Lou-ca

No sentido mais primário de se estar mais melancólico é aquele que, para se estar feliz, necessita de uma motivação externa, de receber segurança e reconhecimento das pessoas. É quase como desejar uma manipulação emocional. Pensamos que somos tão insanas e incapazes que precisamos, ou  nos convencemos de que precisamos, de um direcionamento externo para aquilo que sentimos (pessoal e intransferível). Tão cheia de carências.

Involuntário. Cai, mas é no seu chão, que o sustenta. E se levanta.

Nosso amor próprio se cala para não perder seus ganhos ilusórios, que estabelecem a base de sua felicidade. A paz de se reinventar e evoluir a partir daquilo que está morto e putrefato, é alguma qualidade. Nosso apego ao ego é tão grosseiro que, mesmo se tivermos um apoio, ele se torna insuficiente ao nossos olhos. Como soluções apresentadas ao nosso estado de forma aleatória e não solicitadas criando sensações de frustração e tristeza.

É óbvio que desejamos aquilo que se liberta. Com todos os meios devemos gerar antídotos cada vez mais precisos, agindo de modo a estar em paz com nós mesmos, e não se deixar levar pela facilidade do terreno da melancolia.

Seria necessário romper com essa forma de pensar.

“O primeiro problema para todos nós, homens e mulheres, não é aprender; mas sim desaprender.”  Gloria Steinem

 

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A crença no renascimento

Criava conceitos intimamente na tentativa de definir quando os acontecimentos se relacionavam ou não como causa e consequência. Criava significados com clareza e a essência deste conceito é a satisfação como a de um prozac na corrente sanguínea. Evidências claras do quão isso era esquisito e absurdo estava por todos os lados. Tanto quanto as sincronicidades.  Os sinais estando fora de nós era só escolher o lado.

Como uns e outros reagem a isto não como algo lógico e racional  mas como a mais pura vontade de se livrar daquilo o quanto antes, fazia escolhas a partir de caminhos aparentemente mais fáceis. Dúvida como algo que liberta, que permite que se pense melhor sobre tudo. De abandono, de entrega, de curtição, de descompromisso, fizera um pouco de tudo. Sensações que migravam para o corpo e em decorrência disso brotaram várias memórias.

Impulsos que animara passado, um presente e um futuro ocos. Imaginava que apenas precisaria refinar as suas compreensões, mas não precisava de ser convencida da existência do renascimento. Qualquer um. Para que lembrasse o que era de verdade e o tanto que faltara para que pudesse olhar no espelho sem sentir vergonha do inferno no qual mergulhara sua vida. A partir do momento… oquei, a vida segue.

E aí então, hoje despertou com a sensação de que tinha passado pelo buraco negro existencial, saído dele inteira e que curtia o sol. Mais uma vez as sensações tinham sido uma espécie de expurgo. Como isso aconteceu?  Não saberia dizer. Mas sei que foi assim que sentira.

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Recolhimento ao silêncio

Travar uma luta entre vícios de pensamentos acabam naqueles embates físicos que doem as articulações. Identificar e reconhecer algumas ilusões, como a raiva e a sensação de impotência, pede uma fase de recolhimento, silêncio, introspeção. Compreender isso é um bom passo. As dores são gradualmente reduzidas se se passa por uma transformação geralmente muito lenta  –  a mente é capaz de mudar esses fenômenos, ou seja, elas contêm, ou carregam, sua própria existência e a possibilidade de expandir, liberar-se. Ahn!

Reduzir e aprofundar-se na mais pura e inquestionável certeza revela, entre outras coisas, aquilo que tememos. Uma necessidade espontânea muda a importância que damos às nossas próprias crises.  Garantir a saúde estrutural é um desafio diário. Ao mesmo tempo em que se pode desejar profundamente se abrir emocionalmente (…) pode-se ter muito a dizer sobre muita coisa.

Onde se encaixam os antidepressivos nesses cigarros?

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Vivian Maier

 

 

 

 

Sobreposição dos tempos

Admirava capacidade de alguns de acumular energia quando submetidos ao estresse.  A procura por reviver o passado talvez de forma diferente persegue, em um apego incontrolável. Minhas crenças nesse momento não importam, embora a resposta cortante tenha marcado. Agiu de uma maneira muito simplista para reduzir a questão.

Há profundas aspirações que temos que podem nutrir nossa vida ou envenená-la. Numa forma quase natural de ser refém de si mesmo – uma força cega numa motivação ampla e justa é comum. Duas ou três posturas altamente semelhantes e ao mesmo tempo díspares. Podemos fazer muito mais do que somente usar as ferramentas que conhecemos (cozinhar à distância).

Um nó imaginário em torno do seu pescoço ajuda a fornecer insights de vida. (Quando isso a fez entender  que o fato deixou de fazer diferença?) Por que tanto apego à existência se sequer sabemos o que fazer com nossas vidas?

Acho que vou procurar um bom vinil pra escutar.

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A morte como combustível da vida

A falta dói, e eu nem sei como essa falta dói, mas vejo uma amiga se ver perdida, doendo ausência, prevendo a saudade, sentindo o oco.

O ‘nunca mais’ dilacera, arranca pedaço. Nos revolta, enraivece. A lógica está fora do nosso alcance, os motivos da escolha pela não-vida, não permanência junto daqueles que se é interligado enlouquece.

Entre um respiro e outro, o nó no estômago diz que não poderemos ser ou fazer tudo que queremos. E vem a verdade, aquela verdade que beira a impotência, e temos mesmo é que escolher como vamos nos comportar diante da vida.  Sempre que começo a perder o foco, lembro que não tenho muito tempo. Simples o fato de que se foi e não irá voltar.

Tudo está interligado e tudo que é interligado e composto está sujeito a impermanência.  Sidarta descobriu que impermanência não significa morte, como geralmente pensamos; significa mudança. 

Se fazer do avesso para um novo ciclo é o caminho, não há outro. Às vezes gostaríamos de pegar a dor do outro e fazê-la nossa, empatia pura, para que ela não sinta tanto, tudo, tanto, sozinha. Pois não está.

E, amiga:  espero que você encare o fim de qualquer ciclo como algo positivo. Já que somos os únicos responsáveis pelas nossas escolhas, podemos escolher um recomeço positivo para qualquer fim. Não falo de facilidades, mas de sobrevivência.

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Desordem

(…) Era a terceira vez que se detinha na frente dos escombros, perdida tanto nos detalhes e nas sincronizações, vendo sentidos ocultos, que geravam uma tensão corporal extrema.

Sua garganta doía, o maxilar, a posição da língua na boca, as articulações. Movimentar ficava difícil e era a hora de respirar e relaxar os músculos. Ideias exageradas sobre organização, simetria, perfeição já tinham ficado para trás.

Costumava ser tão leve, encarava a desordem com tranquilidade. Isso mudou como fruto de… isso.

Agora ainda não.   (…)

 

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Agora olharei a noite

Felizmente hoje aquela musicalidade aconchegante dos timbres doces invade. Com o tempo, na sua proporção em beleza melancólica, a audição se prontificou a mergulhar em uma região obscura para nós. Uma dúvida (do naipe de uma ansiedade aguda do futuro) acabaria por ser uma dura provação. Comichão-esperança.

É uma fraqueza desejar uma linearidade nos fatos, na história vivida. Não é uma má ideia correr em direção a um entendimento. Há anos venho lendo sobre o assunto como forma de tratamento, e essas palavras tem um peso enorme quando pronunciadas (verdades concretizadas) por mim, para mim.

Uma sensação de destensionamento, cede os ombros. O alívio é de graça, basta ter paciência. Eu esperava dele um companheirismo. Encontro ressonância nessa perspectiva de amor, uma janela que aponta para uma cura como corticóide receitado por telefone. Um gesto de genuína compaixão. Uma promessa de proteção e tranquilidade. Penso numa cura simultânea sugerindo um triunfo sobre a adversidade. O caminho da cura pode ser o caminho da doença eterna e vice versa. Alegrava-se com isso, a via de mão dupla.

Agora sentia alternativas.

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Grace Kim, Untitled, 2009, from series Dream Meditation

 

Era capaz de se sentir autorizado pelo sistema

Como passa rápido e logo chegamos ao nosso último dia, pena não podermos voltar os ponteiros do relógio para tentar outra vez. Poderia pensar que isso nos trará algum conforto. A melhor maneira de ter certeza acabou gerando ainda mais expectativa, não mencionei o ocorrido por muito tempo e com essa atitude tudo parecia seguir seu rumo normalmente. Eu achava que  não tinha o poder de me afetar diretamente.

Agindo de maneira responsável e manifestando compaixão que mais dão sentido às nossas vidas do que ao coração daquele que fere – era o que tentava realizar. Se pensamos a cena do tema da violência como uma categoria da prática contra o outro, deixamos embaixo do tapete aquela que cometemos contra nós mesmos. O próprio limite entre o ser e o parecer inevitável da violência é questão para pensar. A demora em se perceber como mais uma face de ações banhadas de sordidez era pedregoso e dolorido – com o tempo era mais difícil esconder o nojo e a raiva. E vê-lo simplesmente me deixava deprimida e me fazia sentir muito vulnerável por dias.

Esta não é uma questão para ser debatida com teorizações complicadas. Trabalhava com improvisações. A única coisa que poderia fazer é usar bem o presente. E em tudo isso utilizando apenas os níveis mais superficiais, elementares e menos refinados do espírito humano como ponto de partida.

O essencial permanece escondido de nós sem que se seguisse vivendo por aí. E o discurso fofo de direitos e de sonho de igualdade não tira o peso do estômago.

Simplesmente se busca uma leveza de corpo.

 

 

 

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Você tem que se aquecer

É um  encantamento estar longe de onde há o perigo e da última coisa que você se lembra (uma briga). Lá vigora também aquilo que salva à auto compreensão de nossa própria condição como seres humanos assolados pela incerteza (olhos vendados). Arrisca transformar-se em pesadelo autodestrutivo – a ambiguidade é preferível à clareza e à simplicidade. O ônibus sacolejando sobre um talco vermelho, assemelhando a paisagem a filtros vintage que encontramos por aí –  alimentando tipos específicos de ilusão, uma memória que pertence a todos. Não restou sonho de liberdade possível, técnica que equaciona urgência com pressa, por si mesmo emergencial. A mudança resulta de uma instrumentalização da necessidade de uma postura mais racional que não se desloque da ação.

É lento. Nada parecido com o ativismo frenético e o falatório vazio a fim de consolidar e estender sua ideia original. Ideais ainda imaturos. Começa a notar que coisas insólitas estão acontecendo com ela e, pior, está fazendo coisas estranhas e irreconhecíveis. O movimento cessa, a poeira invade as janelas e tudo fica coberto com uma fina camada que seca a garganta e fere os lábios. Abre a bolsa e entrega uma moeda dobrada ao meio – enfrentar um livre fluxo do pensamento.

É claro que você terá de criar o vilão – lembrou.

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William Klein, Serge Gainsbourg, (album cover of Love on the Beat)

 

 

 

 

Uma direção

Felizmente hoje o objeto é com a musicalidade aconchegante, com o tempo, na proporção de uma beleza melancólica da natureza mais profunda.  Alguma coisa prendeu meus pensamentos, talvez uma emoção que sempre me mete em dificuldades quando ela surge. Simplesmente olhando com clareza para assentar por si só e ficar transparente é que o turvo se esvai. Apesar de tê-la como essencial, não é totalmente cristalina. O que ocorre estará negando o fato óbvio de que está sentindo especialmente quando os meus pensamentos se desprendiam além dos extremos da mente conceitual.

Depois de uma longa pausa condensava toda a estrutura de seu delírio…  é que já não havia mais delírio – havia se resolvido de alguma maneira. Focar na vida no sentido de felicidade me faz a desmerecer se advém de uma ignorância opcional de um percurso nada feliz. Pelo menos não todo tempo.  Um corretivo bem mais didático que poderia ser suportar cinquenta chibatadas cinzas num sadomasoquismo brando, sem sequelas ou curativos. Se simples assim fosse compreender a natureza essencial de uma emoção.

Estaremos simplesmente olhando com clareza para o que ocorre atravessado por dois tempos. A aposta é que sendo uma prática, possa fazer algo com isso.

O que a ideia de cura possui é uma pureza intrínseca analisando e reagindo à sua causa aparente: o externo. Muito sedutor.

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Deixe que pouse

Aberta e natural, num espaço que não tem problemas, sem subdivisões, expressando suas impressões a respeito de qualquer assunto que a toque. Importante é equilibrar suas forças e suas escolhas… recordar o que vale realmente a pena desejar. Uma imagem, um som. [Não ceder à exaustão] de escolher projetos – o convívio consigo mesma nem sempre é pacífico. Não chega a grandes conclusões. Segue devagar pelas cores, formas, contornos, conceitos. Isso deveria ser o suficiente para ficar envolvida com o querer ou não querer alguma coisa. Como um subproduto da esperança, a busca corre  num constante ir e vir, tentando controlar as circunstâncias da vida.  Contemplar a impermanência proporcionando uma maior aproximação das coisas e não ter um movimento tão amplamente largo em direção à tristeza ainda é um desafio, sabia disso.

A vinda de mais um impulso contrário se faz inevitável. Você é você e você é aquilo que você pensa que é. E também você é o que os outros pensam que você é. Dualismo imaginário em última instância, tem essa sensibilidade. Sequer é real. Passeamos, olhamos tudo, queremos e desejamos cultivando a apreciação numa perspectiva de auto-aceitação. E a aceitação auto-centrada se tornara um hábito muito forte e a querência não transfere suas virtudes às ações.

E todo dia dizem que confunde conceitos numa boa fé mobilizada desalimentando monstros distantes daqueles que não desejam construir nada.

E o pouso do pensamento há de ser leve.

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O pior é a maldita consciência

Você poderá por tudo a perder, numa versão revisada e ampliada de si, numa fome de tudo. Por trás de todo o endurecimento, aperto e rigidez do coração, há sempre o medo, o medo. Há um ponto fraco! De você não poder suportar o que está sentindo em um amor, pegou minhas asas.

O próprio mal-estar sobre as circunstâncias, transformando diferenças em desigualdades emergiu dando ouvidos às histórias que contamos para nós mesmas incansavelmente. Escolher estar presente e acordada numa espera de que a ideia mude por si mesma, apenas porque sabe o que todo mundo sabe e se apropriara do que fizera antes tornando-a natural.

O que foi um erro fora simplesmente silenciado –  ligamentos e tendões rompidos num horror que só o distanciamento nos permitira perceber. A produção dessa deformação começara na infância e a maneira instável de locomoção, um pouco curvada, cambaleante e dolorida  foram construídos como socialmente atraentes. Sem a perspectiva de minimizar o sentido intimidando uma alternativa, não tem jeito, corpo e mente passam a se distanciar lentamente. E o pior nem é isso, o pior é a maldita consciência. Ser forte o suficiente para que a fase mais densa e cinza passe.

A verdade é que eu nunca relaxo.

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Nó teórico

Ser alguém contida ameniza obrigação comportamental relaxando e tranquilizando o corpo, de forma mais profunda a cada vez. A estética padronizada desumaniza as curvas e tenta-se entender onde a feminilidade reside, ou pelo menos a sua própria. A mudança vem também pela violência, pela ruptura que ela pode exercer, pelos rasgos. O encontro com o outro era uma habilidade adquirida que apesar de simples, não era uma prática diária. A necessidade de manter coisas e assuntos esquecidos era contra aquilo que acreditava: falar era uma busca pelo real, belo e verdadeiro. É totalmente possível que outra pessoa nos entenda muito mais do que nós mesmos. Observava bem de perto e desiste de ver, se recusa, mesmo não sendo uma condição involuntária.

Revelar muito sobre você pode confundir mais que esclarecer.

 

Ahn, se pelo menos conseguisse não dispersar tanto. Se pelo menos conseguisse não se preocupar tanto.

 

 

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Das minhas vulnerabilidades…

E eu queria me sentir bonita de novo (a beleza é a promessa de felicidade) que sempre se perde. Ter o coração como uma caixinha de música. Os intestinos. Não encontra grande resistência no outro e nem em si, o que acaba por acontecer. Quando angustiada já deixaria de existir, o que não foi suficiente para blindar seu corpo.

Em minutos sobre seus sentimentos e pensamentos – sobre segundos.

Expõe emoções fraturadas num cansaço nos sete corpos existenciais. Surge uma alegria nos toques, com grande interesse nos benefícios práticos em uma persistente companhia! Um exercício diário de libertação dessa ilusão que é feita num arranjo injusto e intenso. A consciência interna é limitada para o conflito interior das emoções humanas. Que ainda são vigor.

Para as habilidades sociais transparecia a impaciência e aquela inabilidade de listar, separar, classificar o que sente, digerir o que fosse preciso, relapsa de si mesma que estava. Um furor selvagem costuma ser quase inevitável, ainda que seja coberta pelo manto da busca pela verdade.

Em uma tentativa de fugir da vulgaridade do gesto, desejo.

E desejo sol. Nas costas.

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Renovou as juras de amor

Renovando as juras de amor, viu o impacto que as emoções causam em suas vidas. E em especial na sua.

Na lógica do ‘antes tarde do que nunca’ estimou que tinha duas a três horas livres por dia, e se deixou  invadir pela maior beleza do mundo. Identificando suas forças, ter e dar amor, que teimam em queimar a face, que fica vermelhinha e quente (só de lembrar).

Pega um pedaço de papel e anota todos os olhares doces, toques precisos – é um bom lugar para começar. Entender-se de forma completa com tudo de bom, de mau e de feio, é comprometedor e assim mesmo lhe traz calma. Consegue silenciar-se. Acredita-se que todos os pecados são igualmente graves, assim como igualmente errados. Percebeu que não é bem assim, como negar as nuances, os pormenores, os detalhes, aquelas pequenas miçangas nos cantos da gaveta? Estivera condenado a sentir-se passível de alguma punição, por todos os erros, todos as afeições violentas.  É uma armadilha que se criou para si mesmo. Estava convencido disso. E diante de uma suposta situação em que fosse exigida maturidade diria que seus gostos diziam tudo sobre você.

Querendo preservar o bom estado das coisas e dos sonos, retira sua inquietude e quer um pouco de sopa, sopa quente. De queimar a língua. Incomunicável ficaria então.

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Seios desnudados

Ao menos às que procuram se manter informadas, percebem a prisão e a chatice que não haveria razão de existir, ainda que tivesse um fundo de verdade.

Eu vi medo nos olhos dela quando mais queria ser e demonstrar fortaleza. Nem sempre alcançamos sucesso em atuações, o corpo exposto não é o de ninguém além do seu. E naquela tentativa de explicar o que não pode ser realizado enfrentamos uma… inquisição. Bate no peito, se infla. Uma boa defesa daquele chute alto, preciso. Acaba por se aprender a lutar? O que não se percebe, pelo menos em uma forma superficial de leitura, é no que se transforma o adversário quando ataca e se justifica. A necessidade do ataque é sua maior fraqueza então.

A lógica do ‘respeito mas não me interesso’  transforma a luta absolutamente franca. As olheiras não são perdoadas, nem o cansaço, nem a não impecabilidade da sua aparência. Aparência. Senti na pele ‘você é culpada por eu te destruir’ ‘você é culpada por te amar’ ‘você é culpada por eu ser fracasso’ e, garanto que as cicatrizes existem e doem, e desencadeiam efeitos colaterais tão certeiros ainda que abstratos. É tosco. É rude.

Todos os seios desnudos pertencem aos outros, e os olhares disfarçados de cobiça atingem bem na linha da cintura, e tiram o ar. E depois sou toda cicatriz, fígado e estômago que hão de virar de ferro algum dia.

Ser mulher por aqui é inferno e não há outra saída a não ser coerente com os fatos e com essas cicatrizes nossas de todos os dias.

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Literalmente [ou quase]

Ainda não se tornara uma persona non grata, tudo foi feito na sala de espera. Mas suas idéias podem ser um pouco difíceis de entender ou aceitar, principalmente agora que parecia estar sentindo muita dor, precisava das suas muletas. Muito embora não seja possível analisar a composição do seu silêncio, uma melhor compreensão de tudo poderia fazê-la se sentir mais… talvez menos, menos fatiada. A capacidade de resposta e a motivação para uma maior consciência  ou uma maior empatia ficam seriamente comprometidas. Uma outra abordagem que aparece como alternativa às muletas é mudar os hábitos e ser, e que seja tão robusta, que seja tão plena, que seja tão infernal.

Começara por reduzir outras distrações, parecendo ser um agir  benéfico sem dentros, sem foras. Precisava de um tema, nem que fosse para subvertê-lo. Mas era tudo ficcional, afinal os temas não a poupariam das escolhas, que eram feitas a todo instante, com consciência, com querência ou não.  Definindo expectativas. Passaram-se quase duas horas, uma abre e fecha sem fim, e aquela necessidade de estar sozinha, percebia-se, voltara.

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Sem insinuar

Será preciso bater mais do que uma vez na mesma porta até que ela se abra, o momento pede paciência e respirações profundas. A cena é de terror, olheiras, cansaço, tristeza. Movimentos rápidos, tensos, dizem por si só o incômodo daquela visita e dos assuntos que bailam no ar. A rapidez é importante. Agilidade, vamos acabar logo com isso?

E o aspecto mais relevante é que a abertura não tem paredes para se esconder. O que fazemos com os vínculos que criamos, tecemos, é triste. Quando eles não são mais necessários deslocamos e guardamos o espaço no guarda-roupa para outros vestidos e conexões.  Aceitar o deslocamento e tentar não se sentir tolo. Eis o desafio – que não seja a única a pensar assim, ainda que seja difícil admitir, que tudo está sedimentado e já foi para o ralo. O que a imprensa faz chancela a mentira sedimentada e a troca de olhares se torna dolorosa.

Geralmente o lance que se faz intuitivamente é o melhor. Pena que nos perdemos  analisando um monte de possibilidades.

Sentir desamor …  aí começou uma gritaria danada. Mas tudo em silêncio.

 

 

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A brancura do café

Parece começar dO nada, sons que estão no mundo.  O motivo, muitas vezes banal – é impecável. Sempre um alto nível de exigência provoca e o faz por muito tempo, até porque, há casos em que uma boa dose talvez exigisse demais.

Os  cheiros, os sons, os filmes da nossa vida e as memórias que eles provocam, as emoções, se surpreendem nas semelhanças.

O café é assim, sai a fumacinha, o cheiro e o sabor já chamam a língua. Sorvemos. Vem como o som que bate na boca e ressoa lá dentro. Além da   música na beira do fogão. O fogo aquece e é tudo unificado.

Mas aí o café é branco. E por um motivo totalmente válido o conflito entre o coração da casa que é a cozinha e o espaço límpido e clean – é legítimo até porque é fácil transitar por paradoxos. O íntimo é eletrônico também.

–, deixou saudades. Suas esperanças não são idênticas apenas no que nos dá prazer. Trocando em miúdos: é interior, é ensimesmar. Se encaixam na sutileza inerente ao amor.

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Prataria

Tendo algum tipo de consciência que os segura, olhando diretamente para ela,  ele tinha uma vaga noção sobre os acontecimentos. O melhor do abraço, o mais importante, não é a ideia de que os braços facilitam o encontro dos desejos, mas a avassaladora potência do sim.

É comparada a uma determinada obra aberta, ainda que isso seja  se contorcer em  um espaço ocupado pela ludicidade, refletindo intervenções paralelas. Seja no começo, no meio, no fim ou após o fim haveriam sensações. Geralmente uma, somente. Em vez de exigir, esperar, cobrar ou pedir (reação imediata), oferecer. Mesmo quando são boas referências.

Mas caminha para a dispersão e aparece elevada. Pode estar ligada ao plano meramente sonoro permeando o cotidiano, ou o que quer que seja. Não aponta para qualquer direção e a própria freqüência estabiliza.

 

Não me lembro de já ter visto algo assim. Levo títulos em bandejas de prata.

Um sozinho é obra de arte e poesia.

 

 

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Nos abstemos [de prejudicar]

Idolatrar a dúvida e caminhar no incerto, pode não ser uma janela aberta para o mundo como o velho sonho de tomar café acompanhado.  Fazer alguém se sentir especial – captou o sentido profundo quando estava para encontrar alguém. Faça surpresas, fale o que sente – a fraqueza surge apenas quando passamos realmente por momentos de dificuldade e posamos de orgulhosos.

Definiu os termos do interesse próprio, preservando-se a dignidade. Que absolutamente tudo vá ao extremo. Desde que voltemos nosso olhar em outra direção, optando pelo não ocultamento das razões. Abstermos-nos desse gesto, seria por interesse próprio, apesar de termos alguma razão.

Sentaram-se na cama, o  tão esperado café quente, frutas e pão. Comeram a refeição olhando a paisagem e buscando uma alternativa à preguiça. Um cigarrinho, outro… troca de olhares sem palavras.

Quando treinamos [nossas mentes] primeiro pensamos em nós mesmos. E o bem estar individual depende de todo o seu corpo, mais velho, desde então.  Está ali, sempre ao lado, vigiando – a cuidar do resto dos outros corpos para nosso bem.

Diferenças sempre existirão; mas isso pode ajudar. Se tomarmos o bem estar dos outros como base para nossa própria ética.

 

 

 

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E o seu coração estará percorrendo o mundo

Eu sou a sua cara, disse. E eu a sua. – respondi. Ambos possuem armas de grosso calibre e uma mira perfeita no ponto certo do outro. Contra o quê mesmo? Para uma coisa importante e rara a nós, como coração. O que não é pouca coisa.

Não agir seria pura precipitação e recolher histórias fazendo carinho é a melhor ação. Você poderia terminar ouvindo coisas duras  – permaneça na tranquilidade meditativa. E quando foi preciso sentir o que era preciso sentir, não soube como.

E por causa disso já foi possível perceber um volume imenso na sua voz. A janela entreaberta preocupava, os vizinhos… escrevo só pra me lembrar de cobrir todos os focos.

O serviço encarece, mas não melhora. O Outro acha que tem o direito de afogar tudo aquilo que eu, no nosso mundo, tão pessoal tão precário e incerto, percebo e necessito.  E deve falar-se abertamente.

Hão de se proteger.

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Arno Rafael Minkkinen, Self-portrait with Tuovi, Karjusaari, Lahti, Finland, 1992

Morada

Em uma noite destas, estava quase vazia, e para vencer a tristeza e regularizar a circulação sanguínea, olho para ele com um cigarro entre os dedos e penso que não sei com certeza o que é que me dói.

Tenho instrução suficiente para não ser religiosamente crente. ‘Isso os senhores provavelmente não compreendem.’ Ele estava tão profundamente entranhado em minha consciência que, antes que ele tivesse tempo de se transformar, e eu conseguisse  me  livrar dessas ilusões, nos acarinhamos. Cada um é infeliz à sua maneira.

Deixei crescer as unhas, e em pensamento, nas noites espiando o céu estrelado, cravava-as nas suas costas até arrancar sangue. A fome é urgente – e a boca pediu carne e os dentes obedeceram. Uma tortura seria interessante se eu a explorasse com critério.

— Me preocupei com problemas do espírito. Acordou de sonhos intranquilos, com as maçãs desamparadas diante dos seus olhos. Ele acabou recitando-me versos e me fazendo poesia. Fechei os olhos duas ou quatro vezes, e ouvi, você é que nem eu, fala coisas malucas dormindo.

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Mas era importante

– Bom dia, como foi a cruzada?

– Devastadora.

– E o impulso original?

– Permanece.

– E o ímpeto da solidariedade humana?

– Seletivo.

– E o exemplo?

– Luminoso

– E a iniciativa?

– Corajosa.

– E o gesto?

– Brilhante.

– E as amizades?

– Rudes.

– E a fome?

– Dói.

– E o espelho?

– Opaco.

– E os papéis?

– Trocados.

– E o coração?

 

 

 

 

 

– Revoltado.

 

Chamem-me simplesmente.

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Não damos nascimentos de liberdade

A intenção era dar um nascimento elevado aos pensamentos, mas um pressentimento me dizia que os pensares exigem uma linearidade que é difícil. A verdade é encontrada na vida. Difícil transcrever os fatos, as coisas que vivi , entre todos os sentimentos possíveis, sem ficar absolutamente confusa. E se recortarmos, e isolarmos-os, veremos naqueles seres livres que eles não são a verdade absoluta. O sistema acusatório de crimes é dividido em três: o que é dito, o que é feito, o que é pensado. O problema que surge é gigante (ainda adormecido)  e o que fica claro quando a gente para pra pensar é que protagonizaram o episódio de forma abusiva – uns em relação aos outros. Difícil foi aceitar que cada desejo quando transformado em ato, pode trazer infelicidade e que o contentamento é impossível.

Olhamos as pessoas e as aprisionamos com nossos olhares e vontades, o conhecimento que possuímos não é verdade última e imutável.  Constata-se nesses pensamentos, sem julgá-los, a necessidade de predomínio exercido sobre outros.  Praticando o desligamento de pontos de vista sedimentados –  a fim de estar aberto a receber outros –  para que cada vez mais nos cansemos de chegar repetidas vezes à frustração.

Nós vemos que nossas relações podem ser completamente diferentes.

Houve celebração.

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