Insone

Era uma construção simples onde vivia e dormia em lençóis pintados para se assemelhar a tijolos. Sentia-se por vezes enterrada na noite. Não permitia contato fácil com o mundo – foi dormir vestida e com uma letargia paralisante. Fez de tudo para ficar acordada, chegou a montar guarda e tentou trancar as portas para que o sono não pudesse entrar. Submersa ali na escuridão completa durante a noite não tinha a menor ideia das indispensáveis formalidades que pertencem à vida diária. E de que não era a única. Uma lei do silêncio se estabeleceu em um caminho cercado de árvores e mesmo depois dos vereditos e mesmo com as histórias se multiplicando, o dormir e o acordar representavam perigo.

Com os que brincavam, mesmo de maneira intrincada, ela era idêntica. Os sinais (uma ilha branca de olhos azuis) de ordem dizendo que iria se tivesse a oportunidade! Em muitas formas só pode ser conhecida por matinais gestos que fizeram parte do seu repertório. (Queria saber como eram os gestos de sua vida). Do lado de fora das indiferentes reações ao abandono, das janelas dos quartos às noites que mais parecem painéis solares, os pensamentos iluminam.  E o que aconteceu mesmo, do mais simples ao depois das casas coloridas, foram os turnos cozinhando para os enlutados.

Os grandes campos férteis podiam ter sido interrompidos, mas parecia perdida em pensamentos e se certificou de que o registro de gás estava realmente fechado. Como uma outra tentativa velada de encorajar o abandono (me disseram que foi melhor deixar tudo em silêncio). Ter perdoado por vontade própria teria lhe feito conseguir escapar de fraturas internas.

Se via velha e branca adormecida.

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Olivier Culmann, Spectateurs, 2005

Stay good anyway

 

 

7

Que seja ensinar felicidade

Os requisitos básicos para dominar toda a teoria, não consigo. Hoje, isso não existe mais de se entender  e se sentir à vontade, julgando e buscando autonomia como se ela realmente existisse num outro canto. Uma ação que dê visibilidade a esse conceito tão arcaico (sobre diversos eventos)  tão perverso quanto resumir.

Não há qualquer benefício de aprendizado, emoções ou comportamento que venha do simples agir corretamente.  Diversas vezes o ser da experiência e o sentido humano da vida tendem a ser mais flexíveis apesar das divergências sutis (pelas pessoas comuns). E tem quase sido esquecidos o alicerce e coração e do todo que você possa melhorar em alguns dos aspectos. O inconcebível de ser particular. Em toda a sua profundidade.

Uma amiga fala de sinais. Nada mais sábio nesse momento – árduo manter os trabalhos e aprender a ser mais flexíveis. O sentido fundamental é não limitar a vastidão que é legítima como qualquer outra atividade do espírito.

 

Acredito, embora ainda não tocando minha carne.

 

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Faxina

Em casa resolveu-se pela faxina. O trabalho braçal desfavorecia o trabalho repetitivo mental do temor (isso lá era doença?). A maioria prefere o afastamento dos doentes, principalmente dos depressivos. Nesse ponto as faxineiras tinham vantagem, sempre seriam bem-vindas. Queria aprender a cultivar o bem-estar vívido das faxineiras, limpando a superfície dos acontecimentos. Liquefazer. Ao longe soou um tiro. Enfim a guerra começou. Sei que o prazo das coisas que teimavam em conviver comigo estava terminando. Desejava a destreza da faxina. Alforria. Sentia-me como a mais escrava das escravas e tudo que almejava era um novo estado das coisas.

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O vento assobiava

A causa desses enganos tem a ver com palavras, e o eixo que está fora do prumo se torna vida – suavemente desse desequilíbrio está fluindo uma pálida luz. Como um instrumento para examinarmos expressões e olhares para tudo com abertura significam a mesma coisa e desde ponto de vista dualista é o momento da mais alta satisfação. Essa matéria está dentro da gota de orvalho e como este momento talvez possa ser mais um mal entendido de outras tantas coisas. Ninguém sabe o que significa o que fazemos conosco –  próximas e distantes. Disse durante os primeiros encontros dessa amorosidade mútua com palavras próximas a navalhas cegas. Palavras agidas são um lugar livre para todas.

Podemos pensar sobre este saquinho de pele realmente, na imensidão, determinando não apenas este movimento como resultado da percepção mais ácidas das coisas, mas também a serem preferências de violência em nós. Então ao mesmo tempo teremos conhecimento intelectual. O olhar profundamente domina.

E assobia, ou assovia. Tanto faz.

 

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Luigi Ghirri, Lucerna, 1973

 

Não toquem em nada

Na perfeição que encontramos na reparação e no auto-perdão, na renúncia do nosso orgulho,  talvez possamos existir e ampliar a experiência do afeto pelo outro… eliminar a culpa e a angústia que sentimos quando ao agirmos fora do padrão, amamos. Alucina. A moral  de uma atitude nossa que de um afeto tão grande (uma vontade boba de mexer nos seus cabelos) gerado assim que sentia e ouvia perfeitamente o ruído do carinho nas suas costas. Naquele instante (não) em sua mente (paira no ar) sente que deve deixá-la ir (a boa do afeto compartilhado) da mesma forma que vieram, sem tocá-la, compará-la ou julgá-la.

Conseguimos renunciar às desarmonias e junto e dentro compartilhar uma porção de coisas que produzimos em nós mesmos, pela nossa vida ou morte e iluminação e desilusões e incapacidades e desentendimentos. Pode ocorrer por deslocamento (de sentimentos e emoções) ou por projeção (de desejos). Compartilhar muito. E teve vinho e cigarrinho.

Unir-se às pessoas certas.

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Jan Groover

 

Fragmento

(…) Lutava contra tais sentimentos e o tempo circundava criando um vazio em seus pequenos e inofensivos hábitos. Abriam caminho para finitude e o cotidiano tornara-se mais suportável. Era uma suportabiliade ilusória, pois sabia que os hábitos eram uma prisão. Fez seu café, sim, resolveu-se pelo cigarro e olha em volta, analisando todos os objetos da casa enquanto fazia anotações mentais do que precisaria ser feito. Ajustar o quadro na parede, trocar o forro da mesa, desembolar o fio da fonte do computador, limpar a gaveta onde guardava as receitas (quase todas da sua mãe, um bem de amor – um dia faria muitos daqueles pratos).

Não querer perdão por aquilo que lhe tornava conservadora.

Mas ainda assim a meta era ser libertária. Uma acidez, sensação de sufocamento, budistas falam de veneno mental. O café não ficou como queria, foi aquela pequena porção a mais de pó. Tudo bem, assim ficou ótimo também. Hoje já nem sabia o que era aquilo que sentira. A lembrança sempre vinha acompanhada de um aperto no peito, procura impulsos ajudantes. Começar em algum lugar, fora da superfície. Que aflitivo! Tinha a perfeita noção de que nada, absolutamente nada de anormal aconteceria se nem tudo fosse cumprido. Se tratava de algo inofensivo. Imaginava que o caminho da cura fosse o enfrentamento dessa ilusão. Experimentava, testava o cotidiano. Já chegara a passar todos os dias pelo mesmo relógio que marcava exatamente a mesma hora 7:46. Chegou a conseguir isso por muitos dias consecutivos. Quase se acostumara com a sensação de vertigem e falta de ar.

Não segura a torrente de lágrimas. Reivindica seu direito a chorar e a se sentir o tão vítima quanto quisesse. Parentes por parte do infinito, dos crimes. Não gostava desse terreno, o da vítima, mas era uma emergência. De tempos em tempos precisava se refugiar ali, mesmo que por alguns minutos. Logo se recuperava, e buscava seu auto-controle na base de respirações programadas. Conhecia bem o caminho da ida e da saída desse estado. Sob todos esses domínios da finitude humana. Se culpa pelos pensamentos de uma suposta libertação, pensamentos frutos de insônia e tormento. Isso ainda acontece, e, entre lágrimas vê o que acontece à sua volta a todo momento percebendo uma interligação imediata com aquilo que vive internamente.

Será que é normal isso? Sempre ensimesmar? (…)

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Lee Friedlander, Untitled, California, 2008

 

Secura

A felicidade deve ser encontrada no simples, repetia para se convencer. De pouco ou nada adianta dar valor às coisas exageradas e dramáticas da vida – era outra máxima que gostava de repetir como um mantra, buscando nela uma verdade profunda. Sentia calor e suas mãos suavam, a pressão já começava a baixar. Desejava o inferno a todos os que insistiam em colocar fogo em lotes vagos e folhas catadas nas calçadas nessa época do ano… Tudo ficava ardido, quente, machucado e difícil. As narinas, a pele, os olhos, a boca, os lábios ressecados.

Assim a busca pelos seus desejos internos era mais árdua. Exista os momentos de separação e que sejam compreendidos e bem vividos, talvez explicados por um conhecimento básico de milhares de nomezinhos de origem grega ou latina, alemão talvez.

A  consciência de si mesmo e dos próprios processos mentais era o desafio central de boa parte dos seus dias (mas era difícil nessa época do ano). Sentir uma mesma coisa a partir de pensamentos ou sensações parecidas, e a necessidade de reagir a ela (num autoconhecimento bonito de se ter) era impossível agora. Já conseguira avanços significativos. A repetição, e a familiaridade que sentimos com nossa reação (diante da repetição) era uma das coisas que buscava. Ficar cada vez mais fácil e leve.

São apenas pensamentos. Secos.

 

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Osma Harvilahth

 

Busca contínua por algo

Ela acaba cedendo à sensação de impotência e cessa de resmungar.

Era uma espécie de morte renunciar ao resmungo, calar o coração. A resignação tem seu lado bom também, pensa. Mostra uma força descomunal em prosseguir com a vida e seu cotidiano e sua louça e seus pastéis. É carne mas é como se fosse de ferro, o seu desejo.

Nem lembraria onde os metera, em qual tapete existencial varrera sua individualidade. Reagia catando pedras dos escombros e as lançava em direção àquele que tinha a força e a imponência de um tanque de guerra. Gasta sua energia acumulada de auto preservação nesses choques, que no fim resultam inúteis. Fazer o quê. Mas nada disso a abalava no final das contas. Deus falou, Deus quis, Deus deu essa vida.

Sabia que poderia se beneficiar com uma mudança de atitude, mas para quê? Essa era a sua vida. Engolia, e sorria.

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Osma Harvilahti, From series New Colors

 

 

 

 

 

Xícara de leite quente

Quando o estado de ânimo e do humor do dia o afeta… (que é a sensação de sentir o coração parar por um segundo) porque existe a liberdade que não se consegue alcançar. E quero um pouco também dessa energia vital e que se diga em voz alta – comece o tratamento! Porque deve-se gostar de si. Não importa nenhum desses fatores, tinha um lado de juízo com perfeita noção de que não nada iria acontecer. Continuam apontando para um outro horizonte mais belo e complexo que primeiro. Sabe que cultivar estabilidade é desfrutar do conforto. Desenvolvimento livre de si. E então a mente deu resposta de um nascimento acelerado pelas bruscas mutações dos desejos incompreendidos.

O princípio da incerteza só parece assumir um valor definido numa ficção e, continuar a interagir mesmo se separadas por um discurso subjetivo ou por distâncias enormes, é um desejo de salvação.

Sonha com leite quente ganhado de boa fé e bom coração, sem precisar pedir ou fazer. Possibilidade remota de um cuidado presente naquela lógica cruel de receber aquilo que se oferta cotidianamente a outrem. O que importa não é o modo ou a forma como o desejo é realizado, mas do esforço poupado proporcionando descanso existencial (como estar à beira da morte).

O descanso…  intui que esse não virá.

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Eikoh Hosoe

E só participei do banho

Realmente é secundário, disse, além de sugerir ansiedade e desordem para obter o direito aos prazeres. Adoece, intencionalmente indica medo, uma falta de disposição. Desloca no espaço o direito de transmitir sua amargura. A boca muda fica seca, inflamada, o corpo tenso dói. A luta e a exigência para se estar bem e continuar lutando entristece. Porque não conseguia sentir-se bem, afinal… tudo está bem, ela sabia, tudo está caminhando, ela insistia. Tudo tem solução, ouvia.

Na história de vida, de fontes não competentes, os movimentos repetidos e instaurados são sedimentados nos músculos, dizem que é memória. Talvez seja uma perdição num enlace que merece ser sua contraparte. A respiração presa sustenta a pausa do nó na garganta. Faz esse movimento repetidas vezes pois sabe que assim que o ar voltar a transitar no corpo a dor voltará. Tenta abrandar os sentimentos pra que fiquem menos insuportáveis, pensamentos, melhor dizendo.

Preciosidades de um recolhimento emocional deve ser compreendido como importante. Quietinhos e recolhidos, tão densa quanto o último respingo dela.

Tenta, com vontade, assegurar seu torrão de açúcar que são dados aos de boa vontade, bom humor, aos que reconhecem sua sorte, aos que não resmungam e têm boa disposição o tempo todo (e não se cansam de sorrir).

 

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Janine Antoni, Ingrown, 1998

 

 

 

 

 

 

Quando o silêncio vira suor

Um período particularmente bom para os menos capazes de lidar com as rejeições (daquelas de si pra si). Propagam que não é possível você ter tudo. Talvez por isso se queira um desabafo, um afago, um afeto. Interrompia o diálogo até sentir-me novamente inspirada mas essa não é a única explicação que realmente se encaixa. A insônia traz monstros com ela. E não suportava vê-los. Melhor dormir (entorpecer) especialmente quando os pensamentos parecem errados.

Se você achar que está certo em relação a tudo, de fontes não competentes e não confiáveis, a feiúra aparece. Enxerga-se no espelho, pele cansada, falta de brilho, olheiras profundas – pensa em Dorian  (de modo inverso). Não gostaria de se manter sempre imagem. O desejo era de que a imagem que visse fosse diferente,  significando uma diferença no dentro do dentro de si. Lembra de quadros que ganhara quando criança (na verdade eram do seu irmão) daqueles produzidos em série, de crianças e palhaços chorando e flamboyants na curva, floridos. Nada dizem em si – são milhares.

Devo ser uma péssima pessoa por tal desejo de liberdade. Amo muito você. Queria muito amar eu.

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Clark & Pougnaud, Versailles, diptych (3/6), 2003

 

Lou-ca

No sentido mais primário de se estar mais melancólico é aquele que, para se estar feliz, necessita de uma motivação externa, de receber segurança e reconhecimento das pessoas. É quase como desejar uma manipulação emocional. Pensamos que somos tão insanas e incapazes que precisamos, ou  nos convencemos de que precisamos, de um direcionamento externo para aquilo que sentimos (pessoal e intransferível). Tão cheia de carências.

Involuntário. Cai, mas é no seu chão, que o sustenta. E se levanta.

Nosso amor próprio se cala para não perder seus ganhos ilusórios, que estabelecem a base de sua felicidade. A paz de se reinventar e evoluir a partir daquilo que está morto e putrefato, é alguma qualidade. Nosso apego ao ego é tão grosseiro que, mesmo se tivermos um apoio, ele se torna insuficiente ao nossos olhos. Como soluções apresentadas ao nosso estado de forma aleatória e não solicitadas criando sensações de frustração e tristeza.

É óbvio que desejamos aquilo que se liberta. Com todos os meios devemos gerar antídotos cada vez mais precisos, agindo de modo a estar em paz com nós mesmos, e não se deixar levar pela facilidade do terreno da melancolia.

Seria necessário romper com essa forma de pensar.

“O primeiro problema para todos nós, homens e mulheres, não é aprender; mas sim desaprender.”  Gloria Steinem

 

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A crença no renascimento

Criava conceitos intimamente na tentativa de definir quando os acontecimentos se relacionavam ou não como causa e consequência. Criava significados com clareza e a essência deste conceito é a satisfação como a de um prozac na corrente sanguínea. Evidências claras do quão isso era esquisito e absurdo estava por todos os lados. Tanto quanto as sincronicidades.  Os sinais estando fora de nós era só escolher o lado.

Como uns e outros reagem a isto não como algo lógico e racional  mas como a mais pura vontade de se livrar daquilo o quanto antes, fazia escolhas a partir de caminhos aparentemente mais fáceis. Dúvida como algo que liberta, que permite que se pense melhor sobre tudo. De abandono, de entrega, de curtição, de descompromisso, fizera um pouco de tudo. Sensações que migravam para o corpo e em decorrência disso brotaram várias memórias.

Impulsos que animara passado, um presente e um futuro ocos. Imaginava que apenas precisaria refinar as suas compreensões, mas não precisava de ser convencida da existência do renascimento. Qualquer um. Para que lembrasse o que era de verdade e o tanto que faltara para que pudesse olhar no espelho sem sentir vergonha do inferno no qual mergulhara sua vida. A partir do momento… oquei, a vida segue.

E aí então, hoje despertou com a sensação de que tinha passado pelo buraco negro existencial, saído dele inteira e que curtia o sol. Mais uma vez as sensações tinham sido uma espécie de expurgo. Como isso aconteceu?  Não saberia dizer. Mas sei que foi assim que sentira.

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Recolhimento ao silêncio

Travar uma luta entre vícios de pensamentos acabam naqueles embates físicos que doem as articulações. Identificar e reconhecer algumas ilusões, como a raiva e a sensação de impotência, pede uma fase de recolhimento, silêncio, introspeção. Compreender isso é um bom passo. As dores são gradualmente reduzidas se se passa por uma transformação geralmente muito lenta  –  a mente é capaz de mudar esses fenômenos, ou seja, elas contêm, ou carregam, sua própria existência e a possibilidade de expandir, liberar-se. Ahn!

Reduzir e aprofundar-se na mais pura e inquestionável certeza revela, entre outras coisas, aquilo que tememos. Uma necessidade espontânea muda a importância que damos às nossas próprias crises.  Garantir a saúde estrutural é um desafio diário. Ao mesmo tempo em que se pode desejar profundamente se abrir emocionalmente (…) pode-se ter muito a dizer sobre muita coisa.

Onde se encaixam os antidepressivos nesses cigarros?

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Vivian Maier

 

 

 

 

Sobreposição dos tempos

Admirava capacidade de alguns de acumular energia quando submetidos ao estresse.  A procura por reviver o passado talvez de forma diferente persegue, em um apego incontrolável. Minhas crenças nesse momento não importam, embora a resposta cortante tenha marcado. Agiu de uma maneira muito simplista para reduzir a questão.

Há profundas aspirações que temos que podem nutrir nossa vida ou envenená-la. Numa forma quase natural de ser refém de si mesmo – uma força cega numa motivação ampla e justa é comum. Duas ou três posturas altamente semelhantes e ao mesmo tempo díspares. Podemos fazer muito mais do que somente usar as ferramentas que conhecemos (cozinhar à distância).

Um nó imaginário em torno do seu pescoço ajuda a fornecer insights de vida. (Quando isso a fez entender  que o fato deixou de fazer diferença?) Por que tanto apego à existência se sequer sabemos o que fazer com nossas vidas?

Acho que vou procurar um bom vinil pra escutar.

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A morte como combustível da vida

A falta dói, e eu nem sei como essa falta dói, mas vejo uma amiga se ver perdida, doendo ausência, prevendo a saudade, sentindo o oco.

O ‘nunca mais’ dilacera, arranca pedaço. Nos revolta, enraivece. A lógica está fora do nosso alcance, os motivos da escolha pela não-vida, não permanência junto daqueles que se é interligado enlouquece.

Entre um respiro e outro, o nó no estômago diz que não poderemos ser ou fazer tudo que queremos. E vem a verdade, aquela verdade que beira a impotência, e temos mesmo é que escolher como vamos nos comportar diante da vida.  Sempre que começo a perder o foco, lembro que não tenho muito tempo. Simples o fato de que se foi e não irá voltar.

Tudo está interligado e tudo que é interligado e composto está sujeito a impermanência.  Sidarta descobriu que impermanência não significa morte, como geralmente pensamos; significa mudança. 

Se fazer do avesso para um novo ciclo é o caminho, não há outro. Às vezes gostaríamos de pegar a dor do outro e fazê-la nossa, empatia pura, para que ela não sinta tanto, tudo, tanto, sozinha. Pois não está.

E, amiga:  espero que você encare o fim de qualquer ciclo como algo positivo. Já que somos os únicos responsáveis pelas nossas escolhas, podemos escolher um recomeço positivo para qualquer fim. Não falo de facilidades, mas de sobrevivência.

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Desordem

(…) Era a terceira vez que se detinha na frente dos escombros, perdida tanto nos detalhes e nas sincronizações, vendo sentidos ocultos, que geravam uma tensão corporal extrema.

Sua garganta doía, o maxilar, a posição da língua na boca, as articulações. Movimentar ficava difícil e era a hora de respirar e relaxar os músculos. Ideias exageradas sobre organização, simetria, perfeição já tinham ficado para trás.

Costumava ser tão leve, encarava a desordem com tranquilidade. Isso mudou como fruto de… isso.

Agora ainda não.   (…)

 

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Agora olharei a noite

Felizmente hoje aquela musicalidade aconchegante dos timbres doces invade. Com o tempo, na sua proporção em beleza melancólica, a audição se prontificou a mergulhar em uma região obscura para nós. Uma dúvida (do naipe de uma ansiedade aguda do futuro) acabaria por ser uma dura provação. Comichão-esperança.

É uma fraqueza desejar uma linearidade nos fatos, na história vivida. Não é uma má ideia correr em direção a um entendimento. Há anos venho lendo sobre o assunto como forma de tratamento, e essas palavras tem um peso enorme quando pronunciadas (verdades concretizadas) por mim, para mim.

Uma sensação de destensionamento, cede os ombros. O alívio é de graça, basta ter paciência. Eu esperava dele um companheirismo. Encontro ressonância nessa perspectiva de amor, uma janela que aponta para uma cura como corticóide receitado por telefone. Um gesto de genuína compaixão. Uma promessa de proteção e tranquilidade. Penso numa cura simultânea sugerindo um triunfo sobre a adversidade. O caminho da cura pode ser o caminho da doença eterna e vice versa. Alegrava-se com isso, a via de mão dupla.

Agora sentia alternativas.

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Grace Kim, Untitled, 2009, from series Dream Meditation

 

Era capaz de se sentir autorizado pelo sistema

Como passa rápido e logo chegamos ao nosso último dia, pena não podermos voltar os ponteiros do relógio para tentar outra vez. Poderia pensar que isso nos trará algum conforto. A melhor maneira de ter certeza acabou gerando ainda mais expectativa, não mencionei o ocorrido por muito tempo e com essa atitude tudo parecia seguir seu rumo normalmente. Eu achava que  não tinha o poder de me afetar diretamente.

Agindo de maneira responsável e manifestando compaixão que mais dão sentido às nossas vidas do que ao coração daquele que fere – era o que tentava realizar. Se pensamos a cena do tema da violência como uma categoria da prática contra o outro, deixamos embaixo do tapete aquela que cometemos contra nós mesmos. O próprio limite entre o ser e o parecer inevitável da violência é questão para pensar. A demora em se perceber como mais uma face de ações banhadas de sordidez era pedregoso e dolorido – com o tempo era mais difícil esconder o nojo e a raiva. E vê-lo simplesmente me deixava deprimida e me fazia sentir muito vulnerável por dias.

Esta não é uma questão para ser debatida com teorizações complicadas. Trabalhava com improvisações. A única coisa que poderia fazer é usar bem o presente. E em tudo isso utilizando apenas os níveis mais superficiais, elementares e menos refinados do espírito humano como ponto de partida.

O essencial permanece escondido de nós sem que se seguisse vivendo por aí. E o discurso fofo de direitos e de sonho de igualdade não tira o peso do estômago.

Simplesmente se busca uma leveza de corpo.

 

 

 

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Você tem que se aquecer

É um  encantamento estar longe de onde há o perigo e da última coisa que você se lembra (uma briga). Lá vigora também aquilo que salva à auto compreensão de nossa própria condição como seres humanos assolados pela incerteza (olhos vendados). Arrisca transformar-se em pesadelo autodestrutivo – a ambiguidade é preferível à clareza e à simplicidade. O ônibus sacolejando sobre um talco vermelho, assemelhando a paisagem a filtros vintage que encontramos por aí –  alimentando tipos específicos de ilusão, uma memória que pertence a todos. Não restou sonho de liberdade possível, técnica que equaciona urgência com pressa, por si mesmo emergencial. A mudança resulta de uma instrumentalização da necessidade de uma postura mais racional que não se desloque da ação.

É lento. Nada parecido com o ativismo frenético e o falatório vazio a fim de consolidar e estender sua ideia original. Ideais ainda imaturos. Começa a notar que coisas insólitas estão acontecendo com ela e, pior, está fazendo coisas estranhas e irreconhecíveis. O movimento cessa, a poeira invade as janelas e tudo fica coberto com uma fina camada que seca a garganta e fere os lábios. Abre a bolsa e entrega uma moeda dobrada ao meio – enfrentar um livre fluxo do pensamento.

É claro que você terá de criar o vilão – lembrou.

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William Klein, Serge Gainsbourg, (album cover of Love on the Beat)

 

 

 

 

Uma direção

Felizmente hoje o objeto é com a musicalidade aconchegante, com o tempo, na proporção de uma beleza melancólica da natureza mais profunda.  Alguma coisa prendeu meus pensamentos, talvez uma emoção que sempre me mete em dificuldades quando ela surge. Simplesmente olhando com clareza para assentar por si só e ficar transparente é que o turvo se esvai. Apesar de tê-la como essencial, não é totalmente cristalina. O que ocorre estará negando o fato óbvio de que está sentindo especialmente quando os meus pensamentos se desprendiam além dos extremos da mente conceitual.

Depois de uma longa pausa condensava toda a estrutura de seu delírio…  é que já não havia mais delírio – havia se resolvido de alguma maneira. Focar na vida no sentido de felicidade me faz a desmerecer se advém de uma ignorância opcional de um percurso nada feliz. Pelo menos não todo tempo.  Um corretivo bem mais didático que poderia ser suportar cinquenta chibatadas cinzas num sadomasoquismo brando, sem sequelas ou curativos. Se simples assim fosse compreender a natureza essencial de uma emoção.

Estaremos simplesmente olhando com clareza para o que ocorre atravessado por dois tempos. A aposta é que sendo uma prática, possa fazer algo com isso.

O que a ideia de cura possui é uma pureza intrínseca analisando e reagindo à sua causa aparente: o externo. Muito sedutor.

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Deixe que pouse

Aberta e natural, num espaço que não tem problemas, sem subdivisões, expressando suas impressões a respeito de qualquer assunto que a toque. Importante é equilibrar suas forças e suas escolhas… recordar o que vale realmente a pena desejar. Uma imagem, um som. [Não ceder à exaustão] de escolher projetos – o convívio consigo mesma nem sempre é pacífico. Não chega a grandes conclusões. Segue devagar pelas cores, formas, contornos, conceitos. Isso deveria ser o suficiente para ficar envolvida com o querer ou não querer alguma coisa. Como um subproduto da esperança, a busca corre  num constante ir e vir, tentando controlar as circunstâncias da vida.  Contemplar a impermanência proporcionando uma maior aproximação das coisas e não ter um movimento tão amplamente largo em direção à tristeza ainda é um desafio, sabia disso.

A vinda de mais um impulso contrário se faz inevitável. Você é você e você é aquilo que você pensa que é. E também você é o que os outros pensam que você é. Dualismo imaginário em última instância, tem essa sensibilidade. Sequer é real. Passeamos, olhamos tudo, queremos e desejamos cultivando a apreciação numa perspectiva de auto-aceitação. E a aceitação auto-centrada se tornara um hábito muito forte e a querência não transfere suas virtudes às ações.

E todo dia dizem que confunde conceitos numa boa fé mobilizada desalimentando monstros distantes daqueles que não desejam construir nada.

E o pouso do pensamento há de ser leve.

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O pior é a maldita consciência

Você poderá por tudo a perder, numa versão revisada e ampliada de si, numa fome de tudo. Por trás de todo o endurecimento, aperto e rigidez do coração, há sempre o medo, o medo. Há um ponto fraco! De você não poder suportar o que está sentindo em um amor, pegou minhas asas.

O próprio mal-estar sobre as circunstâncias, transformando diferenças em desigualdades emergiu dando ouvidos às histórias que contamos para nós mesmas incansavelmente. Escolher estar presente e acordada numa espera de que a ideia mude por si mesma, apenas porque sabe o que todo mundo sabe e se apropriara do que fizera antes tornando-a natural.

O que foi um erro fora simplesmente silenciado –  ligamentos e tendões rompidos num horror que só o distanciamento nos permitira perceber. A produção dessa deformação começara na infância e a maneira instável de locomoção, um pouco curvada, cambaleante e dolorida  foram construídos como socialmente atraentes. Sem a perspectiva de minimizar o sentido intimidando uma alternativa, não tem jeito, corpo e mente passam a se distanciar lentamente. E o pior nem é isso, o pior é a maldita consciência. Ser forte o suficiente para que a fase mais densa e cinza passe.

A verdade é que eu nunca relaxo.

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Nó teórico

Ser alguém contida ameniza obrigação comportamental relaxando e tranquilizando o corpo, de forma mais profunda a cada vez. A estética padronizada desumaniza as curvas e tenta-se entender onde a feminilidade reside, ou pelo menos a sua própria. A mudança vem também pela violência, pela ruptura que ela pode exercer, pelos rasgos. O encontro com o outro era uma habilidade adquirida que apesar de simples, não era uma prática diária. A necessidade de manter coisas e assuntos esquecidos era contra aquilo que acreditava: falar era uma busca pelo real, belo e verdadeiro. É totalmente possível que outra pessoa nos entenda muito mais do que nós mesmos. Observava bem de perto e desiste de ver, se recusa, mesmo não sendo uma condição involuntária.

Revelar muito sobre você pode confundir mais que esclarecer.

 

Ahn, se pelo menos conseguisse não dispersar tanto. Se pelo menos conseguisse não se preocupar tanto.

 

 

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