Precisamos dormir

No sentido de lhe conferir lucidezum ornamento para uma vida confortável, para trabalhar e utilizar o tempo (fonte dos bons momentos), decide. Disse que nunca lhe deixaria: uma mistura de surpresa e desaprovação…  Não parece ser daquelas afirmações que levam a um futuro brilhante. Já que não podem ter uma vida tranquila aqui, conversas ficaram mais profundas e que não se torne a felicidade um jargão inútil. Um período levemente crítico que colidiu com outro e o sucesso está fadado a apenas algumas palavras, algumas músicas. Um sentimento de empatia maior em relação aos outros pode ser propício e salvador, sem uma ação que gere preconceitos. Alguns hábitos saudáveis hão de ser cultivados. O modo como vivem os faz foras-da-lei.

Há algo muito pessoal sobre demonstrar afeto.

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Adam Amengual, Homies (LA Gang members)

 

Requintados torturadores

Ainda em ânimo para mudar a sua vida que parece fluir descontroladamente. Encontrar sentido sobre o que se passa mas busca o prazer carnal (em se amordaçar) onde mais frequentemente lhe encanta. Demonstraria, se lhe fosse dada a palavra, o quanto há de mortal em vários dos seus gestos e pensamentos de deusa. Sabe  que podem ser perniciosas as perspectivas exageradas e dramáticas nas famílias e nas vizinhanças, que  agem com suprema covardia diante da (falta alheia) (falta?). Gostava de usar um pijama estampado idêntico ao descrito por ele. O cuidado de se abrir à possibilidade de muita frustração passa por essa situação de desconforto e a estabilidade almejada se esvai.  Exames iniciais mostram que o provável é que esses números quase circenses sejam apenas a ponta do iceberg. (E pensei que voltaria) iluminando e clarificando as belezas. Nada de pensar, nada de imaginar são reações paradoxais às violências geradas de pequenos gestos (contra elas)  transmitidos ( de alto nível de toxidade). O fato é que reescrito ou redistribuído não mudará muito o teor, e a pena viver o lado de alguém sem número,  assumindo o outro em silêncio é arrebatador. Não é preciso ficar infeliz para semprepor outro lado, o aceite legítimo da sociedade dos hábitos contraditórios é muito normal. Nesses motivos será possível contar com o outro? (Convidada a prestar esclarecimentos).

 

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Não precisa se agarrar a nada

Sem um único instrumento científico, muito embora demonstrasse um pouco de desleixo, revisou mentalmente seus dias e suas sensações. E a falta de ar  tão fenomenal – permitia que as descobertas  abarcassem essa pouca desordem (pregos e madeira se transformam numa mesa – obra composta). O produto a que se dedica com afinco não teria existência independente de suas partes. De forma isolada são o maior dos enganos: o que resulta da junção de duas ou mais coisas  (in)depende da existência de alguma outra coisa ao estarem reunidas. Sua natureza se alterou e, juntas transformaram-se em uma outra coisa. O fazer manual ainda tinha importância, o fazer carinho, lamber.  Encontrou um meio de contornar o sofrimento e deu-se conta de que não existia um todo-poderoso capaz de reverter o caminho que leva onde não há esperança cega tampouco há decepção. Mas que pensamento tortuoso e cruel. Já deveria ter desistido de lutar contra a vida tão intensamente.  Não pensa em termos daquilo que tem e do que lhe falta, mas no que está ali. Um pouco longe, e podendo estar perto. Ficaria mais do que um pouco decepcionada, pois, em sua maior parte, suas descobertas permanecem sem serventia.  Perambula pela casa, tenta buscar no alto verão a necessidade do traço, dos traços. É uma nova vida, bem aqui, pronta pra receber o espírito de uma outra.

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Carcomido homem

Estava num ponto de controle mental em que a qualidade deste momento é a  percepção da importância de que se conseguiria quase levar uma vida normal.

Desde sempre a conhecera. Percebia e elogiava sua retomada, seu auto controle. Da última vez que se encontraram sozinhos, via nos seus olhos cheio de pretensões uma inquietude, quase imperceptível.

Suas necessidades emocionais para estes dias assumiram até com ele, e sua face mais próxima do que era antes do estado de choque. Ainda não conseguia sorrir, uma ampliação de sua emotividade, tornando-lhe uma pessoa muito reativa e até sensível demais.

Ainda tinha palpitações e aqueles hábitos como puxar as pontas das cutículas causando aquelas pequenas inflamações nas unhas, mas sem dúvida havia na fina flor do pensamento uma visível recuperação de uma certa normalidade. Posso beijar seu pescoço? Já encostando, mas deixa subentendido, naquele lábio gosmento, delírios paranoicos com a barba. Sempre o mesmo, mastigado, carcomido homem. Passa um arrepio por todo o corpo, o gosto do vômito na boca.

Já quase se acostumara, e retoma a consciência da decadência deselegante e o apodrecimento. Um lapso no tempo, perdeu-se nessas memórias recuperadas. Arma branca, faca. Faca…Você se lembra de como é ser criança? Porque tudo está partido, repartido, fragmentado, inconsistente? Instante quase sempre inglório, o da lembrança.

O certo é que passava a voltar desses embates quase sempre da mesma forma. Murcha e palpitante. E sempre com alguma informação a mais.

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O quarto que não conheci

Que as horas correm tanto mais rápidas quanto mais agradáveis são, e é bastante provável que se queira dar um pouco de beleza ao ambiente, na sua casa (ou quarto), que são um só.  Os detalhes fazem a presença e um fenômeno às avessas se faz sentir tanto mais demorado quanto mais ausente são as lembranças. Porque o gozo não é positivo, mas sim a dor, que a beleza traz. Uma dificuldade extrema em reconhecer isso,  e que cessem os movimentos a fim de fazer escolhas mais racionais.

As escolhas a partir de caminhos aparentemente mais fáceis,  por impulsos emocionais levianos, gritam:  aceite! A dúvida!  Necessidade de algo que liberte, que permita que se pense melhor sobre tudo. Detalhes, pele, movimento, janelas em quadradinhos, riscos no braço, cores, azuis e vermelhos. Quase se escuta a respiração. E quase se perde o ar com o que ouve. ‘Não se deixe guiar por impulsos emocionais e dê tempo ao tempo’.

Este é o momento certo para harmonizar seu próprio quarto-corpo, e a coisa toda começa com você se tornando um lugar mais bonito, pacífico, tranqüilo. Simplesmente mudando a disposição dos móveis, abrindo a janela. Rompendo portas. Os prazeres das pequenas coisas. Ficar em casa assistindo a um bom filme, lendo um bom livro e o desejo de cultivar um bom relacionamento e uma boa história com alguém.

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Fogo fátuo

Apoderou-se aos poucos do espaço. O que antes dormia (sempre um desejo de tentar dormir horas seguidas) encolhida, forçando a abrir as pernas e os braços. Fazia sempre como um exercício de yoga, tensionar e relaxar, se permitir e, mesmo que dentro de um aprendizado, expandir.

Sempre tão contida, tão mínima, voz baixa, gestos curtos, roupas escuras, sempre à procura do silêncio.

Vicente lhe dizia sempre da sua beleza, mas nunca sentira isso de fato. Algo contido, doído dentro. Aquele limiar do inativo para o prestes a explodir, o que nunca aconteceu, sempre na lentidão. A brasa, o suspiro. Desejara a solidão para que pegasse fogo. Um dos exercícios resumia a se olhar nua no espelho – como era difícil olhar as pernas, braços, ventre, seios (um bem maior que o outro).

Um dia encarou-se olhos nos olhos. Frio, esse frio que não passa.

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O ar e a batida

Sorri, enquanto o ônibus sacoleja lembrando daquela noite. Outra meta foi estabelecida e percebeu que foi capaz. Desceu no ponto perto da sua casa, sentindo ânsia e palpitações e raiva, por um lado, e uma firmeza que só um objetivo de sobrevivência estabelecido proporcionava. Subiu as escadas e tirou as sandálias cheias de poeira vermelha, e limpou os pés (pareciam de crianças quando brincam de havaianas na terra) no tanque.

Aquela esquina se tornou um ponto a ser ultrapassado, e quase, quase conseguira. Muitas vezes o quase a enraivecia, hoje ela percebia no quase uma vantagem. Porque sabia que não desistiria. Quando elas próprias não foram explicadas de forma satisfatória, os ataques de pânico não são uma boa representação de si.

Relativiza a culpa da escravidão, ou quase isso, a que se submeteu, por inconsciência, por escolha, por falta de alternativas. Não é isso que deseja pra si, não é aí que quer residir.

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Deslocada do sentido (porque ainda sou machista)

No seio de uma vertente não tão alternativa falara muito, mas pouco claramente, porque era impedida (por si mesma) pelo medo da fúria, da resposta, do silêncio. Porque achara que falar a verdade incomodaria demais. Falou (pouco) e voltou atrás mil vezes, sempre na opção delete, suspirar, dois passos atrás. Pra não ferir o ego alheio, pra não ser desamada (porque falar traria desamor?). Daí vai ficando algumas amizades e amores na névoa, em que tudo acontece mas ninguém deixa claro o que acontece. Passara a usar os sobrenomes, ao invés de dar os nomes, era uma outra muito pouco conhecida forma de se proteger (de quê, afinal?) que merecem todo o respeito (sic). Toda sorte de inúmeros absurdos em sua biografia: ser sempre simpática, útil, amiga, amélia, amante, prestativa e bem-humorada para “compensar”.

A sua face amorosa está sujeita a abusos muito mais constantemente do que vai dizer sua consciência. A passividade que acontecera (que fere) desejara que isso não existisse mais, mas as consequências por tentar ter sido franca quanto (aos rótulos) são insuportáveis. Todos direcionados a si mesma. As mulheres estariam sempre na linha do ‘tinha que’. Entendera que qualquer mulher que fuja do padrão do mito da beleza e do comportamento ideal o faz de maneira caricatural e estereotipada aos olhos feridos. Sem pensar a respeito disso iria ser engolida. Uma equação difícil de fechar. O voltar atrás não é sempre a melhor solução. Nem a solidão tão pouco. Essa sensação de burrice não passa.

É cansativo, mas se não for assim, fica mais difícil ainda.

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Silêncio branco

O silêncio é sempre a melhor opção. Quando lera essa frase (talvez fosse para ela, quem sabe) subiu um frio na coluna, um ardor no nariz, os olhos encheram-se de água. Mil imagens que há algum tempo vinha tentando esquecer, superar ou pelo menos lembrar sem aquele incômodo, vieram à tona. E, junto com as lágrimas, o nó na garganta doía. Ombros tensionados, maxilar preso, articulações rígidas, sim, eram os mesmos sinais físicos.

O ar faltou. Respira, respira. Lera isso também (just breath) e já se dedicava às respirações diafragmáticas, recuperando o fôlego. Silêncio, sim é lindo o conceito, mas o silêncio quando praticado como resposta, como ‘evitar batalhas’ era um juízo de valor – claramente contra quem se posicionava no oposto dele. Ahn, e como é um conceito lindo, a razão está do  lado do silêncio. Vencida pela beleza. Já não lembra quantas vezes suas frases, suas opiniões, suas desculpas, sua ira, seu posicionamento, seu amor foi respondido com silêncio. Como doía. Como era implacável essa resposta e quanto a isso nada poderia fazer.  O silêncio também era surdo, também não ouvia. Como era desleal. Ninguém nunca ganha do silêncio. Quer gritar, quer se expor, quer alcançar o outro. Mas a garganta dói. Sempre a melhor opção! Como faria então? Não participa dos Sempres, Tudos, Nadas, Nuncas, onde ficaria então?

É pessoal e intransferível. Não quer cometer o erro do julgamento (fez e se arrependeu). É só mais um silêncio dentre tantos. Recolhe-se com muita dificuldade, porque a mudez imposta pelo silêncio é uma surra no corpo. Um dia gritará. Ou algum dia alguém a responderá com sons, letras, palavras, gestos. Qualquer resposta é melhor que o silêncio. Mudez imposta. Precisa conseguir. Mais uma vez. Mas a verdade é que o mais provável é que um dia perderá a vontade de falar  (desacostumada pelo hábito), a voz e o sentido não mais existirão.

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Branco sobre branco – Malevich

Disposição afetiva

Pela primeira vez, a maior intensidade, este momento. Definir isso é importante e conversas incomodariam! Ouvir coisas seria melhor se se tornassem mais proveitosas, afinal. O entendimento muitas vezes, provavelmente, é ter idéias mais harmoniosas e outras vezes… coisas que nem são, senão em outros momentos, prioritárias.  Já é considerado o maior movimento aquele que você se volta tanto para si que consegue caminhar sozinho. Pode ser desfavorável, dirão. E, provavelmente, estarão certos. O curtir a si mesmo (mesmo que em fossa) forma uma harmoniosa jogada e alguns elogios a respeito de suas melhores performances virão sinceras.  Diz respeito a que você e sua sensibilidade estão voltados.

‘precisa melhorar’, ‘talvez se você tomar consciência das coisas que estarão salientando suas virtudes’, ‘tudo está na sua mente’, ‘saia para andar de skate se aí não fosse tão ruim’ ‘e falando mais ao sair de uma condição de válvula de escape’, ‘sim, funciona’,  ‘estarão em busca de seus próprios desatinos’, ‘delas se lembrando, das coisas que se reencontrarão em poucos dias’, ‘quem sabe perceberá que as outras pessoas…’, ‘falta aparar’, ‘que haja uma conciliação se tais entendimentos envolverem questões difíceis’, ‘pedem a companhia da fala?’, ‘as coisas que sente, naturalmente fazem sentido’,  ‘…’

 

Pequenos passeios agradáveis, com capacidade de coagular carências.

 

 

 

 

Pedaço

Direto pro chuveiro, água, água.

Pelo direito de viver a própria dor sabendo que um dia irá passar. Plenamente justificada, plenamente. Hoje isso de entender já não é o bastante. Entendimento não basta, não lhe trouxe autonomia e nem o sentir-se à vontade.

O estômago sente, passou o dia sem comer. Pensa nos detalhes e gosta. Conseguiu ultrapassar os escombros, conseguiu levar uma bolsa pequena. Quase chegou. Nunca chegara tão perto. Um calafrio percorre o corpo, uma mistura de emoção da expectativa (sente que em breve conseguirá ultrapassar os limites) e de pavor (porque sente que em breve irá ultrapassar os limites). Diversas vezes o ser da experiência alcança um sentido humano. Mas o que busca é sobre humano. Busca a flexibilidade do erro, do choro, da raiva, da renúncia. Ai, que pieguice insuportável. Come rapidamente, serve-se de vinho, e desmancha na frente da TV.

Olha em volta e faz anotações mentais (mandar arrumar a cadeira que está bamba, desinfetar a pia, guardar os talheres, separar os calçados). Nada tem a urgência maior que o descanso do enfrentamento perdido. Me deixei tombar no vazio, perdida de mim e do mundo.

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Numa noite

Depois de muitas horas a pele começa a cair. Pensa em nadar. Ele quase não falou comigo na hora. Amuei, faltava um pedaço do falou por si só. O homem  esteve certo e sabe que ele sempre esteve  em sua rota. E que também as ondas estavam agitadas. Não era harmonioso, plano, igual e era a prova mais substancial de que a negatividade teve ou tem o papel preponderante. Estava assustadoramente escuro e pensamentos pareciam querer sugá-la e suas energias se esvaíam.

É certo de que  teve interesse em insuflá-los, em certos momentos, e se sentiu perdida e totalmente sozinha no meio de como seus personagens reagiriam à tempestade de areia. Uma suposta e clara divisão imaginária entre o bem e o mal, atormenta, aquele tipo de desequilíbrio que nos tira da paz de espírito. Suspirava: livre-se de seu esforço – o que poderia representar era o fim do prazer da invisibilidade?

Sobre a paciência.

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É para o corpo descansar

Quando se está envolvido até o pescoço, na maioria das vezes, ousar com a escrita desejando ampliar-se de um conjunto de hábitos a uma quantidade de elementos de um livro é brutalmente difícil. Tendo uma unidade mais ou menos estável produz um efeito colateral bastante incômodo. Um estado mineral perigoso torna um comportamento que até então era capaz de enfrentar o tempo –  estático – não mais produtivo. Partir para o estado líquido (anotação mental). O liquefeito não é difícil de se relacionar – licença poética de cada um. Teve época que  parar na borda da piscina e  perguntar se algo parecia absurdo. Contou que jogou fora um romance.  Acabou o prazo – disse. Gorou.

Desse inacabado não quero participar. Estar sempre à aproximação do prazo final ou do seu início confronta com sua própria mediocridade, nunca me iludi quanto à possibilidade precisa de se controlar. Quando se chega a certa passagem estar em casa trabalhando sozinha o tempo vira um tipo de envenenamento providenciado durante algumas taças de vinho. O jantar e o almoço inexistem, nem pausas. Só vinho e continuidade. Solilóquio afetivo. Falar em voz alta para encontrar as perguntas certas e certeiras.

Vinte e cinco minutos.

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Insone

Era uma construção simples onde vivia e dormia em lençóis pintados para se assemelhar a tijolos. Sentia-se por vezes enterrada na noite. Não permitia contato fácil com o mundo – foi dormir vestida e com uma letargia paralisante. Fez de tudo para ficar acordada, chegou a montar guarda e tentou trancar as portas para que o sono não pudesse entrar. Submersa ali na escuridão completa durante a noite não tinha a menor ideia das indispensáveis formalidades que pertencem à vida diária. E de que não era a única. Uma lei do silêncio se estabeleceu em um caminho cercado de árvores e mesmo depois dos vereditos e mesmo com as histórias se multiplicando, o dormir e o acordar representavam perigo.

Com os que brincavam, mesmo de maneira intrincada, ela era idêntica. Os sinais (uma ilha branca de olhos azuis) de ordem dizendo que iria se tivesse a oportunidade! Em muitas formas só pode ser conhecida por matinais gestos que fizeram parte do seu repertório. (Queria saber como eram os gestos de sua vida). Do lado de fora das indiferentes reações ao abandono, das janelas dos quartos às noites que mais parecem painéis solares, os pensamentos iluminam.  E o que aconteceu mesmo, do mais simples ao depois das casas coloridas, foram os turnos cozinhando para os enlutados.

Os grandes campos férteis podiam ter sido interrompidos, mas parecia perdida em pensamentos e se certificou de que o registro de gás estava realmente fechado. Como uma outra tentativa velada de encorajar o abandono (me disseram que foi melhor deixar tudo em silêncio). Ter perdoado por vontade própria teria lhe feito conseguir escapar de fraturas internas.

Se via velha e branca adormecida.

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Olivier Culmann, Spectateurs, 2005

Stay good anyway

 

 

7

Que seja ensinar felicidade

Os requisitos básicos para dominar toda a teoria, não consigo. Hoje, isso não existe mais de se entender  e se sentir à vontade, julgando e buscando autonomia como se ela realmente existisse num outro canto. Uma ação que dê visibilidade a esse conceito tão arcaico (sobre diversos eventos)  tão perverso quanto resumir.

Não há qualquer benefício de aprendizado, emoções ou comportamento que venha do simples agir corretamente.  Diversas vezes o ser da experiência e o sentido humano da vida tendem a ser mais flexíveis apesar das divergências sutis (pelas pessoas comuns). E tem quase sido esquecidos o alicerce e coração e do todo que você possa melhorar em alguns dos aspectos. O inconcebível de ser particular. Em toda a sua profundidade.

Uma amiga fala de sinais. Nada mais sábio nesse momento – árduo manter os trabalhos e aprender a ser mais flexíveis. O sentido fundamental é não limitar a vastidão que é legítima como qualquer outra atividade do espírito.

 

Acredito, embora ainda não tocando minha carne.

 

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Faxina

Em casa resolveu-se pela faxina. O trabalho braçal desfavorecia o trabalho repetitivo mental do temor (isso lá era doença?). A maioria prefere o afastamento dos doentes, principalmente dos depressivos. Nesse ponto as faxineiras tinham vantagem, sempre seriam bem-vindas. Queria aprender a cultivar o bem-estar vívido das faxineiras, limpando a superfície dos acontecimentos. Liquefazer. Ao longe soou um tiro. Enfim a guerra começou. Sei que o prazo das coisas que teimavam em conviver comigo estava terminando. Desejava a destreza da faxina. Alforria. Sentia-me como a mais escrava das escravas e tudo que almejava era um novo estado das coisas.

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O vento assobiava

A causa desses enganos tem a ver com palavras, e o eixo que está fora do prumo se torna vida – suavemente desse desequilíbrio está fluindo uma pálida luz. Como um instrumento para examinarmos expressões e olhares para tudo com abertura significam a mesma coisa e desde ponto de vista dualista é o momento da mais alta satisfação. Essa matéria está dentro da gota de orvalho e como este momento talvez possa ser mais um mal entendido de outras tantas coisas. Ninguém sabe o que significa o que fazemos conosco –  próximas e distantes. Disse durante os primeiros encontros dessa amorosidade mútua com palavras próximas a navalhas cegas. Palavras agidas são um lugar livre para todas.

Podemos pensar sobre este saquinho de pele realmente, na imensidão, determinando não apenas este movimento como resultado da percepção mais ácidas das coisas, mas também a serem preferências de violência em nós. Então ao mesmo tempo teremos conhecimento intelectual. O olhar profundamente domina.

E assobia, ou assovia. Tanto faz.

 

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Luigi Ghirri, Lucerna, 1973

 

Não toquem em nada

Na perfeição que encontramos na reparação e no auto-perdão, na renúncia do nosso orgulho,  talvez possamos existir e ampliar a experiência do afeto pelo outro… eliminar a culpa e a angústia que sentimos quando ao agirmos fora do padrão, amamos. Alucina. A moral  de uma atitude nossa que de um afeto tão grande (uma vontade boba de mexer nos seus cabelos) gerado assim que sentia e ouvia perfeitamente o ruído do carinho nas suas costas. Naquele instante (não) em sua mente (paira no ar) sente que deve deixá-la ir (a boa do afeto compartilhado) da mesma forma que vieram, sem tocá-la, compará-la ou julgá-la.

Conseguimos renunciar às desarmonias e junto e dentro compartilhar uma porção de coisas que produzimos em nós mesmos, pela nossa vida ou morte e iluminação e desilusões e incapacidades e desentendimentos. Pode ocorrer por deslocamento (de sentimentos e emoções) ou por projeção (de desejos). Compartilhar muito. E teve vinho e cigarrinho.

Unir-se às pessoas certas.

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Jan Groover

 

Fragmento

(…) Lutava contra tais sentimentos e o tempo circundava criando um vazio em seus pequenos e inofensivos hábitos. Abriam caminho para finitude e o cotidiano tornara-se mais suportável. Era uma suportabiliade ilusória, pois sabia que os hábitos eram uma prisão. Fez seu café, sim, resolveu-se pelo cigarro e olha em volta, analisando todos os objetos da casa enquanto fazia anotações mentais do que precisaria ser feito. Ajustar o quadro na parede, trocar o forro da mesa, desembolar o fio da fonte do computador, limpar a gaveta onde guardava as receitas (quase todas da sua mãe, um bem de amor – um dia faria muitos daqueles pratos).

Não querer perdão por aquilo que lhe tornava conservadora.

Mas ainda assim a meta era ser libertária. Uma acidez, sensação de sufocamento, budistas falam de veneno mental. O café não ficou como queria, foi aquela pequena porção a mais de pó. Tudo bem, assim ficou ótimo também. Hoje já nem sabia o que era aquilo que sentira. A lembrança sempre vinha acompanhada de um aperto no peito, procura impulsos ajudantes. Começar em algum lugar, fora da superfície. Que aflitivo! Tinha a perfeita noção de que nada, absolutamente nada de anormal aconteceria se nem tudo fosse cumprido. Se tratava de algo inofensivo. Imaginava que o caminho da cura fosse o enfrentamento dessa ilusão. Experimentava, testava o cotidiano. Já chegara a passar todos os dias pelo mesmo relógio que marcava exatamente a mesma hora 7:46. Chegou a conseguir isso por muitos dias consecutivos. Quase se acostumara com a sensação de vertigem e falta de ar.

Não segura a torrente de lágrimas. Reivindica seu direito a chorar e a se sentir o tão vítima quanto quisesse. Parentes por parte do infinito, dos crimes. Não gostava desse terreno, o da vítima, mas era uma emergência. De tempos em tempos precisava se refugiar ali, mesmo que por alguns minutos. Logo se recuperava, e buscava seu auto-controle na base de respirações programadas. Conhecia bem o caminho da ida e da saída desse estado. Sob todos esses domínios da finitude humana. Se culpa pelos pensamentos de uma suposta libertação, pensamentos frutos de insônia e tormento. Isso ainda acontece, e, entre lágrimas vê o que acontece à sua volta a todo momento percebendo uma interligação imediata com aquilo que vive internamente.

Será que é normal isso? Sempre ensimesmar? (…)

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Lee Friedlander, Untitled, California, 2008

 

Secura

A felicidade deve ser encontrada no simples, repetia para se convencer. De pouco ou nada adianta dar valor às coisas exageradas e dramáticas da vida – era outra máxima que gostava de repetir como um mantra, buscando nela uma verdade profunda. Sentia calor e suas mãos suavam, a pressão já começava a baixar. Desejava o inferno a todos os que insistiam em colocar fogo em lotes vagos e folhas catadas nas calçadas nessa época do ano… Tudo ficava ardido, quente, machucado e difícil. As narinas, a pele, os olhos, a boca, os lábios ressecados.

Assim a busca pelos seus desejos internos era mais árdua. Exista os momentos de separação e que sejam compreendidos e bem vividos, talvez explicados por um conhecimento básico de milhares de nomezinhos de origem grega ou latina, alemão talvez.

A  consciência de si mesmo e dos próprios processos mentais era o desafio central de boa parte dos seus dias (mas era difícil nessa época do ano). Sentir uma mesma coisa a partir de pensamentos ou sensações parecidas, e a necessidade de reagir a ela (num autoconhecimento bonito de se ter) era impossível agora. Já conseguira avanços significativos. A repetição, e a familiaridade que sentimos com nossa reação (diante da repetição) era uma das coisas que buscava. Ficar cada vez mais fácil e leve.

São apenas pensamentos. Secos.

 

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Osma Harvilahth

 

Busca contínua por algo

Ela acaba cedendo à sensação de impotência e cessa de resmungar.

Era uma espécie de morte renunciar ao resmungo, calar o coração. A resignação tem seu lado bom também, pensa. Mostra uma força descomunal em prosseguir com a vida e seu cotidiano e sua louça e seus pastéis. É carne mas é como se fosse de ferro, o seu desejo.

Nem lembraria onde os metera, em qual tapete existencial varrera sua individualidade. Reagia catando pedras dos escombros e as lançava em direção àquele que tinha a força e a imponência de um tanque de guerra. Gasta sua energia acumulada de auto preservação nesses choques, que no fim resultam inúteis. Fazer o quê. Mas nada disso a abalava no final das contas. Deus falou, Deus quis, Deus deu essa vida.

Sabia que poderia se beneficiar com uma mudança de atitude, mas para quê? Essa era a sua vida. Engolia, e sorria.

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Osma Harvilahti, From series New Colors

 

 

 

 

 

Xícara de leite quente

Quando o estado de ânimo e do humor do dia o afeta… (que é a sensação de sentir o coração parar por um segundo) porque existe a liberdade que não se consegue alcançar. E quero um pouco também dessa energia vital e que se diga em voz alta – comece o tratamento! Porque deve-se gostar de si. Não importa nenhum desses fatores, tinha um lado de juízo com perfeita noção de que não nada iria acontecer. Continuam apontando para um outro horizonte mais belo e complexo que primeiro. Sabe que cultivar estabilidade é desfrutar do conforto. Desenvolvimento livre de si. E então a mente deu resposta de um nascimento acelerado pelas bruscas mutações dos desejos incompreendidos.

O princípio da incerteza só parece assumir um valor definido numa ficção e, continuar a interagir mesmo se separadas por um discurso subjetivo ou por distâncias enormes, é um desejo de salvação.

Sonha com leite quente ganhado de boa fé e bom coração, sem precisar pedir ou fazer. Possibilidade remota de um cuidado presente naquela lógica cruel de receber aquilo que se oferta cotidianamente a outrem. O que importa não é o modo ou a forma como o desejo é realizado, mas do esforço poupado proporcionando descanso existencial (como estar à beira da morte).

O descanso…  intui que esse não virá.

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Eikoh Hosoe

E só participei do banho

Realmente é secundário, disse, além de sugerir ansiedade e desordem para obter o direito aos prazeres. Adoece, intencionalmente indica medo, uma falta de disposição. Desloca no espaço o direito de transmitir sua amargura. A boca muda fica seca, inflamada, o corpo tenso dói. A luta e a exigência para se estar bem e continuar lutando entristece. Porque não conseguia sentir-se bem, afinal… tudo está bem, ela sabia, tudo está caminhando, ela insistia. Tudo tem solução, ouvia.

Na história de vida, de fontes não competentes, os movimentos repetidos e instaurados são sedimentados nos músculos, dizem que é memória. Talvez seja uma perdição num enlace que merece ser sua contraparte. A respiração presa sustenta a pausa do nó na garganta. Faz esse movimento repetidas vezes pois sabe que assim que o ar voltar a transitar no corpo a dor voltará. Tenta abrandar os sentimentos pra que fiquem menos insuportáveis, pensamentos, melhor dizendo.

Preciosidades de um recolhimento emocional deve ser compreendido como importante. Quietinhos e recolhidos, tão densa quanto o último respingo dela.

Tenta, com vontade, assegurar seu torrão de açúcar que são dados aos de boa vontade, bom humor, aos que reconhecem sua sorte, aos que não resmungam e têm boa disposição o tempo todo (e não se cansam de sorrir).

 

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Janine Antoni, Ingrown, 1998

 

 

 

 

 

 

Quando o silêncio vira suor

Um período particularmente bom para os menos capazes de lidar com as rejeições (daquelas de si pra si). Propagam que não é possível você ter tudo. Talvez por isso se queira um desabafo, um afago, um afeto. Interrompia o diálogo até sentir-me novamente inspirada mas essa não é a única explicação que realmente se encaixa. A insônia traz monstros com ela. E não suportava vê-los. Melhor dormir (entorpecer) especialmente quando os pensamentos parecem errados.

Se você achar que está certo em relação a tudo, de fontes não competentes e não confiáveis, a feiúra aparece. Enxerga-se no espelho, pele cansada, falta de brilho, olheiras profundas – pensa em Dorian  (de modo inverso). Não gostaria de se manter sempre imagem. O desejo era de que a imagem que visse fosse diferente,  significando uma diferença no dentro do dentro de si. Lembra de quadros que ganhara quando criança (na verdade eram do seu irmão) daqueles produzidos em série, de crianças e palhaços chorando e flamboyants na curva, floridos. Nada dizem em si – são milhares.

Devo ser uma péssima pessoa por tal desejo de liberdade. Amo muito você. Queria muito amar eu.

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Clark & Pougnaud, Versailles, diptych (3/6), 2003