Das minhas vulnerabilidades…

E eu queria me sentir bonita de novo (a beleza é a promessa de felicidade) que sempre se perde. Ter o coração como uma caixinha de música. Os intestinos. Não encontra grande resistência no outro e nem em si, o que acaba por acontecer. Quando angustiada já deixaria de existir, o que não foi suficiente para blindar seu corpo.

Em minutos sobre seus sentimentos e pensamentos – sobre segundos.

Expõe emoções fraturadas num cansaço nos sete corpos existenciais. Surge uma alegria nos toques, com grande interesse nos benefícios práticos em uma persistente companhia! Um exercício diário de libertação dessa ilusão que é feita num arranjo injusto e intenso. A consciência interna é limitada para o conflito interior das emoções humanas. Que ainda são vigor.

Para as habilidades sociais transparecia a impaciência e aquela inabilidade de listar, separar, classificar o que sente, digerir o que fosse preciso, relapsa de si mesma que estava. Um furor selvagem costuma ser quase inevitável, ainda que seja coberta pelo manto da busca pela verdade.

Em uma tentativa de fugir da vulgaridade do gesto, desejo.

E desejo sol. Nas costas.

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Renovou as juras de amor

Renovando as juras de amor, viu o impacto que as emoções causam em suas vidas. E em especial na sua.

Na lógica do ‘antes tarde do que nunca’ estimou que tinha duas a três horas livres por dia, e se deixou  invadir pela maior beleza do mundo. Identificando suas forças, ter e dar amor, que teimam em queimar a face, que fica vermelhinha e quente (só de lembrar).

Pega um pedaço de papel e anota todos os olhares doces, toques precisos – é um bom lugar para começar. Entender-se de forma completa com tudo de bom, de mau e de feio, é comprometedor e assim mesmo lhe traz calma. Consegue silenciar-se. Acredita-se que todos os pecados são igualmente graves, assim como igualmente errados. Percebeu que não é bem assim, como negar as nuances, os pormenores, os detalhes, aquelas pequenas miçangas nos cantos da gaveta? Estivera condenado a sentir-se passível de alguma punição, por todos os erros, todos as afeições violentas.  É uma armadilha que se criou para si mesmo. Estava convencido disso. E diante de uma suposta situação em que fosse exigida maturidade diria que seus gostos diziam tudo sobre você.

Querendo preservar o bom estado das coisas e dos sonos, retira sua inquietude e quer um pouco de sopa, sopa quente. De queimar a língua. Incomunicável ficaria então.

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Seios desnudados

Ao menos às que procuram se manter informadas, percebem a prisão e a chatice que não haveria razão de existir, ainda que tivesse um fundo de verdade.

Eu vi medo nos olhos dela quando mais queria ser e demonstrar fortaleza. Nem sempre alcançamos sucesso em atuações, o corpo exposto não é o de ninguém além do seu. E naquela tentativa de explicar o que não pode ser realizado enfrentamos uma… inquisição. Bate no peito, se infla. Uma boa defesa daquele chute alto, preciso. Acaba por se aprender a lutar? O que não se percebe, pelo menos em uma forma superficial de leitura, é no que se transforma o adversário quando ataca e se justifica. A necessidade do ataque é sua maior fraqueza então.

A lógica do ‘respeito mas não me interesso’  transforma a luta absolutamente franca. As olheiras não são perdoadas, nem o cansaço, nem a não impecabilidade da sua aparência. Aparência. Senti na pele ‘você é culpada por eu te destruir’ ‘você é culpada por te amar’ ‘você é culpada por eu ser fracasso’ e, garanto que as cicatrizes existem e doem, e desencadeiam efeitos colaterais tão certeiros ainda que abstratos. É tosco. É rude.

Todos os seios desnudos pertencem aos outros, e os olhares disfarçados de cobiça atingem bem na linha da cintura, e tiram o ar. E depois sou toda cicatriz, fígado e estômago que hão de virar de ferro algum dia.

Ser mulher por aqui é inferno e não há outra saída a não ser coerente com os fatos e com essas cicatrizes nossas de todos os dias.

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Literalmente [ou quase]

Ainda não se tornara uma persona non grata, tudo foi feito na sala de espera. Mas suas idéias podem ser um pouco difíceis de entender ou aceitar, principalmente agora que parecia estar sentindo muita dor, precisava das suas muletas. Muito embora não seja possível analisar a composição do seu silêncio, uma melhor compreensão de tudo poderia fazê-la se sentir mais… talvez menos, menos fatiada. A capacidade de resposta e a motivação para uma maior consciência  ou uma maior empatia ficam seriamente comprometidas. Uma outra abordagem que aparece como alternativa às muletas é mudar os hábitos e ser, e que seja tão robusta, que seja tão plena, que seja tão infernal.

Começara por reduzir outras distrações, parecendo ser um agir  benéfico sem dentros, sem foras. Precisava de um tema, nem que fosse para subvertê-lo. Mas era tudo ficcional, afinal os temas não a poupariam das escolhas, que eram feitas a todo instante, com consciência, com querência ou não.  Definindo expectativas. Passaram-se quase duas horas, uma abre e fecha sem fim, e aquela necessidade de estar sozinha, percebia-se, voltara.

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Sem insinuar

Será preciso bater mais do que uma vez na mesma porta até que ela se abra, o momento pede paciência e respirações profundas. A cena é de terror, olheiras, cansaço, tristeza. Movimentos rápidos, tensos, dizem por si só o incômodo daquela visita e dos assuntos que bailam no ar. A rapidez é importante. Agilidade, vamos acabar logo com isso?

E o aspecto mais relevante é que a abertura não tem paredes para se esconder. O que fazemos com os vínculos que criamos, tecemos, é triste. Quando eles não são mais necessários deslocamos e guardamos o espaço no guarda-roupa para outros vestidos e conexões.  Aceitar o deslocamento e tentar não se sentir tolo. Eis o desafio – que não seja a única a pensar assim, ainda que seja difícil admitir, que tudo está sedimentado e já foi para o ralo. O que a imprensa faz chancela a mentira sedimentada e a troca de olhares se torna dolorosa.

Geralmente o lance que se faz intuitivamente é o melhor. Pena que nos perdemos  analisando um monte de possibilidades.

Sentir desamor …  aí começou uma gritaria danada. Mas tudo em silêncio.

 

 

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A brancura do café

Parece começar dO nada, sons que estão no mundo.  O motivo, muitas vezes banal – é impecável. Sempre um alto nível de exigência provoca e o faz por muito tempo, até porque, há casos em que uma boa dose talvez exigisse demais.

Os  cheiros, os sons, os filmes da nossa vida e as memórias que eles provocam, as emoções, se surpreendem nas semelhanças.

O café é assim, sai a fumacinha, o cheiro e o sabor já chamam a língua. Sorvemos. Vem como o som que bate na boca e ressoa lá dentro. Além da   música na beira do fogão. O fogo aquece e é tudo unificado.

Mas aí o café é branco. E por um motivo totalmente válido o conflito entre o coração da casa que é a cozinha e o espaço límpido e clean – é legítimo até porque é fácil transitar por paradoxos. O íntimo é eletrônico também.

–, deixou saudades. Suas esperanças não são idênticas apenas no que nos dá prazer. Trocando em miúdos: é interior, é ensimesmar. Se encaixam na sutileza inerente ao amor.

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Prataria

Tendo algum tipo de consciência que os segura, olhando diretamente para ela,  ele tinha uma vaga noção sobre os acontecimentos. O melhor do abraço, o mais importante, não é a ideia de que os braços facilitam o encontro dos desejos, mas a avassaladora potência do sim.

É comparada a uma determinada obra aberta, ainda que isso seja  se contorcer em  um espaço ocupado pela ludicidade, refletindo intervenções paralelas. Seja no começo, no meio, no fim ou após o fim haveriam sensações. Geralmente uma, somente. Em vez de exigir, esperar, cobrar ou pedir (reação imediata), oferecer. Mesmo quando são boas referências.

Mas caminha para a dispersão e aparece elevada. Pode estar ligada ao plano meramente sonoro permeando o cotidiano, ou o que quer que seja. Não aponta para qualquer direção e a própria freqüência estabiliza.

 

Não me lembro de já ter visto algo assim. Levo títulos em bandejas de prata.

Um sozinho é obra de arte e poesia.

 

 

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Nos abstemos [de prejudicar]

Idolatrar a dúvida e caminhar no incerto, pode não ser uma janela aberta para o mundo como o velho sonho de tomar café acompanhado.  Fazer alguém se sentir especial – captou o sentido profundo quando estava para encontrar alguém. Faça surpresas, fale o que sente – a fraqueza surge apenas quando passamos realmente por momentos de dificuldade e posamos de orgulhosos.

Definiu os termos do interesse próprio, preservando-se a dignidade. Que absolutamente tudo vá ao extremo. Desde que voltemos nosso olhar em outra direção, optando pelo não ocultamento das razões. Abstermos-nos desse gesto, seria por interesse próprio, apesar de termos alguma razão.

Sentaram-se na cama, o  tão esperado café quente, frutas e pão. Comeram a refeição olhando a paisagem e buscando uma alternativa à preguiça. Um cigarrinho, outro… troca de olhares sem palavras.

Quando treinamos [nossas mentes] primeiro pensamos em nós mesmos. E o bem estar individual depende de todo o seu corpo, mais velho, desde então.  Está ali, sempre ao lado, vigiando – a cuidar do resto dos outros corpos para nosso bem.

Diferenças sempre existirão; mas isso pode ajudar. Se tomarmos o bem estar dos outros como base para nossa própria ética.

 

 

 

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E o seu coração estará percorrendo o mundo

Eu sou a sua cara, disse. E eu a sua. – respondi. Ambos possuem armas de grosso calibre e uma mira perfeita no ponto certo do outro. Contra o quê mesmo? Para uma coisa importante e rara a nós, como coração. O que não é pouca coisa.

Não agir seria pura precipitação e recolher histórias fazendo carinho é a melhor ação. Você poderia terminar ouvindo coisas duras  – permaneça na tranquilidade meditativa. E quando foi preciso sentir o que era preciso sentir, não soube como.

E por causa disso já foi possível perceber um volume imenso na sua voz. A janela entreaberta preocupava, os vizinhos… escrevo só pra me lembrar de cobrir todos os focos.

O serviço encarece, mas não melhora. O Outro acha que tem o direito de afogar tudo aquilo que eu, no nosso mundo, tão pessoal tão precário e incerto, percebo e necessito.  E deve falar-se abertamente.

Hão de se proteger.

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Arno Rafael Minkkinen, Self-portrait with Tuovi, Karjusaari, Lahti, Finland, 1992

Morada

Em uma noite destas, estava quase vazia, e para vencer a tristeza e regularizar a circulação sanguínea, olho para ele com um cigarro entre os dedos e penso que não sei com certeza o que é que me dói.

Tenho instrução suficiente para não ser religiosamente crente. ‘Isso os senhores provavelmente não compreendem.’ Ele estava tão profundamente entranhado em minha consciência que, antes que ele tivesse tempo de se transformar, e eu conseguisse  me  livrar dessas ilusões, nos acarinhamos. Cada um é infeliz à sua maneira.

Deixei crescer as unhas, e em pensamento, nas noites espiando o céu estrelado, cravava-as nas suas costas até arrancar sangue. A fome é urgente – e a boca pediu carne e os dentes obedeceram. Uma tortura seria interessante se eu a explorasse com critério.

— Me preocupei com problemas do espírito. Acordou de sonhos intranquilos, com as maçãs desamparadas diante dos seus olhos. Ele acabou recitando-me versos e me fazendo poesia. Fechei os olhos duas ou quatro vezes, e ouvi, você é que nem eu, fala coisas malucas dormindo.

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Mas era importante

– Bom dia, como foi a cruzada?

– Devastadora.

– E o impulso original?

– Permanece.

– E o ímpeto da solidariedade humana?

– Seletivo.

– E o exemplo?

– Luminoso

– E a iniciativa?

– Corajosa.

– E o gesto?

– Brilhante.

– E as amizades?

– Rudes.

– E a fome?

– Dói.

– E o espelho?

– Opaco.

– E os papéis?

– Trocados.

– E o coração?

 

 

 

 

 

– Revoltado.

 

Chamem-me simplesmente.

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Não damos nascimentos de liberdade

A intenção era dar um nascimento elevado aos pensamentos, mas um pressentimento me dizia que os pensares exigem uma linearidade que é difícil. A verdade é encontrada na vida. Difícil transcrever os fatos, as coisas que vivi , entre todos os sentimentos possíveis, sem ficar absolutamente confusa. E se recortarmos, e isolarmos-os, veremos naqueles seres livres que eles não são a verdade absoluta. O sistema acusatório de crimes é dividido em três: o que é dito, o que é feito, o que é pensado. O problema que surge é gigante (ainda adormecido)  e o que fica claro quando a gente para pra pensar é que protagonizaram o episódio de forma abusiva – uns em relação aos outros. Difícil foi aceitar que cada desejo quando transformado em ato, pode trazer infelicidade e que o contentamento é impossível.

Olhamos as pessoas e as aprisionamos com nossos olhares e vontades, o conhecimento que possuímos não é verdade última e imutável.  Constata-se nesses pensamentos, sem julgá-los, a necessidade de predomínio exercido sobre outros.  Praticando o desligamento de pontos de vista sedimentados –  a fim de estar aberto a receber outros –  para que cada vez mais nos cansemos de chegar repetidas vezes à frustração.

Nós vemos que nossas relações podem ser completamente diferentes.

Houve celebração.

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Um estopim detona a explosão

De onde veio esse sentimento ruim, esse fel?  O descontentamento enorme esparrama. Não é fácil localizar a fonte, o cerne. Surgiu dos atos agidos, dos atos desejados, dos atos ainda nem agidos? A irritação não resolverá problema algum – esse vácuo vai acumulando forças que não têm por onde se resolver, ainda que o problema exista, o caminho tomado é onde a desmoralização acontece. A desmoralização é um desnude incômodo, é se tornar pecador. A sensação de invasão é incômoda e desleal. O que foi dito e pensado era também desleal? Sim, por certo. Ainda que não em atos?  Os atos foram questionados, os atos tentaram ser – outra coisa. Foram contaminados e foram feios. Muita proposta generalista substituindo nossa vontade inicial. Um estopim detona a explosão e a(s) verdade(s) aparece. A minha verdade, a sua verdade e A verdade – como dizia aquele sábio sem cabelos.

 

Acaba que  torna você sensível às necessidades dos outros, nesse  processo mental ou espiritual de cessar o sentimento de ressentimento ou raiva contra outra pessoa ou contra si mesmo. Em termos do relacionamento entre o que perdoa e o que há pra ser perdoado. É o esquecimento completo das ofensas de modo sincero e generoso. Tampouco é motivado por orgulho ou ostentação. A gente se apega às memórias que não mudam como as pessoas podem mudar. O movimento sente-se em sintonia com a primavera, ainda que pousando no inverno.

 

Toda nudez será castigada e eu não sei se quero ser perdoada…

 

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Igual spray de pimenta

Em um mundo caduco, onde a sucessão de erros escorre numa corrente de pessoas de bem, indignadas, envergonhadas, cheias de si e de razão. Considerei a enorme realidade e não distribuirei entorpecentes ou cartas suicida. Não há movimento que se sustente ou, no mínimo, que se sustente de maneira consistente. A manipulação assusta, mesmo que inebriante. São tantos pontos obscuros que eleger um chega a ser cruel. E sinto-me à vontade para dizer algo até que… e tudo voltaria ao normal…  ou eventualmente a negativa dos interlocutores deixaria claro que nada poderia ser feito quanto à questão. Mas a resposta vem em modo de  força desproporcional catalisando um processo que talvez levasse um tempo infinitamente maior para se cristalizar. Dito e redito por todos, os fins justificam os meios. Será que se apercebem que a ira, a vergonha, e aquilo tudo que foi dito também em inboxs alheios (e não lidos, não abertos e não escancarados, não violados) são duas faces da mesma moeda? Joguemos às claras então, abram suas gavetas.

Desta vez, porém, o(s) erro(s) feio(s)  criou um monstro que se espalhou por todo o corpo e coração. A partir de segunda-feira, a questão definitivamente já não girava mais em torno de amizades (embrulhadas em papel celofane), o que foi feito ou deixado de fazer, girava em torno de uma violação (naquela lógica de que os fins justificam os meios), tão despudorada que o corpo enrijece. Sinto-me presa à vida e ao olhar julgador de quem não respeito. Mas também inquieto por perceber claramente que não se tem ainda uma ideia muito clara do que se está fazendo ou de como prosseguir. Vale se formos enjauladas – o que resulta numa combinação muito, muito perigosa.

Sinto-me muito ofendida. E sei que ofendi também.

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Do sorriso e da elegância

Porque a música é detalhe, sua própria existência e personalidade. Vi pouco, era pra ter visto mais. A vontade do bem estar está associado a uma ideia de encontros e comunhão – que se passa numa fração de segundo. Transforma sem dó os conflitos internos, indo além das fronteiras do ego – agora ancorados nos vastos enigmas do corpo e da alma.

A fonte dessa experiência são  reflexos externos, fazendo com que a beleza se manifeste no mundo. Como é que um gesto ou uma palavra ou um som, um timbre… podem nos transportar para um sentimento grandioso que nos pareceria eterno? Foi como ver um o guerreiro desperto que trabalha pela iluminação de todos os seres – do espaço claro ao profundo escuro, com um foco de luz, quase cinema – um caminho espiritual em si mesmo. Ele tocou as coisas sem muito esforço, valendo-se mais do sorriso e da elegância, num êxtase, interminável, atemporal. Parecia tão fácil, tão simples. Sabedoria da igualdade, do espelho, caminhando junto, perto. Entender os outros no mundo deles e não a partir do nosso, com uma incrível capacidade de falar no dentro das pessoas.

Saí em águas, intensa, bonita, em carne, trêmula. Mais uma manifestação do puro afeto.

A sobrevivência não é uma habilidade acadêmica

Quem viu, as granadas que estraçalharam dentro do peito, viu que ninguém notou o papel da discordância dentro das vidas sem examinar nossas muitas diferenças.

O que isto mostra sobre a visão é triste e não têm nada a dizer sobre existencialismo.

Pode lembrar amargamente das palavras que lhe foram roubadas ainda dentro da boca.

Elas ganham um significado que nunca tiveram.  Apenas os perímetros mais estreitos de mudança são possíveis e admissíveis. Promover a mera tolerância de diferença, procurar novos meios de ser no mundo pode gerar a coragem e o sustento para agir onde não existem alvarás.

Mas ela não era daquele jeito, restam os  conflitos na esfera do individual. Até ficar de um jeito que não era, não era assim. É do ser humano, mesmo não fazendo sentido. As mortes vêm e vão, que a luz mais bonita do ano é a do outono, repete para si como uma ladainha enquanto foi lá num armário, trouxe uma caixa de sapato cheias de palavras.

Todas continuarão guardadas – sobre o erótico, sobre cultura, feminismo, silêncio. O duro é não valer o que pensava. Exaspera em pensar que as condições que levaram ao desaparecimento por certo levarão outras ao mesmo fim.

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Eu sinto seu beijo no meio da noite

Não apenas pela beleza do colo, da nuca, do peito, mas pela eletricidade que acontece sem controle. O homem que me olha, de um jeito, sem respostas definitivas, verdades últimas. A sua percepção das coisas aparece mais completa, e este aspecto favorece  os escritos e as trocas intelectuais – e que revela igualmente que pode surgir felicidade e liberdade, construir relações positivas em todas as direções.

A música é a maior das artes, e seus timbres, os timbres (…),  imprimem movimento à sua existência. Nosso coração e nossos pulmões afirmam com toda a ingenuidade: a paz eu levo comigo. É, considero todo mundo louco de espanar a poeira. Como está sua mente? A sombra, a luz, a pouca luz, nossa felicidade, nossa alegria, nossa energia, nossa respiração, nossa vida pulsa em cima de texturas  instáveis, até que chega o silêncio.

Ele desenhou imagens com linhas mágicas, e houve primavera e girassóis.

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Gilbert Garcin, Save nature, 2010

 

 

 

 

 

 

Foi isso que entendi

Porque cultivam a preguiça existencial. Sai de nariz em pé, mas de alma cabisbaixa, a memória não diz respeito apenas ao passado. Ela é presente e é futuro. Que sonhou cheia das certezas e transbordando de paixões, e não queria morrer. Ó, sei que ela acabou. E não quero ficar batendo de frente, impondo minhas idéias e muito menos acatar idéias que não estão de acordo com o que penso – disse. E saiu batendo de costas, e fazendo mais buracos inflexíveis. Sair e ficar não impõem nada sozinhos. Os movimentos, as palavras e as personalidades reveladas, sim. Talvez era exatamente isso o que queria. Justifica seu texto minucioso como uma ode à sinceridade. Desconfiaria ela que age o contrário? E contem comigo para o que precisar – disse.

 

 

 

 

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Fotor0603122017

Se for tudo ao mesmo tempo, melhor ainda.

Quando você se preocupar em ter uma imagem boazinha, pior será para todos. Costumamos agir dentro do esperado e preferimos fingir que não, cada vez mais difícil não se encaixar, afinal. Cada escolha que você fizer será o dobro do esforço para provar  o que considera mais pedregoso. Você tenta se concentrar em superar o momento o que envolve uma maior organização doméstica. Engajar-se agora na tarefa crucial de reconstruções culturais, na nossa medida de empatia, enquanto não cabemos mais nas nossas vidas (começamos a agir cegamente outra vez). Aí a coisa efetivamente começa. 

 

 

Um homem se aproximou de mim em um jipe.

“Quer subir?”, perguntou-me.

 

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Ficou maravilhado

Até se perguntaram se era para tanto. Sim, é para tanto. Atendendo a um chamado que sempre se anuncia num alvoroço, – não se tratava da força, mas da leveza. Efeitos sonoros e falsas transmissões de rádio e TV, os pelos dos braços se arrepiam, e foi perguntar na casa  se tinha água fria na geladeira. Tinha. Exigia muito mais do que apenas… Tanta vontade que eu tenho.

 

 

 

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Não tão incrível assim

Não perceberia sua própria loucura?  A falta que deveria cobrir era grande demais. A irritação foi tomando conta, não haveria como ser responsável por tamanha carência, tamanho apego, onde não haveria de ser. Diz o texto impecável demais, preciso e tranquilo, como um desabafo, com eloquência e sinceridade. Pra ser amigo tem que comer um kilo de sal com a pessoa, dizem. E veio o sufocamento, ou pela angústia, ou pela necessidade de recolhimento seguidamente desrespeitada e imaculada. Será que perceberia o peso de sua mão na garganta, a força, os hematomas (que ela achava que já tinham saído) …  E é hora de largar. Uma forma corajosa de educação que aceita as tentativas e os erros como parte do processo. De certo modo essa incompreensão gerou um desamor. Um ciclo de vida, que vai, se abre, se fala, se come, e tem por isso suas maiores fraquezas diante do outro. Antes tivesse ficado calada, quem sabe assim não sentiria o que veio a seguir. Haveria como voltar atrás, sem perdas e danos, tentava. O seu feminino clama por ser também cuidado.

 

 

A única opção é dar a cara pra bater. Uma descoberta.

 

 

 

 

 

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A verdade, mesmo, recebi em forma de tijolada

Outra maneira fazendo com que você entenda que o contratempo, o contratempo, o tempo todo solicitará de você uma autoridade. Apresentar e contar uma história de forma enxuta, condensada, capaz até de, preguiçosamente, convidar o cérebro a praticar sentimento. Ele topou contar tudo, – qual a verdadeira prisão em que se encontram? Saiu de lá calado, me deixou em casa e nunca mais tocou no assunto. Não é assim que a gente não tenha alternativa, haveria de ter precisado de muito para que um nome fosse apenas reduzido a uma palavra naquele exato momento mesmo. Gozei pela primeira vez em minha vida enquanto ainda nos beijávamos.

 

 

 

 

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Quartos abarrotados

Meu amor, existe a  ferocidade dos quartos abarrotados, impedindo de produzir algo novo, tente entender. A repetição é uma perpetuação, fico aqui comendo meus desejos e minhas verdades. Recomendam calma, pureza e amor no trato com as repetições e perpetuações alheias. É isso, não é? Portanto te informo que não ando por aí à procura de reviravoltas, apenas de bons prosseguimentos. Hei de ser perdoada, são menos de dois gloriosos anos que consegui um reencontro, diferente, melhor. Diferente do ‘fazer o que manda seu coração’ que  nos leva ao mesmo padrão (coração bobo coração bola).  A gente se ilude e espera que nos livre das altíssimas despesas de manutenção – coração, vinhos e táxi. Sim, envelheci, meu amor, e fico cada vez mais… levemente e sutilmente…

 

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Saul Leiter, Don’t Walk, 1953

 

Ele choveu por aqui

Quando me dei conta estava celebrando o mundo das cores vigorosas de novo. O modo como grandes distâncias de vazio e calma são interrompidas por ilhas de tumulto, ruído e gente com esta súbita necessidade de estar sempre se movendo para lá e para cá, atordoa. Você pode até terminar se dispersando para que você não sinta um desnecessário cansaço mental, justamente para ensinar, escrever, e também para aprofundar-se mais em questões de ordem espiritual, discutir estas questões. Minha zona de conforto tem sido a melancolia, que conheço bem. Muito bem.

O mundo das cores vigorosas é mais leve mais rarefeito e quero estar assim, como numa crônica de um amor novo, de novo. Querem observar bem essas coisas e praticá-las.

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Franco Fontana

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Delicadeza

Uma mente agitada faz um travesseiro inquieto, pensando no amor: corpos e palavras. E cada segundo de lucidez é quente. No fundo sabendo que o outro lado da ansiedade é a liberdade, simples assim, decidiram namorar, que outro nome poderia ter aquele encontro que se estendia por vários outros? O de dentro e o de fora, pensava enquanto observava seu corpo, suas articulações, o desenho do pé, das unhas. Observava minuciosamente, de ângulos diferentes, sempre de forma furtiva e deliciosa. Guardava esses tesouros invisíveis e de quando em quando perguntava-se se era isso mesmo. Se era assim que acontecia. O de dentro e o de fora. Ouvia as palavras, ouvia seu corpo, comia tudo, insaciável que estava dele. Queria se iluminar, e sorver.

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