Um cigarro entre os dedos

A luz vinha do corredor enquanto ela descansava a cabeça no seu peito.

Eles entenderam cada peça mas não conseguiam vê-las como um todo. Acordou de sono intranquilo e a queda teria ocorrido de qualquer maneira. Falou da lua e da noite e das botas cheias de lama. Não conseguira entender o que eles deveriam fazer ou às vezes até onde eles estavam, ou deveriam estar. Foi-se o tempo que ser beijada por um anjo era um casual encontro de dois mundos, sem trono, sem realezas. Confissões inconfessas, intensamente o que é mais importante não é dito, nunca é dito.

Queria fazer uma música. A diferença é que talvez você não perceba o magnetismo que há entre eles e o controle dos corpos, corpo controlado. Ao sabor da decepção com a reação ‘ela gosta de’ e em seguida ‘você não vai ser a mesma’. Experiência única. Não me peçam para ser mais precisa! Essa proeza só fazia crescer o (des)limite. Deixou crescer a barba em pensamento, comprou um par de óculos para míope e passava as noites espiando o céu estrelado com um cigarro entre os dedos.

Traduzindo em miúdos: a fumaça em loop.

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Ibrahim Mahama

 

Deixemos o simples

Gradualmente entrar em sua fase a fez praticamente intragável. Alguma coisa no seu coração. Na primeira noite eles se aproximam confiantes com um passado sólido. Por pressão, o homem foi encontrado morto e o rigor sobre qualquer atitude suspeita inibiu os carinhos. Um lugar é e se reconstrói – é o que as pessoas projetam nele. Tratou do abandono sob severas condições, riscos calculados e forte planejamento. É um lugar em que está se esforçando em entender, aprecia a estabilidade e a plenitude  tentando perceber qual seu próximo futuro. Já que tem oscilado muito ainda e se fechado profundamente no seu particular, não esquece de que é filho de uma pessoa muito tranquila. Ele usa o mesmo ônibus para ir ao trabalho. Ela alheia ao uso de outra pessoa, apresenta movimentos musculares involuntários, dos bons, e em muitas coisas pode ainda estar se sentindo. Fraca?  Parece ter uma predileção pelo doce e saboroso. A vida de uma pessoa que está a viver uma contradição total… tem que ser difícil.

Você é um complexo minimalista que sempre tem coisas importantes a fazer. Que está sempre fazendo as coisas funcionarem.  É ótimo por tratar-se de coisas incríveis. 

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Os efeitos no rosto

A vida passou para todos e fugir dos quatro avisos não houve qualquer problema, não fossem as ocupações excessivas, obviamente. Maravilhoso. O ajudante na deterioração dos sentidos – na pele – recusou-se a nos receber ou abrigar-nos como a sabedoria da vida proporcionaria a uma boa alma.  Um excelente querer está sendo dispensado e ninguém pode escapar da doença e desses efeitos. Lembrando que essa deterioração física é vivida como um rito de passagem ou até mesmo uma obrigação.

Terá de ser reinventada pela esmagadora maioria dos que não se conformam que esse mundo é um tanto quanto limitado.

O ato de não poder angustiava. O que acontece é que cicatrizar escondido hoje é o que restou da ação e foi o que lhe deu a emoção. A forma como ele se apertou com uma corda de violino até gotas começaram a partir dele, gela. E a forma mais eficiente ou do jeito que ela quebrou e jogou água a esconder seu pânico, até encontrar um lugar para ficar sozinha e desmoronar quando ele pulou. Doeu fundo tudo pra saber qual a animosidade era contra naquele momento. Uma vez que você começar a soletrar palavras, algumas respostas vêm.

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Os absurdos foram terreno fértil

Propôs no começo da década e era,  aliás é, como você vive no mundo onde eles acreditam ou fazem algo que outros não conseguem fazer. As alegrias e sacrifícios mal disfarçavam o desejo de se diferenciar. Era que seriam melhores que da outra vez, isso simA questão dos abusos não-verbais radiantes e inspiradores estão na verdade extrapolando o denso e raro em seu meio. Sim, deu positivo. A letra do bilhete insinuando que rejeitara todas as preliminares, não raras vezes, de forma errônea. Dizia que poucas têm coragem de tocar e de traçar um caminho mais longo.  (Rejeitou todas as preliminares).

Então como eu posso ter as três estrelas que riscam o céu? A noite, afoga-me. Ele chutou minha bunda, e como então dirigir sem que ele não se sinta ainda pior?  Antes de pensar nos seus efeitos que se mantém pela vida toda,  eu fui pra casa. Foi quando  me diverti transitando o tempo todo entre essa pessoa que foi  notícia tardia para alguns, e aquela menos fragmentada. Mas muito além de mobília exótica, passaram a ter acesso a populares acessórios. Não foi a única de quem me desviei na rua. Tem donos, apanhado de emanações, como diz a poesia de um menino. Eles aparecem à noite e você tem que aprender a viver naquele mundo. E não é isso, é o gênero. 

Depois, ainda comprou uma maça vermelha e saiu com ela nos dentes.

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Um toque de leve

Agora é deixar de molho, posso entrar pra tomar café. Uma possível overdose neste local, pensava enquanto a água fervendo no fogão chamou atenção. Quase famoso esse café, quase um prazer e quase que se permite uns minutos de letargia. Tinha uma grave e crônica exaustão mental, e silenciar-se era o que mais almejava. Falava uma certa ingenuidade desse estado frágil, mas não perdera fé de que se recuperaria. Me lembro que encostei nele, falei umas sacanagens… ríamos muito, de um jeito que surpreende. É como fazer tudo como a primeira vez. Sem água, sem comida, sem cordas de segurança. Flores artificiais no cabelo ganham status, é permitido abusar. Acho que o futuro talvez se arrependa dessa desconstrução.

Ele alisou a minha mão com o dedo e disse que estava feliz de eu estar ali.

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Reagir a cada frame

Até que nosso coração insista em ter nossa mente conduzida, o que por muitas vezes não nos impede de cair no que distingue a textura de cada imagem de um sonho proposto,  nos arriscamos. Nosso cálido branco recém limpo da parede contrastava com o azul de fora da esquadria numa impressionante força para o alívio e calma.

O pulmão com uma boa carga de fumaças devidamente apreciadas reage aliviado quando você pega um conflito e tenta extrair dele visões românticas a partir de músicas, com uma persistência de buda,  até que nossas glândulas lacrimais estejam reagindo a cada frame.

Age por trás do olho, perfumando, prestando atenção na continuidade de cada pedacinho de tempo como se carregasse no corpo os olhares que eles proporcionam. A trilha sonora inventamos o tempo todo sem saber. Sempre existe, com ou sem música de fundo. Parece que o banho é aquilo mesmo que lhe limpa, refresca e cheira. E, do jeito que surge, um processo de construção cinematográfica da vida recebe cuidado e carinho. Eu deixo a comoção em torno de mim nestes dias diminuírem um pouco antes que eu derreta. Como uma menina boba caminho levinho por aí.

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Entrelaçamento

Acima de tudo era uma série de breves cartas que procurariam explicar como um mundo é mais forte e o que o torna assim. Aqueles diferentes de nós (sempre) a sair de nossos preconceitos e limites ensinam cuidar de si e de sua pele.  As imagens não registradas mostram  o quanto alguns viajaram para o passado dispostos a refazer o retrato com frente e verso. Narrativa fílmica que se segue nunca foi e nunca será mais do que um maravilhamento da espera, e da paciência, da atenção à multiplicidade das sensações, da consciência da mutabilidade do universo, da reflexão, da busca, da persistência. Brindemos então à pura alegria, à absoluta liberdade. E no entanto é plural e como poucos chegou às vistas revestido de lenda viva. E há sempre as estrofes dedicadas ao “soninho” e ao “carinho” – urgência incomum. Gastara apenas vinte e três segundos. Carregou-se rapidamente em alguns símbolos momento a fim de manter as emoções equilibradas (rs). Puro magnetismo.

 

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Um corpo que não se pode controlar

E tão destemido é nosso corpo quando tocado de uma forma afetiva e real,  se aspectando harmoniosamente alma e pele. Focando menos no que os separa um do outro e mais no beijo com mordida. E quanto mais cuidavam mais se apegavam. O que é isto? Onde é que vão se amar? E vocês tratem de encontrar, ou ela mesma tomará uma providência antes do fim da semana. Mas nem todos queriam assistir àquilo, na casa de Emanuela. Viver daquela forma parecia perfeito, e quando chegar, seja razoável. Ainda há muito a aprender.

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Laços reais e vigorosos

Existem novas possibilidades afetivas a se reforçar posteriormente com uma sobrecarga seletiva de memórias. No sistema viciado que culminou no trabalho dessa conquista: quatro não é um grande número, nem de longe a metade, muito menos a maioria numa forte insegurança que os perfeccionistas têm. Irresistível alegria de não saber, assegurar a própria existência a todo custo. E por prudência toma medidas para que não. A porosidade fundada no isolamento e na inatividade, entre o aborrecimento e a miséria como uma forma de paz, darão espaço a novas forças da natureza capazes de se desfazerem rapidamente. Uma habilidade adquirida.

Não sem uma excelência acadêmica estimulante quando em quantidades excessivas, os frios e borboletas no corpo foram sentidos como prova de que vivia algo real. Durante muito tempo percebeu que não se deixaria enredar se apegando a não-brilhantes acontecimentos. Quis e assim o fez com grande carga de emoção.  E novos laços ricos em tramas e criações estéticas explodiram igual cogumelo (o que foi considerado uma raridade – mesmo dez anos depois).

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Toco a sua boca com um pensamento

Como se fosse pela primeira vez, sorria debaixo daquele véu que torna todas as coisas rendadas. Onde que os corpos abandonaram as almofadas, os lençóis, os beijos e se perduraram seres em estado de fraqueza e pouca nitidez. E que de pé, sua mão e sua boca entreabrissem e basta-lhe fechar os olhos para desejar salivas. Desfazer-se de tudo mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nos seus ocos, onde um ar pesado vai e vem, levantando levemente aquele tecido que já se manchara de batom (rubi) de tão próximo que estava do seu rosto. A voz, a voz ficava dentro de nós.

O véu aprisionava, protegia, e ali ousava desejar, pensar, sentir-se e quando tinha ímpetos, tocar-se. Tudo com um perfume antigo e um grande silêncio. O fôlego ainda juvenil, um pouco às cegas, seguindo o andamento da narrativa. Sem isso nunca iria saber o desfecho. A certeza de que aquele amor exacerbado não cabia em si, em todos cantos há aquele desespero também. Mas soou mais úmido que antes, as palavras queriam esgotar o excesso. Um brinde à amizade (im)possível.

O véu e ela própria seguiam pelo corredor, com as mãos postas para receber o alimento sagrado. O ápice de  gozo silencioso que é puro corpo, pura solidez.

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Daido Moriyama

Anel no buraco da parede

Me dá de volta, ouvira ao longe, seguido do choro, palavras, o que a essa altura já havia esquecido tudo. Chegara a fazer uma lista com objetivos a serem cumpridos de bom grado. Infinitas tarefas.  Sem ele podia se deixar ser com maior tranquilidade. Fiquem vendo, displicência ao descer as escadas, andava descalço, falara coisas não muito dignas, ria alto. Ela disse que não conseguia entender o que ele disse. Ele disse que sim, que ela entendia. Ahn, isso entendia. Ela estava discutindo revoltada contra si mesma e estava convencida de que merecia trabalhos forçados num país distante. Era quase impossível remover essa sensação de quando está bebendo água quando fugiam no deserto para o oeste.

 

Novas forças.

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Aceno

De fato, ela tinha razão. Esse seu amigo a pegou pela mão e ali percebeu que talvez nunca sentiria tanto tesão por outro toque. Seguia por aquele corredor escuro e gélido acompanhada (pela primeira vez) e como uma forma de sensibilizar a pele uma ligeira umidade se concentrou na sua nuca, e ali desejou que suas mãos ainda estivessem secas e não-trêmulas. Suspira, enquanto sente seu corpo ficando erógeno da cabeça aos pés, e na tentativa de prolongar o corredor e os arrepios, anda devagar e para como se dissesse: chegou a nossa hora. Ela não queria nada mais que isso. Tudo parecia parado demais, ausente. E essa lisura da pele lhe dizia mais uma vez que estava mortalmente apaixonada. Com um pequeno solavanco o casal prossegue a caminhada, agora ritmada. O corredor já estava acabando e via a distância a ser percorrida (juntos) inexistir. Aperta levemente os dedos agarrando aquela palma de mão sentindo um bem-estar inusitado que apontava para o desfecho. Um minúsculo aceno. Pega o espelho na bolsa, e tem medo de não encontrar a mesma cara de antes.

 

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Deixar paisagens

Ela acreditava que sim, e por isso ia na igreja conversar com ele.

Não adiantava, ela entrava e saía com a mesma sensação de mudez. Via aqueles encontros imaginários como acontecimentos, um espelho de suas próprias canções. Se embriagava cada vez mais, pelo modo como mudara seu pensamento e sua conduta mostravam isso.

Cantava enquanto pensava no que vai arrastar-lhe, movimentar. Nunca soubera, sentira como ao sabor dos ventos, dos cheiros, da preguiça. Ia se entregando ao invés, em direção a um pensamento prévio iniciado anos antes. E atrás dele perseguia. Se via como ser desejante pronta para uma nova peripécia atordoante. Queria mesmo era ser angelical e ter uma linearidade bem próxima de uma normalidade.

Desconhecia o motivo de sempre começar de um jeito e terminar de outro. Desconhecia o segredo da permanência, da perpetuação. (Não sabia o que eram raízes criadas, só aquelas com as quais já nascera, as novas ora saíam dos seus braços, ora das suas unhas, ora do seu sexo).

Buscava a possibilidade de conhecer o seu próprio movimento, e a rigidez a mareava. Afundava os dedos naquele areal na beira daquele rio vendo aquela paisagem urbana desordenada sentindo o cheiro nauseabundo do ar impuro e imperfeito. Seguiria para outro mundo, não que não doesse profundamente em todas as suas articulações, como um ritual (santo santo santo, senhor deus do universo).

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Um carinho sem sorrir

No período que vai de muito antes até hoje, seria pura precipitação se você pudesse terminar ouvindo  palavras de beleza. Zela por sua escassez e as coisas duras precisam do (bom) para  resgatarmos nosso brilho de alma. Transparência e suscetibilidade são maiores do que ela jamais conseguirá se distanciar das demais. São ensinamentos de que tudo é encantador e que as originais infecções não passam de agito memorial. Segue tocando sua vida ou a perder noites ou a perder dias. Não agir é a melhor ação. O valor da discrição e da imobilidade maior insinua uma ainda incerta brutalidade, e os anseios  que querem ser amplamente realizados neste vasto espectro jamais, nunquinha, serão importantes. Esse emaranhado de conversas em um mundo inteiro imensamente variado e complexo do ângulo tenso em que participa diariamente, a fez particularmente intensa e de suas obrigações fora aos poucos se desenganando. A ideia, partida do espetáculo Particularmente Vulnerável, que não é boba nem nada, das nossas mentes que voam longe…  que me é caro com todos os ingredientes (acordando cedo), mas não (cedo) o bastante. Volto para o bolero (só  faz lembrar de tudo o que não deveria ser lembrado).

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Porém não me desespero

É a única influência legítima a que se submeteria de bom grado. Em um período que vai de muito além do que seria uma pura precipitação da sua existência particular e individual. Você poderia terminar ouvindo coisas duras a seu respeito e o bom para dar ajuste às emoções é aprender a respeitar o “tempo certo”. Grande transparência e suscetibilidade são maiores que as infecções oculares. Agitar-se ou perder-se nas noites e agir como seria se o conhecesse somente (anotação mental) em fantasia!   A melhor ação com o valor da discrição. A imobilidade afirma que não tinha conhecimentos e está apenas em sua contemplação silenciosa, muda. Só o foco e o desempenho lhe interessavam. Depois a coisa meio que se inverteu. 

Continua a ser própria a necessidade de liberdade e aí está o sentido íntimo independente muito longe de emancipar ao mundo prático, ao mundo dos fatos reais.

 

 

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Hoje eu me curvo, mas sou sujeita a chuvas

Qual é o essencial que é invisível aos olhos? Qual é o seu ‘se sentir normal’ perto da bizarrice alheia? A exposição do vazio é que descobre as insignificâncias do mundo e as nossas próprias. Pois já disse uma vez, eu acho muito elegante alguém bater nos próprios fundilhos antes de sentar no sofá de outras pessoas. Ter sua família numerosa é ter o sofá sempre quente. Ele nem sequer sabia que isso se descobre nas unhas, não é?

É um cheiro ruim que arde o seu ‘se sentir normal’. Me perguntou se estou gostando. De certa forma pode-se dizer que sim. Estarei em estado de texto hoje, o que me parece ser uma postura incomparavelmente mais inteligente do que às de emburro.

Chove, ouve algumas coisas em português e ri.

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Joseph Szabo, Girls smoking, Hot Dog Beach, 1977

 

Chão de estrelas

O coreógrafo foi o sobrevivente da equipe. Nada mais essencial. Coisas insólitas estão acontecendo com ela e com as pessoas que mais ama por causa disso. Precisa ser posta para fora (é de forma mais sutil que se defende) o especialista comentou, afirmou. Devo parar? Já lera uma vez sobre aquilo, o gosto da coisa que engole. Só podia ser. Que a morte sirva de exemplo, alerta. Um tubo fechado numa das extremidades. O soluço escapando, o grito na praça. Mas para superar era preciso aprender a levitar, estar de pé e abrir os braços, fazendo um movimento que não faz ideia do que é. Mas de igual intensidade, braços e pernas. O pescoço desceria mais livre. Imagina  a água escorrendo pela nuca como ato supremo e solitário de afeto.

Vamos aos saltos.

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Gueorgui Pinkhassov, Moscow, 1993

 

Precisamos dormir

No sentido de lhe conferir lucidezum ornamento para uma vida confortável, para trabalhar e utilizar o tempo (fonte dos bons momentos), decide. Disse que nunca lhe deixaria: uma mistura de surpresa e desaprovação…  Não parece ser daquelas afirmações que levam a um futuro brilhante. Já que não podem ter uma vida tranquila aqui, conversas ficaram mais profundas e que não se torne a felicidade um jargão inútil. Um período levemente crítico que colidiu com outro e o sucesso está fadado a apenas algumas palavras, algumas músicas. Um sentimento de empatia maior em relação aos outros pode ser propício e salvador, sem uma ação que gere preconceitos. Alguns hábitos saudáveis hão de ser cultivados. O modo como vivem os faz foras-da-lei.

Há algo muito pessoal sobre demonstrar afeto.

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Adam Amengual, Homies (LA Gang members)

 

Requintados torturadores

Ainda em ânimo para mudar a sua vida que parece fluir descontroladamente. Encontrar sentido sobre o que se passa mas busca o prazer carnal (em se amordaçar) onde mais frequentemente lhe encanta. Demonstraria, se lhe fosse dada a palavra, o quanto há de mortal em vários dos seus gestos e pensamentos de deusa. Sabe  que podem ser perniciosas as perspectivas exageradas e dramáticas nas famílias e nas vizinhanças, que  agem com suprema covardia diante da (falta alheia) (falta?). Gostava de usar um pijama estampado idêntico ao descrito por ele. O cuidado de se abrir à possibilidade de muita frustração passa por essa situação de desconforto e a estabilidade almejada se esvai.  Exames iniciais mostram que o provável é que esses números quase circenses sejam apenas a ponta do iceberg. (E pensei que voltaria) iluminando e clarificando as belezas. Nada de pensar, nada de imaginar são reações paradoxais às violências geradas de pequenos gestos (contra elas)  transmitidos ( de alto nível de toxidade). O fato é que reescrito ou redistribuído não mudará muito o teor, e a pena viver o lado de alguém sem número,  assumindo o outro em silêncio é arrebatador. Não é preciso ficar infeliz para semprepor outro lado, o aceite legítimo da sociedade dos hábitos contraditórios é muito normal. Nesses motivos será possível contar com o outro? (Convidada a prestar esclarecimentos).

 

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Não precisa se agarrar a nada

Sem um único instrumento científico, muito embora demonstrasse um pouco de desleixo, revisou mentalmente seus dias e suas sensações. E a falta de ar  tão fenomenal – permitia que as descobertas  abarcassem essa pouca desordem (pregos e madeira se transformam numa mesa – obra composta). O produto a que se dedica com afinco não teria existência independente de suas partes. De forma isolada são o maior dos enganos: o que resulta da junção de duas ou mais coisas  (in)depende da existência de alguma outra coisa ao estarem reunidas. Sua natureza se alterou e, juntas transformaram-se em uma outra coisa. O fazer manual ainda tinha importância, o fazer carinho, lamber.  Encontrou um meio de contornar o sofrimento e deu-se conta de que não existia um todo-poderoso capaz de reverter o caminho que leva onde não há esperança cega tampouco há decepção. Mas que pensamento tortuoso e cruel. Já deveria ter desistido de lutar contra a vida tão intensamente.  Não pensa em termos daquilo que tem e do que lhe falta, mas no que está ali. Um pouco longe, e podendo estar perto. Ficaria mais do que um pouco decepcionada, pois, em sua maior parte, suas descobertas permanecem sem serventia.  Perambula pela casa, tenta buscar no alto verão a necessidade do traço, dos traços. É uma nova vida, bem aqui, pronta pra receber o espírito de uma outra.

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Carcomido homem

Estava num ponto de controle mental em que a qualidade deste momento é a  percepção da importância de que se conseguiria quase levar uma vida normal.

Desde sempre a conhecera. Percebia e elogiava sua retomada, seu auto controle. Da última vez que se encontraram sozinhos, via nos seus olhos cheio de pretensões uma inquietude, quase imperceptível.

Suas necessidades emocionais para estes dias assumiram até com ele, e sua face mais próxima do que era antes do estado de choque. Ainda não conseguia sorrir, uma ampliação de sua emotividade, tornando-lhe uma pessoa muito reativa e até sensível demais.

Ainda tinha palpitações e aqueles hábitos como puxar as pontas das cutículas causando aquelas pequenas inflamações nas unhas, mas sem dúvida havia na fina flor do pensamento uma visível recuperação de uma certa normalidade. Posso beijar seu pescoço? Já encostando, mas deixa subentendido, naquele lábio gosmento, delírios paranoicos com a barba. Sempre o mesmo, mastigado, carcomido homem. Passa um arrepio por todo o corpo, o gosto do vômito na boca.

Já quase se acostumara, e retoma a consciência da decadência deselegante e o apodrecimento. Um lapso no tempo, perdeu-se nessas memórias recuperadas. Arma branca, faca. Faca…Você se lembra de como é ser criança? Porque tudo está partido, repartido, fragmentado, inconsistente? Instante quase sempre inglório, o da lembrança.

O certo é que passava a voltar desses embates quase sempre da mesma forma. Murcha e palpitante. E sempre com alguma informação a mais.

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O quarto que não conheci

Que as horas correm tanto mais rápidas quanto mais agradáveis são, e é bastante provável que se queira dar um pouco de beleza ao ambiente, na sua casa (ou quarto), que são um só.  Os detalhes fazem a presença e um fenômeno às avessas se faz sentir tanto mais demorado quanto mais ausente são as lembranças. Porque o gozo não é positivo, mas sim a dor, que a beleza traz. Uma dificuldade extrema em reconhecer isso,  e que cessem os movimentos a fim de fazer escolhas mais racionais.

As escolhas a partir de caminhos aparentemente mais fáceis,  por impulsos emocionais levianos, gritam:  aceite! A dúvida!  Necessidade de algo que liberte, que permita que se pense melhor sobre tudo. Detalhes, pele, movimento, janelas em quadradinhos, riscos no braço, cores, azuis e vermelhos. Quase se escuta a respiração. E quase se perde o ar com o que ouve. ‘Não se deixe guiar por impulsos emocionais e dê tempo ao tempo’.

Este é o momento certo para harmonizar seu próprio quarto-corpo, e a coisa toda começa com você se tornando um lugar mais bonito, pacífico, tranqüilo. Simplesmente mudando a disposição dos móveis, abrindo a janela. Rompendo portas. Os prazeres das pequenas coisas. Ficar em casa assistindo a um bom filme, lendo um bom livro e o desejo de cultivar um bom relacionamento e uma boa história com alguém.

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Fogo fátuo

Apoderou-se aos poucos do espaço. O que antes dormia (sempre um desejo de tentar dormir horas seguidas) encolhida, forçando a abrir as pernas e os braços. Fazia sempre como um exercício de yoga, tensionar e relaxar, se permitir e, mesmo que dentro de um aprendizado, expandir.

Sempre tão contida, tão mínima, voz baixa, gestos curtos, roupas escuras, sempre à procura do silêncio.

Vicente lhe dizia sempre da sua beleza, mas nunca sentira isso de fato. Algo contido, doído dentro. Aquele limiar do inativo para o prestes a explodir, o que nunca aconteceu, sempre na lentidão. A brasa, o suspiro. Desejara a solidão para que pegasse fogo. Um dos exercícios resumia a se olhar nua no espelho – como era difícil olhar as pernas, braços, ventre, seios (um bem maior que o outro).

Um dia encarou-se olhos nos olhos. Frio, esse frio que não passa.

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O ar e a batida

Sorri, enquanto o ônibus sacoleja lembrando daquela noite. Outra meta foi estabelecida e percebeu que foi capaz. Desceu no ponto perto da sua casa, sentindo ânsia e palpitações e raiva, por um lado, e uma firmeza que só um objetivo de sobrevivência estabelecido proporcionava. Subiu as escadas e tirou as sandálias cheias de poeira vermelha, e limpou os pés (pareciam de crianças quando brincam de havaianas na terra) no tanque.

Aquela esquina se tornou um ponto a ser ultrapassado, e quase, quase conseguira. Muitas vezes o quase a enraivecia, hoje ela percebia no quase uma vantagem. Porque sabia que não desistiria. Quando elas próprias não foram explicadas de forma satisfatória, os ataques de pânico não são uma boa representação de si.

Relativiza a culpa da escravidão, ou quase isso, a que se submeteu, por inconsciência, por escolha, por falta de alternativas. Não é isso que deseja pra si, não é aí que quer residir.

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Deslocada do sentido (porque ainda sou machista)

No seio de uma vertente não tão alternativa falara muito, mas pouco claramente, porque era impedida (por si mesma) pelo medo da fúria, da resposta, do silêncio. Porque achara que falar a verdade incomodaria demais. Falou (pouco) e voltou atrás mil vezes, sempre na opção delete, suspirar, dois passos atrás. Pra não ferir o ego alheio, pra não ser desamada (porque falar traria desamor?). Daí vai ficando algumas amizades e amores na névoa, em que tudo acontece mas ninguém deixa claro o que acontece. Passara a usar os sobrenomes, ao invés de dar os nomes, era uma outra muito pouco conhecida forma de se proteger (de quê, afinal?) que merecem todo o respeito (sic). Toda sorte de inúmeros absurdos em sua biografia: ser sempre simpática, útil, amiga, amélia, amante, prestativa e bem-humorada para “compensar”.

A sua face amorosa está sujeita a abusos muito mais constantemente do que vai dizer sua consciência. A passividade que acontecera (que fere) desejara que isso não existisse mais, mas as consequências por tentar ter sido franca quanto (aos rótulos) são insuportáveis. Todos direcionados a si mesma. As mulheres estariam sempre na linha do ‘tinha que’. Entendera que qualquer mulher que fuja do padrão do mito da beleza e do comportamento ideal o faz de maneira caricatural e estereotipada aos olhos feridos. Sem pensar a respeito disso iria ser engolida. Uma equação difícil de fechar. O voltar atrás não é sempre a melhor solução. Nem a solidão tão pouco. Essa sensação de burrice não passa.

É cansativo, mas se não for assim, fica mais difícil ainda.

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