Verbo

Silêncio. Retreat. Retirando-se do mundo exterior. Proteção e ocultação. Calmo e contido exame de consciência. Buscando a sabedoria e entendimento dos nossos padrões maiores na vida. Orientação ou aconselhamento de uma amiga querida. Peregrinação por dentro da pele. Pesquisando, vagando. Um filósofo de cavanhaque. Habilidades emocionais reforçadas pela paz e liberdade de pensamento. Foresight (because prevention is always cheaper than cure).

Prudência. Conhecimento. Um estudo a respeito da natureza e os limites que se colocam em nós, como os efeitos das estações, tempo, etc. Reflexão. Deixando as riquezas materiais em busca do espiritual (sic). O celibato. A cura. Resolvendo problemas sérios. Recuperando. Valorizando o tempo sozinha. Ter tempo para lamber as feridas e a cria. A Paz. A natureza solitária pode ser uma condição positiva. Desejando paz e clareza ou transformação. Por outro lado distanciando de reais oportunidades e boa companhia.

Sentada em seu sofá, em lamento numa ideia perdida de grandeza de alma. Ela representa o melhor que ele ou ela pode chegar a. Enquanto que o valor – a partir da posição das pernas, é aquecido.

– Essa é a ideia geral da coisa.

IMG_20170408_174720997 (1).jpg

À margem

A imagem de uma mulher domando um leão pendurada na parede destoava. Provável ter sido a última aquisição para aquele amontoado de memórias, de tão nova que estava. Tudo dentro de seu círculo começa a transbordar alheio àquela solidão escolhida ou imposta, melhor seria tirar os pés do chão. Não vai mais se contentar com sua vida atual apesar da onda de introspecção que isso lhe trará. Tem 47 anos, rugas no rosto e nas mãos e ainda tinha esperança de que haveria melhora. Deitar debaixo de uma árvore e não saber se irá se levantar amanhã, tomar uma caneca de café com leite e não saber quando será a próxima refeição, dores muito fortes que já experimentara nas carnes. Tem que haver uma fase que permite estabelecer quem você realmente é e eu não me sinto como se eu estivesse lá ainda. O básico, sabe, o primeiro de tudo, é sobreviver. Depois a gente pensa na vida, né, nas curvas da alma. Mas a fome e a fraqueza embaçam a transcendência da gente. Às vezes queria ficar em casa mesmo, assistir televisão. Queria tomar uísque de manhã, como nas novelas. Até muito recentemente eu não senti que eu tinha a confiança necessária para estar em algum lugar totalmente diferente, mas agora sinto-me um pouco mais livre. Me lembro de estar realmente incerto sobre se eu deveria mudar. Eu fiz uma coleção de tudo o que foi preto-e-branco na minha vida, as cores são só para alguns. Uma mulher usa um chapéu na cabeça – exatamente o mesmo usado pelo Mago daquela revista. É calma. Ela usa um véu – talvez ela viva fora do mundo, aprendendo através dos livros e não da experiência.

Há diálogos a serem realizados enquanto as coisas se transformam em algo sólido. Meu sonho é viver mais um dia.

 

na parede

Alpendre

Simplesmente não lembrava de um mundo sem distinções, exato. Sempre aquela relatividade insuportável, com transições entre as vidas e as mortes quase fantasmagóricas.

Eis que em uma vida pequena tudo faz sentido leve, como em outra vez existia em uma vida quase plena com cadência e claro movimento. Desconstrução como a de uma dose de cachaça no final da tarde, na janela de casa (como se fosse morrer naquele momento, mas não queria morrer) onde a tudo se pertence. ‘Achei que não sairia viva’ e agora haverá de conviver com a quase não sobrevivência e prosseguir acreditando nos bons corações – mesmo rodeada de situações-ódio.

Pegou um megafone e gritou, berrou, trabalhada na voz, no discurso, clamou pela humanidade, pela beleza. Tudo dependia da nossa capacidade de prestar atenção. Lutar com o destino que é contra a nossa vontade, e não quer e não vai se render. As palavras escorriam, usadas e já sabidas. Como se construir esperanças sobre bases de vergonha e sordidez? Saber, já se sabe. O que fazer com o que já se sabe? E não se soube também em qual momento explodiu uma pequena e quieta batalha dentro do seu peito, alheio à sabedoria e às bençãos desse mundo. Só pensava nas manipulações de sons e sentidos. Aliviar o sofrimento.

5.-BenjaminLarrabee66
Ilse Bing

Havia a necessidade de se colocar os medos para descansar.

O café não estava quente o suficiente. Segura a caneca com as duas mãos pegando emprestado um pouco de carinho. Aqui é o ponto onde se pode cair pela segunda vez, mesmo com os avisos de sempre, as coisas que já se sabe desde sempre. Em uma semana sentimos que tudo vai tomando seu rumo e o que mais se deseja é força, força de vontade. Pode ser que todos os produtos químicos que se acumulam no corpo tragam essa sensação de limpidez, sisudez. Pois que se sente como na mais longa pausa de inverno. É de apenas três dias, mas é muito mais do que realmente se pode suportar, não são essas pessoas que desmoronam afinal. Estão ali, bem onde matam a memória e a melodia.

E se eu tomar bastante tempo e amor não errarei você.

Então muito daqui é a parte onde peco por pensar que não devíamos tirar algum tempo (ansiando para que a solidão nos faça alguma coisa boa), pois que logo se descobre quão não se pode ser o que se é quando só, nesta casa mal assombrada. Alguns pensamentos se sentam bem onde matam os cheiros e se tomar bastante cuidado não se errará tanto e sempre.  Abrindo-se a formas não-lineares de saber, a pessoa que instantaneamente aceitou o desafio, já sente forte harmonia e equilíbrio na sua vida… existirá a possibilidade de permanência. Que se destinará a trazer-nos p(r)az(er) de espírito.

Qualquer coisa, se tiver tempo suficiente.

004-ben-zank-photography-the-red-list
Ben Zank

 

Sabe do que fala.

No quintal, um dos cães começou a latir no portão. Ela serviu-se de conhaque em seu copo e balançou a garrafa. Levantou-se da mesa e foi até o armário e apanhou uma outra. Magro, rígido. Um rosto escavado, olhos fundos. Modos sarcásticos. Ora cansado, ora ardente. Sempre generalizadamente ansioso. Era assim que o via. Exatamente assim. No momento em que você tende a se sentir mais segura e serena, é a hora que os cães ladram pra que não se esqueça que a calmaria é ilusão. Hoje em dia ninguém é capaz de compartilhar uma sensação com o outro. A noite, alguns cigarros e algumas bebidas funcionam bem pra clarear os pensamentos. Eu não sei como você chamaria isso, mas eu tenho certeza de que não chamaria de amor. Eu conseguia ouvir meu coração batendo. Eu conseguia ouvir o coração de todo mundo. Eu conseguia ouvir o ruído humano que os cães faziam, sentados lá em outros quintais. Nada de mim se movendo, nem mesmo quando a cozinha ficou escura. Suspirou, mas sem nenhuma vontade de acender as luzes. Amanheceu ali, na mesa da cozinha, um pouco bêbada e um bocado lúcida. Sentir o que se sente depois de uma noite assim. (Na verdade, era uma pessoa que não sabe o suficiente para prever (ou entender) seus pensamentos e ações). Então foi feito tudo o que podia ser feito e, nesse começo de manhã, estava dando pequenas risadas anunciando pequenas alegrias.

 

Conhaque

 

 

 

 

Um sentimento de cada vez

No começo eu estava interessada na música que estava ouvindo em seu carro, depois de acúmulo de noites de insônia, procurando uma fase mais estável.

Noites em que a incerteza falou mais alto. 

Estava sendo conduzida com cuidado e a respeito disso sempre lhe serei grata. Embora não houvessem seringas, aquilo parecia um santo remédio. Agora um novo caminho, mais longo e melhor, com luzes, neons e alegrias de prosperidade. Você segura minha mão enquanto canta o refrão Esperei horas/Eu fiz-me tão doente/Eu gostaria de ter ficado dormindo hoje/Eu nunca pensei que esse dia iria acabar/Eu nunca pensei que esta noite jamais pudesse acontecer/Tão perto de mim… perto de mim.

Queria segurar seu rosto, deixá-lo cheio de carinho, mas não alcanço. Sorrio na sombra e você não vê, talvez também estivesse sorrindo. Gostava daquilo, de ser passageira, de ser guiada, levada, sem precisar decidir pra onde. Nem o como.

Textos se acumulavam na escrivaninha sob o teto branco leitoso, eram fixos no seu pensamento. Quando você está no seu interior e se permite contato com o outro, tão áureo, a música ambiente japonesa que se seguiu parece ser a que mais encanta. O minimalismo eletrônico lhe deu uma estranha certeza de que as coisas ruins passariam. Por um tempo prolongado governado pelos que não tinham necessidade desta torção existencial guerreira, seus pensamentos eram o que chamou de cura. Não estou muito preocupado, ele disse. Agora sim, teve certeza de que ele sorriu lindo.

Acendo um cigarro, penso se deveria lançar óleo em meus humores, naquela atmosfera perfeita. Como a entrar no sagrado, agarrei sua perna e queimei ~camada por camada~ arrepiando a beleza. Por sorte, você queimou também.

29542424_2470881389804185_1266832374019045939_n

O azul de todo dia

Seguia pelas ruas e de dentro do táxi observava pontes e bicicletas. Ele fez cara de mau, aposto que era só pra foto, riu vendo o trio de turistas. Então eu permaneci, destruiu a imagem maior da desistência. Pensava como ali era um paraíso para os fumantes, o seu coração é oco e estou afogada em tristezas, ouvia no rádio. Centenas de pessoas falam, podem falar. Só ter quem as ouça.  Mais desanimador do que a apatia que se tornara o modo de ser deles era a matéria-ódio que se instaurara nos espaços vazios.

Era quase imperceptível, mas ficou bastante evidente nos meses que se seguiram. Sem a vontade de espera sua pele queimava diante do vazio que estava. Preenchia-se com carinhos, com dedos, letras e café. Se você valoriza sua saúde mental, empenhe-se na direção de coisas que lhe dão prazer. Para entreter-se somente. Vivemos como que nos debatendo como os justos que permanecem em silêncio. Então para não ter que dizer corria riscos.

Da perdição que é o descarte, agora voltamos ao centro de tudo e o que conhecíamos era insuficiente. Desceu, pagou, e ficou muito tempo ali, na entrada da estação, ao lado da sua bagagem, assumindo sua nova condição. Eu não podia levar você, e eu nem percebi isso. Lembrou do mar estrangeiro tão diferente do seu mar. Eu tenho o corpo sem mente e ele grita como a dor. Mas a boca não grita e nem sequer sussurra, boca calada, porque ‘seu pai evém chegando’. O mais pessoal que está disposto a ser, e quanto mais íntimo você está disposto a ser sobre os detalhes de sua própria vida, o mais universal você é.

Sorri gostoso quando vê a placa da estação do metrô, de um azul sem pátria, pantone que era.

 

004-helena-almeida-theredlist.jpg

Helena Almeida, Inhabited Painting, 1975, Acrylic on photograph

 

Neurônios-espelho

Uma noite de novembro na década de noventa esteve sozinha, e se estivesse tendo um dia ruim, não olhariam em sua direção. Talvez sempre se pode ouvir Você vai encontrar instantaneamente como viver. A jovem família tem prioridade, e isso faz com que se sinta um pouco pior. Os dois sentados em um quarto de hotel, diante de uma declaração absurda que era aquela – preferia as que vinham com força de mudança, quiçá equilíbrio. Pensar com prudência e estilo.

Pois que uma pessoa de tantas histórias, que acontecem em lugares um pouco indeterminados, revela possibilidades bastante limitadas e ainda assim não consideradas. Muitos anos atrás gostaria de saber em que medida a vontade verbal pode ser traduzida. Palavra-ação. Objetos imóveis como pedras, conchas, as forças de areia movediça-escuras, um palácio, água pura, colunas imponentes, uma pirâmide, pinturas nas paredes que nomeamos quando perambulam no nosso sono, rebuliçam a consciência.

Porquê o verso livre, prevendo uma saúde emocional forte, é mais difícil de escrever do que a poesia calibrada, cadente. Se não há algum tipo de movimentação interna que justifique a rigidez, ele não poderá ser feito. Levanta-se lentamente, segue em direção à janela, abre as cortinas e a noite que poderia ser a mais estrelada de todas para coroar a emoção, e é apenas mais uma noite. Como tantas, sem dono. Desejava algo que torne cognoscível o caminho de algo fora do tempo. É uma forma de hipnotismo, auto imposto. Isto é apenas parcialmente o seu próprio fazer e as preferências são, se não houver escolha, de vivê-las a fundo e perceber que ama (no matter or what).

As ondas já não vêm como antes, e a produção do medo estancou. “Sinto que todos nós temos esses ‘neurónios-espelho’ em nosso cérebro que nos fazem tomar um pouco de humor das pessoas ao nosso redor.” Arde de vontade por um pouco de humor, por um pouco de persistência, alegria. Uma boa contrapartida se conseguir dormir …

11694865_953134174744021_8279204618017297058_n
Eric Marrian

 

Então você tem que me amar

Eu tenho o seu nome e seu número, você parece um pouco surpreso… Talvez seja porque eu posso ser, você sabe, frio como o gelo. Em situações de dias quentes sempre quero vir. E se eu ver você saindo, seguro-te antes que chegue à porta. Eu vou te dizer uma coisa, você é melhor que o inexato agreste. Eu vejo o futuro (eu ouço os mortos). Nele, eles tentarão matar o seu estilo, destruirão a sua forma e desacreditarão seus motivos. Eu vi a maneira que acontecerá, pois te atacarão onde tu é mais frágil. Atacarão tua honra, tua integridade e chegará a duvidar dos próprios pensamentos. Então decore meu número, é por isso que eu tenho um telefone. Me ligue depois que escurecer. Me ligue.

Posso fazer o sol levantar-se diariamente bem acima de seus desencantos de pintura de paisagem. Estarei na primeira fila mais tarde, quando sua pessoa torna-se uma persona. Penso que talvez possamos mudar este jogo para sempre, sair da mediocridade. Nossa respiração torna as formas etéreas no tempo frio. Eles podem dizer que somos os dois loucos… e eles estarão certos.

Estou feliz que eu encontrei você, velho. Não quero alguém dizendo ahn não-não “acabou-se o tempo”. Não vou desistir fácil, nós fomos feitos para cruzar a linha do horizonte. Não quero que as coisas que fazemos… Apenas quando precisar me chame. Pessoas o ouvem e sorriem. Provavelmente, naquele momento que disse aquilo, eu estava me divertindo com areia. Então, se você estiver se sentindo da mesma maneira, apenas me chame, entende? Durante muito tempo fui tímido no contato com outras pessoas, que eu me lembro. Só não pense sobre obras de arte como objetos, pense sobre eles como gatilhos para experiências. Você é atenta, e eu confiei no que a sua atenção se dirigia. Porque eu não sabia, mas eu queria saber.

Tentação pode ser tudo ao meu redor.

007-osma-harvilahti-theredlist

Osma Harvilahti

 

 

 

 

Esta é a mensagem desta carta

(Um grande vento de otimismo vai soprar na sua vida em breve). Alguém escreveu que era um trabalho inédito, na verdade, estava em uma posição extremamente positiva quanto ao futuro, embora inédito não era. Mas também, colocado daquela forma, calma e rasante, recusando a exploração da energia explosiva e força vital, transferidos para o espaço da arte, era como acordar no meio da noite. No que dizia respeito à sua criatividade funcionava melhor. Seu estilo de vida vai evoluir no sentido de criar mais espaço para o silêncio, atividades de lazer e tempo para viver. Os próprios intervalos de verão, milagrosamente perfeitos, seriam em piqueniques com toalha xadrez vermelha. (Permitir que gerações distintas percorram as memórias de Pedro). Lembranças do mar que vão desde o calor de uma noite para dias ainda mais quentes e vaporosos – mais tipicamente esmagados em um corpo que apesar dos suores permanecia intacto. Na bagagem alguns bons sanduíches de presunto, guaraná e bananas. Estava com fome mas já estavam quase lá. Seria um registro de memórias, principalmente de outros povos (mesmo que imaginados) e, ocasionalmente, as suas próprias. Queria um vestido de fios de pérolas penduradas costurado ao corpo, literalmente.

De uma forma ou de outra, você irá estudar e irá aprender. Irá absorver o que os outros fizeram antes de ti (a sabedoria das pessoas mais velhas, dos seus pais e outras pessoas idosas). Uma fêmea às voltas com frescos, ainda que sangrando e inflamando punções na alma, presos sob a pele dos anéis, sugeria um consentimento eufórico. Sua vida vai se tornar mais estável e positiva em relação ao seu comportamento, vai ser dinâmico e não terá perturbações importantes, o que lhe dará liberdade para implementar seus planos a longo prazo.

Você não vai sentir qualquer necessidade especial de fugir, a vida real não é difícil pra você.

Areia, pés descalços, umidade, textura. Alegria dos lanches, alegria da companhia, alegria da vida. Alegria da língua, dos ventos e cheiros, é uma forma de retiro. Não podemos mais acreditar, mas as necessidades e anseios que nos fizeram compõem essas histórias de ir e voltar… Estamos sós, é violento. Ansiamos por beleza, sabedoria e propósito. Queremos viver para algo mais do que apenas nós mesmos.

É o lugar perto do coração.

Summer 09 Homepage Feet Dangling 700px

Faz bem sempre.

Com a idade de quase cinquenta anos, sentada à beira do oceano, ela mergulha seus poderes. As técnicas de cura evoluíram muito e agora perseguir o fantástico é até aceitável. De forma ocidental, a busca da síntese ainda que de forma pouco racional, poucas coisas querem dizer muitas. Os desejos são fortes e cheios de cor que dão suporte ao próprio poder do corpo. Sentia que de alguma forma um evento irá ocorrer que lhe dará a oportunidade de fazer exatamente isso, utilizar o corpo todo, assim como as pontas dos dedos. É aí que reside toda a graça: trazê-los para o contraditório lugar da realidade. De poderosos, os delírios necessários à nossa mente estão trabalhando em torno do relógio biológico a fim de manter a vitalidade. A impressão que fica é a de que ela vive uma rotina tranquila, serena embora ela diga, em meio àquele cheiro que entorpece de café com biscoitos, que não tinha mais energia para manter suas emoções em versões ampliadas:  grandes espantos, grande solidão, grandes inibições, grandes instabilidades… tinha se aquietado. Nós todos perdemos alguma da nossa fé sob a opressão do convívio, amores, crueldades patológicas da vida diária. Isso devem ser desconstruídos, disse. Sabe aquilo que a Madame Ono dizia? Um sonho que se sonha sozinho… pois é. Sempre a achei bonita, embora nunca gostei de como ela grita. Coloque duas vírgulas aí, menina. 

Saí dali comovida, com a sensação que tinha tomado o melhor café da minha vida.

virgula

Propósito na vida

De acordo com a família, ele foi visto pela última vez em Três Passos. Mas não estava lá e não havia chegado nos dias anteriores. As primeiras lembranças que tinha da infância eram de tentar acordá-lo sem conseguir, ele também não cooperava. Não era um jogo, mas era como se fosse. Agiam como se estivessem blefando, escondendo as cartas e os amores. Tentavam ser impassíveis. Supostamente não havia como reagir pois não era possível reconhecer uma pessoa que estaria  em vias de combate, arisca. Acabaram por se fechar as portas e reconhecerem o estado frágil  do excesso que desejamos. Lembrava dos chinelos com pregos, frases intuitivas, recompensadoras e sensíveis.

Se esquecera dos seus próprios limites, levantou e saiu. Desistiu da procura. Sem as múltiplas invenções da tecnologia, sem ser notado, de mãos dadas com os pensamentos. Pensava no domínio sobre os versos, coisas e pessoas. Mas havia limites, era o ano da realização pessoal então. Domingo atrapalhado esse.

Sentiu-se mais eufórico, a desistência alivia a tensão, os ombros caem, o sorriso acontece. Era tudo sobre gaiolas – as que a gente vive porque nasceu, porque escolheu.

Porque nem sabe. Pensa em pintar de branco sua sala e pendurar coisas no teto.

009-christina-malman-theredlist

Christina Malman, Woman Trying on a Fur Coat, 1939

 

Quando isso acontecer

Apressando-se / atrasando-se são formas igualmente fortes de tentar defender-se do presente. Finalmente outro mês vem chegando – porque o medo das palavras vazias apavora uma imagem “zen”, razoável e mentalmente equilibrada que só o café trás. E se a vida se tornasse subitamente algo bacana no final das contas? – era assim a Matilde. Sempre otimista. Ela é mais poderosa do que a força agressiva, talvez em uma forma mais sofisticada. A gente duvida de que dizendo sim as coisas se resolvam. É essencial tomar atitudes práticas, ainda que elas se revelem pouco afetivas ou até mesmo um tanto quanto impiedosas. Nós ali, a tomar antídotos com biscoitos de coco. Chuva inundando casas, molhando colchões.

Ela é um único personagem que se esbalda a jogar tanta luz no drama que a gente tem como máxima da vida. (Confundir as coisas de substância com o seu simulacro). O papo é solto, o frio acontece na espinha, a cada baque. Penso em escapar dali, ir embora, descer o elevador, devagar, lance por lance, para pensar. Vou de escadas, decido, muito antes da minha saída. São mais felizes quando as coisas boas são esperadas para acontecer e não quando estão acontecendo. O ritmo é um dos mais poderosos dos prazeres e espera que continue assim. Quando isso acontecer, ele crescerá mais doce. Ficamos ali, a nos olhar, com as cartas na nossa frente, tentando materializar o tão sonhado ritmo doce. Como a busca ansiosa por prazeres nos faz sair correndo na frente para encontrá-los, tanto, mas tanto… que não podemos abrandar nossa respiração o suficiente para apreciá-los quando eles vêm.

Estamos, portanto, uma civilização que sofre de decepção crônica e recorrente – um enxame formidável de crianças mimadas quebrando seus brinquedos, perdendo seus amores, ficando de mau. Dói. Há de fato uma coisa como “tempo” – a arte de dominar o ritmo – mas o tempo está escorrendo … Sinto o eterno presente em meus braços que mal consigo movê-los. Mas Matilde reverbera – pois é o segredo do bom tempo, e eu só vejo degraus. Arte, só por amor.

004-sonia-handelman-meyer-theredlist.png

Sonia Handelman Meyer, Bus Stop

 

Um conhaque e uma cachaça

Agora é deixar de molho, posso entrar.

O som da torneira pingando, pardal longe, o perfume da casa e o silêncio do rádio. Coragem e os pés formigando presos no encosto de caixote. Por onde começar? Parcela de alvos, músculo e parede. Decide a parede, pedra maciça, olhar macio. Água fervendo no fogão, se atira no sofá e se permite uns minutos de letargia. Um gole de uma bebida forte agora cairia bem, levanta rapidamente, desliga o fogão (não haveria mais necessidade de ferver água) e abre o armário. Lá tinha um conhaque e uma cachaça. Escolhe pelo primeiro, serve-se dois dedos e volta para o sofá. Era o momento que se deixaria sonhar, desejar. Acho que vou escolher um bom vinil pra escutar. Ouvir um dos seus discos combinaria com a ocasião que ela mesma criou como presente para si. Billie Lady in Satin seria dramático demais. Tonny Bennet! Perfeito. O disco está novo, a melodia apaixonada a faz sorrir, e só então molha os lábios na bebida. Outro gole, dessa vez maior, desce queimando pela garganta, e lhe traz imediatamente um estado delicioso de relaxamento do corpo. Aquela história de vitória pessoal lhe trouxera pensamentos filosóficos sobre a vida e a morte. Somos todos acidente. Desabotoa o sutiã deixando seus peitos soltos, livrando-se do incômodo do fecho nas suas costas. Faz aquela manobra de tirá-lo pela manga. Pequenas gargalhadas. Agora sim, o segundo gole.

004-fanny-viguier-theredlist

Fanny Viguier

 

Rotina

Tudo parecia diferente, afinal. Coração pequeno, cabeça miúda pra pensar, braço dolorido. Estava ali pra fazer também perguntas tolas.

(Há tolice no amor?).

A gente não tem juízo para coisas de antigamente. Às vezes mais enfezada nos modos, enfezada nos sustos todos da vida. Que fosse sonho para se esperar e para sentir, uma coisa tão pouca de se querer. Tão pouco de se esperar. Queria ter grandes sortes. Havia de enfurecer. Pensara que havia algo dentro de si que a esperava, para quando sonhasse. E ela respondeu: que sejam por coisa nenhuma até que sentires coisa nenhuma. Que sossegasse. Mas o sossego durava coisa nenhuma de tempo.

Perguntaram-lhe: tens pressa? Ela disse sim, que era um jeito de dizer que tinha medo.

A secura de tudo. De todas as águas.

 

jhlartigue01

Jacques Henri Lartigue

Absorta

Comemora o tempo frio tão pouco que o efeito é quase espiritual. Isolados marfins, pensa nos dentes de leite, inevitável. O benefício que lhe fora concedido tem valor, você sabe que este é um momento para ficar no hall de entrada, fazendo uso dos poderes intuitivos, de maneira uniforme e, se for possível, com brilho. Sente-se frágil, frágil e criativa. (Curiosa sua propensão humana básica para o pensamento mágico.) À medida que fazia a transição para a… ao invés de ler os sinais que os pressentimentos insistiam, prefere a sensação do longo inverno. Esteve esse tempo dedicada a recuperar seus ouvidos, agora mais pesados e superiores em todos os sentidos. Se prepara para produzir algo tão comparativamente gritante como a abertura o tão abstrata que conseguisse. Um infinito universo que chega forte, apoiando as mãos para puxar, mudando adereços para criar novos estados de espírito, avançando furtivamente para a frente de outras prioridades, quase despercebido. Mas pressentiu os seus contornos sombrios cada vez mais definidos depois com uma passagem daquela música de tirar o fôlego. Amorfo pensamento, desejo de transcendência, corda-condutora, sublimidade.

 

Me-Sitio-11

A qualidade de cada instante da nossa vida

Assim foi como tudo ficou tratado, ela se sentindo uma pessoa melhor, respirando melhor.

É claro que era um desabafo. Um mundo onde todos teriam uma chance razoável de felicidade, uma chance razoável. Razoável… repetia sem saber porquê. Talvez para que se tornasse realidade. A incrível limitação das palavras. Nas camadas mais sutis, o estado já desconfortável de infelicidade é um estigma que oscila entre a humilhação e o status.

Ele seguia o assunto com tédio, meio profissional. Dizia da inutilidade de pensamentos. Pelo contrário! Eu só acreditava em recordar o passado, imaginando o futuro, nunca no presente. Algumas pessoas dizem que a felicidade é agora, é a qualidade do frescor do momento presente. Devia-se misturar todos, todos os vislumbres de alguma verdade. A solidariedade dos corpos permanece. Não! Não é verdade que o coração se gasta (mas a gente cria essa ilusão). Coincidindo momentos muito específicos, sentara à mesa com aqueles novamente. Dois milhões de minutos parecem ter passado então.

Um tempo muito longo que todo mundo parecia ter dentro (entre as orelhas) e continuaram a não saber o que fazer com ele. Talvez depois de duas vezes esse tempo tenham encontrado o caminho para as montanhas, o que melhorava a sensação, mesmo que infimamente. Ruídos que representam sentimentos, pensamentos, talvez experiência. Talvez algumas verdades.

 

Photo-By-Camil-Tulcan

Foto by Camil Tulcan

 

 

Sweet intuition

A intuição não é linguagem.

Mas, quem sabe, se igualmente se possuir essa força misteriosa não seria apenas uma peça de artesanato consumado, uma feitura, uma manufatura…  isto não é algo que você pode voltar atrás e ter um olhar distanciado, sabe? Um pouco de inteligência, generosidade substancial e um entusiasmo palpável – necessidade. Misteriosa ela, que se mantêm sobre a alma oculta, que anda pra lá e pra cá de pés no chão, que distingue comunicações importantes a partir dos relatórios casuais do olhar.

Segue por aí, impune como quem sabe das coisas, com muito mais intensidade no ver a si mesma, a estabelecer novas prioridades. O que se está vivendo em sua vida (a vida de cada um é diferente) é,  por vezes, prós e contras de ambas (vidas muitas). É possível, só o que consigo pensar ao vê-la. Uma teoria elegante essa das maravilhas e das falhas do pensamento!

As vidas dentro da vida da gente.

Quais são as suas prioridades culturais? Um longo e árduo relacionamento. É inútil a insônia por exemplo. Se for pra dirigir, falar e entender o idioma – e o que está acontecendo na mente no momento, ainda assim é preciso. Se deixar muito pouco consciente disso. Mas em nenhum outro lugar essa relação ganha vida (mais viva e encantadora). Um antídoto humilhante: a promessa de plenitude interior. Sorri um sorriso largo e obediente.

 

10403520_1623234464568886_4267877031141001596_n (1).jpg

Para onde ela costumava ser

Não tinha mais nada a fazer. Sua arte (seu pecado) era ver tudo com beleza. Ficara ali naquele canto, imóvel, por tempo demais, chupando balas, roendo unhas. Para perder o apetite pelo que chamamos de pensar e deixar de fazer perguntas irrespondíveis –  foi-lhe dito.

Era uma forma que encontraram para lhe consertar, para lhe dar um jeito. A pessoa em quem mais tinha confiança foi justamente a mesma que arquitetou esse castigo. Para que não pensasse demais, para que não fosse demais, para que não desejasse demais. Suas idéias são apenas impasses, não interessa o quão importantes possam ser. (Não entendi…) Apenas deixe de ser um sabor amargo na boca.  Acha que está olhando para aquela página em branco por muito tempo, que pode produzir infinitos e incríveis desenhos, mesmo que fisicamente não sejam possíveis? Pode ser extremamente irritante até o ponto em que você pode querer gritar no travesseiro mais próximo (um travesseiro, por favor!).

Transformar-se na medida em que já se é. Ficamos sozinhos em tudo o que amamos.

Não abrir espaço para distrações (embora possa sonhar fora).

009_sophie-calle_theredlist
Sophie Calle

 

 

 

Além disso

Primeiro – se você está no amor – isso é uma coisa boa (que é a melhor coisa que pode acontecer a qualquer um).

Para frente ou para trás, as dificuldades se multiplicam com suas escolhas. Segurou firme as chaves como fonte de segurança. É para a primeira frase, lembra. Aqueles lá dizem querer a verdade…  (refinar as verdades que eles podem dizer um ao outro). Tinham uma certa bagagem filosófica e literária. Era redutora e sedutora essa verdade deles. Quis trocar o final por outros possíveis, inverter a ordem dos capítulos, torná-la famosa, talvez morasse em Berlim. (Querer a verdade é querer a segurança). E quem estava aqui justamente para rir das probabilidades e viver nossas vidas tão bem?

Bem que quis experimentar de novo e de novo, todos os dias. Ainda assim, existem alguns fatores – certas preferências – que tornam isso mais fácil. Café salva. Pegou sua caneca com as duas mãos e ali ficou por muitos minutos. Tantos que esfriou o café. É importante fazer isso, porque ao se fazer isso deseja justiça à sua própria complexidade. Delírio – aquele ímã poderoso que distorce até mesmo suas crenças sobre o que você gosta. Já se sente perdida, de si, dos outros.

Caminha no sol, respira com dificuldade, lembra que via belezas à toa. Sente sufoco, coceira nas mãos, inchados pés. Porque é ruim o suficiente não conseguir o que se quer, mas é pior ainda ter uma ideia do que é e o que você queria o tempo todo.

Mas eu não acho que você estava me perguntando o que você sente. Não deixe ninguém fazer disso algo miúdo ou escuro para você.

020-guy-le-querrec-theredlist.jpg

Guy Le Querrec,  1982

 

Ele adora torradas e farofa

Depois não falamos mais nada, não pensamos em mais nada, nada mais a gente quis.

Quando encontrar, guardo no bolso as histórias. Tremi, e a tremura é tão deliciosa como um encontro justo e firme de dois em um pensamento.  Internacional e acidental (mas ele é do mundo, não é daqui). Uma vontade derradeira (de nutrir laços humanos íntimos – o afeto, o desejo apaixonado e amizade) ameaça uma certa descrença (coisas de antes). Uma certeza absurda (custava a acreditar).

A relação mais rara, mais profunda. 

Nós temos muito mais bondade do que é dito. Eu gosto dele e ele gosta de mim. Nós usamos os nossos olhos mas o olhar está olhando, levianamente, aquele desenho no braço, aqueles escritos na pele. A partir do amor apaixonado eles fazem a doçura da vida. Os nossos poderes intelectuais e os princípios ativos aumentam com o nosso carinho. Dar uma pausa rápida em tudo o que era.

Eu sou tudo dormente, eu juro. Ele foi-se embora. Vi-o por um minuto, de relance.

No espaço pequeno, de manhã, quis café, quis cappuccino, quis torradas, quis banho. Quis sonho. Quis. 

helen-levitt-12

Helen Levitt

 

Ou seria engolida pelo tempo

Chegou na hora exata, como um sinal, talvez até divino (talvez  exista alguém pensando em mim agora…). Organiza sua vida ao redor disso, desses pequenos sinais. Naquele momento só consegue pensar na oportunidade que a vida oferece de  fazer pedidos para o universo. Suspira. Eles se abraçaram novamente, e então desataram a falar. Era um indicador de um amplo potencial, potencial afetivo, sabe, diria ao psicanalista mais tarde.

Porque aqui eu sou o lugar, o lugar é aqui.

Porque estereótipos limitam o amor, porque os rótulos limitam o amor. É muito sensível em relação a como os outros a acolhem (ouviu dele). Com notável ambição nos olhos lia nos trechos rabiscados em pedaços de guardanapos que guardava na bolsa “se aqueles que começamos a amar soubessem como estávamos antes de conhecê-los … eles poderiam perceber o que eles fizeram de nós”. Suspira.

O que podemos é fazer uma aposta! Tolice (decadência, sintoma de esgotamento). Aqueles que preferem os seus princípios aos infortúnios dos amores, sua felicidade, sim, aqueles eram fortes. Que besteira. Se recusam (apenas) a serem felizes fora das condições que parecem ter anexado a sua felicidade. Eu te amei como pude.  Às vezes sinto-me atravessada por uma imensa ternura por pessoas ao meu redor – grito mudo. Como o grito usado nos antigos clãs para inspirar os seus membros a lutarem pela preservação. A sua apenas, talvez já bastasse.

064-fan-ho-theredlist.jpg

Fan Ho, White tent, 1960, from series Living Theater

 

 

Amor em líquidos

Com cheiro de terra úmida e fértil, não conseguia sossegar. Estou adiando o silêncio. Tentou a palavra, mas ela cortou demais, doeu demais. Ela e seus múltiplos orgasmos eram sua usina de força em um arranjo maravilhoso desse esboço de ecossistema dinâmico do corpo.  Uma invejosa habilidade de produzir espasmos partindo do ventre em direção ao peito, pulmão e coração. Era o que se podia resultar desse impulso.

Sabia que deveria olhar os poetas para que não pensasse que esse tipo de auto-cortesia era injusta. Deitada no mato sentia o corpo espetado por pequenos gravetos que conseguiam atravessar o lençol que usou como leito. Queria o amor maior, natural. Um dia quis ser isenta do clímax e se permitir o mistério. Roçava levemente as coxas nuas no tecido, prolongando a viagem de volta, ainda que não tenha estado em lugar algum. Sobre memória, perda e culpa – já intuía o que viria a seguir. (Olhe nos meus olhos e fale sacanagens).

Um sentido, um nome, um corpo, carne. As coisas ausentes não mais eram.

035-emmet-gowin-theredlist

Emmet Gowin, Edith, Danville, Virginia, 1972

 

 

Mulher urso

Larga, deixou a bagagem do lado, e chegou. Dramática. Esticou as costas como que para parecer mais forte e jovem. Estava faminta, comia tudo, ressonava e existia. Eu cumpro minhas promessas, já foi logo dizendo. Sim, com oito anos de atraso. Agora estou de férias, férias pra vida toda.  No final eram escolhas. Estou muito triste, estou velha. Velha e larga. Estado bruto, selvagem. Independente. A pequena perguntou: está com vertigem, falta de ar, febres? Não te dá tonturas? Vocês têm um jeito estranho de estar com a vida. Olhou pra criança e resmungou, o que deu nessa pra ter ares de estragada? Guardou o senso na gaveta? Porque tu não vai tricotar? Endireitar essas ideias. Quero dormir. Até apagar meu passado, até a manhã seguinte. Com uma voz narrativa singular, deu de ombros, recitou uma ladainha e se retirou.

Ela havia fugido dali faziam muitos anos. Pegou uma foto, umas peças de roupas e foi. Naquela altura a vida encolheu-se. A volta. Não te fez diferença, ela acalmava os lugares.

 

 

004-alexis-vasilikos-theredlist.png

Alexis Vasilikos, From All In

Aquela parte da tua alma

As pessoas mudam. Eu só acho que devemos a ele algumas palavras, isso é tudo. Eles acabam não tendo nada a dizer um ao outro, mesmo que eles tenham sido melhores amigos em algum momento.

Satisfatório simplesmente por ser ofertado o afastamento voluntário e por não ser capaz de sugerir um momento especialmente alegre, com vinho e tudo. Precisariam ser modificadas dentro e fora de você (as coisas). Alguma certeza a gente tem em comum. É poderosa, embora sutil, a consciência. Quanto à clareza que veste o último figurino da apresentação “Nó”, vale dizer, é interior e apenas você pode revolvê-lo.

Morreu de fome porque se perdeu na própria casa. Forçando-me a pensar o contrário dos meus próprios pensamentos ~ no que diz respeito ao coração e aos afetos de um modo geral (enquanto os vínculos vão se enfraquecendo em ritmo constante). Pain can recalibrate your life. Curta isso sem ingenuidade então.

Correu em desvario pelo pátio, tentando fugir. Fugir do frio nas mãos e nos pensamentos. O Frio é sem poesia e sem pétalas. Frio sem perfume. Temos construído em alergia as reformas das informações desagradáveis ou perturbadoras; nossos meios de comunicação refletiram isso. Mas, se não se levantar nossos excedentes de gordura, e reconhecer que essa gordura comportamental, em sua maioria, é ser útil para distrair, iludir, divertir, e isolar-nos, para em seguida, te matar do coração. Todo cuidado é pouco então. Uma criteriosa morte irônica será essa.

Rodou sobre os próprios calcanhares até ter vontade de rir.

008_garry-winogrand_theredlist.png

Garry Winogrand, Lone woman in city bus, 1981