canto, uma pergunta feita pelos muros: Quanto você pode amar? Bem, muitos não estão começando nessa estrada e com certeza não estão fingindo, mas agora, quando ouço, faço movimentos circulares com os dedos, pensando na tola esperança. E mais ainda na necessidade da desistência dessa esperança. Você vai ter mais fé em seus valores e a realidade vai mostrar que você está no caminho certo. Porque o lugar bom de se viver não é nesse mundo branco.

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Darcy Padilla, From series Julie, 1993/ 2010

O chão é vermelho

Tinha olhos grandes e estava de regata azul com a estampa de um macaco com uma coroa de rei. Ao invés de se contentar com as distrações que o dia colocava ao seu dispor preferia dedicar-se à sua ideia fixa – a composição das cores nas paisagens. A cor pode fazer seu dia cantar. Todos os seres lutam por sua vida enquanto a mente está intimamente ligada ao que experimentamos no meio das nossas naturezas.

Eu estou bem acordada e posso ver que o céu está perfeito com um tom rasgado. É um pouco tarde e já estou despedaçada e sem fé. Então, por que não começar imediatamente?  Deito nua no chão e quero pertencer a um estado alterado de consciência. Há tanto para admirar, para chorar.Uma ilusão que nunca se transformou em algo real. E a potência do dia é a resistência.

Eu sei que quando você provoca um estado de transe, tão intenso que bloqueia a percepção de tudo o mais, delega qualquer outro o estímulo ao natural. Estar neste mundo, isto é como eu sinto, é sentir frio no verão. Estou com frio e quero escrever músicas ou poemas sobre percorrer os caminhos ao redor do mundo.

Você precisa de um pouco de escuridão para ir?

Os de modos únicos com propósitos e pensamentos, por um tempo, têm uma vida. Os pés que levam você para lá e para cá, descalços, estão vermelhos de terra. Abençoe os olhos e as orelhas ouvintes. Abençoe a língua, a maravilha do gosto. Abençoe tocando.

Você poderia viver cem anos, deixe-me ser tão urgente como uma faca, então.

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Foto Ivana Almeida

 

Quando paraíso

Acreditava que grande parte daquela estrutura, ainda que invisível, era imutável. Com uma taça nas mãos circulo pelo ambiente à procura de micro paisagens. Desejo de voltar às flores, ao sol e a todos os azuis (sentimento de afeição). Logo após um dia particularmente feliz, onde os caminhos estiveram por tanto tempo obstruídos, edito minhas imagens e sinto-me refeita, já que não precisavam de filtros. O olhar necessita cada vez menos de edição. Claramente, a mente tem um poder tão grande de se concentrar em qualquer momento que parece não ter um único estado de ser. E vou finalmente conseguir esquecer, perdoar, aceitar e compreender (…) não nessa ordem. Não em ordem.

Quando vi um dos dois entrar no táxi senti como se mesmo depois de separados eles certamente se reuniriam novamente. Separação temporária. A obviedade do que as faíscas que saíam dos dois significaria é desconcertante. Acontecem, sabe-se, quando o natural seja que se alinhem. Tenho um instinto profundo pela aurora, um trisco de racionalização e naquele estado (onde mais vulnerável) poderia ser facilmente abduzida por meus próprios delírios. A certeza acontece, pois que a incompletude gera encantamento. Pastel frito. Melhor pedir mais um, estou com fome. Sabe? O desnível da encosta era para se equilibrar. O reflexo na porta automática mostra alturas, diferenças e muito sorriso.

Aqueles que prezavam pela renovação da língua ou pela palavra nova que se inventa, ardiam naqueles dias. A violência atinge quem amamos que tornam-se vítimas no espaço onde deveria existir cuidado. Onde deveria existir a comunhão. Tempos difíceis, tempos horríveis aqueles. Há um grande trabalho negativo de destruição sendo realizado. Exigir a limpeza do indivíduo após investidas do estado com agressiva e completa loucura é infértil. Um mundo abandonando nas mãos de bandidos que se despedaçam uns aos outros e destroem os séculos. Tempos difíceis.

Das linhas paralelas se falava muito, enquanto o outono se aproximava, enquanto ainda no verão se esperava. Aqui está a nossa nuvem de diversão; poucos serão capazes de prever tal intensidade.

Tem sido insistentemente difícil saber o que realmente queremos; difícil distinguir entre amor e luxúria, entre o mundo prático e o mundo subjetivo; difícil não sucumbir àquela repugnante tendência perigosa (até um pouco religiosa) a idealizar e a julgar; difícil conciliar a proximidade necessária para a intimidade com a distância imposta e já necessária para o desejo; difícil aceitar a espera.

Queríamos dar beijos na boca e também nas bochechas.

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Carla von de Puttelaar, Untitled, 2007

Seu abraço, uma fortaleza

Talvez você sinta que tudo o que você percebeu anteriormente, do viés pelo qual você percebeu, está finalmente caindo aos pedaços. Osso por osso. Perder as formas e as pessoas faz funcionar as loucas velocidades de alguns pensamentos destrutivos. Ali em pé, na praça, olha a chuva e sente um gosto de derrota forte na boca. Pés encharcados, calça úmida, esbarrões. A chuva nos poemas é bucólica, linda, te coloca pra pensar na vida. Coisas modernas. Se você perguntar-se com paciência e cuidado sobre as escolhas e as prodigiosas lentidões do viés das coisas terá uma percepção da potência de captar micro fenômenos, micro operações. Micro-gotas. Arrepios. Dá ao percebido a força de aceleradas ou desaceleradas, decisões. Elas só estavam esperando para se multiplicarem. Segundo um tempo flutuante que não é mais o nosso e necessidades que não são mais desse mundo: desterritorialização. Estamos sem lar.

‘Eu estava desorientado’ ouviu no ônibus. Ele mesmo não é mais senhor das velocidades, e alguns andavam como se estivesse vivendo. Só penso que quero isolar-me, ir para casa, ensimesmar-me. Talvez com rádio, boas baterias, melodias. Pois o que seria um futuro bom seria no abraço. Aquele. 

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George Rodger, Pondo women of the Transkei, South Africa, 1947

Deus é a sua solidão

Talvez um projeto ambicioso, uma micro performance inspirada na solidão e no contraste entre a esperança e o medo, alçado pelo poder do mito e pela importância das palavras (lembra da dificuldade da construção do eu, aço preto).

Evidência. Anotações em pé de página: empatia – estar com. (Olhando em seus olhos, olhando em seus olhos, olhando em seus olhos, eu estou olhando em seus olhos). Brinca com a aceitação, com a ação e o movimento.

Deus sempre nos deixou sozinhas.Um contraste semelhante que diz muito mais a respeito da geografia do que da filosofia, é criado baseado no tema de deserção motivacional. Era dilacerante ser insultada sobre as qualidades do meu pequeno corpo quando eu ainda era uma criança espiritual. Sentia que tinha que me tornar fisicamente capaz de me organizar e fazer o que precisava ser feito. A auto alegria, permanência e auto preservação me impeliam contra a conformidade religiosa predominante.  A grande questão da revolução está nos objetivos a serem alcançados, não nos meios para alcançá-los. Sobrevivência.

Estava gastando muitas horas da minha vida a fazer este trabalho, e se ia continuar, eu realmente gostaria que tivesse significado para mim. O começo com o som dos sinos da igreja, soavam como se a zombar, escarnecer da nossa existência. Enaltecer esse escárnio dando facetas redentoras do sofrimento é um ato violento. Exigência da não conformidade com as regras vigentes. A impressão geral é a de um dos pensamentos conflitantes: uma tristeza ao pensar que a religião pode não ser verdade, e a difícil força de eliminar a esperança de que um poder superior pode ainda estar presente, mas em silêncio. Se vivemos situações em que sistematicamente e constantemente se amordaça o feminino pelas tradições, a reação deve ser violenta. Nada disso faz sentido algum. Não mais ficar de joelhos diante do masculino divinizado.

A solidão do som, o silêncio da palavra é um reflexo do tempo, que durante a gravação, o artista mergulhado em sua própria psique, procurando significado e independência.

A luta é aparente no desejo do violoncelo tocando ao lado, banhado em lágrimas. Muitas vezes, o desespero parece ganhar, especialmente quando uma voz distorcida entoa ‘um mundo de trevas lhes aguarda…’. Este sentimento de não pertencimento, talvez um pouco demasiado óbvio (ainda um reflexo de raízes hardcore) reflete, no entanto, as palavras: “O que mais dói é esta – que Deus não é mais poderoso”. O minuto final não seria fora do lugar em um funeral. Com um número cada vez menor de pessoas que lêem, a música pode ser a nova literatura.

Parte II: A necessidade de sobreviver  é o próximo na súmula. Por agora, muito em que pensar. Se as duas partes seguintes são tão fortes quanto a primeira, será um tríptico incrível. Cabeças e corpos por todos os lados.

Renunciar, convidar e abraçar tudo de uma vez. Preponderando a mudança.

JAPAN. Tokyo. 1996. Waiting for the tube.

Gueorgui Pinkhassov, Waiting for the tube, Tokyo, 1996

É o meu corpo

Eu sou muito sensível e um bom pedaço desagradável. Eu não sou uma pessoa perturbada nem nada, mas definitivamente uma pessoa (em crise). Se pode lidar com isso ou contra isso. Tanto faz. Havia sempre trabalho para fazer e muitas outras coisas que eu estava interessada. Encontrei-me nesse lugar de angústia e algumas perguntas por todo o caminho de volta esteve sem resposta. Naquele ano crucial… Então percebi como – isso soa pouco um clichê – em uma ação voluntária, esvaziar-se de tudo o que se é, é libertador. Não há nada lá, nesse lugar de alma. É uma ideia. É um conceito. Não é real. Estou confortável com ambos. Você pode me chamar de qualquer coisa que quiser.

Passeando sobre esses conceitos e as outras pessoas decidiram o que era ou não em relação a essas coisas. Não me identifico com essas possibilidades. Eu só tenho esses pensamentos. Eles incentivam você a fazer declarações e ser uma pessoa provocante sem ser matizada.

Mas esses dias acabaram. Nós não vivemos nesse contorno mais. Algumas pessoas ainda vivem neste mundo sombra de falta de transparência e inautenticidade. Eu acho que o mundo está nos sendo roubado, compartimentado e estamos sendo excluídos. Pela causa, há diálogos a serem realizados, o que lhe dará os elementos-chave para decidir sobre as escolhas que precisaremos fazer. A superabundância de enfeites e distrações entorpecem. E acabamos por amar nossas prisões, ou pelo menos a grande maioria.

Você realmente não pode mentir mais. Pois que havia sempre muito trabalho a se fazer e não confie em coisas que parecem fáceis. 

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Olivier Valsecchi, Couple

Foi agorinha

Você chorou embaixo das árvores domingo de manhã, bem reparei. A árvore esqueleto no vidro da janela, persiana do vento. Oh, nada é de graça, nem uma vela. Bem, talvez você possa ver e me dizer para onde foi. Folhas caídas enredam através do céu visto daqui. Uma lua nervosa incandescente do branco como o fogo, só deixo estar. E volto a respirar.

E está tudo bem agora, está tudo bem agora.

Música como na garganta de uma sereia, e estou te chamando, é minha voz. Você é um homem novo agora, que acorda coberto de sangue que não é seu. Cheio de energia proibida, cintilando na escuridão. Tinindo. Percebe que tem que romper com estruturas, percebe o que lhe falta para isto. Você chorou embaixo das árvores no domingo. Eu bem reparei.

 

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Lina Scheynius, Amanda in London, 2014

Será que você tem um monte de carinho?

2.3
Você é um pessoa muito bonita. Mesmo quando você está em pausa (e as circunstâncias a pedem), você parece não entender completamente o que significa ser uma pessoa bonita. E aquele amigo muito próximo que tem como principais qualidades (humanas) alguma paciência e doçura suficiente para um impacto direto sobre seus pensamentos irá te explicar. Chegará a te desarmar. O que você vai experimentar tanto em terra como no além-mar é que o melhor é que justamente as armas caiam. Isto é tanto uma certeza e uma verdade, mas no momento não ousaria permissão para dizer mais.

2.4

Naquele momento, isso teve um impacto maior sobre suas questões do que poderia imaginar. Uma prioridade é a amizade que você tem com ele. Sei lá se poderia  levar a gestos inapropriados de cá da sua parte. Você deve falar com ele para garantir que nenhum dano aniquile com a ideia. Será praticamente impossível de fazer, mas deve se esforçar, reforçar.

2.5

Franqueza e clareza em suas explicações poderiam levar a um debate ou uma discussão sem fim, então é melhor transmitir seus sentimentos com a esperança de que você os entenda.

2.6

Um cuidado especial para limitar os danos, porque este homem não necessariamente irá aceitar o que você diz. É aqui (de sua parte) que começa a negar uma realidade cada vez mais evidente. Mesmo que este homem não entenda você, ficará claro que não fazem mais do que o necessário. Goza de liberdade dentro dos limites que você criou para si mesma, ele repete. Tenha em mente que a água ocupa um lugar especial no toque e na pele. O seu papel não é claro, mas a sua presença é muito evidente.

conceitos-chave: coragem, originalidade, ilusão, equilíbrio, insegurança, campo, peixes, segunda-feira, mês de janeiro.

 

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Ivana Almeida

Demorei para guardar os sonhos na gaveta

Quando você for mudar, com muitos lampejos de inspiração que, se bem organizados, podem ser  certeiros, guarde o seu descanso. Que não se esteja disposto a deixar o visual mundo e se você o quer mais escuro, sopre as velas. A menos que se tenha aquela coisa assim, não espere por nada. Você é igual a mim mas eu vivo fora da cidade, e sei que você não deve mudar o endereço da sua correspondência. São os números, lapsos cíclicos, vagares, como a filosofia, como a arte, como o próprio universo… não tem valor de sobrevivência; pelo contrário, é uma daquelas coisas que dão valor para a sobrevivência.

Anda a olhar para a beleza e os significados entre os destroços espirituais que encontra jogados pelo chão. E  sentada na janela aberta (às quatro da manhã), imagina como seria a queda de costas do segundo andar. Tipo poesia, mas que se desintegra em inverdades para qualquer um que já tenha sido impulsionado pela bondade forte e amarga de um amigo, ou sobre alegrias amplificadas por uma estranha disposição em frente à crise.

Se tira força e algum sorriso é mais por mania do que por alegrias que encontra. Provavelmente você não estava muito bem quando me escreveu, sempre a olhar os prós e contras, atrás de melhores sonhos. Não faz sentido ir contra atrasos e obstruções em inspirações mais sutis. Ventos de boa sorte irão soprar em sua vida em breve, dizem as cartas (onde há uma mulher nua ajoelhada à margem de um rio) e o curso da sua vida cotidiana se tornará menos conturbado.

Uma onda de introspecção, que merece cigarros miúdos. Muitos.

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Ivana Almeida

 

 

Volta e meia

A força escura é que muda a forma da borda da árvore, todos os ventos finos tem ido para a noite e este mundo doce é muito mais velho que outrora. As artes, que geralmente oferecem mais satisfação, estão incertas. É difícil fazer uma vida sobre se está tudo bem com você… É a noite que sinto ao redor dos meus ombros quando (aqui vou eu) ouço que você foi lá fora à procura de algo para amar. Mesmo tanto tempo depois é encantador e torna-se difícil de acreditar que nós estamos caindo num instante-agora. Todas as coisas que amamos, amamos, amamos… Nos perdemos tanto em nossos corpos que, às vezes, caem quando tentam subir e ouço você procurando por algo… para amar. 

Sente-se ao meu lado, acenda um cigarro, tome um café. Me peça para relaxar, sinta-se forte. Eis os pássaros em todo o céu e ouço você lá fora à procura de algo para incendiar. As crianças erguem a cabeça em direção ao arco e nos puxam para longe. Não são as potências fortes que estão em jogo, mesmo que elas sejam mais fortes do que nós. Venha aqui sentar e dizer uma breve oração para o ar, o ar que respiramos e a ascensão surpreendente. Venha agora, venha agora. Não prenda a respiração enquanto você segue o longo caminho de volta.

Bem, eu ouvi que você foi à procura de algo para amar. Feche os olhos e prepare-se.

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Emmet Gowin, Nancy, Danville, Virginia, 1969/ 1991

Simplista

O coração conceitual está em minha mente, chamo-lhe abstrato. O que você não é mais. Você e eu? O conto deste puta sangue vai um pouco assim: parcos rituais de arte ruim e falha…O que mais posso dizer? Se eu tivesse a chance de falar com alguém, falaria sobre a vida dele e, em seguida, falaria sobre as minhas ideias.

Estou trabalhando nisso e no alto na loucura acontecem as falhas combinadas…  Eles podem se conectar e se tornar tudo, tudo o que um dia foi rasgado e assim ficou em sua vida. Mas venha comigo hoje, eu quero lhe mostrar uma coisa do meu mundo e vamos conversar sobre  como fica o gosto ruim na boca nesses dias, parece não ter fim. Já se sabe, para ser algo aqui é bom ser inadequado. Encontrar o mútuo coordenar de momentos de clareza são tão raros que até assusta quando acontece. A vista é feroz  e tudo o que importa agora é quem está aberto a ser. E quem coagulou?  E quem fechou as chances? 

Mostre-me as necessidades que tem! Deseja sincronizar os sentimentos com o os que têm compaixão, um pequeno exercício libidinoso…  a faz sentir a sua dor, como ordenhar uma pedra (milking a stone) para levá-la a dizer tudo o que for preciso.

Um último hit and roll, domar os demônios.

 

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Stacy Kranitz, From series Don’t Drop the Potato

Nesse momento

Quando o espírito se move dentro de mim, vai saber, talvez pare de respirar por algum momento. Quase tudo é convertido em memória e a alma queima. É mais forte do que eu a vontade de que os escritos tenham uma vida sob o sol. Garrafas e copos ou o que quer que se encontrasse por ali, tornam-se em silêncio uma maneira tosca de começar o dia. E passar por isso antes de se dar por si totalmente era uma forma de se sentir mais feliz. O seguro está seguro aqui com você. Já é de manhã bem cedo, ninguém está acordado e estou de volta ao meu rochedo logo acima nas montanhas. Onde noites e paisagens se misturam, carros ficam embaçados, casas e estradas que são a cara de cenário com trepadeiras e ervas daninhas.

Pego coisas que posso jogar lá de cima e fico a ouvir os sons que elas fazem em seu caminho. As vozes me chamam e dizem que vou ficar bem, e que todas as coisas que eu deixei para trás, lá poderão ficar. Ninguém soube o que se passava com ele, mesmo vindo devagar depois de mim tentando esconder as coisas que não se queria ver, ele se comprometeu a. E se minha mente ficar louca, eu nunca soube sobre a vida, verdade seja dita. Não poderia comprometer a maneira como ele sempre olhou para mim, do jeito que sempre olhou para mim… Desejando ser apenas uma folha que desce a rua pelo vento que a pegou, abriu e passou um laço bordô que a enfeitou.

Ia lentamente depois de mim, sigo com os olhos até que me ultrapasse, até que depois desapareça por trás da memória dos mais de 600 retratos que ele fez. Um mundo que foi abandonado, e imaginar como as pessoas poderiam voltar para suas vidas era um exercício diário, enquanto enfrenta a própria retirada. Pisco e imagino o como meu corpo iria soar quando batendo contra as rochas… e quando cair os meus olhos estarão fechados ou abertos?

Eu vou passar por tudo isso antes de você acordar para que eu possa me sentir mais feliz com você.

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Andres Serrano, Colt DA 45 , 1992

 

 

Eu não tenho alma para vender

Ela sugere que o que você mais quer neste momento é encontrar a força e a força de vontade para vê-la e assim, através disso, conseguir o que deseja. É importante que venha de um lugar de amor e tolerância, de não agressão. Coloque seus medos para descansar! Me ajude, eu não tenho alma para vender.

‘Eu quero sentir você por dentro / ajuda-me no que me faz perfeita / e em toda a minha existência estive falha…’   e é essencial para entender como seu pensamento funciona, a gente se desdobra, se co-apresenta melhor. E há de se ter paciência com os desvios do pensamento ético, há de se ter paciência com os copos que estão pela metade, ou de ar ou de cachaça. É o devir, vamos criar outras subjetividades, gritam as moças.

Que o devir funciona sempre a dois, para dar conta de algumas possibilidades. Aquilo que impede os corpos de se moverem deveria ser relativizado, a força dos habitantes dessa cidade será maior. Um dia nos conduziremos pelas intensidades e faremos novas alianças.

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Gail Albert Halaban, From series Out My Window, 2007

E dizem que naquela época o nosso universo era um mar vazio

Há um jardim peculiar de flores brancas perto do lado oeste da cidade, rezava a lenda que lá as flores se transmutaram de granadas. Conforto, beleza. Eu levei um fio de cabelo de sua cauda e quis colocá-lo cuidadosamente no chão, bem perto das pedrinhas. Depois, há de surgir água na minha sede. Eu sei que também foi bom para a satisfação pessoal visto o tão profundo e azul líquido que endurecerá a pele – desejo. Eu e você, nós estamos sozinhos e fugindo dos gigantes. Você, certamente mais do que eu, sabe que pelo bem estar ‘das pessoas’ quais pessoas deveriam ser.

Se costuma prezar em períodos secos, além disso, mais distantes estavam os horrores que fizeram com que do fogo sugerisse meu frio. O seu segredo pode estar exposto.

Dia após dia, tomo café com açúcar na cozinha encarando a respiração, enquanto ninguém quer saber sobre eles e para onde eles apontam. Para lá onde vou, ainda que me detenha sozinha, sabem sobre um tolo em uma colina. Uma pedra preciosa ao sol. E seus olhos vêem um mundo, um mundo oculto que tem milhares de vozes. 

Sussurre a verdade e rapidamente ninguém mais irá ouvi-lo.

 

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  Fred Stein, Swing, Paris, 1934

Encarnar

Um tempo muito ruim.

A nudez é construída, os grandes movimentos contínuos começam com os pequenos e paulatinos gestos. Atraídos para a beleza e a questão é novamente sobre o que se é necessário. O corpo quer falar, e o que foi proposto para mim foi uma experiência. Sabe que não se pode ficar presa a ela, é importante entender que as coisas não estão paradas. Aqui está como eu propus: ideias pequenas, cada vez mais sutis e fluidas… (Aqui é como meu avô percebia minha avó: a experiência do corpo como um sensor, os músculos devem funcionar muito bem).Sentindo que o aparelho poderia re-tornar o mundo audível, sorria. Letras em negrito e relevo com os dizeres: precisamos acreditar em alguma coisa.

Na parte da tarde eles iam a botecos, textura importante de vida em relação ao seu trabalho. Aqui às vezes os pensamentos críticos dominam e direcionam.Vemos os nus.Você viu os olhos. Eu vejo nus. Estávamos falando sobre esse despir. Fadiga. O arcaico ainda habita em nós.

E se encontra roupas destoantes do clima, se convence da utilidade das peles.

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Mark Cohen, Upside-Down Girl, 1974

 

Vermelho sangue

Pois que naquela época o que mais se ouvia por ocasião das tais sequências históricas inevitavelmente era o ódio vivente instalado. Mas o momento não é de agitação, mas sim de pausa. A importância de refletir agora, pois que querem fazer do nosso dia seguinte uma impossibilidade. E há momentos em que o feminino se manifesta e todo o seu senso de abundância prevalece. Uma alma que quer ser corpo e carne, e as águas escorrem pelos dedos, a saliva se adensa. A aflição entrega meu pensamento na sua mão. Uma consciência, um pensamento sobe, mas não é, mesmo nas horas mais sãs, uma consciência, um pensamento  independente. Levantou-se de tudo, calma, como as estrelas, brilhando eterna… pensamento-identidade. 

Mil maravilhas e pequenos gozos salvam os dias. E no meio dessas maravilhas significativas do céu e da terra, credos, convenções, cair e se tornar vezes sem conta é imperioso. Antes esta ideia simples, como tudo que consome e singular como assim parecem, que outras mais complexas, encham nossos pensamentos. Marcar a nossa participação em uma comunhão maior de amarguras e gosto de derrotas,  em que nunca estamos tão sós como podemos pensar em sentir.

A auto-consciência é um dos sintomas mais persistentes desde então.

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Willy Ronis, Provencal Nude, Gordes, 1949

 

Não morrer demais

Alegrias conceituais bem sucedidas são difíceis de retirar do pensamento, mas o novo bate bem as metas das probabilidades. O escopo é ambicioso: a relação entre substâncias e poesias. As fontes são originais: transmissões de rádio, mensagens codificadas, bordados, bolas de lã e guardados das gavetas. E, no entanto, apesar do que se poderia imaginar, o som permanece puro e escuro, mal-humorado e eletrônico. Pode-se creditar isso ao grande volume dos contrastes dos amores disponíveis…  Enquanto debruçado sobre as pedras, se concentra em pequenas máquinas e engrenagens. Encontrar relação dos ritmos entre o diálogo do rádio antigo e o som da água.

A imagem dominante é a da tempestade se aproximando (que atingiu nos atingiu durante a noite, imprevisível), seguida pela perda sem precedentes da vida e da terra, e, finalmente, o rescaldo.

Mas outras histórias estão em jogo aqui, também no que se refere a uma barreira construída para a tal tempestade; um preciosista, que observando que a área está abaixo do nível do mar, abaixo do nível dos olhos, brinca que podem estar cavando suas próprias sepulturas, que faz com que o tempo não vivido permaneça… não vivido…

Então, você está com medo de quê? A resposta é de ser a mesma de antes, a mesma no canto, quieta, aquela que não diz tudo sobre si… enquanto a chuva cai. A maioria sabe que se inundando apenas de uma história não se encerrará com o período de chuvas. Mas com ou sem tempestade, a água estará sempre a subir. Na tentativa de fundir ameaça e reconciliação, buscando o mesmo tipo de harmonia que sente em ouvir sua música preferida ao gosto de um café antes das oito horas da manhã, quer se aliar com a experiência.

Quer ser devorada pelo mundo.

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Eva Besnyö, Self-portrait, Berlin, 1931