Encontrando clareza no caos

Antes do policial penal ser preso, ele fez uma live porque o tiro foi acidental, o soco foi acidental, ele chorou no Instagram. Nós constatamos que, pela própria imagem em movimento, o plano de ações militares de monitoramento tiveram êxito. Depósitos altos em dinheiro vivo, onde ninguém sabe, nem alcança a procedência. Tudo registrado nas redes.

A intenção era clara, era de matar. Ela não sobreviveria nas mãos dele.

Não foram encontradas digitais na minuta, embora ela tivesse livre circulação no google. Já estava no painel as ações animadas, – vamos ver se isso vira a norma, desejou. Ser importante no processo, pacificação é o cr*4. Eles tentaram emplacar uma ideia, e nada aconteceu, omissão. Comandantes falando que, o que querem mesmo, é virar essa página.

Ações como um pensamento um pouco mais crítico e a vontade de resolução dos problemas não foram determinantes de mudança, destilava venenos. Uma gota só daquele tóxico poderia bastar, não só para tirar a vida, mas por lhe dar outra, diferente e pior.

Antigamente eu gostava de gif animado, ficava naquele encanto como o ‘movimento’ ganhou vida em fotos cinematográficas. Hoje posso dizer que, por volta do quinto segundo, os olhos e ouvidos já não estão indo naquela direção, os ouvidos irritados com os agudos, volumes, dos que ficam advogando sobre tudo nessa vida.

Um projeto contra incêndio e pânico, você se cala diante desses abusos, por conta de interesses de partes – a violência continua. Entender nosso lugar, do nosso corpo, como corpo feminino, é avassalador. Tem hora que temos que parar, senão não cessa de doer, clima de festa – mesmo que seja um teatro barato.

Sintonia final das ruas, segundo dizem – foragido na Bolívia, basicamente sendo alvo. Teve sua vontade mais bloqueada do que seus bens, onde está o erro disso, eu não estou para brincadeira, vou mostrar a que vim.

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Tem um menininho sumido. E o meu chefe acha que eles procuram somente os papéis, ele mentiu certamente. Os corpos das mulheres são campos de batalha, corpos que viram segmentos, pedaços, no olhar do outro. Mas não teve que se preocupar com a fiança. Meio abalada, meio envergonhada, ficará bem. Você teria algumas boas notícias?

Acontece que o encerramento foi espetacular. A gente pensa que um dia vamos esquecer, mas não. O gosto ruim na saliva quando vem a mente imagens de pequenos abusos. O gosto piora quando lembro da reação que tive então, como pude me deixar de lado e sorrir, eu nunca vou entender. A compreensão do que nossos corpos são no mundo vem com o tempo. Aí você se anula, acabou você. Perdi perdi, gritava antes de sentir no braço a dor aguda, que rapidamente começou a queimar, onde, antes mesmo da dor folgar, um rasgo vermelho começa a aparecer.

No início queremos pertencer. Estar junto deles que, na época, acreditava serem os ‘bons’ ‘corretos’ ‘justos’ ‘amorosos’ ‘vitoriosos’. O nosso lugar não era legal, desejamos o lugar que nunca nos pertenceria, nunca nos pertencerá. A vitória deveria nos fazer sentir bem. Então qual o motivo do caroço na garganta que não desce, que incomoda. E quem diz e mantém o clima do golpe, com alegações finais, ainda assisto a entrevistas da Dilma com lágrimas nos olhos, um pouco de ódio também. Admiro, coisas que se aprende pra vida: cabeça erguida.

Eu costumava fazer o que me mandavam sorrindo. Achava que o sorriso, como se eu realmente amasse fazer aquilo, fosse uma vingança, interna, boba e inútil.

Saudade pode ser usada a favor da saúde mental. Muitas desigualdades ainda presentes na vida, e o foco é no processo. just like you said, is not our guy. Abolição violenta do estado de direito. Do direito de estar. A gente acostuma, mas não devia.

pontos de intervalo

,quando cheguei na internet já não era mais tudo mato, já tinha um pessoal capinando. apesar disso ainda não havia passado pela experiência do luto, o Mau, bandeira da inclusão digital aprendi com ele, que ficou amigo, as mensagens não eram vazias, eram recheadas de verdade. às vezes dor, aquela revolta contra as injustiças, muito humano. Saber que morreu me dá um vazio, luto mesmo.

eu não pude ver o rosto dele, não, você tem que entender eu estava aterrorizada, medrosa que sempre fui. refúgio nas pequenas coisas, tudo enquanto subia os degraus da escada rolante quebrada lembrava de quando criança contaram a história de um menino que ficou sem os dedos do pé porque brincou nela, sorriu de leve, ainda bem que esta não oferece mais perigo. coisas feitas para educar crianças pelo medo. das bruxas, dos dedos, dos monstros.

ele perguntou sobre, meu deus, quais livros são os prediletos, quais as bandas são as prediletas. outro a fez de fantoche, absorvendo sua vitalidade enquanto manipulava. o outro a fez rir, de vez em quando exagerava, pra que ele não ficasse sem graça com a sua sobriedade, o outro a fez de culpada, o outro mentiu, sentiu na pele o ghosting, o isolamento social, o parar de falar, sumir.

sempre fumou, sempre quis fumar, sempre ainda quer. fumaça. cinzeiro. isso não muda, pensou sentindo na varanda a fumaça vinda de um outro fumante. mas agora não fuma mais.

Dois beija-flores atravessando a rua

Atravessando. Pensei que gostaria de estar tomando café numa galeria do centro, perto de uma livraria de usados, perto de uma loja de música com algum sucesso do momento tocando. Se desse sorte, seria um sucesso da escolha pessoal do vendedor e não teria televisão. Centrada no corpo que gosta de estar.

Eu tirei um dia pra pensar quem era eu. Tive que aceitar esse cessar fogo. Tendo que aceitar a flacidez da pele, da perna. É preciso uma quantidade de força imensa para ser simples. O fim permanente da guerra, detalhes negociados, continuará em vigor. Acho que para mim, é onde você vê algo com o qual se conecta e entende. Você tem que sentir algo e ressoar com isso em um nível em que isso seja familiar, talvez você tenha experimentado de alguma forma, um estado mental de pura confiança.

A partir de uma postura cada vez menos impulsiva, as situações embaraçosas seguem cada vez mais raras. Controle emocional definido com sucesso, mas assombrado pelos anteriores. É interessante a memória, quando voltamos e narramos, ressentimos.

Esse caminho foi mais difícil que conseguimos trilhar. Lançou ataques fracassados, e as nossas estruturas de defesa eram frágeis. Não dá pra voltar e não dá pra seguir adiante. Estou pelo bem estar, pela fragilidade, leveza e sutileza. Vivemos o inferno, mas podemos pensar na reconstrução com todos os nossos vizinhos.

Where is your anger?

Era pra ser uma demonstração de força.

A pele áspera na dobra do cotovelo quase envergonha.

Sempre haverá um outro tempo possível, sempre me sinto culpada, aquele desconforto perto de qualquer munição da polícia, coisa de invisibilidade social, invisibilidade violenta. E impacta diretamente na construção dos afetos. Uma pausa na rotina fazer algo diferente algo mais de vitrine um discurso com muita emoção, o que você acha? Vergonha. Isso fica pesando sempre.

Vamos nos comportar. Tentativas.

Correndo o risco de escorregar, de cair, na tentativa de manter esse equilíbrio. Depois que terminar, quem está em Arroio voltará, enfim. Todo o concreto, tanto de um lado como de outro é como uma muralha quente

Qual seria o pensamento? Posso estar limitando, de certa forma, a sua decisão.

i do love you, as pessoas querem alívio, cem por cento.

Depois de tudo que fiz por você, talvez o mundo não seja perfeito nem paciente.

Céu carregadíssimo

Não precisamos de algumas semanas pela frente para tentar entender.

Humanos e animais. Ela vem em ondas. Não vejo a seriedade, muitas vezes ela é limitada pelo erro e, mais frequentemente, pela estupidez ideológica. A contemplação do passado é a única posição que se pode tomar para fazer algo novo. Quando estava em missão, ele denunciou e naquela hora achei que não era nada, mas aí alguns meses depois descobriram que as meninas foram… embora.

Mas isso vai demorar um pouquinho. Mentiu pra muita gente. Esta foto foi tirada em 2013, impressionante. Propriedade delas, a outra mulher na foto era uma agente de empregos que conseguiu financiamento a partir de dados incorretos. Tem que ficar de olho nas contas e nas meninas. Tá bom! Quer saber, porque não sentam um pouco, fiquem confortáveis. Porque isso não pode acontecer na vida real. Desliguem os alarmes, por favor.

Era uma pessoa que tinha a tendência a raciocinar com poucos critérios e passava despercebido no gabinete. Como acontecia? Era onde resolvíamos rápido, além de verificarmos as válvulas, estávamos investigando. Nem sei porque ela estava aqui, não há indícios de que ela deveria estar aqui hoje. A Cameron tinha algum motivo, inspetora, justa. Tem mais alguém aqui nessa foto, dá pra ver, dependendo da música, escolho diferentes sílabas para cantar. Posso ser muito livre, faço muita improvisação, posso apenas cantar o que sai da minha boca. Isso dificulta seguir em frente. Quem você conhecia tinha muita coragem, talvez ela tivesse uma vida. É o que as pessoas fazem quando estão ficando sem tempo. Parece familiar pra você?

Posso dar uma olhada no seu porão? Isso seria um problema?

Depois há outros projetos onde não escrevo nada; às vezes penso em um conceito ou tema, seja musical ou apenas algo que estou sentindo ou um assunto que me interessa. Há muitas maneiras de abordar esse ofício e estou tentando ver como posso fazer ambos.

Acho que estou em dois estados.

Criar rotinas para si mesmo

Olhar de um jeito diferente para os mesmos pontos para boas perspectivas, começando a sentir um pouco de paz, com alguma luz nos olhos.

Força e energia pra concretizar um projeto, não haverá de pensar muito sobre a situação, bastará conseguir acordar todos os dias (esperando que alguém fale com clareza).

Guardava dentro dela um rádio vazio, e queria brincar de carnes, maravilhas, amor e curiosidades. Oficina embaçada era aquela, poeira, ferramentas, labor. Sempre que pensava em desistir e ir pra casa surgia uma oportunidade de continuar. A fé era parcialmente restaurada e um momento de calma se seguia. Era cuidadosa no trabalho, detalhista, gostava de cigarros mentolados que a ajudavam no autocontrole e paciência.

Barbosa, responda-me com alegria, existe alguém mais imbecil do que o presidente da câmara? Seu ajudante o olhava de soslaio, lá viriam as discussões sobre política o que fariam aflorar as revoltas pequenas de todo dia. Se acho, ouviu ele responder lá do fundo. Mas tem outros piores, tem os que propagam ódio. Breve diálogo que traz uma pequena sensação de normalidade. Embora tivesse pra si que de normal nada era naqueles tempos. Mas era suficiente para puxar as cargas e tensões da vida cotidiana. Um caso de amor ou talvez um caso que reacendeu está à mão, ali, pra ser deleite nos pensamentos e memórias.

Todas as coisas novas são possíveis, o resultado é até… você.

Ali naquela penumbra se faziam principalmente reparos em relógios (profissão quase extinta, sabia bem) e seu kit era composto por 16 ferramentas que permitiam facilmente realizar reparos tais como a abertura de sua tampa para substituir a bateria, ajustar os links dos seus pulsos ou substituição de peças. Seguia confiante, era uma última e desesperada tentativa, mas sabia que as condições externas mudavam a todo momento, embora, dentro de seu coração, queria era a brincadeira favorita que eles tinham.

Só que às vezes pode-se passar tempo demasiado entre o desejo e a sua realização, certezas.

Ilustração gerada por IA

(a)mares

Eu esqueci como você fala, eu esqueci como falar com você.  Suas mãos no meu bolso me aquecem como o sol do verão ou o calor do fogão. E eu me lembro de ter tido meu primeiro dia inditoso até então e tudo o que se quer é dirigir até que saia da cidade. Estou tão cansada de ser, não tente me abraçar agora, ergo. Suponho o que você diria, suponho o que você ouviu. Diálogos inventados, ensinados. Vou-me agora a tentar encontrar aquilo de que não preciso, logo eu, que nunca gostei de ser ensinada…

Serenidade e paz serão o modo de vida diária. Aprendeu as habilidades ao longo do caminho para construir seu próprio ninho no alto do penhasco e no que intui ser seu auge e a última parte de sua vida, renunciará à abundância e ao conforto. Mexe em seus próprios cabelos (auto-carinho) e lembra que pode ainda amar costurando suas próprias meias.

Sua memória está reservada, em todos os (a)mares. Pode parecer um evento importante no momento, devido à intensidade e à forma como o faz se sentir segurando um copo com um peixe pulando. Na mão esquerda segura um conjunto de escalas para equilibrar-se, assistência e resistência.

Eles estão se olhando muito carinhosamente. E se olharão mais.

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Quando paraíso

Acreditava que grande parte daquela estrutura, ainda que invisível, era imutável. Com uma taça nas mãos circulo pelo ambiente à procura de micro paisagens. Desejo de voltar às flores, ao sol e a todos os azuis (sentimento de afeição). Logo após um dia particularmente feliz, onde os caminhos estiveram por tanto tempo obstruídos, edito minhas imagens e sinto-me refeita, já que não precisavam de filtros. O olhar necessita cada vez menos de edição. Claramente, a mente tem um poder tão grande de se concentrar em qualquer momento que parece não ter um único estado de ser. E vou finalmente conseguir esquecer, perdoar, aceitar e compreender (…) não nessa ordem. Não em ordem.

Quando vi um dos dois entrar no táxi senti como se mesmo depois de separados eles certamente se reuniriam novamente. Separação temporária. A obviedade do que as faíscas que saíam dos dois significaria é desconcertante. Acontecem, sabe-se, quando o natural seja que se alinhem. Tenho um instinto profundo pela aurora, um trisco de racionalização e naquele estado (onde mais vulnerável) poderia ser facilmente abduzida por meus próprios delírios. A certeza acontece, pois que a incompletude gera encantamento. Pastel frito. Melhor pedir mais um, estou com fome. Sabe? O desnível da encosta era para se equilibrar. O reflexo na porta automática mostra alturas, diferenças e muito sorriso.

Aqueles que prezavam pela renovação da língua ou pela palavra nova que se inventa, ardiam naqueles dias. A violência atinge quem amamos que tornam-se vítimas no espaço onde deveria existir cuidado. Onde deveria existir a comunhão. Tempos difíceis, tempos horríveis aqueles. Há um grande trabalho negativo de destruição sendo realizado. Exigir a limpeza do indivíduo após investidas do estado com agressiva e completa loucura é infértil. Um mundo abandonando nas mãos de bandidos que se despedaçam uns aos outros e destroem os séculos. Tempos difíceis.

Das linhas paralelas se falava muito, enquanto o outono se aproximava, enquanto ainda no verão se esperava. Aqui está a nossa nuvem de diversão; poucos serão capazes de prever tal intensidade.

Tem sido insistentemente difícil saber o que realmente queremos; difícil distinguir entre amor e luxúria, entre o mundo prático e o mundo subjetivo; difícil não sucumbir àquela repugnante tendência perigosa (até um pouco religiosa) a idealizar e a julgar; difícil conciliar a proximidade necessária para a intimidade com a distância imposta e já necessária para o desejo; difícil aceitar a espera.

Queríamos dar beijos na boca e também nas bochechas.

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Carla von de Puttelaar, Untitled, 2007

E dizem que naquela época o nosso universo era um mar vazio

Há um jardim peculiar de flores brancas perto do lado oeste da cidade, rezava a lenda que lá as flores se transmutaram de granadas. Conforto, beleza. Eu levei um fio de cabelo de sua cauda e quis colocá-lo cuidadosamente no chão, bem perto das pedrinhas. Depois, há de surgir água na minha sede. Eu sei que também foi bom para a satisfação pessoal visto o tão profundo e azul líquido que endurecerá a pele – desejo. Eu e você, nós estamos sozinhos e fugindo dos gigantes. Você, certamente mais do que eu, sabe que pelo bem estar ‘das pessoas’ quais pessoas deveriam ser.

Se costuma prezar em períodos secos, além disso, mais distantes estavam os horrores que fizeram com que do fogo sugerisse meu frio. O seu segredo pode estar exposto.

Dia após dia, tomo café com açúcar na cozinha encarando a respiração, enquanto ninguém quer saber sobre eles e para onde eles apontam. Para lá onde vou, ainda que me detenha sozinha, sabem sobre um tolo em uma colina. Uma pedra preciosa ao sol. E seus olhos vêem um mundo, um mundo oculto que tem milhares de vozes. 

Sussurre a verdade e rapidamente ninguém mais irá ouvi-lo.

 

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  Fred Stein, Swing, Paris, 1934

Com a pele

Está se fechando demais, siga até eu ver onde você começa a se esforçar em tempos tão apertados. Quarenta horas para sair e verá quando os copos quebrarem no chão. Então vai ser tempo para crescer e eu vou tocar seu coração.  E siga até eu ver onde você começa a arder.‘Debaixo de montanhas cobertas de neve vou partir seu coração eu vou estar sob sua pele, vou partir seu coração’. E siga até eu ver onde você começa a quebrar a cara de todos eles. E o muro desmorona. Um momento íntimo de auto-reflexão e remorso. Me apequeno se questiono as coisas muito, e às vezes isso me leva a muito pouco, bem longe do possível. Auto-sabotagem mesmo diante da oportunidade de felicidade diante dos próprios olhos. Às vezes é mais fácil deixar o ego dominar e às vezes você fica preso em um momento que lhe dá alguma clareza. Um desses momentos: uma fração de segundo de atração que se transforma na percepção de que o que já tem ou teve é muito mais real e significativo do que o que está acontecendo lá, naquele momento. As relações são como tudo na vida que insistem só porque você está profundamente apaixonado por uma ideia, não o impede de ser cegado momentaneamente, fatalmente. Está tentando reconhecer esse traço e lutar contra esse instinto. Não há tal coisa como a perfeição, mas todos nós podemos tentar ser pessoas melhores, não podemos? Disse-lhe que nunca voltará para casa e se essa vontade se transformar em uma onda, deixará você sozinha. E a sua vida tomou um rumo estranho, desnorteando você no meio da noite e a noite se transformou em dia, e sua menina disse que te amava.

 

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Kris Knight

Interior

E o seu coração montou em uma onda negra e sussurra que nunca voltará para casa.

Não olhe para baixo, eles estão fazendo sons loucos neste campo de batalha vazio. Não olhe para baixo. Não sei quem mais veio para ajoelhar-se. Hoje à noite tome uma dose, fume uns cigarros, tome sereno e deixe o rubor subir pelas pernas. Não são as vermelhas roupas que veste que irão aquietar os batimentos que insistem em doer. Há algo, mas não olhe para baixo. Sempre venta.

Explodir as coisas em preto e branco com fogo nas mentiras, tenha-se coragem. Ontem ele se mudou, hoje ele foi traído e na rua ali, no chão, os vizinhos se reúnem em volta montando guarda, lembrando das coisas que ainda tem que se cumprir mesmo que de forma sórdida.  Uma vida de trabalho, inúteis em prontidão. Não olhe para baixo nos próximos dias, tem um som ruim vindo de lá. O que você faz com uma vida de trabalho?

Segue no transporte para o campo de batalha para enfrentá-la ainda na parte da manhã. A separação dos caminhos da alegria é o choque que terá que vir. Por causa do que você quer? Ainda dói e só dói quando dói a vida de pensamento, no início da manhã, no meio da tarde e no início da noite. Comer ou ser comida? Eu sinto a fome nos olhos. Há algo, mas não olhe para baixo, eu sei quem são essas pessoas e sei o que elas representam. Marcas de mãos nas paredes, a saída comum é dizer a verdade e paredes marcadas podem destruir o pensamento de perfeita civilização ensolarada.

Truques e ensaios aguardam a criança. São apenas mais algumas noites a se conquistar.

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Edward Hopper

Cantarolando

Na parte da manhã quando eu acordar e o sol estiver atravessando a janela, você encherá meus pulmões com doçura. Preencherá minha cabeça com você. Devo escrever uma carta? Penso pedaços de uma música que eu não consigo esquecer e deixar sair. Eu posso estar perto de você? Posso levá-lo para uma manhã de sol e café imaginando campos pintados de ouro, lá onde as árvores estão cheias de memórias dos sentimentos, nunca te disse?

Quando a noite puxa o sol para baixo e o dia é quase completamente seu e todo mundo está dormindo, mas os mundos são você. Posso ser perto de você? (Ah) oh  [assobios]. Já faz um tempo que, então, eu realmente gostaria de conhecê-lo, mais, você sabe. Eles cantam uma canção assim, gostaria de ir até o horizonte. Apenas para você todas as lisuras estão girando em mim e tudo, tudo aquece. Lá pela linha de tristeza, sim todas as menos definidas listras dos gatos mais frios. Mas então estar-se a refinar, oh sim. E eu quero ver coração coração coração coração e alma.

Coração e alma porra, meu coração e alma. Por instante.

Sabrina Arnault
Sabrina Arnault

Sobre amores

Talvez dez segundos se passaram antes que eu observe os dois irmãos por trás da cabine, segurando o riso e sorrisos como se eles guardassem um grande mistério. Me viram e rapidamente desviaram o olhar celebrando a ciência e seus segredos guardados a quatro mãos. 

A Lua intensificando sentimentos, pensamentos e a intuição (alegria, abundância e amor). Murchei com a mansidão do dia. Ao lado uma velhinha ganhou uma flor para colocar no cabelo. Ela ria, pensava bobagens, certamente. Nós usamos as histórias de nossas vidas – às vezes até mais profundamente, através da membrana mais interna, física mesmo, que te separa do mundo.

Faziam anos que não o via, a gente se gosta né, o carinho transborda. Sentem-se como sempre. Você está linda! Sempre assim que começavam, aquela prosa solta, boa. Mas eu envelheci. Mas isso não é ruim, é a pele que é diferente na forma como estamos com nossos próprios ossos. É bom. Olho para ele e o admiro, sempre o admirei. Uma fortaleza. 

Você é a aquela pessoa que se pode falar sobre a sombra de uma nuvem, sobre a canção de um pensamento, sobre arte, sobre as micropolíticas nossas de todo dia. Mas conversamos mesmo sobre a pele – esticada, sensível, enlouquecida. Os amores estão longe, uma pena, só mais uns dias. E a Madame nos calou. Estávamos diferentes, estávamos bem. E bonitos até não poder mais. 

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Experiências de fé

É como tocar a lua com os dedos dos pés. Se emocionava quando lembravam dela. Era como se fosse um pouco menos invisível, tão acostumada estava a ser ignorada. Não sabia como era se sentir querida.

Quer dizer, até sabia, mas muito pouco.

Dita. Falada. Pronunciada. Acostumara-se a sobrar, a não pertencer.

Agora queria uma família, uma família construída. Uma família sua. Daquele seu jeito. Pensou em aprender a falar sozinha, mais vezes, quantas conseguisse, pra aprender a ter voz. Aí não importariam os outros, as outras vozes. Ele disse: são apenas rótulos. Ela pensou, rótulos pesam demais, não são ‘apenas’.

Ela desejava que cuidassem dela porque sempre fora boa. Boa e quieta. Sempre tivera juízo. Era uma plenitude acreditar que alguém lhe recompensaria por ser tão certa. Ela perdera essa crença fazia tempo. Estava inevitavelmente sozinha desde então. Mas agora, agora, conseguia construir muitas pessoas dentro de si. E conseguira abrir seu coração às pessoas que pareciam que tinham algodão por dentro. Profundas e leves. A porta de cima ficaria sempre destrancada. Escancarada, melhor.

Estava um bocadinho séria, agora. E cheia de amores.

 

 

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Foto por Flávio de Aquino Carvalho

Rotina

Tudo parecia diferente, afinal. Coração pequeno, cabeça miúda pra pensar, braço dolorido. Estava ali pra fazer também perguntas tolas.

(Há tolice no amor?).

A gente não tem juízo para coisas de antigamente. Às vezes mais enfezada nos modos, enfezada nos sustos todos da vida. Que fosse sonho para se esperar e para sentir, uma coisa tão pouca de se querer. Tão pouco de se esperar. Queria ter grandes sortes. Havia de enfurecer. Pensara que havia algo dentro de si que a esperava, para quando sonhasse. E ela respondeu: que sejam por coisa nenhuma até que sentires coisa nenhuma. Que sossegasse. Mas o sossego durava coisa nenhuma de tempo.

Perguntaram-lhe: tens pressa? Ela disse sim, que era um jeito de dizer que tinha medo.

A secura de tudo. De todas as águas.

 

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Jacques Henri Lartigue

Ele adora torradas e farofa

Depois não falamos mais nada, não pensamos em mais nada, nada mais a gente quis.

Quando encontrar, guardo no bolso as histórias. Tremi, e a tremura é tão deliciosa como um encontro justo e firme de dois em um pensamento.  Internacional e acidental (mas ele é do mundo, não é daqui). Uma vontade derradeira (de nutrir laços humanos íntimos – o afeto, o desejo apaixonado e amizade) ameaça uma certa descrença (coisas de antes). Uma certeza absurda (custava a acreditar).

A relação mais rara, mais profunda. 

Nós temos muito mais bondade do que é dito. Eu gosto dele e ele gosta de mim. Nós usamos os nossos olhos mas o olhar está olhando, levianamente, aquele desenho no braço, aqueles escritos na pele. A partir do amor apaixonado eles fazem a doçura da vida. Os nossos poderes intelectuais e os princípios ativos aumentam com o nosso carinho. Dar uma pausa rápida em tudo o que era.

Eu sou tudo dormente, eu juro. Ele foi-se embora. Vi-o por um minuto, de relance.

No espaço pequeno, de manhã, quis café, quis cappuccino, quis torradas, quis banho. Quis sonho. Quis. 

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Helen Levitt

 

Com o sol queimando em pedra e carne

Desejando sobrecarregar o belo, se refazia a cada sorriso imperfeito. De canto. Amarelo. Era de uma maneira que não seria capaz de capturar esse sentimento de reverência, esse sentimento de flor. Terrestre por demais. Diriam nas condições normais da vida que tinha que fazer alguma coisa, ir para o próximo passo, qualquer um que fosse –  e que o próprio era uma fonte de amor espiritual.

Sentira como se o ruído, assim como o silêncio, barrassem toda via de acesso ao outro ou pior, a si. Um convite. Um brinde. Uma taça. Saúde às profundezas. Houve sempre um esforço pouco nobre de desacreditar-se do outro, já que o bom senso poderia parecer teimosia. (Caretas de êxtase  a profundeza, ali, do seu canto). Se me perguntassem diria que nunca nos encontramos.

Alguma vez, com a certeza do amor revelado e a promessa de felicidade, enigmático e poderoso graças à sua fraqueza, existira o desejo de nada entender. Como quando se caminha sobre copos de água. Estava cansado e pronto para cair de exaustão quando um amor se fez visível. E se você dormisse, e se você sonhasse?

Mas na minha mente ainda me diziam: “Depressa, depressa, depressa”. I don’t wanna to know.

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Bill Jacobson

Ou seria engolida pelo tempo

Chegou na hora exata, como um sinal, talvez até divino (talvez  exista alguém pensando em mim agora…). Organiza sua vida ao redor disso, desses pequenos sinais. Naquele momento só consegue pensar na oportunidade que a vida oferece de  fazer pedidos para o universo. Suspira. Eles se abraçaram novamente, e então desataram a falar. Era um indicador de um amplo potencial, potencial afetivo, sabe, diria ao psicanalista mais tarde.

Porque aqui eu sou o lugar, o lugar é aqui.

Porque estereótipos limitam o amor, porque os rótulos limitam o amor. É muito sensível em relação a como os outros a acolhem (ouviu dele). Com notável ambição nos olhos lia nos trechos rabiscados em pedaços de guardanapos que guardava na bolsa “se aqueles que começamos a amar soubessem como estávamos antes de conhecê-los … eles poderiam perceber o que eles fizeram de nós”. Suspira.

O que podemos é fazer uma aposta! Tolice (decadência, sintoma de esgotamento). Aqueles que preferem os seus princípios aos infortúnios dos amores, sua felicidade, sim, aqueles eram fortes. Que besteira. Se recusam (apenas) a serem felizes fora das condições que parecem ter anexado a sua felicidade. Eu te amei como pude.  Às vezes sinto-me atravessada por uma imensa ternura por pessoas ao meu redor – grito mudo. Como o grito usado nos antigos clãs para inspirar os seus membros a lutarem pela preservação. A sua apenas, talvez já bastasse.

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Fan Ho, White tent, 1960, from series Living Theater

 

 

Ou mais precisamente,

De um significado infinito (o segredo) lento e preciso, pousou como uma névoa suave descendo sobre os últimos dias (não desanime). Enrouqueceu, a respiração suspensa devido à natureza da semi-improvisação, como um fantasma que tem medo de ter morrido. Deixe suas cores gastas, seu peso. Impressionam na disputa levantando-se no ar, num pulo ágil e bonito, como se tivessem vida própria e exigissem serem ditas – as palavras. Mostrou algumas curvas e espirais na bolsa e saiu a rodopiar. E seus sonhos? (Os meus sonhos estão em silêncio). Você  nunca pensa neles? Articulação. Sempre esperei (esperarei) um sinal seu. Antes do café, antes de cuidar dos dentes, antes de trocar a roupa. Antes. Nem precisa acordar, acordar, só abrir os olhos já espero um sinal seu. Deveria estar dormindo à essa hora. Então começa a escrever, palavra por palavra. Diziam que de longe era melhor. Com os dedos na boca percebe que a raiva é uma forma de tristeza.

 

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Amor em líquidos

Com cheiro de terra úmida e fértil, não conseguia sossegar. Estou adiando o silêncio. Tentou a palavra, mas ela cortou demais, doeu demais. Ela e seus múltiplos orgasmos eram sua usina de força em um arranjo maravilhoso desse esboço de ecossistema dinâmico do corpo.  Uma invejosa habilidade de produzir espasmos partindo do ventre em direção ao peito, pulmão e coração. Era o que se podia resultar desse impulso.

Sabia que deveria olhar os poetas para que não pensasse que esse tipo de auto-cortesia era injusta. Deitada no mato sentia o corpo espetado por pequenos gravetos que conseguiam atravessar o lençol que usou como leito. Queria o amor maior, natural. Um dia quis ser isenta do clímax e se permitir o mistério. Roçava levemente as coxas nuas no tecido, prolongando a viagem de volta, ainda que não tenha estado em lugar algum. Sobre memória, perda e culpa – já intuía o que viria a seguir. (Olhe nos meus olhos e fale sacanagens).

Um sentido, um nome, um corpo, carne. As coisas ausentes não mais eram.

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Emmet Gowin, Edith, Danville, Virginia, 1972

 

 

Oi. Sou eu.

Ouvi ao longe, e aí a voz disse novamente… oi. Uma coisa se acendeu em mim, para mim, justo por isso – sussurro de quem sabe que é esperado. Demorará um bom tempo até que se acostume com a luz muito mais clara e mais abrangente do que a que pode ser adquirida em outras lojas. Até que a gente esqueça o som de determinadas vozes interiores… É impressionante como o filme (remake) ainda consegue surpreender. Já ouvira aquilo em outras circunstâncias – sempre quis falar. Esse entendimento começa com a própria palavra: coisas que mesmo esbarrando em tudo não deixam de ser notáveis. Peguei a luminária, a lâmpada sobressalente, cartões, panfletos e saí. Não deixa de ser triste o lamento da mercantilização da sabedoria. Uma xícara. (Como também não é recomendada que a nossa realidade seja construída em algo que tentamos subjugar). Nosso lado mais distinto impede que se faça graça do óbvio. Num momento isso me encantou, porque suas asas têm brilho. É para encerrar essa conversa, enquanto os danos não são tão grandes assim, manda a etiqueta. Ser o que se deseja, a partir de uma leitura casual, fundamental para manter as emoções equilibradas, e apreciar com gosto a euforia de estar no todo que esse encontro proporciona. As noites prometem, sorrio, enquanto sinto que as palavras não têm vida própria. Só à noite.

 

 

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O homem pela primeira vez aparecia em movimento naqueles dias

Um achado: começa com um vagabundo na rua, velhas roupas, velhos sapatos… mas é sempre essa tristeza.

Urgente, emergencial.

Presságio de um momento de batalha e muito esforço, tudo interfere em tudo. Um recolhimento para fôlego para nova aproximação. Fato que está por toda a parte. Ilimitado, indefinido ou infinito. Gostava de acreditar que a realidade última era sem fronteiras. A destruição ocorrerá na medida da necessidade. As lágrimas vêm aos borbotões.

Infinitos mundos.

É urgente. Era urgente então. Será que saberemos enfrentar tudo unidos? Sentiu-se bem. Amor e guerrilha. Objetos, coleções, guardados… isso tudo traz algum espírito de felicidade e um presságio de conquista de boas relações. Afeto. Assim tudo tão frágil no horizonte. A vontade é de firmeza de dentro do dentro.

 

Está tudo nos livros.

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Laurent Chehere, from Flying Houses series

 

 

Triste, porém alegre.

Queria usar roupas vintage. E fazer as pazes com meus seios. E ser profundamente emocional e sensual. E ouvir música clássica contemporânea até que a arquitetura sonora entorpecesse. E ser em preto e branco. E ser perturbada e violenta na minha apatia. E não ser indiferente à tristeza e à pobreza. E ser audaz. E que o movimento seja um arrasto. E nua. E curtir links. E ser dolorosa. E que eu não tenha que escolher um final para mim. E estar alegre todo dia. E ser fotografada. E ser experiente. E inabalável. Quase uma pedra. Enfrentar com coragem e paciência. E ser fria e terrivelmente silenciosa. E ter cores de chumbo nas unhas. E beber alguma coisa qualquer e engolir minha chatice com biscoitos.

 

Quer dizer que a escolha foi sua?  Nevoeiros são muito comuns aqui.

 

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Francesca Woodman

 

Delicadezas

Tranquilizar a imaginação enquanto toma café com bolachas, diz seu horóscopo do dia.

O gesto de “fechar os olhos e tocar o nariz” tornou-se um pequeno ritual em dias de crises (essa habilidade aumenta com da prática) – como forma de lembrar que tem um corpo – rapidamente se estende para o pescoço, ombros, braços. (Suspiro). Interrompe os toques que já são arrepios e sente sede. É um teste para os sentidos. Estão todos aí, prontos, mostrando seu corpo como realmente é. Este meneio lhe dá a capacidade de dizer onde suas partes do corpo estão, em relação a outras, e espera alcançar o ápice quando conseguir perceber onde estão em relação à sua alma.

É uma sobrecarga nos músculos.

Relaxa e tensiona (como quando se encosta em alguém que deixa sua pele como que dirigindo bêbada). Ser – migo comigo mesma. Este sentido é usado o tempo todo em pequenas formas, como quando você coça seu pé sem olhar para ele: nem para sua mão em relação ao seu pé.

E não há um libertino, que esteja um pouco dentro do vício do corpo,  que não saiba quanto o desejo tem de poder sobre os sentidos…

Hoje nos meus sonhos voei, com seios nus, passeando entre as nuvens brancas gigantes. É a angústia do sagrado, o temor diante da eternidade. Solidão. Segui com medo até o encontro com as já dissipadas nuvens em forma de neblina, deleitando-me no espaço esbranquiçado, como se tudo até então não importasse tanto. São poucos os dias em que alguém pode sentir-se antecipadamente alegre e vívido por apenas estar ali, em um segundo – apenas um segundo. Senti o corpo novamente em aceleração, acariciado.

Então o céu desmanchou-se em um banho sobre meu corpo (já nu). Sigo buscando delicadezas.

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Cédric Delsaux, From series 1784, date unknown